História da Redenção

201/232

Desapontados mas não abandonados

Mas, de novo estavam destinados ao desapontamento. O tempo de expectação passou e o Salvador não apareceu. Com inabalável confiança tinham aguardado Sua vinda, e agora experimentavam o mesmo sentimento de Maria quando, indo ao túmulo do Salvador e encontrando-o vazio, exclamou em pranto: “Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.” João 20:13. HR 371.3

Um sentimento de temor, o receio de que a mensagem pudesse ser verdadeira, servira algum tempo de restrição ao mundo incrédulo. Passado que foi o tempo, esse sentimento não desapareceu de pronto; a princípio não ousaram exultar sobre os que foram desapontados; mas, como sinais nenhuns da ira de Deus se vissem, perderam os temores e retomaram a exprobação e o ridículo. Numerosa classe, que tinha professado crer na próxima vinda do Senhor, renunciou à fé. Alguns, que se sentiam muito confiantes, ficaram tão profundamente feridos em seu orgulho, que pareciam estar a fugir do mundo. Como outrora Jonas, queixavam-se de Deus e preferiam a morte à vida. Os que haviam baseado sua fé nas opiniões de outrem, e não na Palavra de Deus, achavam-se agora novamente prontos para mudar de idéias. Os escarnecedores ganharam para as suas fileiras os fracos e os covardes, e todos estes se uniram para declarar que não mais havia motivos de receios ou expectação. O tempo havia passado, o Senhor não viera, e o mundo poderia permanecer o mesmo por milhares de anos. HR 371.4

Os crentes fervorosos e sinceros haviam abandonado tudo por Cristo, desfrutando Sua presença como nunca dantes. Conforme acreditavam, tinham dado o último aviso ao mundo; e, esperando serem logo recebidos na companhia do divino Mestre e dos anjos celestiais, tinham em grande parte se afastado da multidão incrédula. Com intenso desejo haviam orado: “Vem, Senhor Jesus, e vem presto.” Mas, Ele não viera. E, agora, assumir de novo o fardo pesado dos cuidados e perplexidades da vida, suportar as exprobrações e zombarias de um mundo escarnecedor, era, em verdade, uma terrível prova de fé e paciência. HR 372.1

Todavia, este desapontamento não foi tão grande como o que experimentaram os discípulos por ocasião do primeiro advento de Cristo. Quando Jesus cavalgou triunfalmente para Jerusalém, Seus seguidores criam estar Ele prestes a ascender ao trono de Davi e libertar Israel dos seus opressores. Cheios de esperança e gozo antecipado, competiam uns com os outros em prestar honras a seu Rei. Muitos Lhe estendiam no caminho seus próprios mantos, à guisa de tapetes, ou, à Sua passagem, cobriam o solo com viçosos ramos de palmeira. Uniam-se, com entusiástica alegria, na aclamação festiva: “Hosana ao Filho de Davi!” HR 372.2

Quando os fariseus, perturbados e enraivecidos por esta manifestação de júbilo, quiseram que Jesus repreendesse os discípulos, Ele replicou: “Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão.” Lucas 19:40. A profecia devia ser cumprida. Os discípulos estavam executando o propósito de Deus; entretanto, amargo desapontamento os aguardava. Apenas decorridos alguns dias tiveram de testemunhar a morte atroz do Salvador, e depô-Lo na sepultura. As expectativas que nutriam não se haviam realizado em um único particular, e suas esperanças morreram com Jesus. Não puderam, antes de o Senhor triunfar do túmulo, perceber que tudo havia sido predito na profecia, e que era “necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos”. Atos dos Apóstolos 17:3. De igual maneira esta profecia se cumpriu na primeira e segunda mensagens angélicas. Elas foram dadas no seu tempo exato e cumpriram a obra, para a qual foram por Deus designadas. HR 373.1

O mundo estivera a olhar, na expectativa de que, se o tempo passasse e Cristo não aparecesse, todo o sistema do adventismo seria abandonado. Mas, enquanto muitos, sob forte tentação, deixaram a fé, alguns houve que permaneceram firmes. Não podiam identificar erro algum em sua contagem dos períodos proféticos. Os mais hábeis de seus oponentes não conseguiram subverter-lhes a posição. Verdade é que houve erro quanto aos eventos esperados, mas mesmo isto não podia abalar-lhes a fé na Palavra de Deus. HR 373.2

Deus não abandonou Seu povo; Seu Espírito ainda permaneceu com os que não negaram temerariamente a luz que tinham recebido, nem acusaram o movimento adventista. O apóstolo Paulo, olhando através dos séculos, escreveu palavras de animação e advertência para os provados e expectantes nessa crise: “Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque ainda dentro de pouco tempo Aquele que vem virá, e não tardará; todavia, o Meu justo viverá pela fé, e, se retroceder, nele não se compraz a Minha alma. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.” Hebreus 10:35-39. HR 374.1

Sua única maneira segura de proceder era reter a luz que já haviam recebido de Deus, apegar-se firmemente às Suas promessas e continuar a investigar as Escrituras, esperando e vigiando pacientemente, a fim de receber mais luz. HR 374.2