Educação

38/65

A disciplina do sofrimento

Todos os que neste mundo prestam verdadeiro serviço a Deus e ao homem, recebem um preparo prévio na escola das aflições. Quanto mais pesado for o encargo e mais elevado o serviço, maior será a prova e mais severa a disciplina. Ed 151.4

Estude as experiências de José e Moisés, de Daniel e Davi. Compare o princípio da história de Davi com a de Salomão, e considere os resultados. Ed 151.5

Davi, em sua juventude esteve intimamente ligado a Saul, e sua permanência na corte e ligação com a casa do rei deram-lhe profundo conhecimento dos cuidados, tristezas e perplexidades ocultas pelo esplendor e pompa da realeza. Viu de quão pouca valia é a glória humana para trazer paz à alma. E foi com alívio e satisfação que da corte real voltou aos apriscos e rebanhos. Ed 152.1

Quando, compelido pelos zelos de Saul, era um fugitivo no deserto, Davi, privado do apoio humano, amparou-se mais pesadamente em Deus. A incerteza e desassossego da vida no deserto, seus incessantes perigos, a necessidade de fugas freqüentes, o caráter dos homens que a ele se reuniam: “todo o homem que se achava em aperto, e todo o homem endividado, e todo o homem de espírito desgostoso” (1 Samuel 22:2) — tudo isto tornava muito necessária uma severa disciplina própria. Estas experiências despertaram e desenvolveram capacidade para lidar com os homens, simpatia para com os oprimidos e ódio à injustiça. Durante anos de expectativa e perigo, Davi aprendeu a encontrar em Deus conforto, apoio e vida. Aprendeu que unicamente pelo poder de Deus ele poderia ir ao trono; unicamente pela Sua sabedoria poderia governar sabiamente. Foi mediante o preparo na escola das agruras e tristezas que Davi se habilitou a declarar que “julgava e fazia justiça a todo o seu povo” (2 Samuel 8:15), não obstante mais tarde seu grande pecado lhe deslustrasse o feito. Ed 152.2

A disciplina da experiência inicial de Davi faltava a Salomão. Pelas circunstâncias, pelo caráter e pela vida parecia mais favorecido do que todos. Nobre na juventude, nobre na varonilidade, amado por seu Deus, Salomão iniciou um reinado que dava altas promessas de prosperidade e honra. Nações maravilhavam-se do saber e conhecimentos do homem a quem Deus havia dado sabedoria. Mas o orgulho da prosperidade trouxera a separação de Deus. Da alegria da comunhão divina, Salomão desviou-se para encontrar satisfação nos prazeres dos sentidos. Diz ele desta experiência: Ed 152.3

“Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas, plantei para mim vinhas. Fiz para mim hortas e jardins. ... Adquiri servos e servas. ... Amontoei também para mim prata e ouro, e jóias de reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens, e de instrumentos de música de toda a sorte. E engrandeci-me, e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém. ... E tudo quanto desejaram os meus olhos não lho neguei, nem privei meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho. ... E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do Sol. Então passei à contemplação da sabedoria, e dos desvarios, e da doidice; porque, que fará o homem que seguir ao rei? o mesmo que outros já fizeram. ... Ed 153.1

“Aborreci esta vida. ... Também eu aborreci todo o meu trabalho, em que trabalhei debaixo do Sol.” Eclesiastes 2:4-12, 17, 18. Ed 153.2

Por sua própria amarga experiência, Salomão aprendeu como é vazia uma vida que busca nas coisas terrenas seu mais elevado bem. Erigiu altares aos deuses gentílicos, unicamente para aprender quão vã é sua promessa de descanso para a alma. Ed 153.3

Em seus anos posteriores, tornando-se cansado e sedento nas rotas cisternas da Terra, Salomão voltou a beber da fonte da vida. A história de seus anos desperdiçados, com suas lições de advertência, ele, pelo Espírito de inspiração, registrou para as gerações posteriores. E assim, conquanto a semente que semeara fosse colhida por seu povo em uma messe de males, a obra realizada na vida de Salomão não foi inteiramente perdida. Para ele, finalmente, a disciplina do sofrimento cumpriu sua obra. Ed 153.4

E com semelhante alvorecer da vida, quão glorioso poderia ter sido ela, se houvesse Salomão em sua mocidade aprendido a lição que o sofrimento ensinara na vida de outros! Ed 154.1