Conselhos sobre Educação

18/110

A responsabilidade do mestre

Há uma obra a fazer por parte de cada professor em nosso colégio. Não há nenhum isento de egoísmo. Caso o caráter moral e religioso dos mestres fosse o que deveria ser, melhor seria a influência exercida sobre os alunos. Os professores não buscam individualmente, cumprir seu dever, tendo em vista meramente a glória de Deus. Em lugar de olhar a Jesus e Lhe imitarem a vida e o caráter, olham ao próprio eu, visando demasiado atingir uma norma humana. Desejaria que me fosse dado impressionar todo mestre com um pleno senso de sua responsabilidade quanto à influência que ele exerce sobre os jovens. Satanás é incansável em seus esforços por conseguir o serviço de nossa juventude. Com grande cuidado está ele armando laços aos pés inexperientes. O povo de Deus deve zelosamente guardar-se de seus ardis. CE 66.1

Deus é a personificação da benevolência, misericórdia e amor. Os que se acham verdadeiramente ligados a Ele não podem estar em divergência, uns com os outros. Seu Espírito reinando no coração, criará harmonia, amor e união. O contrário disto se vê entre os filhos de Satanás. É sua obra provocar inveja, discórdia e ciúme. Em nome de meu Senhor eu pergunto aos professos seguidores de Cristo: Que frutos produzis? CE 66.2

No sistema de instrução usado nas escolas seculares, é negligenciada a parte mais importante da educação — a religião da Bíblia. A educação não afeta somente em alto grau a vida do aluno aqui na Terra, mas sua influência se estende para a eternidade. Quão importante, pois, é que os professores sejam pessoas capazes de exercer correta influência! Devem ser homens e mulheres de experiência religiosa, que recebem diariamente luz divina a fim de a comunicar aos alunos. CE 66.3

Não se espera, no entanto, que os mestres façam a obra dos pais. Tem havido, da parte de muitos pais, terrível negligência do dever. Como Eli, falham quanto a exercer a devida restrição; e depois, mandam os indisciplinados filhos para o colégio a fim de receber a educação que os pais lhes deviam ter ministrado em casa. Os mestres têm uma tarefa que poucos apreciam. Caso sejam bem-sucedidos em reformar esses extraviados jovens, pouco é o mérito que se lhes atribui. Se os jovens procuram a companhia dos que são inclinados para o mal, e vão de mal a pior, então os professores são censurados e acusada a escola. CE 67.1

Em muitos casos, a censura caberia justamente aos pais. Eles tiveram a primeira e mais favorável oportunidade de controlar e educar os filhos, quando o espírito dos mesmos era dócil, a mente e o coração facilmente impressionáveis. Devido à negligência dos pais, porém, as crianças têm permissão de seguir a própria vontade, até se endurecerem em má direção. CE 67.2

Estudem os pais menos do mundo e mais de Cristo; ponham menos esforço em imitar os costumes e modas do mundo, e consagrem mais tempo e esforço a moldar a mente e o caráter dos filhos em harmonia com o divino Modelo. Poderiam então enviar os filhos e filhas fortalecidos por uma moral pura e nobres ideais, a fim de se educarem para ocupar posições de utilidade e confiança. Mestres que se dirigem pelo amor e o temor de Deus, poderiam levar esses jovens ainda mais adiante e mais acima, preparando-os para ser uma bênção ao mundo e uma honra a seu Criador. CE 67.3

Ligado a Deus, todo instrutor exercerá influência no sentido de induzir os discípulos a estudarem a Palavra de Deus e obedecer-Lhe à lei. Encaminhar-lhes-ão a mente à consideração dos interesses eternos, abrindo diante deles vastos campos de ideais, grandes e enobrecedores temas, para apoderar-se dos quais o mais vigoroso intelecto poderá exercer todas as suas energias, e sentir ainda que existe para além um infinito. CE 67.4

Os males da estima própria e de uma não santificada independência, que tanto prejudicam nossa utilidade e que acabarão se demonstrando nossa ruína se não forem vencidos, provêm do egoísmo. “Aconselhai-vos uns aos outros”, é a mensagem que me foi dada muito repetidamente, pelo anjo de Deus. Influindo no julgamento de um homem, Satanás pode empenhar-se em controlar os assuntos a seu bel-prazer. Pode ele ter êxito em desviar a mente de duas pessoas, mas quando vários trocam idéias juntos, há mais segurança. Cada plano será estudado mais rigorosamente, cada movimento rumo do progresso, considerado mais completamente. Daí, há menos perigo de precipitação de planos desavisados, que trariam confusão, perplexidade e derrota. Na união há força. Na divisão há fraqueza e derrota. CE 68.1

Deus está conduzindo um povo e preparando-o para a trasladação. Estamos nós, que desempenhamos uma parte nesta obra, portando-nos como sentinelas de Deus? Estamos nós buscando operar unidos? Estamos dispostos a tornar-nos servos de todos? Estamos seguindo nosso grande Exemplo? CE 68.2

Coobreiros, estamos todos lançando sementes no campo da vida. Qual a semente, tal será a colheita. Se semearmos desconfiança, inveja, ciúmes, amor-próprio, pensamentos e sentimentos amargos, havemos de ceifar amargura para nossa própria alma. Se manifestarmos bondade, amor, terna consideração para com os sentimentos de outros, o mesmo havemos de colher por nossa vez. CE 68.3

O mestre severo, crítico, despótico, desatencioso para com os sentimentos alheios, deve esperar que o mesmo espírito se manifeste para com ele próprio. Aquele que deseja conservar a própria dignidade e o respeito de si mesmo, precisa ter cuidado em não ferir desnecessariamente o respeito próprio dos demais. Esta regra deve ser observada como sagrada quanto aos mais pesados de inteligência, os mais jovens, os mais obtusos estudantes. O que Deus pretende fazer com esses aparentemente desinteressantes jovens, não o sabeis. Ele já tem recebido no passado pessoas que não eram mais promissoras nem atraentes, a fim de fazerem para Ele uma grande obra. Operando Seu Espírito no coração, despertou toda faculdade para vigorosa ação. O Senhor viu naquelas pedras brutas, não lavradas, matéria preciosa, capaz de suportar a prova da tempestade e do calor e da pressão. Deus não vê como vê o homem. Não julga pela aparência, mas esquadrinha o coração e julga retamente. CE 68.4

O mestre deve sempre conduzir-se como um cavalheiro cristão. Deve ter para com seus discípulos a atitude de amigo e conselheiro. Se todo o nosso povo — professores, ministros e membros leigos — cultivasse o espírito da cortesia cristã, encontraria muito mais facilmente acesso ao coração do povo; muitos mais seriam levados a examinar e receber a verdade. Quando todo mestre esquecer o próprio eu, experimentando profundo interesse no êxito e prosperidade dos alunos, compreendendo que os mesmos são propriedade de Deus, e que ele tem de prestar contas de sua influência sobre a mente e o caráter deles, então teremos uma escola em que os anjos se deleitarão em demorar. Jesus contemplará aprovadoramente a obra dos mestres e derramará Sua graça no coração dos estudantes. CE 69.1

Nosso colégio em Battle Creek é um lugar onde os membros mais jovens da família do Senhor devem ser treinados segundo o plano divino de crescimento e desenvolvimento. Devem ser impressionados com a idéia de que são criados à imagem de Deus e que Cristo é o Modelo que devem seguir. Nossos irmãos permitem a sua mente ficar numa linha demasiado estreita e demasiado baixa. Não conservam sempre em vista o plano divino, mas têm os olhos fixados em modelos mundanos. Olhai para cima, onde Cristo está sentado à direita de Deus, e então trabalhai para que vossos alunos sejam postos em conformidade com esse caráter perfeito. CE 69.2

Caso abaixeis a norma a fim de conseguir popularidade e aumento de número, fazendo desse acréscimo objeto de regozijo, mostrais com isto grande cegueira. Fossem os algarismos indício de êxito, Satanás poderia reclamar a preeminência; pois, neste mundo, os que o seguem constituem a grande maioria. É o grau de força moral de que o colégio se acha possuído, a prova de sua prosperidade. A virtude, a inteligência e a piedade do povo que compõe nossa igreja, não seu número, deveriam ser causa de alegria e gratidão. CE 69.3

Sem a influência da graça divina, a educação não se demonstrará nenhum bem real; o que aprende se torna orgulhoso, vão, fanático. A educação recebida sob a enobrecedora, purificadora influência do grande Mestre, porém, elevará o homem na escala do valor moral para com Deus. Ela o habilitará a subjugar o orgulho e a paixão, e a andar humildemente diante de Deus, como quem dEle depende quanto a toda aptidão, toda oportunidade e todo privilégio. CE 70.1

Dirijo-me aos obreiros de nosso colégio: Não deveis apenas professar ser cristãos, mas exemplificar o caráter de Cristo. Que a sabedoria do alto penetre todo o vosso ensino. Em um mundo de trevas morais e corrupção, patenteai que o espírito que vos impulsiona à ação vem do alto, não de baixo. Enquanto vos apoiardes inteiramente na própria força e sabedoria, os melhores esforços que fizerdes pouco realizarão. Se fordes impulsionados pelo amor para com Deus, tendo como fundamento a Sua lei, fareis obra perdurável. Ao passo que o feno, a madeira e o restolho serão consumidos, vossa obra resistirá à prova. Os jovens postos sob o vosso cuidado, tereis de encontrar outra vez em torno do grande trono branco. Se permitirdes que vossas maneiras incultas ou o descontrolado temperamento dominem a situação, deixando assim de influenciar esses jovens para seu eterno bem, devereis naquele dia enfrentar as conseqüências de vossa obra. Pelo conhecimento da lei divina e a obediência aos Seus preceitos, podem os homens tornar-se filhos de Deus. Pela violação dessa lei, fazem-se servos de Satanás. Por um lado, podem eles erguer-se a qualquer altitude a excelência moral; podem, por outro lado, descer a qualquer profundidade no iníquo e degradante. Os obreiros de nosso colégio devem manifestar zelo e diligência proporcionais ao valor da recompensa em jogo — a alma de seus alunos, a aprovação de Deus, vida eterna e as alegrias dos remidos. CE 70.2

Como colaboradores de Cristo, tendo oportunidades tão favoráveis de comunicar o conhecimento de Deus, nossos professores devem trabalhar como inspirados de cima. O coração dos jovens não está endurecido, nem suas idéias e opiniões estereotipadas, como acontece com os mais idosos. Poderão ser conquistados para Cristo mediante vosso santo porte, devoção e proceder semelhante a Cristo. Seria muito melhor assoberbá-los menos de estudos em outras matérias, e dar-lhes mais tempo para os privilégios religiosos. Nisto se tem cometido grande erro. CE 71.1

O objetivo de Deus em trazer à existência o colégio tem-se perdido de vista. Ministros do evangelho têm mostrado sua carência de sabedoria do alto a ponto de unir um elemento mundano com o colégio; uniram-se com os inimigos de Deus e da verdade no prover entretenimento para os estudantes. Ao encaminhar assim mal os jovens, fazem uma obra para Satanás. Essa obra, com todos os seus resultados, eles terão de enfrentar de novo ante o tribunal de Deus. Os que seguem tal conduta mostram que não são dignos de confiança. Depois da má obra que têm feito, eles podem confessar o seu erro; mas podem com a mesma facilidade recolher a influência que exerceram? Será proferido o “bem está” em relação aos que têm sido falsos ao que se lhes confiou? Esses homens infiéis não têm construído sobre a eterna Rocha. Seu fundamento provar-se-á ser areia movediça “Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Qualquer, pois, que se faz amigo do mundo constitui-se em inimigo de Deus.” CE 71.2

Não se pode traçar limites à nossa influência. Um ato impensado poder-se-á demonstrar a ruína de muitas almas. O procedimento de cada obreiro em nosso colégio está causando impressões no espírito dos jovens, impressões que são levadas para fora, para se reproduzirem em outros. Cumpre que o objetivo do professor seja preparar cada jovem sob seu cuidado para vir a ser uma bênção ao mundo. Esse objetivo não deveria nunca ser perdido de vista. Alguns há que professam estar trabalhando para Cristo, e que todavia, acidentalmente, passam para o lado de Satanás, e fazem-lhe a obra. Poderá o Salvador declarar tais obreiros como bons e fiéis servos? Estão eles, como atalaias, dando à trombeta sonido certo? CE 71.3

Cada um receberá no juízo segundo as obras praticadas no corpo, sejam boas, sejam más. Recomenda-nos o Salvador: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação.” Marcos 14:38. Se encontramos dificuldades e, no poder de Cristo, as vencemos; se nos defrontamos com inimigos e, no poder de Cristo, pomo-los em fuga; se aceitamos responsabilidades e, na força de Cristo, delas nos desempenhamos fielmente, então estamos adquirindo preciosa experiência. Aprendemos, como não poderíamos fazer de outro modo, que nosso Salvador é socorro bem presente em todo tempo de necessidade. CE 72.1

Em nosso colégio há a fazer uma grande obra, a qual exige a cooperação de todo professor; e desagrada a Deus que uns desanimem os outros. Mas quase todos parecem esquecer que Satanás é acusador dos irmãos, e se unem com o inimigo nessa obra. Enquanto professos cristãos contendem, Satanás está preparando suas armadilhas para os pés inexperientes das crianças e dos jovens. Aos que são possuidores de experiência religiosa cumpre escudar os jovens contra os seus ardis. Jamais deverão esquecer que eles próprios foram, uma vez, fascinados com os prazeres do pecado. Necessitamos a misericórdia e a paciência de Deus a toda hora, ficando-nos portanto muito impróprio o impacientar-nos com os erros da inexperiente juventude! Enquanto Deus os suporta, ousaremos nós, que também somos pecadores, repeli-los? CE 72.2

É nosso dever considerar sempre os jovens como a aquisição do sangue de Cristo. Como tais, têm eles direito ao nosso amor, paciência, simpatia. Se queremos seguir a Jesus, não podemos restringir nosso interesse e afeições a nós mesmos e às pessoas de nossa própria família; não nos é dado dispensar o tempo e a atenção a assuntos temporais, e esquecer os interesses eternos dos que nos rodeiam. Tem-se-me mostrado que é resultado de nosso próprio egoísmo o não haver uma centena de jovens empenhados em fervoroso trabalho de salvação do seu próximo onde agora só existe um. “Que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei”, é o mandamento de Jesus. Considerai Sua abnegação; vede a espécie de amor que Ele tem dispensado; procurai então imitar o Modelo. CE 72.3

Nos moços e moças que têm atuado como professores em nosso colégio tem havido muita coisa que desagrada a Deus. Tendes estado tão absorvidos em vós mesmos, e de tal modo vazios de espiritualidade, que não pudestes levar os jovens à santidade e ao Céu. Muitos têm retornado a seus lares mais decididos em sua impenitência em virtude de vossa falta de amor por Deus e por Cristo. Andando sem o espírito de Jesus, tendes encorajado a irreligiosidade, a leviandade e a ausência de bondade naqueles em quem tendes tolerado esses males que vos são próprios. O resultado deste procedimento não compreendeis: perdem-se almas que poderiam ter sido salvas. CE 73.1

Muitos têm fortes sentimentos contra o irmão _____. Acusam-no de falta de bondade, de dureza e severidade. Mas alguns dentre os que o condenariam não são menos culpados. “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra.” O irmão _____ nem sempre tem agido com sabedoria, e não tem sido fácil convencê-lo onde deixou de fazer o que melhor convinha. Ele não se tem mostrado tão disposto a receber conselho e modificar o seu método de instrução e sua maneira de tratar com os estudantes quanto devia. Mas os que o condenariam por seus defeitos, poderiam por sua vez ser igualmente condenados. Cada pessoa tem peculiares defeitos de caráter. Alguém pode estar livre de fraquezas que vê em seu irmão, embora possa ter ao mesmo tempo faltas muito mais graves à vista de Deus. CE 73.2

Este cruel criticismo de uns aos outros é inteiramente satânico. Foi-me mostrado que o irmão _____ merece consideração pelo bem que tem feito. Seja tratado com bondade. Ele tem realizado o trabalho que devia ter sido dividido por três homens. Os que estão avidamente procurando suas faltas vejam o que eles têm feito em comparação com ele. Ele mourejou enquanto outros procuravam descanso e prazeres. Ele está exausto; Deus desejaria vê-lo aliviado de algumas de suas cargas extras por algum tempo. São tantas as coisas com que tem de dividir o seu tempo e atenção que não pode fazer justiça a ninguém. CE 73.3

Não deve o irmão _____ permitir que seu combativo espírito se exalte e o conduza à justificação própria. Ele tem dado ocasião a insatisfações. O Senhor tem-lhe apresentado isto em testemunho. CE 74.1

Os estudantes não devem ser encorajados em hábito de procurar faltas. Este espírito de queixa aumentará se encorajado, e os estudantes sentir-se-ão em liberdade de criticar os professores que não desfrutam sua estima, e o espírito de insatisfação e discórdia aumentará rapidamente. Isto deve reprimir-se até que seja extinto. Não será este mal corrigido? Não abandonarão os professores o seu desejo de supremacia? Não trabalharão em humildade, em amor e harmonia? O tempo o dirá. CE 74.2