Conselhos sobre Educação

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Importância do ensino no lar

Indaguei se essa torrente de aflição não podia ser evitada, fazendo-se também alguma coisa para salvar os jovens desta geração, da ruína que os ameaça. Foi-me mostrado que uma grande causa do deplorável estado de coisas existente, é que os pais não se sentem na obrigação de criar os filhos em conformidade com as leis físicas. As mães amam os filhos com amor idólatra, e condescendem com o apetite deles quando sabem que isto é nocivo à saúde, trazendo assim sobre eles doenças e infelicidade. Esta cruel bondade manifesta-se em grande escala na geração atual. Os desejos das crianças são satisfeitos à custa da saúde e da boa disposição, porque é mais fácil para a mãe, no momento, satisfazê-las do que negar aquilo que elas reclamam. CE 11.1

Assim semeiam elas próprias a semente que brotará e dará frutos. As crianças não são educadas a renunciar ao apetite e restringir os desejos, e tornam-se egoístas, exigentes, desobedientes, ingratas e profanas. As mães que estão fazendo esta obra colherão com amargura o fruto da semente por elas lançada Pecaram contra o Céu e contra os próprios filhos, e Deus as considerará responsáveis. CE 11.2

Se as gerações passadas tivessem seguido um plano inteiramente diferente com respeito à educação, a juventude desta geração não seria agora tão depravada e inútil. Os diretores e professores das escolas teriam sido pessoas que conhecessem fisiologia e que tivessem interesse, não somente em educar os jovens nas ciências, mas em ensinar-lhes a maneira de conservar a saúde, de modo a empregarem da melhor maneira os conhecimentos, depois de os haverem adquirido. Ligados às escolas deve haver estabelecimentos que desenvolvam vários ramos de trabalho, a fim de os estudantes terem ocupação e o necessário exercício fora das horas de estudo. CE 11.3

O trabalho e os entretenimentos dos alunos deviam ter sido ajustados tendo em vista a lei física, sendo adaptados à conservação do tono saudável de todas as faculdades do corpo e da mente. Então, poderiam obter conhecimentos práticos de ofícios, ao mesmo tempo que vão adquirindo sua instrução literária Os estudantes devem, enquanto na escola, ser despertados em suas sensibilidades morais no que respeita a ver e sentir os direitos que a sociedade tem sobre eles, e que devem viver em obediência às leis naturais, de modo a poderem, por sua vida e influência, por preceito e exemplo, ser de utilidade e uma bênção para a sociedade. A mocidade deve ser impressionada quanto ao fato de exercerem todos uma influência que se faz sentir constantemente na sociedade, seja para melhorar e elevar, ou para rebaixar e degradar. O primeiro estudo dos jovens deve ser conhecerem-se a si mesmos, e conservar o corpo são. CE 12.1

Muitos pais conservam os filhos na escola quase o ano inteiro. Essas crianças seguem maquinalmente a rotina do estudo, mas não retêm o que estudam. Muitos desses estudantes contínuos parecem quase destituídos de vida intelectual. A monotonia do estudo seguido fatiga a mente, e pouco é o interesse que tomam nas lições; e, para muitos, torna-se penosa a aplicação aos livros. Não têm íntimo amor pelo pensar, nem ambição de adquirir conhecimentos. Não estimulam em si mesmos hábitos de reflexão e investigação. CE 12.2

As crianças carecem grandemente de educação apropriada, a fim de virem a ser de utilidade ao mundo. Qualquer esforço, porém, que exalte a cultura intelectual acima da educação moral, é mal orientado. Instruir, cultivar, polir e refinar jovens e crianças, deve ser a principal preocupação de pais e mestres. São poucos os raciocinadores concentrados e os pensadores lógicos, em razão de haverem falsas influências obstado o desenvolvimento do intelecto. A suposição de pais e professores de que o estudo contínuo fortaleceria o intelecto, tem-se demonstrado errônea; pois em muitos casos o efeito tem sido exatamente contrário. CE 12.3

Na educação inicial das crianças, muitos pais e professores deixam de compreender que a primeira atenção precisa ser dada à constituição física, para garantir-se saúde física e mental. Tem sido costume animar crianças a freqüentar a escola quando simples bebês, necessitadas dos cuidados maternos. Numa idade delicada, são freqüentemente metidas em apinhadas salas de aula sem ventilação, onde se sentam em posição incorreta em bancos mal construídos, e, em resultado, as jovens e tenras estruturas de alguns se têm deformado. CE 13.1

A disposição e os hábitos da juventude muito facilmente se manifestam na idade madura. Podeis curvar uma árvore nova em quase qualquer forma que desejardes, e se ela permanecer e crescer como a pusestes, será uma árvore deformada, denunciando sempre o dano e o mau trato recebido de vossas mãos. Podeis, depois de anos de crescimento, procurar endireitá-la, mas todos os esforços se demonstrarão infrutíferos. Ela será sempre uma árvore torta. Tal é o caso com a mente das crianças. Estas devem ser cuidadosa e ternamente educadas na infância. Podem ser exercitadas na devida direção ou em direção errada, e em sua vida futura seguirão aquela em que foram dirigidas na juventude. Os hábitos então formados crescerão cada vez mais e cada vez mais se fortalecerão, e geralmente o mesmo ocorrerá na vida posterior, apenas se tornando sempre mais fortes. CE 13.2

Vivemos numa época em que quase tudo é superficial. Pouca é a estabilidade e firmeza de caráter, porque o ensino e a educação das crianças são superficiais já desde o berço. O caráter delas é formado sobre areia movediça. A abnegação e o domínio próprio não foram entretecidos em seu caráter. Foram amimadas e tratadas complacentemente até ficarem estragadas para a vida prática O amor ao prazer domina as mentes, e as crianças são aduladas e favorecidas para sua ruína. As crianças devem ser de tal modo exercitadas e educadas que possam esperar tentações, e contar com dificuldades e perigos. Deve-lhes ser ensinado o domínio próprio, e a vencerem nobremente as dificuldades; e uma vez que não se precipitem voluntariamente para o perigo, e se coloquem sem necessidade no caminho da tentação, se fugirem às más influências e às companhias viciosas, sendo então, de maneira inevitável, compelidas a estar em perigoso convívio, terão suficiente força de caráter para ficar ao lado do direito e manter o princípio, saindo, no poder de Deus, com sua moral incontaminada. Se os jovens que foram devidamente educados puserem em Deus a confiança, sua força moral resistirá à mais severa prova. CE 13.3

Poucos pais compreendem, porém, que seus filhos são o que o seu exemplo e disciplina deles fizeram, e que são responsáveis pelo caráter desenvolvido pelos filhos. Se o coração dos pais cristãos estivesse sujeito à vontade de Cristo, obedeceriam à recomendação do Mestre divino: “Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Se os que professam seguir a Cristo tão-somente fizessem isto, dariam, não só a seus filhos, mas ao mundo incrédulo, exemplos que representariam corretamente a religião da Bíblia. CE 14.1

Se os pais cristãos vivessem em obediência aos preceitos do Mestre divino, preservariam a simplicidade no comer e no vestir, e viveriam mais de acordo com a lei natural. Não dedicariam então tanto tempo à vida artificial, inventando para si mesmos preocupações e fardos que Cristo não colocou sobre eles, antes ordenou explicitamente que os evitassem. Se o reino de Deus e a Sua justiça constituíssem a primeira e suprema consideração dos pais, bem pouco tempo precioso seria despendido em desnecessários adornos exteriores, enquanto o intelecto dos filhos é quase inteiramente negligenciado. O precioso tempo que muitos pais empregam para vestir os filhos para ostentação em seus locais de entretenimento, seria melhor, muito melhor aplicado no cultivo de sua própria mente, a fim de se tornarem competentes para instruir devidamente os filhos. Não é essencial para sua salvação ou felicidade que eles usem o precioso tempo de graça que Deus lhes concede, em adornar-se, visitar-se e bisbilhotar. CE 14.2

Muitos pais alegam ter tanto o que fazer que não dispõem de tempo para desenvolver o intelecto, educar os filhos para a vida prática ou ensinar-lhes como podem tornar-se cordeiros do rebanho de Cristo. Só por ocasião do juízo final, quando serão decididos os casos de todas as pessoas e os atos de toda a nossa vida expostos à nossa vista em presença de Deus e do Cordeiro e de todos os santos anjos, os pais compreenderão o quase infinito valor do tempo que desperdiçaram. Muitíssimos pais verão então que seu procedimento errôneo determinou o destino de seus filhos. Não só deixaram de assegurar para si mesmos as palavras de louvor do Rei da Glória: “Muito bem, servo bom e fiel; entra no gozo do teu Senhor”, mas ouvem ser proferida sobre os seus filhos a terrível sentença: “Apartai-vos!” Isto exclui os seus filhos para sempre das alegrias e glórias do Céu e da presença de Cristo. E sobre eles mesmos é lançada a sentença condenatória: Aparta-te, “servo mau e negligente”. Jesus jamais dirá “Muito bem” para os que não fizeram jus a essas palavras por sua vida fiel de abnegação e renúncia para fazer o bem a outros e promover a Sua glória. Os que vivem principalmente para agradar a si mesmos, em vez de fazer o bem a outros, sofrerão infinita perda. CE 15.1

Se os pais pudessem ser despertados para o senso da tremenda responsabilidade que pesa sobre eles na obra de educar os filhos, dedicariam mais tempo à oração, e menos à ostentação desnecessária. Meditariam, estudariam, e orariam fervorosamente a Deus por sabedoria e ajuda divina, para educarem os filhos de tal maneira que desenvolvam caráter aprovado por Deus. Sua preocupação não será como saber educar os filhos para serem louvados e honrados pelo mundo, mas como educá-los para formarem belo caráter que seja aprovado pelo Senhor. CE 15.2

É necessário muito estudo e fervorosa oração por sabedoria celestial para saber como lidar com mentes juvenis; pois muito depende da orientação que os pais conferem à mente e à vontade de seus filhos. Impelir-lhes a mente na direção correta e no tempo certo, é uma obra muitíssimo importante; pois o seu destino eterno poderá depender das decisões tomadas num momento crítico. Quão importante, pois, que a mente dos pais, tanto quanto possível, esteja livre de opressivo e fatigante cuidado com as coisas temporais, a fim de poderem pensar e agir com calma consideração, sabedoria e amor, e tornar a salvação da alma de seus filhos sua primeira e mais alta preocupação! O grande objetivo que os pais devem procurar alcançar para seus queridos filhos deve ser o adorno interior. Os pais não podem permitir que visitas e pessoas estranhas reclamem sua atenção, e, roubando-lhes o tempo, que é o grande capital da vida, impossibilitem que eles ministrem aos filhos, cada dia, a paciente instrução que precisam receber para dar correta orientação à mente em desenvolvimento. CE 16.1

A vida é muito curta para ser esbanjada em diversões inúteis e frívolas, em conversação sem proveito, em adornos desnecessários para ostentação ou em entretenimentos excitantes. Não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar o tempo que Deus nos dá para beneficiar a outros e ajuntar para nós mesmos um tesouro no Céu. O tempo é escasso para o desempenho dos deveres necessários. Devemos reservar tempo para o cultivo de nosso coração e mente, a fim de habilitar-nos para o trabalho de nossa vida Negligenciando estes deveres essenciais e conformando-nos com os hábitos e costumes da sociedade mundana e seguidora da moda, causamos grande dano a nós mesmos e a nossos filhos. CE 16.2

As mães que têm que disciplinar mentes juvenis e formar o caráter de seus filhos, não devem procurar a excitação do mundo a fim de serem alegres e felizes. Têm um trabalho importante na vida, e nem elas nem os seus devem permitir-se despender tempo de modo inútil. O tempo é um dos valiosos talentos que Deus nos confiou e pelo qual nos faz responsáveis. Desperdiçar o tempo é desperdiçar o intelecto. As faculdades mentais são suscetíveis de elevado desenvolvimento. É dever das mães cultivar a mente e conservar puro o coração. Devem aproveitar todos os meios ao seu alcance para aperfeiçoamento intelectual e moral, a fim de estarem preparadas para desenvolver a mente de seus filhos. As que condescendem com a inclinação de estar em companhia de alguém, logo ficarão impacientes se não estiverem fazendo ou recebendo visitas. Tais pessoas não possuem a faculdade de adaptação às circunstâncias. Os indispensáveis e sagrados deveres domésticos parecem comuns e desinteressantes para elas. Não lhes agrada o exame ou a disciplina próprios. A mente anseia pelas variadas e excitantes cenas da vida mundana; os filhos são negligenciados por condescendência com a inclinação; e o anjo relator escreve: “Servos inúteis.” Deus não quer que nossa mente seja destituída de um propósito definido, e, sim, que realize o bem nesta vida. CE 16.3

Se os pais se apercebessem de que Deus impõe sobre eles o solene dever de educar os filhos para serem úteis nesta vida; se adornassem o templo interior da alma de seus filhos e filhas para a vida imortal, veríamos uma notável mudança para melhor na sociedade. Então não seria manifestada tão grande indiferença para com a piedade prática, e não seria tão difícil despertar as sensibilidades morais dos filhos para compreenderem os reclamos de Deus a seu respeito. Os pais tornam-se, porém, cada vez mais descuidados na educação de seus filhos nos ramos de utilidade. Muitos pais consentem que os filhos formem maus hábitos e sigam sua própria inclinação, deixando de impressionar-lhes a mente com o perigo de fazerem isso e com a necessidade de serem controlados por princípios. CE 17.1

As crianças freqüentemente iniciam um serviço com entusiasmo, mas, encontrando dificuldade ou cansando-se dele, desejam mudar, e empreender alguma coisa nova Assumem assim diferentes tarefas, enfrentam um pouco de desânimo e desistem; e assim vão passando de uma coisa para outra, sem nada completar. Os pais não devem permitir que os filhos sejam dominados pelo amor à variação. Não devem ocupar-se tanto com outras coisas que não tenham tempo para disciplinar pacientemente as mentes em formação. Algumas palavras de animação ou um pouco de ajuda no momento apropriado podem auxiliá-los a transpor a dificuldade e o desalento, e a satisfação resultante de completarem a tarefa que empreenderam os incentivará a serem mais diligentes. CE 17.2

Muitas crianças, por falta de palavras de encorajamento e de um pouco de ajuda em seus esforços, ficam desanimadas, e mudam de uma coisa para outra Este lamentável defeito as acompanha por toda a vida. Deixam de fazer com êxito tudo aquilo em que se empenham, porque não aprenderam a perseverar sob circunstâncias desalentadoras. Assim, a vida inteira de muitos se torna um fracasso, pois não tiveram uma disciplina correta quando eram pequenos. A educação recebida na infância e na juventude afeta toda a sua carreira na vida adulta, e sua experiência religiosa sofre um estigma correspondente. CE 18.1