Conselhos Aos Pais, Professores E Estudantes

214/278

A Educação de Moisés

A educação recebida por Moisés, como neto do rei, foi bem completa. Não foi negligenciada coisa alguma que o houvesse de tornar um homem sábio, segundo a egípcia compreensão da sabedoria. A parte mais valiosa do preparo de Moisés para a obra de sua vida, no entanto, foi a que ele recebeu como pastor. Enquanto conduzia seus rebanhos através dos desertos das montanhas, e aos verdes pastos dos vales, o Deus da natureza ensinou-lhe a mais alta sabedoria. Na escola da natureza, tendo Cristo como professor, ele aprendeu lições de humildade, mansidão, fé e confiança; lições que lhe ligaram mais estreitamente o coração a Deus. Na solidão das montanhas, aprendeu aquilo que toda a sua instrução no palácio real fora incapaz de lhe comunicar - simples e inabalável fé, e uma contínua confiança no Senhor. CP 406.2

Moisés julgara que sua educação na sabedoria do Egito o habilitava plenamente a tirar Israel do cativeiro. Não era ele instruído em todas aquelas coisas necessárias a um general de exército? Não tivera as vantagens das melhores escolas da Terra? Sim, ele se sentia capaz de libertar seu povo. Deu começo a essa obra tentando cativar-lhes o favor por meio da reparação de seus agravos. Matou um egípcio que estava oprimindo a um israelita. Com isso, manifestou o espírito daquele que foi homicida desde o princípio, demonstrando-se inapto para representar o Deus de misericórdia, amor e ternura. CP 407.1

Moisés fracassou lamentavelmente em sua primeira tentativa; e, como muitos outros, perdeu imediatamente a confiança em Deus, e deu as costas à obra que lhe era indicada. Fugiu da ira de Faraó. Concluiu que devido a seu grande pecado em tirar a vida ao egípcio, Deus não lhe permitiria ter qualquer parte na obra da libertação de Seu povo da cruel escravidão. Mas o Senhor permitiu essas coisas a fim de ensinar a Moisés a brandura, a bondade e a longanimidade necessárias a todo obreiro do Mestre, de maneira a ser bem-sucedido em Sua causa. ... CP 407.2

Moisés tinha sido ensinado a esperar lisonja e louvor por suas superiores aptidões; devia, agora, aprender lição diferente. Como pastor de ovelhas, Moisés aprendeu a cuidar da aflita, a tratar da enferma, a procurar pacientemente a extraviada, a ser longânimo com as indóceis, a suprir com amorável solicitude as necessidades dos tenros cordeirinhos e as faltas das velhas e das fracas. Nessa experiência, foi atraído para mais perto do Supremo Pastor. Uniu-se ao Santo de Israel, nEle imergindo. Acreditava no grande Deus. Entretinha comunhão com o Pai mediante humilde oração. Olhava ao Altíssimo quanto à educação nas coisas espirituais, e ao conhecimento de seu dever como fiel pastor. Sua vida ficou tão intimamente ligada ao Céu, que Deus falava com ele face a face, “como qualquer fala com o seu amigo” (Êx 33:11). CP 407.3

Assim educado, Moisés foi preparado para ouvir o chamado de Deus, para permutar seu cajado de pastor pela vara da autoridade; para deixar seu rebanho de ovelhas e tomar a liderança de um povo idólatra e rebelde. Mas devia depender ainda do invisível Guia. Como a vara era um instrumento em sua mão, assim devia ele ser dócil instrumento nas mãos de Cristo. Devia ser o pastor do povo de Deus; e, mediante sua firme fé e permanente confiança no Senhor, muitas bênçãos deviam sobrevir aos filhos de Israel. ... CP 408.1

Foi a implícita fé em Deus que fez de Moisés o que ele foi. Segundo tudo quanto o Senhor lhe ordenava, ele fazia. Toda a sabedoria dos sábios não poderia tornar Moisés um instrumento mediante o qual o Senhor pudesse operar, enquanto ele não perdesse a confiança em si mesmo, compreendesse a própria fragilidade, e pusesse em Deus a confiança; enquanto ele não se tornou voluntário em obedecer aos mandamentos de Deus, quer estes parecessem justos à sua razão humana, quer não. ... CP 408.2

Não foi o ensino das escolas do Egito o que habilitou Moisés a triunfar sobre seus inimigos, mas persistente e infalível fé, fé que não faltou sob as mais difíceis circunstâncias. Ao mandado de Deus, Moisés avançava, embora aparentemente não houvesse adiante coisa alguma em que firmar os pés. Mais de um milhão de pessoas dependiam dele, e ele as conduziu passo a passo, dia após dia. Deus permitiu essas solitárias jornadas através do deserto, a fim de Seu povo poder adquirir experiência no suportar asperezas, e para que, quando estivessem em perigo, soubessem que unicamente em Deus havia alívio e livramento. Assim deviam eles aprender a conhecer e confiar em Deus e a servi-Lo com uma fé viva. CP 408.3