Parábolas de Jesus

3/60

O semeador e a semente

Pela parábola do semeador, ilustra Cristo as coisas do reino dos Céus e a obra do grande Lavrador para o Seu povo. Como um semeador no campo, assim veio Ele também para espalhar a semente celestial da verdade. E Seu ensino por parábolas era a semente, com a qual as mais preciosas verdades de Sua graça foram disseminadas. Por sua simplicidade, a parábola do semeador não tem sido apreciada como devia. Da semente natural que é lançada na terra, Cristo deseja dirigir-nos o espírito para a semente do evangelho, cuja semeadura resulta em reconduzir o homem à lealdade para com Deus. Ele, que deu a parábola da pequena semente, é o Soberano do Céu, e as mesmas leis que regem o semear da semente terrena, regem o semear das sementes da verdade. PJ 7.4

Tinha-se aglomerado, junto ao Mar da Galiléia, uma multidão curiosa e expectante para ver e ouvir a Jesus. Lá havia doentes que estavam deitados em leitos, e esperavam para apresentar-Lhe seu caso. Deus Lhe havia dado o direito de aliviar a dor de uma geração pecaminosa e agora repreendia a enfermidade e difundia ao Seu redor vida, saúde e paz. PJ 7.5

Aumentando a multidão continuamente, o povo se comprimia ao redor de Cristo até não haver mais espaço para contê-los. Então, dirigindo uma palavra aos homens nos botes, subiu à embarcação que estava pronta para levá-Lo à outra margem do lago, e ordenando aos discípulos que se afastassem um pouco da terra, falou à multidão reunida na margem. PJ 7.6

Junto ao lago estava a bela planície de Genesaré, além erguiam-se as colinas, e no sopé do monte, como também no planalto, havia semeadores e ceifeiros trabalhando, uns espalhando a semente e os outros ceifando o cereal maduro. Contemplando esta cena, disse Cristo: PJ 7.7

“Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas, vindo o Sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta.” Mateus 13:3-8. PJ 7.8

A missão de Cristo não foi compreendida pelos homens de Seu tempo. A maneira de Sua vinda não estava em harmonia com a expectativa deles. O Senhor Jesus era o fundamento de toda a dispensação judaica. Suas imponentes cerimônias foram ordenados por Deus. Foram designados para ensinar ao povo, que no tempo determinado, viria Aquele ao qual apontavam aquelas cerimônias. Mas os judeus tinham exaltado as formalidades e cerimônias, e perdido de vista seu objetivo. As tradições, máximas e decretos de homens ocultavam-lhes as lições que Deus intencionava comunicar-lhes. Essas máximas e tradições tornaram-se um obstáculo para a sua compreensão e prática da verdadeira religião. E ao vir a realidade, na pessoa de Cristo, não reconheceram nEle o cumprimento de todos os símbolos, a substância de todas as sombras. Rejeitaram o antítipo, e apegaram-se a seus tipos e cerimônias inúteis. O Filho do homem viera, mas continuaram pedindo um sinal. À mensagem: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus” (Mateus 3:2), respondiam exigindo um milagre. O evangelho de Cristo lhes era uma pedra de tropeço, porque, em vez de um Salvador, pediam um sinal. Esperavam que o Messias provasse Suas reivindicações por vitórias brilhantes, para estabelecer Seu império sobre as ruínas de reinos terrestres. Como resposta a essa expectativa, deu Cristo a parábola do semeador. O reino de Deus não devia prevalecer pela força de armas nem por intervenções violentas, mas pela implantação de um princípio novo no coração dos homens. PJ 9.1

“O que semeia a boa semente é o Filho do homem.” Mateus 13:37. Cristo viera, não como rei, mas como semeador; não para subverter reinos, mas para espalhar a semente; não para levar Seus seguidores a triunfos terrenos e grandezas nacionais, mas para uma colheita que será ganha depois de paciente trabalho, e por perdas e desilusões. PJ 9.2

Os fariseus compreendiam a significação da parábola de Cristo; mas o Seu ensino lhes era indesejável. Faziam como se não o compreendessem. À grande massa envolvia-se num maior mistério ainda o propósito do novo Mestre, cujas palavras lhes moviam tão estranhamente o espírito e tão amargamente desapontavam as ambições. Os discípulos mesmos não compreenderam a parábola, mas foi-lhes instigado o interesse. Foram ter depois particularmente com Jesus e pediram explicação. PJ 9.3

Este desejo era justamente o que Jesus pretendia despertar para que lhes pudesse dar instrução mais definida. Explicou-lhes a parábola, do mesmo modo que tornará clara Sua palavra a todos os que O procuram em sinceridade de coração. Os que estudam a Palavra de Deus com o coração aberto para a iluminação do Espírito Santo, não permanecerão em trevas quanto à significação da mesma. “Se alguém quiser fazer a vontade dEle”, dizia Cristo, “pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se Eu falo de Mim mesmo.” João 7:17. Todos os que vão a Cristo com o desejo de um mais claro conhecimento da verdade, o receberão. Ele lhes desdobrará os mistérios do reino dos Céus, e os mesmos serão compreendidos pelos corações que anelam conhecer a verdade. Uma luz celeste raiará no templo da alma e será revelada a outros como o brilho refulgente de uma lâmpada em estrada tenebrosa. PJ 9.4

“Eis que o semeador saiu a semear.” Mateus 13:3. No oriente tão incertas eram as circunstâncias, e as violências tão grande perigo ocasionavam, que o povo morava principalmente em cidades muradas, e os lavradores saíam diariamente para o trabalho. Assim saiu também Cristo, o Semeador celeste, a semear. Deixou Seu lar seguro e cheio de paz, deixou a glória que possuía junto ao Pai, antes de o mundo existir, deixou Sua posição no trono do Universo. Saiu como homem sofredor e tentado; saiu em solidão para semear em lágrimas e para regar com o próprio sangue a semente da vida para um mundo perdido. PJ 10.1

Igualmente, Seus servos precisam sair para semear. Quando Abraão foi chamado para tornar-se semeador da semente da verdade, foi-lhe ordenado: “Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei.” Gênesis 12:1. “E saiu, sem saber para onde ia.” Hebreus 11:8. Assim também recebeu Paulo a ordem divina, enquanto orava no templo em Jerusalém: “Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe.” Atos dos Apóstolos 22:21. Assim todos os que são chamados para unir-se a Cristo, precisam deixar tudo para segui-Lo. Velhas relações precisam ser cortadas, planos de vida abandonados, esperanças terreais renunciadas. Com trabalho e lágrimas, na solidão e por sacrifício, deve a semente ser lançada. PJ 10.2

“O semeador semeia a Palavra.” Marcos 4:14. Cristo veio para semear o mundo com a verdade. Durante todo o tempo, desde a queda do homem, tem Satanás lançado a semente do erro. Por uma mentira ganhou o domínio sobre os homens, e da mesma maneira trabalha ainda para subverter o reino de Deus na Terra e submeter os homens a seu poderio. Como semeador de um mundo mais elevado, veio Cristo para lançar as sementes da verdade. Ele, que tomou parte no conselho de Deus e morou no mais íntimo santuário do Eterno, podia dar aos homens os puros princípios da verdade. Desde a queda do homem, Cristo tem sido o Revelador da verdade ao mundo. Por Ele foi transmitida ao homem a semente incorruptível, a “Palavra de Deus, viva e que permanece para sempre”. 1 Pedro 1:23. Naquela primeira promessa dada no Éden à humanidade caída Cristo lançava a semente do evangelho. Mas a parábola do semeador aplica-se especialmente a Seu ministério pessoal entre os homens, e à obra que Ele assim estabeleceu. PJ 10.3

A Palavra de Deus é a semente. Toda semente tem em si um princípio germinativo. Nela está contida a vida da planta. Do mesmo modo há vida na Palavra de Deus. Cristo diz: “As palavras que Eu vos disse são espírito e vida.” João 6:63. “Quem ouve a Minha palavra e crê nAquele que Me enviou tem a vida eterna.” João 5:24. Em cada mandamento, em cada promessa da Palavra de Deus está o poder, sim, a vida de Deus, pelo qual o mandamento pode ser cumprido e realizada a promessa. Aquele que pela fé aceita a Palavra, recebe a própria vida e o caráter de Deus. PJ 11.1

Cada semente produz fruto segundo sua espécie. Lançai a semente sob condições adequadas, e desenvolverá sua própria vida na planta. Recebei na alma, pela fé, a incorruptível semente da Palavra, e ela produzirá caráter e vida à semelhança do caráter e vida de Deus. PJ 11.2

Os mestres de Israel não disseminavam a semente da Palavra de Deus. A obra de Cristo como Mestre da verdade estava em notável contraste com a dos rabinos do Seu tempo. Eles se firmavam sobre tradições, teorias humanas e especulações. Muitas vezes aquilo que homens tinham ensinado ou escrito sobre a Palavra, colocavam no lugar da própria Palavra. Seus ensinos não tinham poder para refrigerar a alma. O tema das pregações e ensinamentos de Cristo era a Palavra de Deus. Respondia a interlocutores com um simples: “Está escrito.” Lucas 4:8, 10. “Que diz a Escritura?” “Como lês?” Lucas 10:26. Em cada oportunidade, quando era despertado interesse por um amigo ou adversário, lançava a semente da Palavra. Ele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida, Ele que é o próprio Verbo vivo, aponta às Escrituras e diz: “São elas que de Mim testificam.” João 5:39. “E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dEle se achava em todas as Escrituras.” Lucas 24:27. PJ 11.3

Os servos de Cristo devem fazer a mesma obra. Em nosso tempo, como na antiguidade, as verdades vitais da Palavra de Deus são substituídas por teorias e especulações humanas. Muitos professos ministros do Evangelho não aceitam toda a Bíblia como a Palavra inspirada. Um sábio rejeita esta parte, outro duvida daquela. Elevam sua opinião acima da Palavra; e as Escrituras que eles ensinam, repousam sobre a autoridade deles próprios. Sua autenticidade divina é destruída. Deste modo é semeada largamente a semente da incredulidade; porque o povo é confundido e não sabe o que crer. Há muitas crenças que a mente não tem o direito de entreter. Nos dias de Cristo os rabinos forçavam uma construção mística sobre muitas porções das Escrituras. Porque os claros ensinos da Palavra de Deus lhes condenavam as práticas, procuravam destruir-lhes a força. O mesmo acontece hoje em dia. Deixa-se parecer a Palavra de Deus cheia de mistérios e trevas, para desculpar as transgressões de Sua lei. Em Seus dias, Cristo censurava estas práticas. Ensinava que a Palavra de Deus deve ser compreendida por todos. Apontava às Escrituras como de autoridade inquestionável, e devemos fazer o mesmo. A Bíblia deve ser apresentada como a Palavra do Deus infinito, como o termo de toda polêmica e o fundamento de toda fé. PJ 11.4

A Bíblia tem sido espoliada de seu poder, e vemos a conseqüência no abaixamento do tom da vida espiritual. Nos sermões de muitos púlpitos de hoje, não há aquela divina manifestação, que desperta a consciência e dá vida à alma. Os ouvintes não podem dizer: “Porventura, não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras?” Lucas 24:32. Há muitos que estão clamando pelo Deus vivo, e anseiam a presença divina. Teorias filosóficas ou composições literárias, embora brilhantes, não podem satisfazer o coração. As afirmações e descobrimentos dos homens não têm valor algum. Fale a Palavra de Deus ao povo! Os que só ouviram tradições, teorias e máximas humanas, ouçam a voz dAquele cuja palavra pode renovar a alma para a vida eterna. PJ 12.1

O tema predileto de Cristo era o amor paterno e a abundante graça de Deus; demorava-Se muito sobre a santidade de Seu caráter e de Sua lei; e apresentou-Se a Si mesmo aos homens como o Caminho, a Verdade e a Vida. Sejam estes os temas dos ministros de Cristo! Anunciai a verdade como é em Jesus. Explicai as reivindicações da Lei e do Evangelho. Contai ao povo da vida de renúncia e sacrifício de Cristo; de Sua humilhação e morte; de Sua ressurreição e ascensão; de Sua intercessão por eles na corte de Deus; de Sua promessa: “Virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo.” João 14:3. PJ 12.2

Em vez de disputar sobre teorias errôneas ou procurar combater os oponentes do Evangelho, segui o exemplo de Cristo. Reavivai as sãs verdades do tesouro de Deus. Pregai a Palavra. “Semeais sobre todas as águas.” Isaías 32:20. “A tempo e fora de tempo.” 2 Timóteo 4:2. “Aquele em quem está a Minha Palavra, que fale a Minha Palavra, com verdade. Que tem a palha com o trigo? — diz o Senhor.” Jeremias 23:28. “Toda Palavra de Deus é pura. ... Nada acrescentes às Suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso.” Provérbios 30:5, 6. PJ 12.3

“O semeador semeia a Palavra.” Eis exposto o grande princípio que deve fundamentar toda obra educacional. “A semente é a Palavra de Deus.” Lucas 8:11. Mas em muitíssimas escolas de nossos dias a Palavra de Deus é posta de lado. Outros assuntos ocupam a mente. O estudo de autores incrédulos tem parte preponderante em nosso sistema educacional. Sentimentos céticos estão entretecidos com a matéria dos livros escolares. Pesquisas científicas tornam-se ilusórias, porque seus descobrimentos são mal interpretados e pervertidos. A Palavra de Deus é comparada aos supostos ensinos da Ciência, sendo considerada incerta e indigna de confiança. Assim é implantada no espírito dos jovens a semente da dúvida e, no tempo da tentação, germina. Ao perder a fé na Palavra de Deus, a mente não tem guia, nem salvaguarda. Os jovens são levados a caminhos que desviam de Deus e da vida eterna. PJ 12.4

A esta causa pode, em elevado grau, ser atribuída a iniqüidade difundida no mundo hoje em dia. Quando a Palavra de Deus é posta de lado, é rejeitado também seu poder de refrear as paixões pecaminosas do coração natural. Os homens semeiam na carne, e da carne colhem a corrupção. PJ 13.1

Eis também a grande causa de fraqueza e ineficiência mental. Desviando-se da Palavra de Deus, para alimentar-se nos escritos de homens não inspirados, o espírito se deprecia e rebaixa. Não é levado em contato com os profundos e amplos princípios da verdade eterna. A inteligência adapta-se à compreensão das coisas que lhe são familiares e, nesta devoção às coisas finitas, ela é debilitada, seu poder limitado e, no decorrer de algum tempo, torna-se inapta para se expandir. PJ 13.2

Tudo isso é educação falsa. Deveria ser o cuidado de todo professor fixar o espírito dos jovens sobre as grandes verdades da Palavra inspirada. Essa é a educação essencial para esta vida e para a vindoura. PJ 13.3

Não se pense que isso impedirá o estudo das ciências ou causará norma medíocre de educação. O conhecimento de Deus é tão alto quanto o Céu, e tão vasto quanto o Universo. Nada é tão enobrecedor nem tão importante como o estudo dos grandes temas que concernem à nossa vida eterna. Procure a juventude compreender essas verdades doadas por Deus; expandir-se-lhe-á a mente, e fortificar-se-á nesse esforço. Levará todo aluno que é praticante da Palavra a um mais amplo campo de pensamento, e ser-lhe-á assegurado um tesouro de sabedoria que é imperecível. PJ 13.4

A educação adquirida pelo esquadrinhar das Escrituras, consiste no conhecimento experimental do plano da salvação. Uma tal instrução restaurará a imagem de Deus no ser humano. Fortalecerá e firmará o espírito contra tentações, e habilitará o estudante a tornar-se coobreiro de Cristo em Sua misericordiosa missão ao mundo. Fará dele um membro da família celestial, preparando-o para participar da herança dos santos na luz. PJ 13.5

Mas o professor da verdade sagrada só poderá comunicar aquilo que ele conhece por experiência própria. “O semeador semeia sua semente.” Cristo ensinava a verdade, porque Ele era a verdade. Seu pensar, Seu caráter, Sua experiência da vida eram incorporados em Seus ensinos. Assim também é com Seus servos; os que querem ensinar a Palavra de Deus precisam apropriar-se dela pela experiência pessoal. Precisam saber o que significa Cristo ser-lhes feito sabedoria, justiça, santificação e redenção. Proclamando a Palavra de Deus, não devem fazê-la parecer duvidosa nem incerta. Devem declarar com o apóstolo Pedro: “Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas, mas nós mesmos vimos a Sua majestade.” 2 Pedro 1:16. Todo ministro de Cristo e todo professor deve estar habilitado a dizer com o amado João: “Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada.” 1 João 1:2. PJ 14.1