Parábolas de Jesus

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Capítulo 11 — Onde encontrar a verdade

Este capítulo é baseado em Mateus 13:51, 52.

Enquanto Cristo ensinava o povo, instruía ao mesmo tempo os discípulos para a sua obra futura. Em todos os Seus ensinos havia lições para eles. Depois de dar a parábola da rede, perguntou-lhes: “Entendestes todas estas coisas?” Disseram-Lhe: “Sim, Senhor.” Mateus 13:51. Então lhes expôs, noutra parábola, a responsabilidade em relação às verdades recebidas. “Por isso”, disse Ele, “todo escriba instruído acerca do reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” Mateus 13:52. PJ 60.4

O pai de família não acumula o tesouro adquirido. Serve-se dele para partilhar com outros; e, pelo uso, o tesouro aumenta. O pai de família tem coisas preciosas, novas e velhas. Assim Cristo ensina que a verdade confiada aos discípulos deve ser anunciada ao mundo; e, partilhando o conhecimento da verdade, ele aumentará. Todos os que recebem no coração a mensagem do evangelho, almejarão proclamá-la. O amor de Cristo, de origem celeste, precisa encontrar expressão. Os que se revestiram de Cristo relatarão sua experiência, descobrindo passo a passo a direção do Espírito Santo — sua sede e fome de conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, a quem enviou, o resultado de esquadrinhar as Escrituras, suas orações, sua agonia de alma e as palavras de Cristo a eles: “Teus pecados te são perdoados.” É antinatural que qualquer pessoa mantenha em secreto estas coisas; e quem está possuído do amor de Cristo não o fará. Na mesma proporção em que o Senhor os tornou depositários da verdade sagrada, será seu desejo que outros recebam a mesma bênção. Divulgando os ricos tesouros da graça de Deus, ser-lhes-á concedido mais e mais da graça de Cristo. Terão o coração de uma criancinha em sua simplicidade e obediência irrestrita. Sua alma almejará a santidade e ser-lhes-á revelado sempre mais dos tesouros da verdade e da graça, para serem dados ao mundo. PJ 60.5

O grande celeiro da verdade é a Palavra de Deus — a Palavra escrita, o livro da natureza e o livro da experiência no trato de Deus para com a vida humana. Eis os tesouros, de que os coobreiros de Cristo devem prover-se. Na pesquisa da verdade devem confiar em Deus e não na inteligência dos grandes homens, cuja sabedoria é loucura para Deus. O Senhor comunicará ao inquiridor o conhecimento de Si mesmo, pelos canais por Ele prescritos. PJ 61.1

Se o seguidor de Cristo crer em Sua Palavra e praticá-la, não haverá Ciência no mundo natural, que não possa compreender nem apreciar. Nada há que não lhe forneça meio de partilhar a verdade com outros. A história natural é um tesouro de conhecimentos em que todo estudante na escola de Cristo pode obter. Contemplando o encanto da natureza, estudando suas lições no cultivo do solo, no crescimento das árvores, em todas as maravilhas da terra, mar e céu, advir-nos-á percepção nova da verdade. Os mistérios ligados ao proceder de Deus para com os homens, as profundezas de Sua sabedoria e penetração, vistos na vida humana — verificar-se-á serem um depósito repleto de tesouros. PJ 61.2

Mas, na Palavra escrita é que está revelado com maior clareza o conhecimento de Deus ao homem caído. Nela estão as inesgotáveis riquezas de Cristo. PJ 61.3

A Palavra de Deus abrange as Escrituras, tanto do Antigo como do Novo Testamentos. Um não está completo sem o outro. Cristo declarou que as verdades do Antigo Testamento são tão preciosas quanto as do Novo. Cristo tanto foi o Redentor do homem no princípio do mundo quanto o é hoje. Antes que viesse à nossa Terra com Sua divindade revestida da humanidade, foi dada a mensagem do evangelho a Adão, Sete, Enoque, Matusalém e Noé. Abraão em Canaã e Ló em Sodoma anunciaram a mensagem, e de geração a geração mensageiros fiéis prenunciaram Aquele que havia de vir. Os ritos da dispensação judaica foram instituídos por Cristo mesmo. Foi Ele o fundamento de seu sistema de ofertas sacrificais, o grande antítipo de todo o seu cerimonial religioso. O sangue derramado quando os sacrifícios eram oferecidos apontava o sacrifício do Cordeiro de Deus. Todas as ofertas típicas tiveram nEle o seu cumprimento. PJ 61.4

Cristo, manifesto aos patriarcas, simbolizado no serviço sacrifical, retratado na lei, e revelado pelos profetas, é o tesouro do Antigo Testamento. Cristo em Sua vida, morte e ressurreição; Cristo como é manifesto pelo Espírito Santo, é o tesouro do Novo. Nosso Salvador, o resplendor da glória do Pai, tanto é o Antigo como o Novo. Os apóstolos deviam ir como testemunhas da vida, morte e mediação de Cristo, preditas pelos profetas. Cristo em Sua humilhação, pureza e santidade, em Seu amor incomparável, devia ser seu tema. E para pregar o evangelho em sua plenitude, precisavam apresentar o Salvador, não somente como lhes fora revelado em Sua vida e ensinos, mas também predito pelos profetas do Antigo Testamento e simbolizado pelo serviço sacrifical. Em Seus ensinos, Cristo expunha velhas verdades, das quais Ele mesmo era o originador, verdades que Ele próprio proferira pelos patriarcas e profetas; porém, sobre elas projetava agora nova luz. Como parecia diferente a sua significação! Sua explanação lançava ondas de luz e espiritualidade. E prometeu que o Espírito Santo deveria iluminar os discípulos para que a Palavra de Deus se lhes desdobrasse continuamente. Estariam capacitados para apresentar as verdades em renovada beleza. PJ 62.1

Desde a primeira promessa de redenção no Éden, a vida, o caráter e a mediação de Cristo têm constituído o estudo das mentes humanas. Todavia, cada mente pela qual tem atuado o Espírito Santo, expôs estes temas sob aspecto novo. As verdades da redenção são susceptíveis de desenvolvimento e expansão constantes. Embora velhas, são sempre novas, e revelam constantemente ao pesquisador da verdade maior glória e força mais potente. PJ 62.2

Em cada época há novo desenvolvimento da verdade, uma mensagem de Deus para essa geração. As velhas verdades são todas essenciais; a nova verdade não é independente da antiga, mas um desdobramento dela. Só compreendendo as velhas verdades é que podemos entender as novas. Quando Cristo quis expor aos discípulos a verdade de Sua ressurreição, começou “por Moisés e por todos os profetas”, e “explicava-lhes o que dEle se achava em todas as Escrituras”. Lucas 24:27. Mas a luz que brilha na nova ampliação da verdade, é que glorifica a velha. O homem que rejeita ou despreza a nova, não possui realmente a velha. Para ele perde seu poder vital e torna-se forma inanimada. PJ 62.3

Há homens que professam crer e ensinar as verdades do Antigo Testamento, ao passo que rejeitam o Novo. Pela recusa de aceitar os ensinos de Cristo mostram que tampouco crêem o que disseram os patriarcas e profetas. “Porque, se vós crêsseis em Moisés”, disse Cristo, “creríeis em Mim, porque de Mim escreveu ele.” João 5:46. Pelo que não há poder real em seus ensinos, mesmo do Antigo Testamento. PJ 63.1

Muitos que pretendem crer e ensinar o evangelho, encontram-se em erro idêntico. Rejeitam as Escrituras do Antigo Testamento, das quais Cristo declarou: “São elas que de Mim testificam.” João 5:39. Rejeitando o Antigo, rejeitam efetivamente o Novo, pois ambos são parte de um todo inseparável. Ninguém pode apresentar corretamente a lei de Deus sem o evangelho, ou o evangelho sem a lei. A lei é o evangelho consolidado, e o evangelho é a lei desdobrada. A lei é a raiz, e o evangelho é a fragrante flor e frutos que produz. PJ 63.2

O Antigo Testamento projeta luz sobre o Novo, e o Novo, sobre o Antigo. Ambos são uma revelação da glória de Deus em Cristo. Ambos apresentam verdades que revelarão continuamente ao fervoroso inquiridor, novas profundezas. PJ 63.3

Incomensurável é a verdade em Cristo e mediante Cristo. O estudante da Escritura, por assim dizer, contempla uma fonte que se aprofunda e amplia à medida que mira sua profundeza. Nesta vida não entenderemos o mistério do amor de Deus em entregar Seu Filho para propiciação por nossos pecados. A obra de nosso Redentor na Terra é e sempre será assunto que há de exigir o máximo de nossa mais atenta imaginação. O homem pode empenhar toda a sua faculdade mental no esforço de penetrar este mistério, mas a sua capacidade de compreensão desfalecerá e fatigar-se-á. O pesquisador mais esforçado ver-se-á diante de um mar ilimitado e sem praias. PJ 63.4

A verdade, como é em Jesus, pode ser experimentada mas nunca explicada. Sua altura, largura e profundidade ultrapassam nosso entendimento. Podemos exercitar ao máximo a imaginação, e veremos então só tenuemente o esboço de um amor inexplicável, tão alto quanto o Céu, mas que baixou à Terra para gravar em toda a humanidade a imagem de Deus. PJ 63.5

Todavia nos é possível ver tanto da misericórdia divina quanto podemos suportar. Ela será desvendada à alma contrita e humilde. Compreenderemos a misericórdia de Deus justamente na proporção em que apreciamos o Seu sacrifício por nós. Esquadrinhando com humildade de coração a Palavra de Deus, descerrar-se-á à nossa pesquisa o grande tema da redenção. Ele aumentará de fulgor à medida que o contemplarmos, e, à medida que desejarmos entendê-lo, sua altura e profundidade crescerão. PJ 63.6

Nossa vida deve estar ligada à vida de Cristo, dEle receber continuamente, participar dEle, o Pão vivo que desceu do Céu, e prover-se de uma fonte sempre fresca, que sempre produz copioso tesouro. Se tivermos o Senhor sempre diante de nós, e deixarmos o coração transbordar em ações de graças e louvores a Ele, teremos frescor contínuo em nossa vida religiosa. Nossas orações terão a forma de uma conversa com Deus, como se falássemos com um amigo. Ele nos falará pessoalmente de Seus mistérios. Freqüentemente advir-nos-á um senso agradável e alegre da presença de Jesus. O coração arderá muitas vezes em nós, quando Ele Se achegar para comungar conosco, como o fazia com Enoque. Quando esta for em verdade a experiência do cristão, ver-se-lhe-ão na vida, simplicidade, mansidão, brandura e humildade de coração, que mostrarão a todos os que com ele mantêm contato, que esteve com Jesus e dEle aprendeu. PJ 64.1

Naqueles que a possuem, a religião de Cristo revelar-se-á um princípio vitalizante e penetrante, uma energia viva, operante e espiritual. Manifestar-se-ão a força, o frescor e a alegria da juventude perpétua. O coração que recebe a Palavra de Deus, não é como um açude que se evapora, nem como uma cisterna rota que perde o seu tesouro. É como a torrente da montanha, alimentada por fontes inesgotáveis, cuja água fresca e borbulhante salta, de rochedo em rochedo, refrescando os cansados, os sedentos e os duramente oprimidos. PJ 64.2

Essa experiência dá a todo instrutor da verdade, justamente as qualificações que o tornarão representante de Cristo. O espírito dos ensinos de Cristo lhe dará vigor e precisão às palavras e orações. Seu testemunho de Cristo não será acanhado nem frágil. O pastor não pregará sempre e sempre os mesmos discursos de praxe. Abrir-se-lhe-á a mente para a iluminação constante do Espírito Santo. PJ 64.3

Cristo disse: “Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna. ... Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim quem de Mim se alimenta também viverá por Mim. O Espírito é o que vivifica; ... as palavras que Eu vos disse são Espírito e vida.” João 6:54, 57, 63. PJ 64.4

Se comermos a carne de Cristo e bebermos o Seu sangue, o elemento da vida eterna será encontrado no ministério. Não haverá um fundo de idéias arcaicas e repisadas. Cessará o sermão monótono e cansativo. As velhas verdades serão apresentadas, mas serão vistas sob novo prisma. Haverá percepção nova da verdade, clareza e poder que serão discernidos por todos. Os que têm o privilégio de estar sob um ministério tal, se sensíveis à influência do Espírito Santo, sentirão o poder tonificante de uma vida nova. O fogo do amor de Deus será aceso neles. Suas faculdades perceptivas serão avivadas para discernir a beleza e majestade da verdade. PJ 64.5

O fiel pai de família representa o que deve ser todo instrutor das crianças e dos adolescentes. Se fizer da Palavra de Deus seu tesouro, então dela extrairá continuamente novas verdades. Quando o professor confiar em Deus em oração, o espírito de Cristo sobre ele repousará, e, por intermédio dele e pelo Espírito Santo, Deus impressionará outras mentes. O Espírito enche a mente e o coração de doce esperança, ânimo e imagens bíblicas, e tudo isso será transmitido à juventude sob sua instrução. PJ 65.1

As fontes da paz e alegria celestiais, abertas na mente do professor pelas palavras da Inspiração, tornar-se-ão volumosa torrente de influência para abençoar todos quantos com Ele se relacionam. A Bíblia não será um livro enfadonho para o seu estudante. Sob a direção de um mestre sábio, a Palavra se lhe tornará mais e mais aprazível. Será como o pão da vida e jamais envelhecerá! Seu frescor e beleza atrairão e encantarão crianças e jovens. É como o Sol que brilha sobre a Terra e comunica perpetuamente luz e calor, e contudo jamais se esgota. PJ 65.2

O Espírito de Deus, santo e educador, está em Sua Palavra. Uma luz, nova e preciosa, irradia de cada página. A verdade é revelada, palavras e frases se tornam claras e apropriadas para a ocasião, como a voz de Deus falando ao coração. PJ 65.3

O Espírito Santo aprecia dirigir-Se à juventude, para desvendar-lhe os tesouros e belezas da Palavra de Deus. As promessas pronunciadas pelo grande Mestre cativarão os sentidos e animarão a alma com poder espiritual que é divino. Florescerá na mente fértil uma familiaridade com as coisas divinas, que será como baluarte contra a tentação. PJ 65.4

As palavras da verdade crescerão de importância e assumirão largueza e plenitude de significado com que jamais sonhamos. A beleza e a opulência da Palavra têm influência transformadora sobre a mente e o caráter. A luz do amor celeste incidirá sobre a alma, qual inspiração. A apreciação da Bíblia aumenta com o estudo. Para onde quer que se volte o aluno, achará manifestos a infinita sabedoria e o amor de Deus. O significado da dispensação judaica não é ainda plenamente compreendido. Profundas e vastas verdades são prefiguradas em seus ritos e símbolos. O evangelho é a chave que desvenda seus mistérios. Pelo conhecimento do plano de salvação, suas verdades abrir-se-nos-ão ao entendimento. Muito mais do que o fazemos, temos o privilégio de compreender estes maravilhosos temas. Devemos entender as profundas coisas de Deus. Anjos desejam atentar para as verdades reveladas a quem sonda a Palavra de Deus com coração contrito, e suplica por maior comprimento, e largura, e profundidade, e altura da sabedoria, que só Ele pode conceder. PJ 65.5

À medida que nos aproximamos do final da história deste mundo, as profecias referentes aos últimos dias exigem nosso estudo especial. O último dos escritos do Novo Testamento está cheio de verdades cuja compreensão nos é necessária. Satanás cegou as mentes, de modo que se satisfazem com qualquer desculpa para não estudarem o Apocalipse. Cristo, porém, por intermédio de Seu servo João, declarou o que acontecerá nos últimos dias, e diz: “Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas.” Apocalipse 1:3. PJ 66.1

“A vida eterna é esta”, disse Cristo, “que Te conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” João 17:3. Por que não reconhecemos o valor deste conhecimento? Por que não nos ardem no coração estas gloriosas verdades? Por que não nos tremem nos lábios e não nos penetram todo o ser? PJ 66.2

Dando-nos Sua Palavra, Deus nos colocou na posse de toda a verdade essencial para a nossa salvação. Milhares extraíram água desta fonte de vida, todavia a provisão não diminui. Milhares puseram o Senhor diante de si e contemplando-O foram transformados à Sua própria semelhança. O espírito arde dentro deles ao falarem de Seu caráter, quando contam o que Cristo é para eles e o que são para Cristo. Mas, esses inquiridores não esgotaram estes grandes e santos temas. Milhares podem empenhar-se na obra de esquadrinhar os mistérios da salvação. Meditando sobre a vida de Cristo e o caráter de Sua missão, em cada tentativa de descobrir a verdade, raios de luz refulgirão mais distintamente. Cada novo estudo revelará algum ponto de interesse mais profundo do que já fora desdobrado. O assunto é inesgotável. O estudo da encarnação de Cristo, Seu sacrifício propiciatório e Sua mediação hão de, enquanto o tempo durar, ocupar o espírito do estudante diligente; e, contemplando o Céu com seus inumeráveis anos, exclamará: “Grande é o mistério da piedade.” 1 Timóteo 3:16. PJ 66.3

Na eternidade estudaremos aquilo que nos teria aberto o entendimento se houvéssemos recebido a iluminação que nos era possível obter aqui. Através dos séculos infinitos o tema da redenção ocupará o coração, mente e língua dos remidos. Eles compreenderão as verdades que Cristo almejava abrir a Seus discípulos, e para cuja assimilação, porém, não tinham suficiente fé. Sempre e sempre nos serão reveladas novas visões da perfeição e glória de Cristo. Através dos séculos eternos o fiel Pai de família tirará de Seu tesouro coisas novas e velhas. PJ 66.4