Parábolas de Jesus

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Capítulo 3 — O desenvolvimento da vida

Este capítulo é baseado em Marcos 4:26-29.

A parábola do semeador produziu muita indagação. Alguns dos ouvintes concluíram que Cristo não fundaria um reino terrestre, e muitos estavam curiosos e perplexos. Notando-lhes a perplexidade, Cristo usou outras ilustrações, ainda tentando desviar-lhes os pensamentos da esperança de um reino temporal, para a obra da graça divina no coração. PJ 25.5

“E dizia: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra, e dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como. Porque a terra por si mesma frutifica; primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga. E, quando já o fruto se mostra, mete-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa.” Marcos 4:26-29. PJ 25.6

O lavrador que mete “logo a foice, porque está chegada a ceifa”, não pode ser outro senão Cristo. Ele é que, no último grande dia, recolherá a seara da Terra. O semeador da semente, porém, representa aqueles que trabalham em lugar de Cristo. Da semente se diz que brotou e cresceu, “não sabendo ele como”, e isto não pode referir-se ao Filho de Deus. Cristo não dorme em Sua incumbência, mas cuida dela dia e noite. Não ignora como a semente germina. PJ 25.7

A parábola da semente revela que Deus opera na natureza. A semente encerra um princípio germinativo, princípio que Deus mesmo implantou; porém, abandonada a si própria a semente não teria a faculdade de germinar. O homem tem sua parte em favorecer o crescimento do grão. Precisa preparar e adubar o solo, e lançar a semente. Precisa lavrar o campo. Mas há um ponto, além do qual nada pode fazer. Nenhuma força ou sabedoria humana pode extrair da semente a planta viva. Ainda que o homem empregue seus esforços até ao limite extremo, precisará, entretanto, depender dAquele que ligou o semear e o colher pelos maravilhosos elos de Sua própria Onipotência. PJ 25.8

Há vida na semente, e força no solo; mas se o poder infinito não for exercido dia e noite, a semente não produzirá colheita. A chuva precisa ser enviada para umedecer os campos sedentos, o Sol precisa comunicar calor, e a eletricidade precisa ser conduzida à semente enterrada. A vida que o Criador implantou, somente Ele pode despertar. Toda semente germina e toda planta se desenvolve pelo poder de Deus. PJ 25.9

“Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o horto faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Jeová fará brotar a justiça e o louvor.” Isaías 61:11. Como no semear natural assim é no espiritual; o professor da verdade deve procurar preparar o solo do coração; precisa lançar a semente; mas a força que, somente, pode produzir vida, vem de Deus. Há um limite além do qual os esforços humanos são em vão. Embora devamos pregar a Palavra, não podemos comunicar o poder que vivificará a alma e fará brotar justiça e louvor. Na pregação da Palavra precisa haver a operação de um agente que supera as forças humanas. Somente pelo Espírito divino será a Palavra viva e poderosa para renovar o caráter para a vida eterna. Isso é o que Cristo buscava incutir em Seus discípulos. Ensinava que nada que possuíam em si mesmos podia dar êxito a seus esforços, mas o miraculoso poder de Deus é que torna eficaz Sua Palavra. PJ 27.1

A obra do semeador é uma obra de fé. Poderá ele não compreender o mistério da germinação e do crescimento da semente. Todavia, tem confiança nos instrumentos pelos quais Deus faz a vegetação florescer. Lançando a semente à terra, desperdiça aparentemente o precioso cereal, que podia fornecer pão para sua família. Mas somente renuncia a um bem presente, em troca de uma devolução maior. Espalha a semente, esperando recolhê-la multiplicada numa colheita abundante. Assim devem agir os servos de Cristo, aguardando a colheita da semente lançada à terra. PJ 27.2

A boa semente pode por algum tempo jazer despercebida num coração frio, egoísta e mundano, sem dar demonstração de haver-se enraizado; porém mais tarde, tocando o Espírito de Deus esse coração, a semente oculta brota, e, finalmente, produz frutos para a glória de Deus. Não sabemos durante toda a vida qual prosperará, se esta ou aquela. Isso não é de nossa alçada. Façamos nosso trabalho e deixemos os resultados com Deus. “Pela manhã, semeia a tua semente e, à tarde, não retires a tua mão.” Eclesiastes 11:6. O grande concerto de Deus declara: “Enquanto a Terra durar, sementeira e sega, ... não cessarão.” Gênesis 8:22. Confiante nesta promessa o lavrador ara e semeia. Com não menos confiança devemos labutar na sementeira espiritual, confiantes em Sua declaração: “Assim será a palavra que sair da Minha boca; ela não voltará para Mim vazia; antes, fará o que Me apraz e prosperará naquilo para que a enviei.” Isaías 55:11. “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos.” Salmos 126:6. PJ 27.3

A germinação da semente representa o início da vida espiritual, e o desenvolvimento da planta é uma bela figura do crescimento cristão. Como ocorre na natureza, assim é na graça; não pode haver vida sem crescimento. A planta precisa crescer ou morrer. Como seu crescimento é silencioso e imperceptível, mas constante, assim é o desenvolvimento da vida cristã. Nossa vida pode ser perfeita em cada fase de desenvolvimento; contudo haverá progresso contínuo, se o propósito de Deus se cumprir em nós. A santificação é obra de toda uma vida. Multiplicando-se as oportunidades, ampliar-se-á nossa experiência e crescerá nosso conhecimento. Tornar-nos-emos fortes para assumir as responsabilidades, e nossa maturidade será proporcional aos nossos privilégios. PJ 27.4

A planta cresce recebendo o que Deus provê para sustentar-lhe a vida. Aprofunda as raízes no solo. Absorve o sol, o orvalho e a chuva. Áureas propriedades vitalizantes do ar. Assim deve crescer o cristão, cooperando com os agentes divinos. Sentindo nosso desamparo, devemos aproveitar todas as oportunidades que se nos deparam, para ganhar uma experiência mais rica. Como a planta enraíza-se no solo, devemos também arraigar-nos profundamente em Cristo. Como a planta recebe o sol, o orvalho e a chuva, também devemos abrir o coração ao Espírito Santo. A obra deve ser feita “não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos”. Zacarias 4:6. Se conservarmos a mente firmada em Cristo, “Ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a Terra”. Oséias 6:3. Como o Sol da Justiça levantar-se-á sobre nós, trazendo salvação “debaixo das Suas asas”. Malaquias 4:2. Floresceremos “como o lírio”. Oséias 14:5. Seremos “vivificados como o trigo”, e floresceremos “como a vide”. Oséias 14:7. Confiando constantemente em Cristo como nosso Salvador pessoal, cresceremos em tudo nAquele que é a cabeça. PJ 28.1

O trigo desenvolve-se “primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga”. Marcos 4:28. O objetivo do lavrador no lançar a semente e na cultura da planta crescente é a produção de cereal. Deseja pão para os famintos, e semente para futuras searas. Assim espera o Lavrador divino uma colheita como recompensa de Seu trabalho e sacrifício. Cristo procura reproduzir-Se no coração dos homens; e faz isto por intermédio daqueles que nEle crêem. O objetivo da vida cristã é a frutificação — a reprodução do caráter de Cristo no crente, para que Se possa reproduzir em outros. PJ 28.2

A planta não germina, não cresce, nem produz frutos para si mesma, mas para “dar semente ao semeador, e pão ao que come”. Isaías 55:10. Igualmente ninguém deve viver para si mesmo. O cristão está no mundo como representante de Cristo para a salvação de outros. PJ 28.3

Na vida que se centraliza no eu não pode haver crescimento nem frutificação. Se aceitastes a Cristo como Salvador pessoal, deveis esquecer-vos e procurar auxiliar a outros. Falai do amor de Cristo, contai de Sua bondade. Cumpri todo dever que se vos apresenta. Levai sobre o coração o peso da salvação das pessoas, e tentai salvar os perdidos por todos os meios possíveis. Recebendo o Espírito de Cristo — o espírito do amor abnegado e do sacrifício por outrem — crescereis e produzireis fruto. As graças do Espírito amadurecerão em vosso caráter. Vossa fé aumentará; vossas convicções aprofundar-se-ão, vosso amor será mais perfeito. Mais e mais refletireis a semelhança de Cristo em tudo que é puro, nobre e amável. PJ 29.1

“O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.” Gálatas 5:22, 23. Este fruto jamais perecerá, antes produzirá uma colheita de sua espécie para a vida eterna. “Quando já o fruto se mostra, mete-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa.” Marcos 4:29. Cristo aguarda com fremente desejo a manifestação de Si mesmo em Sua igreja. Quando o caráter de Cristo se reproduzir perfeitamente em Seu povo, então virá para reclamá-los como Seus. PJ 29.2

Todo cristão tem o privilégio, não só de esperar a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, como também de apressá-la. 2 Pedro 3:12. Se todos os que professam Seu nome produzissem fruto para Sua glória, quão depressa não estaria o mundo todo semeado com a semente do evangelho! Rapidamente amadureceria a última grande seara e Cristo viria recolher o precioso grão. PJ 29.3