Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 30 — O jovem rico

Em Monterey, Michigan, no dia 8 de Outubro de 1857, foi-me mostrado em visão que a condição de muitos observadores do sábado era semelhante à do jovem rico que veio a Jesus para saber o que deveria fazer para herdar a vida eterna. T1 170.4

“Eis que, aproximando-se dEle um jovem, disse-Lhe: Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna? E Ele disse-lhe: Por que Me chamas bom? Não há bom, se não um só que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-Lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-Lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no Céu; e vem e segue-Me. E o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. T1 170.5

“Disse, então, Jesus aos Seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos Céus. E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Os Seus discípulos, ouvindo isso, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá, pois, salvar-se? E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.” Mateus 19:16-26. T1 171.1

Jesus citou cinco dos seis últimos mandamentos ao jovem rico, e também o segundo grande mandamento, no qual os seis se apóiam. O jovem achava que os havia guardado a todos. Jesus não mencionou os primeiros quatro, contendo nosso dever para com Deus. Em resposta à pergunta do jovem, “o que me falta ainda?”, Jesus disse: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no Céu.” T1 171.2

Ele estava em falta. Falhara em guardar os primeiros quatro mandamentos e também os últimos seis. Não amara o próximo como a si mesmo. Disse Jesus: “Dá-o aos pobres.” O Senhor tocara em suas posses. “Vende tudo o que tens, dá aos pobres.” Nessa referência direta, Cristo identificou o ídolo do jovem. O amor pelas riquezas reinava supremo; portanto, era-lhe impossível amar a Deus “de todo o coração, de todo o entendimento, e de toda a alma”. Marcos 12:33. E esse amor supremo às riquezas cegara-lhe os olhos para as necessidades do próximo. Ele não amava o próximo como a si mesmo, por conseguinte, fracassara em observar os seis últimos mandamentos. O coração estava posto nos tesouros. Fora tragado pelas posses terrenas. O jovem amava mais seus bens do que a Deus, mais do que o tesouro celeste. Ele ouviu da boca de Jesus as condições. Se houvesse vendido tudo e dado aos pobres, teria um tesouro no Céu. Essa seria uma prova do quanto ele considerava a vida eterna mais do que as riquezas. Desejava ele tomar posse da esperança da vida eterna? Estaria disposto a empenhar-se para remover o obstáculo que o impedia de ter um tesouro no Céu? Oh, não, “retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades”. T1 171.3

Foram-me apontadas estas palavras: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” Mateus 19:24. Disse Cristo: “Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.” Mateus 19:26. Perguntou um anjo: “Permitirá Deus que os ricos retenham suas riquezas e ainda entrem no reino de Deus?” Outro anjo respondeu: “Não. Nunca!” T1 172.1

Vi que é plano de Deus que essas riquezas sejam usadas corretamente, empregadas para abençoar os necessitados e fazer progredir a causa de Deus. Se os homens amam mais as riquezas do que ao próximo, mais do que a Deus e às verdades de Sua Palavra; se seu coração está nas riquezas, não podem ter a vida eterna. Eles prefeririam antes abrir mão da verdade do que vender os bens e dar aos pobres. Nisso são eles testados para apurar-se o quanto amam a Deus, o quanto amam a verdade; e, como o jovem rico da Bíblia, muitos se retiram tristes porque não podem ter riquezas e também um tesouro no Céu. Não têm condições de possuir a ambos e arriscam-se à perda da vida eterna por bens terrenos. T1 172.2

“É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” Mateus 19:24. “A Deus todo é possível.” Mateus 19:26. A verdade, estabelecida no coração pelo Espírito de Deus, excluirá o amor pelas riquezas. O amor de Jesus e das riquezas não podem habitar no mesmo coração. O amor de Deus suplantará tanto o amor pelas riquezas que seu possuidor se libertará das mesmas e transferirá as afeições a Deus. Por meio do amor é ele então levado a atender às necessidades da causa de Deus. É seu grande prazer administrar de maneira correta os bens divinos. O amor a Deus e ao próximo predomina, e ele considera tudo o que tem não como seu. Fielmente cumpre seu dever como mordomo de Deus. Então pode observar os grandes mandamentos da lei: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.” Mateus 22:37. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Mateus 22:39. Desse modo é possível a um rico entrar no reino de Deus. “E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por causa do Meu nome, receberá cem vezes tanto e herdará a vida eterna. Porém muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos, primeiros.” Mateus 19:29, 30. T1 172.3

Eis a recompensa daqueles que se sacrificam por Deus. Receberão cem vezes mais nesta vida, e herdarão a vida eterna. “Porém muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos, primeiros.” Mateus 19:30. Foram-me mostrados aqueles que recebem a verdade mas não a vivem. Eles se apegam às suas posses e não estão dispostos a dar uma parte para o avanço da causa de Deus. Não possuem fé para se aventurarem e confiarem em Deus. Seu amor pelo mundo absorve-lhes a fé. Deus reivindica uma parte de seus recursos, mas eles não atendem. Arrazoam que trabalharam duro para conseguir o que têm, e não podem emprestar ao Senhor, pois podem vir a necessitar. Oh, “homens de pequena fé”! Mateus 8:26. O Deus que cuidou de Elias no tempo de fome, não passará por alto a nenhum de Seus abnegados filhos. Aquele que conta os cabelos de sua cabeça (Lucas 12:7; Mateus 10:30) cuidará deles, e nos dias de fome serão satisfeitos. Enquanto os ímpios estão perecendo ao redor por necessidade de pão, o pão e a água dos justos serão certos. Isaías 33:16. Aqueles que ainda se apegam aos seus tesouros terrenos e não dispõem fielmente daquilo que lhes foi emprestado por Deus, perderão o tesouro celestial; perderão a vida eterna. T1 173.1

Deus, em Sua providência, moveu o coração de alguns que possuem riquezas e os converteu à verdade, para que possam manter Sua obra em progresso. E se aqueles que são ricos não fizerem isso, se eles não cumprirem o propósito divino, Ele os ignorará e chamará outros para lhes tomarem o lugar e cumprirem o sagrado propósito; com suas posses alegremente distribuídas, atenderão às necessidades da causa do Senhor. Nisso eles serão os primeiros. Deus terá em Sua causa aqueles que farão isso. T1 174.1

Ele poderia perfeitamente mandar meios do Céu para promover Seu trabalho, mas isso está fora de Suas cogitações. Ele ordenou que os homens sejam Seus instrumentos; que, como um grande sacrifício foi feito para redimi-los, eles façam sua parte na obra de salvação, sacrificando-se uns pelos outros e mostrando o quanto prezam o sacrifício feito em favor deles. T1 174.2

Fui dirigida ao texto bíblico: “Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai por vossas misérias que sobre vós hão de vir. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas da traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias.” Tiago 5:1-3. T1 174.3

Vi que essas temíveis palavras se aplicam particularmente aos ricos que professam crer na verdade presente. O Senhor os chama para usarem os meios que lhes confiou e fazerem avançar Sua causa. As oportunidades lhes são apresentadas, mas eles fecham os olhos às necessidades da causa, e apegam-se fortemente ao tesouro terreno. Seu amor pelo mundo é maior do que o amor pela verdade, pelo semelhante e por Deus. Ele lhes requer os bens, mas egoísta e cobiçosamente eles os retêm do Senhor. Dão apenas um pouco ocasionalmente para acalmar a consciência mas não vencem o amor pelo mundo. Não se sacrificam por Deus. O Senhor chamou outros que prezam a vida eterna, que sentem e compreendem algo do valor de um ser humano, os quais livremente disporão de seus meios para fazerem progredir a causa de Deus. O trabalho está-se encerrando, e logo os meios dos que se apegaram às suas riquezas, suas grandes fazendas, rebanhos, etc., não serão mais necessários. Vi que o Senhor Se voltará contra eles em ira e repetirá estas palavras: “Vão agora, ricos.” Ele clamou, mas vocês não ouviram. O amor deste mundo sufocou-Lhe a voz. Agora Ele não tem mais nenhuma utilidade para vocês e os deixa ir, declarando: “Vão agora, ricos.” T1 174.4

Oh, vi que era terrível coisa ser abandonado pelo Senhor — horrível coisa era apegar-se aos perecíveis tesouros deste mundo, quando Ele disse que se nós vendermos e dermos esmolas, ajuntaremos um tesouro no Céu. Foi-me mostrado que quando a obra estiver em conclusão e a verdade avançando com poder, esses ricos trarão seus meios e os depositarão aos pés dos servos de Deus, pedindo-lhes para aceitá-los. A resposta dos servos de Deus será: “Vão agora, ricos. Seus meios não são necessários. Vocês os retiveram quando eles poderiam fazer o bem no progresso da obra de Deus. Os necessitados sofreram; eles não foram abençoados por seus meios. Deus não aceitará suas riquezas agora. Vão agora, ricos.” T1 175.1

Então fui dirigida a estas palavras: “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos.” Tiago 5:4. Vi que Deus não está em todas as riquezas que são obtidas. Satanás freqüentemente tem muito mais a ver com a aquisição de propriedades do que Deus. Muitas delas são obtidas pela opressão dos assalariados. Os ricos cobiçosos obtêm suas riquezas pela opressão aos trabalhadores e tirando vantagens dos indivíduos onde puderem, acrescentando assim ao tesouro os bens que consumirão sua carne como fogo. T1 175.2

Alguns não têm seguido conduta estritamente honesta, honrosa. Esses devem tomar um rumo muito diferente, trabalhando firmemente para remir “o tempo”. Efésios 5:16. Muitos observadores do sábado se acham em falta nesse ponto. Aproveitam-se até de seus irmãos pobres, e os que têm abundância exigem mais que o real valor das coisas, mais do que por elas pagariam, ao passo que esses irmãos se acham endividados e aflitos por falta de meios. Deus sabe de todas essas coisas. Todo ato egoísta, toda extorsão cobiçosa, trará sua recompensa. T1 176.1

Vi que é cruel e injusto não ter consideração pela situação de um irmão. Se está aflito ou pobre, fazendo todavia tudo quanto lhe é possível, deve-se fazer-lhe uma concessão, e mesmo não se lhe deve exigir o valor total das coisas que compre dos ricos; antes estes devem ter para com ele sentimentos de misericórdia. Deus aprovará tais atos de bondade, e os que os praticam não perderão sua recompensa. Haverá, porém, um terrível registro contra muitos observadores do sábado por atos mesquinhos e gananciosos. T1 176.2

Fui dirigida ao tempo em que não havia senão poucos que escutavam e abraçavam a verdade. Eles não possuíam muito dos bens deste mundo. As necessidades da Causa eram divididas entre bem poucos. Então foi necessário que alguns vendessem suas casas e terras, e procurassem um lugar mais barato para lhes servir de abrigo, ou de lar, enquanto seus recursos eram franca e generosamente emprestados ao Senhor para publicar a verdade, e para de outro modo ajudar o avanço da causa de Deus. Ao contemplar esses abnegados, vi que haviam sofrido privações para benefício da Causa. Vi um anjo postado ao seu lado, apontando-lhes o Céu, e dizendo: “Vocês têm bolsas no Céu! Têm no Céu bolsas que não envelhecem! Resistam até ao fim, e grande será o seu galardão.” T1 176.3

Deus tem estado a tocar muitos corações. A verdade por que alguns tanto se sacrificaram, a fim de apresentá-la a outros, triunfou, e multidões a ela se apegaram. Em Sua providência, Deus tem tocado o coração dos que têm meios, trazendo-os para a verdade, para que, à medida que Sua obra aumenta, sejam satisfeitas as necessidades da Causa. Muitos recursos têm sido trazidos às fileiras dos observadores do sábado, e vi que atualmente Deus não pede as casas que Seu povo tem para morar, a menos que troque casas de muito preço por outras mais baratas. Mas se aqueles que possuem abundância não Lhe derem ouvidos, não se separarem do mundo e dispuserem de parte de sua propriedade e terras, nem se sacrificarem por Deus, Ele os passará por alto, e chamará aqueles que estão dispostos a fazer qualquer coisa para Jesus, até a venderem sua morada a fim de atender às necessidades da Causa. Deus terá ofertas voluntárias. Os que as fazem devem considerar um privilégio fazê-lo. T1 176.4

Alguns dão daquilo que lhes sobra e não lhes faz falta. Não se privam de alguma coisa em favor da causa de Cristo. Têm tudo o que o coração pode desejar. Dão liberalmente e com boa disposição. Deus observa cuidadosamente suas atitudes e motivos e os analisa. Eles não perderão sua recompensa. Vocês que não têm condições de dar tão liberalmente, não precisam desculpar-se por não poderem fazer como os outros. Façam aquilo que lhes estiver ao alcance. Privem-se de algum artigo que possam dispensar e sacrifiquem-se pela causa de Deus. Como a viúva, ponham no cofre as duas moedinhas. Vocês estarão certamente dando mais do que todos os que ofertam de sua abundância, e saberão o quão gratificante é negar-se a si mesmo e dar aos necessitados; sacrificar-se pela verdade e ajuntar tesouros no Céu. T1 177.1

Foi-me mostrado que os jovens, especialmente aqueles que fazem profissão da verdade, têm uma lição de abnegação a aprender. Se fizerem mais sacrifícios pela verdade, eles a estimarão mais intensamente. Ela transformaria o coração e purificar-lhes-ia a vida e eles a considerariam mais cara e sagrada. T1 177.2

Os jovens não levam os fardos da causa de Deus, nem sentem qualquer responsabilidade a seu respeito. Deus, porventura, os liberou de seus deveres? Oh, não; eles mesmos o fizeram por conta própria. Desobrigaram-se e os outros ficaram sobrecarregados. Não compreenderam que não são de si mesmos. Suas energias e tempo não lhes pertencem. Foram comprados por bom preço. Um sacrifício inestimável foi feito por eles e, a menos que possuam espírito de abnegação e sacrifício, nunca terão posse à herança imortal. T1 178.1