Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 108 — O perigo da autoconfiança

Irmão F:

Em 25 de Dezembro de 1865 foi-me mostrado que iniciara no Maine uma boa obra. Foi-me mostrado especialmente o campo de trabalho onde foi despertado como fruto de seus trabalhos e do irmão Andrews, um grupo de pessoas que manifestou interesse e amor à verdade levantando uma casa de adoração. Há ainda grande obra a ser feita. A maioria se converteu à teoria da verdade. Poucos decidiram pelo peso da evidência. Viram beleza na coerente cadeia da verdade, que tudo unia num todo perfeito e harmonioso. Amaram os princípios da verdade, embora não lhe compreendessem a influência santificadora. Essas pessoas estão expostas aos perigos dos últimos dias. Satanás preparou enganos e armadilhas aos inexperientes. Ele está trabalhando mediante seus agentes, e mesmo através de pastores que desprezam a verdade e pisoteiam a lei de Deus, ensinando a todos os seus ouvintes a fazer o mesmo. T1 621.1

Esse grupo que recebeu uma verdade impopular apenas pode estar seguro fazendo de Deus sua confiança e sendo santificado pela verdade que professa. Eles deram um importante passo e agora precisam de uma experiência religiosa que os torne filhos e filhas do Altíssimo Deus e herdeiros da herança imortal para eles adquirida por Seu amado Filho. Aqueles que foram instrumentos para apresentar-lhes a verdade não devem suspender o trabalho neste importante período, mas ainda insistir em seus esforços até que essas pessoas sejam reunidas no aprisco de Cristo. Deve-se-lhes dar instruções suficientes para que por si mesmas obtenham inteligente evidência de que a verdade lhes é salvação. T1 621.2

Vi que Deus realizaria uma obra ainda maior no Maine, se todos quantos trabalham na causa se consagrarem a Ele, não confiando em sua própria força, mas no “Forte de Israel”. Isaías 1:24. Você e o irmão Andrews têm trabalhado duro sem o descanso necessário à preservação da saúde. Você deve trabalhar com cautela e observar períodos de descanso. Assim procedendo, reterá seu vigor físico e mental e tornará seu trabalho muito mais eficiente. Irmão F, você é homem nervoso e age muito por impulso. A depressão mental influencia muito em seu trabalho. Certas ocasiões você sente necessidade de liberdade e pensa que é porque outros estejam em trevas ou em erro, ou que existe algo que você não sabe bem o que é, e faz uma campanha em algum lugar e contra alguém, e isto pode fazer grande mal. Se, quando nesse estado de desassossego e nervosismo, você aquietasse e repousasse, calmamente esperando em Deus e indagasse se o mal não está em você mesmo, deixaria de ferir o próprio coração e a preciosa causa de Deus. T1 622.1

Vi que o irmão F estava em perigo de exaltar-se se fosse capaz de, em suas pregações, mexer com os sentimentos da congregação. Ele freqüentemente pensa ser o mais talentoso pregador. Aqui é que ele se engana. Embora possa ser o pregador mais aceito, todavia falha em fazer maior bem. O pregador que pode arrebatar os sentimentos em alto grau, não dá com isso evidência de que é o mais útil. T1 622.2

Quando o irmão F é humilde e faz de Deus a sua confiança, pode realizar muito bem. Anjos vêm em seu auxílio e ele é abençoado com perspicácia e liberdade. Mas, após algum tempo de sucesso, ele muitas vezes se exalta achando que é alguma coisa, quando na verdade é apenas um instrumento nas mãos de Deus. Após esses períodos, os anjos de Deus o deixam entregue à sua fraqueza. Então, embora ele mesmo seja o único culpado, freqüentemente acusa os irmãos e o povo pelas trevas e fraqueza que sente. Enquanto nesse infeliz estado mental, muitas vezes oprime este e aquele e, mesmo quando não fez nem metade do trabalho, acha que deve ir embora e iniciar um trabalho em outro lugar. T1 623.1

Vi que o irmão F estava em perigo de sair à batalha confiando em si mesmo e descobrir que não possui forças para combater. Enquanto confiou em Deus foi muitas vezes bem-sucedido nos combates com os opositores de nossa fé. Mas algumas vezes se sentiu orgulhoso da vitória da verdade sobre o erro que Deus lhe dera e tomou para si mesmo a glória do triunfo. O eu foi exaltado a seus olhos. T1 623.2

Foi-me mostrado que em seus dois últimos debates, ele não demonstrou um espírito conveniente. Antes do primeiro, ele se exaltou com os elogios de homens que não amam a verdade. Enquanto ouvia e participava de um debate entre duas pessoas que não eram de nossa fé, exaltou-se e achou-se capaz de enfrentar qualquer um. Justamente quando se sentia tão confiante, foi desprovido de sua força. Deus não Se agradou de seu menosprezo ao conselho do irmão Andrews. Sua autoconfiança quase esteve próxima de tornar o debate um completo fracasso. A menos que haja positivo fruto nesses debates, eles são sempre danosos. Nunca se deve agir imprudentemente, mas que cada movimento seja feito com cuidado, muita sabedoria, pois há muito mais coisas pendentes do que numa guerra nacional. Satanás e seu exército estão ativos nesses debates entre a verdade e o erro, e se os advogados da verdade não forem à guerra na força divina, Satanás sempre os superará. T1 623.3

No segundo debate houve muita coisa em jogo. Contudo, o irmão F falhou novamente. Ao envolver-se no debate, não reconheceu sua fraqueza nem, com humildade e simplicidade, apoiou-se na força de Deus. Mas tornou a envaidecer-se. Seus sucessos passados o exaltaram. Achou que as vitórias que obtivera foram devidas à sua habilidade em usar os poderosos argumentos fornecidos pela Palavra de Deus. T1 624.1

Foi-me mostrado que os defensores da verdade não devem procurar debates. Sempre que for necessário para a propagação da causa da verdade e para a glória de Deus, que se enfrente um adversário, quão cautelosamente, e com que humildade deverão eles entrar no conflito! Com exame interior, confissão de pecado e sincera oração, e muitas vezes jejuando por algum tempo, devem eles suplicar que Deus lhes dê especial auxílio, concedendo à Sua salvadora e preciosa verdade uma vitória gloriosa, para que se possa mostrar o erro em sua verdadeira deformidade, e seus defensores sejam completamente derrotados. Os que se empenham pela verdade e contra seus oponentes, devem compreender que não enfrentam meros homens, mas que estão contendendo com Satanás e seus anjos, os quais se acham determinados em que o erro e as trevas sejam conservados, e a verdade oculta por eles. Como o erro está mais de acordo com o coração natural, é aceito como verdade. Os comodistas amam o erro e as trevas, e não estão dispostos a ser reformados pela verdade. Não querem vir para a luz para que suas obras não sejam reprovadas. T1 624.2

Se os que permanecem em defesa da verdade confiarem tão-somente no peso dos argumentos, demonstrando apenas fraca confiança em Deus e assim enfrentarem seus oponentes, nada será obtido em favor da verdade, mas haverá decidida perda. A menos que ocorra patente vitória em favor da verdade, a situação será pior do que antes do conflito. Aqueles que poderiam inicialmente ter tido convicções da verdade, acalmam sua mente e decidem em favor do erro, porque em seu estado de trevas não percebem a superioridade da verdade. Esses dois últimos debates fizeram muito pouco pelo progresso da causa de Deus, e teria sido melhor se não houvessem ocorrido. O irmão F não se envolveu neles com espírito de humildade e firme confiança em Deus. O inimigo o envaideceu e ele ficou possuído de um sentimento de auto-suficiência e confiança, impróprio a um humilde servo de Cristo. Ele vestiu sua própria armadura e não a de Deus. T1 624.3

Pastor F, Deus providenciou que estivesse com o irmão um obreiro de grande experiência, o mais capacitado do campo. Alguém experimentado e conhecedor dos ardis de Satanás e que passara pela mais intensa angústia mental. Foi-lhe permitido, na onisciente providência de Deus, sentir o calor da refinadora fornalha e ali aprender que todo refúgio, a não ser o de Deus, falharia, e que todo arrimo em que se amparasse se mostraria uma cana quebrada. O irmão deveria ter compreendido que o Pastor Andrews tinha tanto interesse nos debates quanto você, e atendido, em humildade, o seu conselho e se beneficiado de suas instruções. Mas Satanás tinha o objetivo de ganhar para anular o propósito de Deus, e apossando-se de sua mente, opôs-se à obra do Senhor. Você se precipitou à batalha confiando nas próprias forças e os anjos permitiram que seguisse avante. Mas Deus, em misericórdia para com Sua causa, não permitiu que os inimigos da verdade obtivessem decidida vitória, e em resposta às ferventes e angustiosas orações de Seu servo, enviou anjos para livrá-lo. Em vez de completa derrota, houve vitória parcial, para que os inimigos da verdade não exultassem sobre os crentes. Mas nada foi ganho por esse esforço, quando poderia ter havido um glorioso triunfo da verdade sobre o erro. Ao lado do irmão estavam dois dos mais hábeis defensores da verdade. Assim haveria três homens, com a força da verdade, para permanecer contra um só indivíduo que buscava encobrir a verdade com o erro. Em Deus você poderia ter sido como uma multidão, se houvesse entrado no debate de maneira correta. Sua auto-suficiência quase levou tudo ao fracasso. T1 625.1

Você nunca deve entrar num debate em que tanto se acha em jogo, fiando-se em sua habilidade no uso de poderosos argumentos. Se não é razoavelmente possível evitá-lo, tome parte no debate, mas faça-o com firme confiança em Deus, e em espírito de humildade, no espírito de Jesus, que lhe pediu que aprendesse dEle, que é “manso e humilde de coração”. Mateus 11:29. E então, a fim de glorificar a Deus e exemplificar o caráter de Cristo, você jamais deve tirar proveito ilegítimo de seus oponentes. Ponha de lado o sarcasmo e o jogo de palavras. Lembre-se de que você está em combate contra Satanás e seus anjos, bem como contra os homens. Aquele que venceu a Satanás no Céu, que sobrepujou o adversário caído expulsando-o do Céu, e que morreu para redimir o homem caído de seu poder, quando diante da sepultura de Moisés, disputando a respeito de seu corpo, não ousou pronunciar juízo contra o diabo, mas disse: “O Senhor te repreenda.” Judas 9. T1 626.1

Em seus dois últimos debates, o irmão desprezou o conselho e não deu ouvidos ao servo de Deus, cuja vida era totalmente consagrada à obra. Deus, em Sua providência, proveu-lhe um conselheiro cujos talentos e influência davam-lhe direito ao respeito e confiança de sua parte, e de nenhum modo haveria prejuízo para a dignidade do irmão ser guiado por seu experiente discernimento. Os anjos de Deus notaram a auto-suficiência do irmão e com pesar se afastaram. O Senhor não podia com segurança exercer poder em seu favor, pois você teria reivindicado a glória para si mesmo, e seus trabalhos futuros seriam de pequeno valor. Vi, irmão F, que você, em seus trabalhos, não deve apoiar-se no próprio julgamento, que tão freqüentemente o tem feito desviar-se. O irmão deve submeter-se à apreciação dos de maior experiência. Não seja cioso da própria dignidade, sentindo-se tão auto-suficiente que não possa tomar conselhos e orientações com colegas obreiros de experiência. T1 626.2

Sua esposa não lhe tem sido um auxílio especial, mas um estorvo. Houvesse ela ouvido e aceito os testemunhos que lhe foram enviados há mais de dois anos, seria agora, com você, uma competente ajudadora no evangelho. Mas não acatou as mensagens nem agiu de acordo com elas. Tivesse feito isso, sua conduta teria sido inteiramente diferente. Ela não é consagrada a Deus. Gosta da comodidade, evita responsabilidades e desconhece o que é abnegação. Condescende com a indolência e seu exemplo não é digno de imitação, mas um insulto à causa de Deus. Às vezes exerce forte influência sobre você, especialmente quando se sente infeliz ou melancólica. Ela também exerce influência sobre você nas questões da igreja. Forma sua opinião sobre este irmão ou aquela irmã, demonstrando antipatia ou forte simpatia, ao passo que muitas vezes tem sido o caso de ela abrigar no coração justamente aqueles que têm sido fonte de muitos problemas para a igreja. Seu estado de não-consagração a leva a sentir forte ligação com aqueles que lhe manifestam grande confiança e amor, enquanto vidas preciosas a quem Deus ama são friamente marginalizadas, porque não manifestam entusiásticas expressões de amizade para com ela e você, irmão F. O amor dessas pessoas, todavia, é verdadeiro e mais altamente apreciável do que o daqueles que professam consideração para com vocês. A opinião que sua esposa forma tem grande influência sobre sua mente. Muitas vezes o irmão acha que sua esposa está certa e o pensamento dela é o seu, e você age de acordo com ela nos assuntos da igreja. T1 627.1

Você precisa exemplificar a vida de Cristo, pois solenes responsabilidades repousam sobre o irmão. Sua esposa é responsável perante Deus pela conduta que ela segue. Se for um embaraço para você, há de dar contas a Deus. Algumas vezes ela cai em si, humilha-se diante do Senhor e se torna uma ajuda real, mas logo recua e mergulha no mesmo estado de inatividade, evitando responsabilidades e se recusando a trabalhar mental e fisicamente. Seu estado de saúde seria muito melhor se ela fosse mais ativa, se se empenhasse mais alegremente e de coração em trabalho físico e mental. Ela não tem falta de capacidade, mas falta-lhe disposição para agir e não persevera em cultivar o gosto pela atividade. Deus nada pode fazer por ela em sua presente condição. Sua esposa precisa fazer alguma coisa para despertar-se e dedicar a Deus suas energias físicas e mentais. Deus requer isso dela, e no dia de Deus será tida como serva inútil, a menos que haja uma completa reforma de sua parte e viva à altura da luz recebida. Enquanto isso não acontecer, não deve de forma alguma juntar-se ao marido em seus trabalhos. T1 627.2

Deus abençoará e susterá o irmão F se ele for avante em humildade, apoiando-se no bom senso de seus experientes companheiros de trabalho. T1 628.1