Testemunhos para a Igreja 1
Capítulo 105 — Conflitos e vitória
Voltamos para o Norte, e de passagem tivemos um ótimo encontro em West Windsor. Depois de havermos chegado em casa, tivemos reuniões em Fairplains e Orleans, e também demos alguma atenção ao assunto da construção, ao cultivo de nosso jardim e a plantação de uvas, amoras-pretas, framboesas e morangos. Depois, em companhia de uma boa delegação, voltamos para Associação Geral em Battle Creek. T1 592.4
Passamos o primeiro sábado em Orleans, onde observamos jejum. Foi um dia muito solene para nós. Buscamos humilhar-nos perante Deus, e com o coração contrito e muito pranto, todos rogamos ferventemente que o Senhor nos abençoasse e fortalecesse para cumprir Sua vontade na Associação. Tínhamos fé e esperança de que nosso cativeiro fosse desfeito naquela reunião. T1 593.1
Quando chegamos a Battle Creek descobrimos que nossos prévios esforços não haviam surtido o efeito que esperávamos. Ainda existiam boatos e suspeita. Meu coração se encheu de intensa angústia. Chorei alto por algumas horas, incapaz de conter minha dor. Conversando com um amigo que eu conhecia havia vinte e dois anos, ele me disse que os boatos que ouvira falavam que Tiago e eu éramos esbanjadores de recursos. Perguntei-lhe onde havíamos sido extravagantes. Ele mencionou a compra de uma custosa cadeira. Referi-lhe então as circunstâncias. Meu marido estava muito magro e lhe era muito cansativo e mesmo doloroso sentar-se por muito tempo numa cadeira de balanço comum. Por essa razão ele se deitava numa cama ou sofá a maior parte do tempo. Eu sabia que essa não era a melhor maneira de ele readquirir o vigor, por isso pedi-lhe que ficasse mais tempo assentado. Mas a cadeira era uma dificuldade. T1 593.2
Em minha ida para o Leste para atender a meu pai moribundo, deixei meu marido em Brookfield, Nova Iorque, e enquanto em Utica, procurei uma cadeira de molas estofada. Os lojistas não tinham nenhuma peça pelo preço que eu desejava pagar, que era cerca de quinze dólares, mas ofereceram-me uma excelente cadeira, com rodinhas em vez de osciladores, de trinta por dezessete dólares. Eu sabia que essa era uma cadeira que atenderia ao que queríamos. Mas o irmão que me acompanhava insistiu que eu esperasse e mandasse fazer uma cadeira, o que custaria uns três dólares a menos. A cadeira oferecida por dezessete dólares valia o preço pedido, mas cedi à sua opinião e esperei até que a cadeira mais barata fosse confeccionada. Paguei-a eu mesma e levei-a para meu marido. Foi em Wisconsin e Iowa que ouvi o boato sobre nossa extravagância em comprar essa cadeira. Mas quem pode condenar-me? Se tivesse de fazer isso de novo, eu o faria, com uma exceção: confiaria mais em meu julgamento próprio e compraria uma cadeira que custasse alguns dólares a mais e fosse duas vezes melhor do que aquela que adquiri. Satanás por vezes influência pessoas para destruir todos os sentimentos de misericórdia e compaixão. O coração parece tornar-se de ferro, e tanto o humano quanto o divino desaparecem. T1 593.3
Chegaram até a mim boatos de que uma irmã havia declarado em Memphis e Lapeer, que a igreja de Battle Creek não tinha a menor confiança nos testemunhos da irmã White. Foi perguntado se isso se referia ao testemunho escrito. A resposta foi: “Não, não se refere às visões publicadas mas aos testemunhos dados nas reuniões da igreja, porque sua vida os contradiz.” Mais uma vez pedi uma entrevista com alguns irmãos e irmãs experientes, incluindo as pessoas que haviam feito circular os boatos. Pedi-lhes que me mostrassem onde minha vida não estava de acordo com os meus ensinamentos. Se minha vida havia sido tão incompatível para produzir a declaração de que a igreja de Battle Creek não tinha confiança em meu testemunho, não seria difícil apresentar provas de meu comportamento não-cristão. Nada puderam apresentar em justificativa às declarações feitas, e confessaram seu erro de circular os boatos, admitindo que suas suspeitas e ciúmes não tinham fundamento. Perdoei de coração àqueles que nos feriram e disse-lhes que tudo o que eu pedia era que desfizessem a influência que haviam exercido contra nós. Assim eu ficaria satisfeita. Eles prometeram fazer isso, mas não cumpriram. T1 594.1
Muitos outros rumores contra nós, todos igualmente falsos ou exagerados, foram livremente espalhados pelas diversas famílias, por ocasião da Assembléia, e a maioria nos olhava, especialmente a meu marido, com suspeita. Algumas pessoas de influência manifestaram disposição de nos esmagar. Como estávamos passando por necessidades e meu marido tentou vender nossa propriedade, acharam que ele estava errado. Ele havia declarado que sua boa vontade em permitir que os irmãos compensassem a perda de nossa vaca, fora considerada um pecado hediondo. Supondo que nossa propriedade em Battle Creek fosse boa para ser vendida, compramos um terreno em Greenville e começamos a construir. Mas não conseguimos vender a propriedade de Battle Creek, e em nossa difícil situação meu marido escreveu a diversos irmãos pedindo dinheiro emprestado. Foi condenado, por essa razão, como alguém ávido por dinheiro. E do pastor mais ativo nesta obra ouviram-se as palavras: “Não queremos que o irmão E compre o imóvel do irmão White, pois precisamos desse dinheiro para o Instituto de Saúde.” Que podíamos fazer? Para onde quer que nos voltássemos, éramos acusados. T1 595.1
Sessenta e cinco horas antes de meu marido sofrer uma crise, ele ficou até a meia-noite numa igreja pedindo trezentos dólares para terminar de pagar por ela. Para dar força a seu apelo, encabeçou a lista de subscrição com dez dólares em seu nome e mais dez no meu. Antes da meia-noite a quantia estava praticamente completa. O ancião daquela igreja era um velho amigo, e em nossa extrema necessidade e desamparada condição, meu marido escreveu-lhe dizendo que estávamos em necessidade e se aquela igreja desejasse devolver os vinte dólares, nós os aceitaríamos. Por ocasião da Assembléia esse irmão nos exortou, fazendo do assunto um grave erro. Antes de visitar-nos em casa, ele fora contaminado de alguma forma pela influência geral. Lamentamos profundamente essas coisas, e se não houvéssemos sido sustidos pelo Senhor, não teríamos conseguido apresentar nosso testemunho na Assembléia com tamanho desembaraço. T1 595.2
Antes de regressarmos da Assembléia, os irmãos Andrews, Pierce e Bourdeau fizeram uma sessão especial de oração em nossa casa, na qual fomos grandemente abençoados, especialmente meu marido. Isso lhe deu coragem para voltar ao nosso novo lar. Então começaram dolorosos sofrimentos com os dentes, e nossos trabalhos noticiados na Review. Ele deixou de pregar apenas por uma semana por causa da falta de dentes, mas trabalhou em Orange e Wright, com a igreja em casa, em Greenbush e Bushnell, pregando e batizando como antes. T1 596.1
Depois de retornar da Assembléia, sobrevieram-me grandes incertezas em relação à prosperidade da causa de Deus. Eu tinha dúvidas sobre coisas que, seis meses antes, não me ocorriam à mente. Via o povo de Deus assimilando o espírito mundano, imitando-lhe as modas e abandonando a simplicidade de nossa fé. Parecia que a igreja de Battle Creek estava apostatando, e que era impossível despertar suas sensibilidades. Os testemunhos que Deus me dera tinham pequena influência, e em Battle Creek eram mais desconsiderados do que em qualquer outra parte do campo. Eu tremia pela causa de Deus. Sabia que o Senhor não havia abandonado Seu povo, mas que seus pecados e iniqüidades os haviam separado de Deus. Battle Creek é o grande coração da obra. Cada pulsação é sentida pelos membros do corpo espalhados por todo o campo. Se esse grande coração estiver com saúde, a circulação vital será sentida através de todo o corpo de observadores do sábado. Se o coração estiver debilitado, a mórbida condição de cada ramo da obra evidenciará o fato. T1 596.2
Meu interesse está nessa obra. Minha vida acha-se unida a ela. Quando Sião prospera, sou feliz; se ela enfraquece, fico triste, desesperançada, desanimada. Vi que o povo de Deus estava numa condição assustadora, e que Seu favor estava sendo retirado deles. Eu pensava nesse quadro dia e noite e suplicava em amarga angústia: “Ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio; ... porque diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?” Joel 2:17. Eu sentia que fora desligada de todos os líderes da obra, ficando virtualmente sozinha. Não me atrevia a confiar em ninguém. À noite, despertava meu marido para dizer-lhe: “Receio tornar-me infiel.” Depois clamava ao Senhor para que me salvasse por Seu poderoso braço. Não podia ver quem houvesse atendido aos meus testemunhos e sustinha a idéia de que talvez meu trabalho na obra já tivesse terminado. Tínhamos compromisso em Bushnell, mas disse a meu marido que não poderia ir. Pouco depois ele voltou do correio trazendo a carta do irmão Matteson, que relatava o seguinte sonho: T1 596.3
“Prezado irmão White, que a bênção de Deus seja com você, e possam estas linhas encontrá-lo prosperando sempre e melhorando em saúde e força espiritual. Sou muito grato ao Senhor pela bondade que tem usado para com o irmão e espero que ainda possa desfrutar perfeita saúde e liberdade na proclamação da última mensagem. T1 597.1
“Tive um sonho excepcional com você e a irmã White, e sinto-me no dever de relatá-lo tanto quanto me recordo. Sonhei que estava relatando o sonho à irmã White, bem como sua interpretação, que também me foi dada no sonho. Quando acordei, alguma coisa me impeliu a registrá-lo em todos os seus pormenores para não esquecê-los; mas deixei de fazê-lo em parte porque estava cansado e em parte porque achava tratar-se simplesmente de um sonho. Mas, considerando que nunca sonhara com vocês antes, que esse sonho era de fácil compreensão e tão intimamente relacionado com vocês, que cheguei à conclusão que deveria contá-lo. O que passo a referir é tudo aquilo de que posso me lembrar: T1 597.2
“Estava eu numa casa ampla onde havia um púlpito semelhante àqueles que usamos em nossas igrejas. Sobre ele havia muitas lâmpadas acesas. Essas lâmpadas necessitavam de constante suprimento de óleo, e muitos de nós estávamos empenhados em transportar o óleo e supri-las. O irmão White e sua esposa estavam muito ocupados, e notei que a irmã White despejava mais óleo do que os demais. Então o Pastor White saiu pela porta que dava acesso a um armazém, onde havia muitos barris de óleo. Ele abriu a porta e entrou. A irmã White o seguiu. Precisamente nesse instante, um grupo de homens que os acompanhava, trazendo uma substância negra parecida com fuligem, lançaram-na sobre o irmão e a irmã White, cobrindo-os completamente. Fiquei preocupado e procurei ansiosamente ver como tudo aquilo terminaria. Podia ver o casal White trabalhando duramente para livrar-se da fuligem, e após muita luta, saíram tão limpos como antes, e tanto os homens maus quanto a fuligem desapareceram. Em seguida, o irmão e a irmã White novamente se empenharam mais fervorosamente do que nunca a suprir as lâmpadas com óleo, mas a irmã White ainda o precedia. T1 597.3
“Sonhei que esta era a interpretação: As lâmpadas representavam o povo remanescente. O óleo era a verdade e o amor celestial, dos quais o povo de Deus precisa de constante suprimento. As pessoas envolvidas no abastecimento das lâmpadas eram os servos de Deus trabalhando na colheita. Quem eram os maus indivíduos, eu particularmente não pude determinar, mas eram homens controlados pelo diabo, que exerciam más influências especialmente contra o irmão White e sua esposa. Estes sofreram grande angústia por algum tempo, mas foram por fim livrados pela graça de Deus e esforços próprios determinados. Finalmente, o poder de Deus repousou sobre eles e tiveram importante parte na proclamação da última mensagem de misericórdia. Mas a irmã White possuía mais rico suprimento que os demais em sabedoria celestial e amor. T1 598.1
“Esse sonho fortaleceu mais minha confiança de que o Senhor que iniciou a obra de restauração em vocês, a terminará, e que os irmãos mais uma vez desfrutarão o Espírito de Deus como nos tempos passados e até mais profusamente. Não se esqueçam de que a humildade é a porta que conduz aos ricos suprimentos da graça de Deus. Que o Senhor o abençoe, a sua esposa e os filhos, e nos permita encontrar-nos no reino celestial. Nos laços do amor cristão, T1 598.2
John Matteson
Oakland, Wisconsin
15 de Julho de 1867
Esse sonho trouxe-me alento. Eu tinha confiança no irmão Matteson. Antes de vê-lo pessoalmente, seu caso foi-me mostrado em visão, em contraste com o de F, de Wisconsin. F era inteiramente indigno de portar o nome de cristão, quanto mais de ser um mensageiro, mas o irmão Matteson, foi-me mostrado como alguém humilde e que, se mantivesse sua consagração, estaria qualificado para levar pessoas ao Cordeiro do Deus. O irmão Matteson não tinha conhecimento de minhas tribulações de espírito. Nunca trocáramos uma linha e o sonho, vindo oportunamente e por meio desse irmão, pareceu-me como a mão de Deus estendida para socorrer-me. T1 599.1
Estávamos ansiosos por estar construindo com dinheiro emprestado, o que nos causava incertezas. Atendíamos a nossos compromissos e trabalhávamos diligentemente durante a estação mais quente. Por falta de meios, íamos ao campo juntos, capinando, cortando e limpando feno. Enquanto meu marido, com suas mãos enfraquecidas, lançava-me o feno, eu tomava meu forcado e o amontoava. Pegando um pincel, pintei grande parte do interior de nossa casa. Por causa disso tudo, estávamos muito cansados. Repentinamente, perdi as forças e nada mais pude fazer. Desmaiei durante várias manhãs, e meu marido teve de assistir, sem mim, às reuniões no bosque de Greenbush. T1 599.2
Nossa velha e dura carruagem quase nos matou e a nossa parelha de animais. As longas viagens, os trabalhos nas reuniões, os cuidados e labutas domésticos, foram demais para nós e eu temia haver chegado ao fim de meu trabalho. Meu marido tentou animar-me e insistiu para que retomássemos nossos compromissos em Orange, Greenbush e Ithaca. Finalmente resolvi sair de viagem, se não piorasse. Viajei dezesseis quilômetros ajoelhada na carruagem sobre uma almofada, recostando minha cabeça sobre outra almofada no colo de meu marido. Ele dirigia a carruagem e me amparava. Na manhã seguinte eu estava um pouco melhor e resolvi prosseguir. Deus nos ajudou a falar com poder ao povo de Orange, e um grande trabalho foi feito em favor dos que haviam abandonado a fé e dos pecadores. Em Greenbush tive liberdade e forças. Em Ithaca, o Senhor ajudou-nos a falar a uma grande congregação, a qual jamais tínhamos visto antes. T1 599.3
Em nossa ausência, os irmãos King, Fargo e Maynard acharam que, por amor a nós mesmos e a nossos animais, deveríamos ter uma carruagem mais leve e confortável. Assim que, ao retornarmos, levaram meu marido até Ionia e compraram a carruagem que ainda temos. Isso era exatamente o que necessitávamos e que nos pouparia muito cansaço nas viagens durante o verão. T1 600.1
Nesse tempo recebemos insistentes pedidos para assistirmos às assembléias no Oeste. Enquanto líamos esses comoventes apelos, choramos sobre eles. Meu marido me disse: “Ellen, não podemos assistir a essas reuniões. Na melhor das hipóteses, eu mal poderia cuidar de mim mesmo numa viagem como essa, e se você desmaiasse, o que eu faria? Mas, Ellen, precisamos ir.” Enquanto ele falava, lágrimas embargavam-lhe a voz. Por minha vez, ao pensar sobre nossa débil condição, no estado da causa no Oeste e na necessidade que os irmãos tinham de nossos préstimos, eu disse: “Tiago, não podemos assistir a essas reuniões no Oeste, entretanto, precisamos ir.” A essa altura, muitos dos fiéis irmãos, vendo nossa condição, ofereceram-se para ir conosco. Isso foi o bastante para decidir a questão. Partimos de Greenville em nossa nova carruagem, no dia 29 de Agosto, a fim de assistir à reunião geral em Wright. Quatro equipes nos acompanhavam. A viagem foi confortável e bastante agradável, em companhia de prestativos irmãos. O encontro foi vitorioso. T1 600.2
Nos dias 7 e 8 de Setembro tivemos preciosas sessões em Monterey, com os irmãos do Condado de Allegan. Lá encontramos o irmão Loughborough, que começou a perceber os erros existentes em Battle Creek e lamentava a parte que havia desempenhado com respeito a eles, os quais haviam prejudicado a causa e nos imposto cargas cruéis. A pedido nosso, ele nos acompanhou até Battle Creek. Mas antes de deixarmos Monterey, referiu-nos o seguinte sonho: T1 600.3
“Quando o casal White veio a Monterey, no dia 7 de Setembro, pediram-me que os acompanhasse até Battle Creek. Hesitei em ir, pensando ser meu dever atender aos interesses da causa em Monterey e, como lhes disse na ocasião, também achava haver pouca oposição a eles em Battle Creek. Depois de orar sobre o assunto por vários dias, fui dormir certa noite rogando que o Senhor me desse luz sobre a questão. T1 600.4
“Sonhei que, juntamente com outros membros da igreja de Battle Creek, estávamos em um trem de passageiros. Os vagões eram baixos e eu mal podia ficar em pé em seu interior. Eram mal ventilados e exalavam um odor, como se por meses não houvessem sido arejados. A via férrea sobre que passavam era muito irregular e os vagões estremeciam fortemente, fazendo com que, algumas vezes nossa bagagem caísse e alguns passageiros fossem lançados para fora. Tínhamos de ficar parando para reembarcar nossos passageiros e bagagem, ou consertar os trilhos. Parecia-nos que depois de trabalhar por algum tempo, fazíamos pouco ou nenhum progresso. Éramos realmente um grupo de passageiros melancólicos. T1 601.1
“Imediatamente chegamos a uma plataforma giratória, grande o suficiente para caber todo o trem. O irmão e a irmã White estavam ali de pé, e enquanto eu descia do trem, disseram: ‘Tudo está errado neste trem. É preciso mudar de rumo.’ Ambos se apoderaram das manivelas que moviam o maquinismo que girava a plataforma e puxaram-nas com toda a força. Nunca pessoas trabalharam tão arduamente manobrando um vagão, como eles nas manivelas da plataforma. Fiquei parado observando até que vi o trem começar a girar. Foi quando exclamei: ‘Ele se move!’ e corri para ajudá-los. Estávamos tão absortos em realizar o trabalho de girar o plataforma, que prestei pouquíssima atenção ao trem. T1 601.2
“Havendo concluído a tarefa, erguemos os olhos, e eis que o trem inteiro se havia transformado. Em lugar dos vagões baixos e mal ventilados em que havíamos viajado, havia carros espaçosos, altos e bem arejados, com janelas amplas e claras, todos decorados e arrumados da maneira mais esplêndida, e de maior bom gosto do que qualquer palácio ou carro-dormitório que eu jamais vira. Os trilhos eram nivelados, suaves e firmes. O trem estava lotado de passageiros cujos semblantes eram alegres e felizes, porém apresentando expressões de convicção e solenidade. Todos pareciam exprimir grande satisfação pela mudança que ocorrera e pela maior segurança na bem-sucedida transformação do trem. O casal White estava no trem e seu rosto brilhava com santa alegria. Quando o trem partiu, fiquei tão cheio de alegria, que despertei com a impressão de que o sonho se referia à igreja de Battle Creek e aos assuntos pertinentes à causa ali. Ficou perfeitamente claro em minha mente o dever de ir a Battle Creek e prestar meus serviços a obra nesse lugar. Agora estou feliz de ter estado aqui para ver a bênção do Senhor acompanhando os árduos trabalhos do irmão e da irmã White para pôr as coisas em ordem. T1 601.3
J. N. Loughborough
Antes de deixarmos Monterey, o irmão Loughborough contou-me outro sonho que teve por ocasião da morte de sua esposa. Esse sonho também me foi motivo de animação. T1 602.1
“‘O profeta que teve um sonho, que conte o sonho.’ Jeremias 23:28. T1 602.2
“Uma noite, após refletir nas aflições de Tiago e Ellen White, em sua relação com a obra da mensagem do terceiro anjo, na minha própria omissão em apoiá-los nas suas atribulações; e após confessar meus erros ao Senhor e implorar Sua bênção sobre eles, deitei-me para descansar. T1 602.3
“No sonho, eu me achava em minha cidade natal, na encosta de uma extensa colina. Eu falava com muito fervor, dizendo: ‘Oh, que eu possa encontrar a fonte curadora!’ Então um jovem belo e bem vestido se aproximou e disse amavelmente: ‘Eu o levarei à fonte.’ Ele foi à frente e eu tentei segui-lo. Subimos a encosta da colina, passando com muita dificuldade por três lugares úmidos e pantanosos, através dos quais fluíam pequenas correntes de água lamacenta. Não havia meio de cruzá-las, a não ser por seus vaus. Feito isso, chegamos a um terreno sólido e bom, onde havia uma saliência e também uma grande fonte de água puríssima e borbulhante. Um grande tonel fora posto ali, o qual era muito semelhante a uma tina de imersão do Instituto de Saúde de Battle Creek. Uma tubulação ligava a fonte a uma das extremidades da tina, e a água estava transbordando pela outra. O Sol brilhava refletindo seus raios na água. T1 602.4
“Enquanto nos aproximávamos da fonte, o jovem nada disse; apenas olhava para mim e sorria com expressão de satisfação. Então fez um sinal com a mão rumo à fonte, como que a perguntar-lhe: Você pensa que é uma fonte que cura tudo? Uma multidão, com o casal White à frente, veio à nascente pelo lado oposto em que estávamos. Eles pareciam alegres e bem dispostos, todavia, santa solenidade parecia estampada em seu semblante. T1 603.1
“O irmão White havia melhorado muito de saúde e estava animado e feliz, embora parecesse cansado como se tivesse caminhado longa distância. A irmã White tinha em sua mão um grande copo, o qual mergulhava na fonte, bebia sua água e passava-a para os demais. O irmão White falava ao grupo, dizendo-lhe: ‘Agora vocês poderão ver os efeitos desta água.’ Então ele a bebeu e instantaneamente se sentiu revigorado. Assim fizeram todos os outros. Sua aparência mostrava vigor e força. Enquanto o irmão White falava e tomava novos goles de água, colocava suas mãos nas bordas da tina e mergulhava três vezes. Cada vez que emergia estava mais forte do que antes, e mantinha-se falando o tempo todo, exortando os demais a vir e banharem-se na ‘fonte’, como ele a chamava, e beber de sua corrente sanadora. Sua voz, bem como a da irmã White, pareciam melodiosas. Alegrei-me porque havia descoberto a fonte. A irmã White dirigiu-se a mim ofertando-me um copo de água para beber, mas eu estava tão feliz que acordei antes de tomá-la. T1 603.2
“Que o Senhor me conceda beber a largos goles dessa água, pois creio que ela não é outra senão aquela de que Cristo falou que jorraria ‘para a vida eterna’. João 4:14. T1 604.1
J. N. Loughborough
Monterey, Michigan
8 de Setembro de 1867
Nos dias 14 e 15 de Setembro tivemos proveitosas reuniões em Battle Creek. Ali meu marido falou com liberdade para reprovar corajosamente alguns pecados daqueles que ocupavam altos cargos na causa, e pela primeira vez em vinte meses, assistiu a reuniões vespertinas e pregou à noite. Uma boa obra se iniciou e a igreja, conforme matéria publicada na Review, garantiu-nos apoio caso quiséssemos prosseguir trabalhando com eles em nosso retorno do Oeste. T1 604.2
Em companhia do casal Maynard e dos irmãos Smith e Olmstead, assistimos as grandes reuniões do Oeste, cujos principais sucessos foram amplamente divulgados pela Review. Enquanto assistíamos às reuniões em Wisconsin, fiquei muito debilitada. Eu trabalhara além de minhas forças em Battle Creek e quase desmaiei durante a viagem de trem. Por quatro semanas sofri muito com problemas pulmonares, e foi com dificuldade que falei ao povo. No sábado à noite, aplicaram-me uma fomentação na garganta e pulmões, mas o envoltório da cabeça foi esquecido, e o problema pulmonar transferiu-se para o cérebro. Quando me levantei pela manhã, senti uma estranha sensação no cérebro. As vozes pareciam vibrar e tudo parecia oscilar diante de mim. Ao tentar andar, cambaleei e quase caí ao chão. Tomei meu desjejum esperando ficar aliviada, mas o problema apenas aumentou. Fiquei pior e não conseguia sequer assentar-me. T1 604.3
Meu marido voltou para casa depois da reunião da manhã, dizendo que havia me indicado para falar na parte da tarde. Parecia-me impossível comparecer diante do público. Quando meu marido perguntou sobre qual assunto eu falaria, não pude formar uma só sentença em minha cabeça. Mas eu pensava: “Se o Senhor quiser que eu fale, Ele certamente há de dar-me forças. Aventurar-me-ei pela fé, e se falhar, é o máximo que me pode acontecer.” Fui cambaleando até a tenda, com a mente muito confusa, mas disse aos irmãos pregadores que estavam na plataforma, que se me apoiassem com suas orações, eu falaria. Pus-me diante do povo com fé e em cerca de cinco minutos, minha cabeça e pulmões se descongestionaram, e falei sem a menor dificuldade por mais de uma hora a mil e quinhentos ouvintes ansiosos. Quando terminei, um senso da bondade e misericórdia de Deus repousou sobre mim, e não pude deixar de levantar-me novamente e falar a respeito de minha enfermidade e de como a bênção de Deus me sustentou enquanto eu falava. Desde aquele encontro, meus pulmões melhoraram muito, bem como minha saúde. T1 604.4
Enfrentamos, no Oeste boatos contra meu marido, os quais eram pouco menos que difamação. Esses boatos, que eram prevalecentes nas épocas de Assembléia Geral, foram levados a todas as partes do campo. Apresento um deles apenas como exemplo: Disseram que meu marido era tão louco por dinheiro, que se empenhara em vender garrafas velhas. Mas, os fatos são estes: quando estávamos para nos mudar, perguntei a meu marido o que faríamos com grande quantidade de garrafas velhas que tínhamos. Disse ele: “Vamos jogá-las fora.” Justamente naquele momento, nosso filho Willie entrou e se ofereceu para lavá-las e vendê-las. Disse-lhe para fazer isso e que ficasse com o que conseguisse obter por elas. Quando meu marido foi ao correio, levou Willie e as garrafas na carruagem. T1 605.1
Ele não podia fazer menos por seu leal filhinho. Willie vendeu as garrafas e ficou com o dinheiro. A caminho do correio, meu marido deu carona a um irmão que trabalhava na Review. Tiveram uma conversa agradável pelo caminho à cidade. Porque vira então Willie descer da carruagem e perguntar ao pai sobre o valor das garrafas, e também por acompanhar a conversa que o farmacêutico teve com meu marido sobre o que tanto interessava a Willie, este irmão, sem dizer uma palavra a meu marido, começou imediatamente a espalhar que o irmão White tinha ido à cidade para vender garrafas velhas e portanto, devia estar louco. A primeira vez que ouvimos sobre esse assunto das garrafas foi em Iowa, cinco meses depois. T1 605.2
Essas coisas foram ocultas de nós, de modo que não pudéssemos dar nossa versão dos fatos, mas foram divulgadas como que pelas asas do vento por nossos professos amigos. Ficamos surpresos ao descobrir, por informação e pelas confissões de quase todos os membros dessa igreja, que a maioria dos boatos foram aceitos por quase todos, e que esses professos cristãos nutriam sentimentos de censura, amargura e crueldade contra nós, particularmente contra meu debilitado marido que lutava por vida e liberdade. Alguns manifestaram espírito ímpio e esmagador e o têm descrito como rico, contudo ávido por dinheiro. T1 606.1
Ao voltar de Battle Creek, meu marido convocou um conselho de irmãos para reunir-se com a igreja, a fim de examinar esse assunto e desfazer os boatos. Muitos irmãos vieram de diferentes partes do Estado, e meu marido destemidamente intimou todos a que dissessem o que tinham contra ele, a fim de que pudesse refutar abertamente as acusações e dar-lhes um fim. Os erros que ele havia anteriormente declarado na Review, voltou a confessá-los em reuniões públicas e encontros particulares, e também deu explicação a muitos assuntos nos quais se baseavam muitos dos boatos e tolas acusações, convencendo a todos da falsidade dessas acusações. T1 606.2
Enquanto considerava questões referentes ao valor real de nossa propriedade, descobrimos para sua grande surpresa e de todos os presentes, que ela era estimada em mil e quinhentos dólares, não incluindo os cavalos, a carruagem, algumas edições de livros e diagramas cuja venda, no ano anterior, conforme declarara o secretário, não havia sido igual aos juros do dinheiro que ele devia à Sociedade de Publicações. Esses livros e diagramas não podiam ser tidos por nós como de muito valor em nossa presente condição. T1 606.3
Quando estava com boa saúde, meu marido não tinha tempo para registros das contas, e durante sua doença, seus negócios ficavam nas mãos de outros. Levantou-se a questão: o que aconteceu com sua propriedade? Foi ela lesada? Houve erros em seus cálculos? Teria ele, na condição incerta de seus assuntos, dado a este ou àquele bons objetos, não se dando conta de sua real capacidade de dar e não sabendo o quanto deu? T1 607.1
Como positivo efeito de exame, a confiança naqueles que tinham a seu cargo a contabilidade de nossos assuntos manteve-se inabalável, e não temos nenhuma razão para concluir que nossos limitados meios pudessem ser atribuídos a erros contábeis. Portanto, ao examinar cuidadosamente os assuntos financeiros de meu marido durante dez anos, e sua maneira liberal de distribuir recursos para ajudar a obra em todos os seus ramos, a melhor e a mais bondosa conclusão é de que nossa propriedade foi usada na causa da verdade presente. Meu marido não manteve anotações de nossas contas, e o que ele deu está registrado apenas em nossa memória e nos recibos da Review. O fato de possuirmos tão pouco surge num momento em que meu marido foi descrito como rico e ávido por mais, e nos alegra porque é a melhor refutação das falsas acusações que ameaçavam nossa influência e reputação. T1 607.2
Podemos ficar sem nossa propriedade e ainda assim nos regozijaremos em Deus, se ela for empregada na divulgação de Sua causa. Temos alegremente despendido o melhor de nossa vida e forças, e quase chegamos ao ponto de esgotamento na obra, sofrendo enfermidades próprias da velhice prematura, mas ainda assim nos alegramos. Sentimos profundamente, porém, quando professos irmãos atacam nosso caráter e influência dizendo que somos mundanos, ricos e ávidos por mais. Permitam-nos desfrutar do caráter e da influência que temos conquistado a tão elevado preço, nos últimos vinte anos, mesmo com pobreza, pouca saúde e esta vida mortal, e nos regozijaremos e daremos prazerosamente à causa o pouco que ainda nos resta. T1 607.3
A verificação foi completa e como resultado ficamos livres das acusações que nos foram dirigidas, restaurando os sentimentos de perfeita união. Foram feitas confissões sinceras e contritas da cruel conduta adotada para conosco, e a bênção de Deus repousou sobre todos. Muitos apostatados voltaram à igreja, pecadores se converteram, e quarenta e quatro pessoas foram batizadas. Meu marido batizou dezesseis; e os irmãos Andrews e Loughborough, vinte e oito. Embora cansados, estávamos muito animados. Meu marido e eu temos levado as cargas da obra, que têm sido penosas e desgastantes. Como conseguimos, em nosso estado de fraqueza, passar pelo exame com quase todos contra nós, suportando os compromissos com pregações, exortações e tardias reuniões noturnas, e ao mesmo tempo preparar estes testemunhos, com meu marido me auxiliando, copiando-os, preparando-os para a impressão e lendo as provas, somente Deus sabe! No entanto, conseguimos passar por tudo isso e esperamos que Deus nos sustenha em nossos futuros trabalhos. T1 608.1
Acreditamos que muitos dos sonhos já referidos foram dados para ilustrar as tribulações procedentes dos erros existentes em Battle Creek, bem como nossa luta em defender-nos das desumanas acusações e, com a bênção de Deus, pôr as coisas em seus devidos lugares. Se este ponto de vista dos sonhos estiver certo, não poderemos esperar, de outras partes ainda não cumpridas, que tenhamos um futuro mais favorável que o passado? T1 608.2
Ao concluir esta exposição, gostaria de dizer que estamos vivendo em tempos muito solenes. Na última visão a mim dada, foi-me mostrado o alarmante fato de que apenas pequena porção dos que agora professam a verdade, serão santificados e salvos por ela. Muitos haverão de se pôr acima da simplicidade da obra. Conformar-se-ão com o mundo, adotando ídolos e tornando-se espiritualmente mortos. Os humildes e abnegados seguidores de Jesus buscarão a perfeição, deixando para trás os indiferentes e amantes do mundo. T1 608.3
Foi-me apontado o antigo Israel. Apenas dois dos adultos, dentre o vasto exército que deixou o Egito, entraram em Canaã. Seus cadáveres ficaram espalhados no deserto por causa de suas transgressões. O Israel moderno está em maior perigo de esquecer-se de Deus e ser levado à idolatria do que o antigo povo de Deus. Adoram-se muitos ídolos, mesmo entre os professos observadores do sábado. Deus advertiu Seu antigo povo a guardar-se da idolatria, pois se se desviassem do Deus vivo, Sua maldição recairia sobre eles, enquanto que se O amassem “de todo o coração, e de toda a alma, e de todas as forças” (Marcos 12:33), Ele abençoaria abundantemente o seu cesto e a sua amassadeira e removeria do meio deles toda enfermidade. T1 609.1
A bênção ou a maldição estão agora diante do povo de Deus — a bênção se saírem do mundo, se se apartarem dele e andarem nos caminhos da humilde obediência; a maldição, se se unirem aos idólatras e desprezarem os altos reclamos do Céu. Os pecados e iniqüidades do rebelde Israel foram registrados e se apresentam diante de nós como advertência, mostrando-nos que se imitarmos seu exemplo transgressor e nos afastarmos de Deus, certamente cairemos como eles. “Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos.” 1 Coríntios 10:11. T1 609.2