Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 103 — Resumo de experiências

De 19 de Dezembro de 1866 a 20 de Outubro de 1867.

Estando plenamente convencida de que meu marido jamais se recuperaria de sua longa enfermidade enquanto permanecesse inativo, e que era chegado o tempo de sair e dar meu testemunho ao povo, decidi, contrariamente ao que pensavam os irmãos da igreja de Battle Creek, onde freqüentávamos na época, empreender uma viagem pelo Norte de Michigan, com meu marido em extremo estado de fraqueza e sob o mais severo frio de inverno. Requereu não pouca coragem moral e fé em Deus tomar a decisão de arriscar tanto, especialmente estando sozinha e tendo contra mim o parecer da igreja e dos irmãos dirigentes da obra em Battle Creek. T1 570.2

Mas eu sabia que tinha uma obra a fazer e parecia que Satanás estava determinado a manter-me afastada dela. Eu havia esperado muito tempo para que nosso cativeiro fosse mudado, e temia que vidas preciosas se perdessem se eu permanecesse distante do trabalho. Ficar longe do campo de trabalho era para mim pior do que a morte, mas se saíssemos poderíamos morrer. Assim, no dia 19 de Dezembro de 1866, deixamos Battle Creek sob uma tempestade de neve, com destino a Wright, no Condado de Ottawa, Michigan. Meu marido resistiu a longa e severa viagem de quase 150 quilômetros muito melhor do que eu esperava, e parecia estar muito bem quando chegamos à casa do irmão Root. Fomos bondosamente recebidos por sua querida família e cuidados tão carinhosamente, como os pais cristãos fazem com seus filhos doentes. T1 570.3

Encontramos a igreja local em más condições. As sementes da desunião e do descontentamento de uns para com os outros haviam sido plantadas na maior parte de seus membros, e um espírito mundano estava tomando posse deles. Não obstante sua condição, eles não tiveram muita oportunidade de receber os cuidados de nossos pregadores, e estavam famintos por alimento espiritual. Ali começamos nossos primeiros trabalhos desde o início da doença de meu marido. Ali ele deu início aos trabalhos como nos bons tempos, embora sob muita fraqueza. Tiago falava entre trinta e quarenta minutos nas manhãs de sábado e de domingo, e eu preenchia o restante do tempo, falando cerca de uma hora e meia nas tardes de cada dia. Éramos ouvidos com grande atenção. Percebi que meu marido estava ficando mais forte, mais claro e mais envolvido com seus assuntos. Certa vez, quando ele falou cerca de uma hora com clareza e poder, com o fardo do trabalho sobre si como no passado, meus sentimentos de gratidão estavam além do que eu podia expressar. Ergui-me na congregação e por quase meia hora tentei com lágrimas exteriorizá-los. A congregação ficou muito emocionada. Senti que essa era a aurora de melhores dias para nós. T1 570.4

Permanecemos ali por seis semanas. Tive a oportunidade de falar-lhes por vinte e cinco vezes, e meu marido doze vezes. Enquanto nossos trabalhos progrediam nessa igreja, casos individuais iam-me sendo revelados e comecei a escrever testemunhos para eles, chegando a cerca de cem páginas. Começamos a trabalhar com essas pessoas, à medida que vinham à casa do irmão Root, onde estávamos hospedados. Visitávamos alguns em seus lares. Atendíamos a outros nas próprias reuniões da igreja. Descobri que meu marido era de grande ajuda nesse trabalho. Sua longa experiência nesse tipo de trabalho, adquirida no passado enquanto trabalhávamos juntos, o havia qualificado para isso. E agora que o retomava, parecia manifestar toda aquela clareza de pensamento, são discernimento e fidelidade ao tratar com os errantes, como nos primeiros tempos. De fato, nenhum dos dois pastores que estavam conosco podiam prestar-me tal assistência. T1 571.1

Uma grande e boa obra foi feita em favor dessas queridas pessoas. Erros foram aberta e plenamente confessados, a união foi restaurada e a bênção de Deus repousou sobre o trabalho. Meu marido trabalhou para elevar a doação sistemática da igreja a níveis que poderiam ser adotados por todas as nossas igrejas. Seus esforços resultaram em crescimento de cerca de trezentos dólares no montante anual trazido à tesouraria daquela igreja. Aqueles que haviam estado em perplexidade em relação a alguns de meus testemunhos, principalmente na questão da reforma do vestuário, tornaram-se plenamente convencidos ao ouvir a explicação do assunto. As reformas de saúde e do vestuário foram adotadas, e uma grande oferta foi levantada em favor do Instituto de Saúde. T1 571.2

Penso ser meu dever declarar que quando essa obra estava em franco progresso, infelizmente um irmão rico do Estado de Nova Iorque visitou Wright, após visitar Battle Creek, sendo ali informado que havíamos iniciado o trabalho em desatendimento ao conselho e opinião da igreja e daqueles que dirigiam a obra em Battle Creek. Ele resolveu apresentar meu marido ante aqueles por quem havíamos trabalhado tanto, como parcialmente insano e seu testemunho, conseqüentemente, de nenhum valor. Sua influência na questão, como me foi declarada pelo irmão Root, o ancião da igreja, atrasou o trabalho em pelo menos duas semanas. Estou contando esse fato para mostrar que pessoas não consagradas podem, em seu estado de insensibilidade e cegueira, lançar em apenas uma hora uma influência que obrigaria os cansados servos do Senhor a gastar semanas para desfazer. Estávamos trabalhando pelos ricos, e Satanás viu que esse irmão abastado era justamente o homem que ele precisava. Possa o Senhor conduzi-lo aonde possa ver, e em humildade de coração confessar seu pecado. Com duas semanas a mais de trabalho e com a bênção do Senhor, fomos capazes de remover sua nefasta influência e dar ao querido povo plenas provas de que Deus nos havia enviado. Como resultado de nosso trabalho, sete pessoas foram logo batizadas pelo irmão Waggoner, e mais dois em Julho, por meu marido, na época de nossa segunda visita àquela igreja. T1 572.1

Aquele irmão de Nova Iorque retornou com sua esposa e filha a Battle Creek, num estado de espírito incapaz de dar um relatório exato do bom trabalho feito em Wright, ou serenar os ânimos na igreja de Battle Creek. Enquanto os fatos vinham à tona, pareceu que ele prejudicava a igreja e a igreja o prejudicava, em sua mútua satisfação de ir de casa em casa e provocar os mais desfavoráveis comentários acerca de nossa conduta, tornando-a tema de conversação. À medida que essa cruel obra prosseguia, tive o seguinte sonho: T1 573.1

Eu estava visitando Battle Creek em companhia de uma pessoa de maneiras refinadas e comportamento digno. Em meu sonho eu circulava ao redor das casas de nossos irmãos. Quando estávamos para entrar, ouvimos vozes. O nome de meu marido era freqüentemente mencionado. Eu estava aflita e atônita em ouvir aqueles que haviam professado ser nossos melhores amigos, relatar cenas e incidentes que haviam ocorrido durante a grave doença de meu marido, quando suas forças físicas e mentais ficaram muito abaladas. Afligi-me ouvindo a voz do professo irmão de Nova Iorque antes mencionado, referindo-se com determinação e exagerado enfoque, a incidentes sobre os quais aqueles de Battle Creek nada sabiam, enquanto nossos amigos de Battle Creek, por sua vez, apresentavam o que sabiam. Meu ânimo desfaleceu, e em meu sonho, quando estava prestes a cair, a mão de meu acompanhante me amparou e ele disse: “Ouça, você precisa saber disso, mesmo que seja duro de suportar.” T1 573.2

Nas várias casas das quais nos aproximávamos, o tema das conversas era o mesmo. Isto era sua verdade presente. Eu disse: “Oh, eu não sabia disso! Ignorava que existissem tais sentimentos no coração daqueles a quem tínhamos como amigos nos tempos de prosperidade, e nossos amigos íntimos quando em sofrimento, aflição e adversidade. Gostaria de nunca ter sabido dessas coisas! Nós os tínhamos como os melhores e mais leais amigos. T1 573.3

A pessoa que estava comigo repetiu estas palavras: “Se eles apenas conversassem tão prontamente e com tanto empenho e zelo sobre seu Redentor, demorando-se sobre Seus incomparáveis encantos, Sua desinteressada benevolência, Seu gracioso perdão, Sua piedosa ternura para com o sofredor, Seu inexprimível amor e longanimidade, quanto mais preciosos seriam os frutos.” T1 574.1

Eu então disse: “Sinto-me ofendida. Meu marido não se tem poupado para salvar almas. Ele suportou cargas que o esmagaram; ficou prostrado, alquebrado física e mentalmente, e agora, reúnem palavras e atos para usá-los a fim de destruir sua influência, mesmo após Deus ter posto Sua mão e erguê-lo para que sua voz pudesse novamente ser ouvida. Isso é cruel e injusto.” T1 574.2

Meu acompanhante disse: “A conversação onde Cristo e as características de Sua vida são temas prevalecentes, traz refrigério ao espírito e seu fruto será para a santidade e a vida eterna.” Então citou estas palavras: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” Filipenses 4:8. Essas palavras me impressionaram tanto que falei sobre elas no sábado seguinte. T1 574.3

Meu trabalho em Wright foi muito cansativo. Eu tinha muita preocupação com meu marido durante o dia, e algumas vezes à noite. Dava-lhe banhos e fazia-o caminhar, e duas vezes por dia, quer fizesse frio, chovesse ou estivesse ensolarado, saía com ele. Eu escrevia enquanto ele ditava seus artigos para a Review, e também redigia muitas cartas em acréscimo às muitas páginas de testemunhos pessoais e a maior parte do n. 11, além de visitar e falar com freqüência claramente e por tanto tempo quanto me fosse possível. O irmão e a irmã Root mostravam simpatia para com minhas provações e trabalhos, e vigiavam com terno cuidado para suprir todas as nossas necessidades. Nossas freqüentes orações eram para que o Senhor os abençoasse no cesto e na amassadeira (Deuteronômio 28:5), na saúde bem como em graça e força espiritual. Senti que uma bênção especial viria sobre eles. Apesar de a doença ter desde então atingido seu lar, soube pelo irmão Root que eles agora tinham muito melhor saúde que antes. Falou-me também que em termos de prosperidade temporal, seus campos de trigo haviam produzido 950 litros por acre (cerca de 4.000m2), algumas glebas produziram até 1.400, enquanto que a média conseguida por seus vizinhos foi de apenas 387 litros por acre. T1 574.4

No dia 29 de Janeiro de 1867, deixamos Wright e fomos até Greenville, no Condado de Montcalm, a uma distância de aproximadamente 64 quilômetros. Era o dia mais frio do inverno e estávamos felizes por encontrar abrigo do frio e da tormenta na casa do irmão Maynard. Sua família recebeu-nos muito bem em sua casa e no coração. Ficamos naquela redondeza durante seis semanas, trabalhando nas igrejas de Greenville e Orleans, e fazendo do hospitaleiro lar do irmão Maynard nosso quartel-general. T1 575.1

O Senhor concedeu-me liberdade para falar ao povo. Em cada esforço feito eu percebia Seu poder sustentador. E como estava plenamente convencida de que eu tinha um testemunho para o povo, o qual podia transmitir-lhes em ligação com o trabalho de meu marido, minha fé foi fortalecida no sentido de que ele ainda teria a saúde restabelecida para trabalhar na causa de Deus. Seus esforços foram bem recebidos pelo povo, e ele me foi de grande ajuda no trabalho. Sem ele eu poderia fazer muito pouco, mas com sua ajuda e na força de Deus, era capaz de realizar a tarefa que me fora designada. O Senhor o sustinha em cada esforço que fazia. Quando ele se arriscou, confiando em Deus, e sem considerar sua fraqueza, foi recuperando as forças e melhorando a cada esforço feito. Quando percebi que meu marido estava reavendo seu vigor físico e mental, minha gratidão foi imensa, em vista da perspectiva de que eu poderia ficar livre para empenhar-me de novo e mais diligentemente na obra de Deus, ficando ao lado de meu marido, trabalhando em união pelo povo de Deus. Antes de ficar doente, a posição que ele ocupava no Escritório o confinava ali a maior parte do tempo. E como eu não podia viajar sem ele, ficava em casa durante muito tempo. Senti que Deus desejava agora seu progresso enquanto trabalhava na palavra e no ensino, e se dedicava mais especialmente à pregação. Outros poderiam fazer o trabalho no Escritório, e nós estávamos convictos de que ele nunca mais ficaria confinado, mas sim livre para viajar comigo, para que ambos pudéssemos dar o solene testemunho que Deus nos havia dado para transmitir a Seu povo remanescente. T1 575.2

Eu sentia a má condição do povo de Deus, e cada dia estava mais ciente de que havia chegado aos limites de minhas forças. Enquanto em Wright, havíamos enviado meu manuscrito de número 11 ao Escritório de publicações. A cada momento livre, quando fora dos reuniões, eu procurava aprimorar o texto do número 12. Minhas energias físicas e mentais haviam sido severamente sobrecarregadas enquanto trabalhava na igreja de Wright. Eu achava que precisava descansar, mas não via oportunidade para isso. Eu falava ao povo várias vezes por semana e escrevia muitas páginas de testemunhos pessoais. O peso das almas estava sobre mim e as responsabilidades que sentia eram tão grandes que não tinha senão poucas horas para dormir cada noite. T1 576.1

Enquanto assim ocupada em falar e escrever, recebi de Battle Creek cartas de caráter desanimador. Ao lê-las senti uma inexprimível depressão de espírito, chegando a uma agonia mental, que por breve período como que paralisou minhas energias vitais. Por três noites não dormi quase nada. Meus pensamentos estavam perturbados, perplexos. Ocultei o mais que pude os meus sentimentos, de meu esposo e da família envolvida, com a qual nos achávamos. Ninguém sabia de minha labuta ou fardo mental, ao unir-me com a família no culto matinal e vespertino, procurando depor meu fardo sobre o grande Portador de Fardos. Mas minhas petições provinham de um coração tomado de angústia, e minhas orações eram interrompidas e desconexas, por motivo da incontrolável ansiedade. O sangue precipitou-se-me para o cérebro, levando-me freqüentemente a cambalear e quase cair. Tive hemorragia nasal muitas vezes, especialmente depois de fazer um esforço para escrever. Fui obrigada a pôr de lado minha escrita, mas não podia livrar-me do fardo da ansiedade e da responsabilidade que pesavam sobre mim. Achei que tinha testemunhos a dar para os outros, os quais era incapaz de apresentar. T1 576.2

Recebi ainda outra carta informando-me de que era melhor protelar a publicação do número 11, até que eu pudesse escrever o que me havia sido mostrado com relação ao Instituto de Saúde, porque seus dirigentes estavam sofrendo por falta de recursos e necessitavam da influência de meu testemunho para mobilizar os irmãos. Copiei uma parte do que me havia sido mostrado sobre o Instituto, mas não pude completar o trabalho por causa da pressão sangüínea no cérebro. Se eu soubesse que o número 12 teria a publicação adiada, de modo algum enviaria aquela porção do assunto contida no número 11. Eu supunha que após descansar alguns dias, poderia reassumir minha tarefa de escrever. Mas para minha grande dor, descobri que a condição de minha mente me tornava impossível escrever. A idéia de escrever testemunhos pessoais ou gerais foi abandonada e eu fiquei muito angustiada por não poder prepará-los. T1 577.1

Nessa situação decidi que deveríamos retornar a Battle Creek, e lá permanecer enquanto as estradas estivessem enlameadas e em péssimas condições, e que ali eu poderia completar o número 12. Meu marido estava muito ansioso para rever seus irmãos em Battle Creek e falar-lhes, alegrando-se com eles pela obra que o Senhor havia feito por ele. Reuni meus escritos e iniciamos nossa jornada. No caminho tivemos duas reuniões em Orange, com evidências de que a igreja havia sido beneficiada e animada. Fomos revigorados pelo Espírito do Senhor. Naquela noite sonhei que estava em Battle Creek, olhando para fora através da janelinha da porta. Então vi um grupo que marchava rumo a casa, de dois em dois. Eles pareciam inflexíveis e determinados. Eu os conhecia bem e voltei-me para abrir a porta da sala de visitas para recebê-los, mas pensei em olhar novamente. A cena mudara. O grupo agora parecia uma procissão católica. Um trazia em sua mão uma cruz e outro uma cana. Quando se aproximaram, aquele que carregava a cana fez um círculo ao redor da casa, dizendo três vezes: “Esta casa está interditada. Os bens devem ser confiscados. Eles falaram contra nossa santa ordem.” O terror veio sobre mim e corri pela casa, saindo pela porta dos fundos, achando-me em seguida no meio do grupo, entre alguns que eu conhecia muito bem, mas não ousei dizer-lhes uma só palavra por medo de ser traída. Tentei procurar um lugar retirado onde pudesse chorar e orar sem encontrar ira e olhos inquisidores para onde quer que eu me voltasse. Eu repetia com freqüência: “Se eu pudesse apenas compreender o que está acontecendo! Se eles me falassem o que eu havia dito ou o que havia feito!” T1 577.2

Eu chorava e orava muito quando vi nossos bens confiscados. Tentei ver um pouco de simpatia ou piedade por mim no rosto daqueles que me cercavam e observar a fisionomia de muitos a quem eu julgava poder me dirigir para obter conforto, caso eles não temessem ser observados pelos outros. Fiz uma tentativa de escapar da multidão, mas vendo que estava sendo vigiada, ocultei minhas intenções. Comecei a chorar em alta voz e dizer: “Se eles apenas me dissessem o que fiz ou o que disse!” Meu marido, que estava dormindo em uma cama no mesmo quarto, ouviu-me chorar alto e despertou-me. Meu travesseiro estava úmido pelas lágrimas. Entrei em depressão. T1 578.1

O irmão e a irmã Howe nos acompanharam até West Windsor, onde fomos recebidos e saudados pelo irmão e a irmã Carman. No sábado e no domingo nos encontramos com os irmãos e irmãs das igrejas da vizinhança, e tive liberdade em transmitir-lhes meu testemunho. O revigorante Espírito do Senhor repousou sobre aqueles que sentiam especial interesse na obra de Deus. Nosso encontro foi muito bom e quase todos deram testemunho de que foram fortalecidos e grandemente animados. T1 578.2

Em poucos dias nos encontrávamos novamente em Battle Creek, após uma ausência de quase três meses. No sábado, 16 de Março, meu marido pregou na igreja um sermão sobre a santificação, que foi taquigrafado pelo editor da Review e publicado no vol. 29, n 18. Ele também falou com clareza à tarde, e na manhã do domingo. Dei meu testemunho com liberdade incomum. No sábado, dia 23, falei na igreja de Newton e trabalhei com a igreja de Convis no sábado e domingo seguintes. Pretendíamos retornar ao Norte e viajamos uns quarenta quilômetros. Mas fomos obrigados a voltar por causa da situação das estradas. Meu marido ficou terrivelmente desapontado pela fria recepção que encontrou em Battle Creek . Eu também fiquei aborrecida. Decidimos que não daríamos nosso testemunho a essa igreja até que desse melhor evidência de que desejavam nossos serviços, e que finalizaríamos nossos trabalhos em Convis e Monterey até que as estradas melhorassem. Nos dois sábados seguintes, estivemos em Convis e verificamos ter realizado ali um bom trabalho, cujos bons frutos podem agora ser vistos. T1 579.1

Voltei para casa em Battle Creek como uma criança cansada e que necessitava de confortadoras palavras e encorajamento. Foi-me penoso declarar ali que fomos recebidos com muita frieza por nossos irmãos, de quem, três meses antes, havíamos partido em perfeita união, salvo quanto à questão de havermos deixado nosso lar. Na primeira noite passada em Battle Creek, sonhei que havia estado trabalhando duramente e viajado com o propósito de assistir a um grande encontro. Eu estava muito cansada. As irmãs estavam arrumando meu cabelo e ajustando meu vestido. Dormi. Quando despertei, fiquei atônita e indignada ao descobrir que minhas vestes havia sido retiradas e me haviam trajado com trapos velhos, pedaços de acolchoados atados e costurados juntos. Eu disse: “O que vocês me fizeram? Quem fez esse trabalho vergonhoso de remover meu traje e substituí-lo com andrajos de mendigo?” Retirei os trapos e lancei-os de mim. Fiquei aflita e com angústia clamei: “Devolvam o traje que usei durante vinte e três anos e que nunca me trouxe vergonha por um instante sequer. A menos que vocês me devolvam minhas vestes, apelarei ao povo que contribuirá e me restituirá meu traje que usei por vinte e três anos.” T1 579.2

Vi o cumprimento desse sonho. Em Battle Creek encontramos relatórios que estavam circulando para nos difamar, mas que na verdade não tinham qualquer fundamento. Haviam sido escritas cartas por alguns que se internaram no Instituto de Saúde e por outros que viviam em Battle Creek, às igrejas em Michigan e outros Estados, expressando temores, dúvidas e fazendo insinuações a nosso respeito. Eu estava muito angustiada quando ouvi uma acusação de um obreiro, companheiro nosso a quem eu respeitava, de que se falava em cada localidade coisas que eu havia dito contra a igreja de Battle Creek. Eu estava tão aflita que não sabia o que dizer. Enfrentamos um forte espírito acusador. Quando nos convencemos plenamente dos sentimentos existentes, ficamos abalados. Estávamos tão desapontados e aflitos que falei a dois de nossos irmãos dirigentes que não mais me sentia em casa; que encontramos desconfiança e positiva frieza em lugar de boas-vindas e encorajamento, e que eu tinha aprendido que essa era a conduta seguida para com aqueles que haviam sido abatidos pelo excesso de dedicação à obra de Deus. Disse mais: Que estávamos pensando em nos mudar de Battle Creek e ir para um lugar mais retirado. T1 580.1

Com espírito oprimido além dos limites, fiquei em casa, temendo ir a qualquer lugar entre os membros da igreja por medo de ficar magoada. Finalmente, como ninguém fizera um esforço para aliviar meus sofrimentos, senti que era meu dever chamar alguns irmãos e irmãs de experiência e enfrentar os relatos que estavam circulando a nosso respeito. Oprimida, desanimada e angustiada, enfrentei as acusações feitas contra mim, expondo detalhadamente minha viagem ao Leste e as penosas circunstâncias sob as quais fora feita. T1 580.2

Apelei aos presentes que julgassem se minha ligação com a obra e a causa de Deus ter-me-ia levado a falar levianamente da igreja de Battle Creek, da qual eu não tinha a mais leve mágoa. Não era meu interesse na causa e obra de Deus tão grande quanto o deles? Toda a minha vida e experiência estavam ligados a ela. Eu não tinha interesses separados da obra. Havia investido tudo nessa causa e considerado que nenhum sacrifício seria muito grande para mim para fazer avançá-la. Eu não permitira nem mesmo que a afeição às minhas queridas crianças me afastassem do cumprimento do dever que Deus requeria em Sua causa. O amor maternal palpitava tão fortemente em meu coração como no de qualquer outra mãe. Eu, porém, havia-me separado de meus filhos ainda lactentes e permitido que outra lhes servisse de mãe. Eu dera provas de inequívoco interesse e devoção à causa de Deus. Mostrei por minhas obras o quão cara ela me era. Será que alguém havia dado provas mais fortes do que eu? Foram eles zelosos na causa da verdade? Eu mais ainda. Foram eles dedicados a ela. Eu poderia provar maior dedicação do que qualquer pessoa envolvida no trabalho de Deus. Sofreram eles por causa da verdade? Eu muito mais. Não considerei a minha vida por preciosa. Não busquei evitar censura, sofrimento e durezas. Quando os amigos e parentes se desesperavam por causa de minha vida, porque a doença me atacava, era levada nos braços de meu marido aos barcos ou vagões de trens. Certa vez, após viajar até à meia-noite, achamo-nos sem recursos na cidade de Boston. Em duas ou três ocasiões andamos onze quilômetros pela fé. Viajávamos tanto quanto minhas forças permitiam. Então nos ajoelhávamos e orávamos por forças para prosseguir. Recebíamos vigor e éramos capazes de trabalhar diligentemente pelo bem das pessoas. Não permitíamos que nenhum obstáculo nos detivesse de cumprir o dever ou nos separasse da obra. T1 581.1

A disposição manifestada nesse encontro aborreceu-me muito. Voltei para casa com um peso no coração, pois os que estavam presentes não fizeram qualquer esforço para confortar-me, reconhecendo que eu fora caluniada e que suas suspeitas e acusações contra mim eram injustas. Não puderam condenar-me, mas também não fizeram qualquer esforço para absolver-me. T1 582.1

Por quinze meses meu marido permanecera tão fraco que não podia sequer carregar seu relógio ou carteira, ou conduzir sua parelha de animais quando em viagem. Mas neste ano ele já porta seu relógio e carteira, esta vazia em conseqüência de nossas grandes despesas, e pode conduzir os animais. Durante sua doença, ele se recusou diversas vezes a aceitar dinheiro de seus irmãos, no valor de aproximadamente mil dólares, dizendo-lhes que quando tivesse necessidade ele lhes comunicaria. Meu marido achava ser seu dever, antes de ficar dependente, vender aquilo que podíamos dispensar. Ele tinha poucas coisas no Escritório e dispersas entre os irmãos de Battle Creek. Coisas de pouco valor, que ele ajuntou e vendeu. Desfizemo-nos de alguns móveis no valor de aproximadamente cento e cinqüenta dólares. Meu marido tentou vender nosso sofá para uma sala de reuniões, fixando seu valor em dez dólares, mas não conseguiu. Por esse tempo, nossa única e valiosa vaca morreu. Pela primeira vez meu marido sentiu que poderia aceitar ajuda, e escreveu um bilhete a um irmão, dizendo que se a igreja quisesse dar alguma ajuda para compensar a perda da vaca, poderia fazê-lo. Além de nada ter sido feito sobre isso, ainda acusaram meu marido de ser incompetente em termos de dinheiro. Os irmãos conheciam-no suficientemente bem para saber que ele nunca pediria ajuda, a menos que extrema necessidade o obrigasse. E agora que ele o havia feito, julgaram acerca dos sentimentos dele e meus, e ninguém deu atenção ao assunto senão para afligir-nos em nossa necessidade e profunda aflição. T1 582.2

Nesse encontro, meu marido humildemente confessou que errara em muitas coisas dessa natureza, que ele nunca teria feito e não desejaria fazer senão por medo de seus irmãos e sempre movido pelo desejo de agir corretamente e em união com a igreja. Isso permitiu que seus acusadores evidentemente o desprezassem. Fomos humilhados até o pó, e angustiados além do que podemos exprimir. Nesse estado de coisas partimos para Monterey a fim de atender a um compromisso. Durante a viagem, sofri terrível angústia de espírito. Tentava explicar a mim mesma por que razão nossos irmãos não haviam compreendido nosso trabalho. Eu estava certa de que quando os encontrássemos eles nos entenderiam; que o Espírito de Deus que neles estava era o mesmo em nós, Seus humildes servos, e que haveria harmonia em emoções e sentimentos. Em vez disso, éramos olhados com suspeita e desconfiança, sendo causa de tremenda perplexidade para mim. Enquanto eu estava pensando, uma parte da visão recebida em Rochester, em 25 de Dezembro de 1865, veio como um relâmpago em minha mente. Imediatamente fiz referência disso a meu marido. T1 583.1

Foi-me mostrado um grupo de árvores, próximas umas das outras, formando um círculo. Subindo nessas árvores havia uma videira que as cobria até o topo e nelas se apoiava, formando um caramanchão. Em seguida vi as árvores oscilando para cá e para lá, como que movidas por um fortíssimo vento. Um ramo da videira após outro era sacudido até que a videira se desprendeu das árvores, exceto por umas poucas gavinhas que permaneceram agarradas aos ramos inferiores. Veio então uma pessoa e soltou as gavinhas remanescentes, lançando-as por terra. T1 583.2

A aflição e angústia mental que senti ao ver a vinha lançada ao solo foram indescritíveis. Muitos passavam e olhavam condoídos para ela. Eu esperava ansiosamente por uma mão amiga para erguê-la. Mas nenhuma ajuda foi oferecida. Perguntei por que ninguém ergueu a videira. Nesse momento, vi um anjo dirigindo-se até a aparentemente abandonada videira. Ele colocou seus braços debaixo da videira, ergueu-a e aprumou-a, dizendo: “Eleve-se ao céu e que suas gavinhas se apóiem em Deus. O apoio humano lhe foi retirado. Você pode firmar-se na força divina e nela florescer, sem depender dele. Ampare-se unicamente em Deus e você nunca o fará em vão, nem será sacudida daí.” Senti um indescritível alívio, uma alegria transbordante quando vi que a vinha desprezada teve quem cuidasse dela. Voltei-me para o anjo e perguntei o que essas coisas significavam. Disse-me ele: “Você é a videira. Sentirá tudo isso e então, quando as coisas acontecerem, compreenderá plenamente a figura da videira. Deus será para você “socorro bem presente na angústia”. Salmos 46:1. Desse tempo em diante fiquei plenamente convicta de meu dever e nunca me senti tão livre para dar meu testemunho às pessoas. Se eu já senti o braço do Senhor a me suster, foi naquela reunião. Meu marido também foi claro e livre em sua pregação, e o testemunho de todos era: Tivemos uma excelente reunião. T1 583.3

Após voltarmos de Monterey, achei ser meu dever convocar uma outra reunião, porquanto meus irmãos não fizeram caso de meus sentimentos. Decidi ir adiante na força de Deus e novamente expressar o que sentia, e defender-me das suspeitas e boatos que circulavam em prejuízo nosso. Dei meu testemunho e declarei coisas que me haviam sido mostradas com respeito à vida passada de alguns dos presentes, advertindo-os de seus perigos e reprovando seus erros e conduta. Disse que eu havia estado nas mais desagradáveis situações. Quando famílias e indivíduos me eram mostrados em visão, dava-se freqüentemente o caso de me serem mostradas coisas particulares a seu respeito, reprovando pecados secretos. Por muitos meses trabalhei com alguns em relação a erros dos quais os outros nada sabiam. Quando meus irmãos viam essas pessoas tristes e as ouviam expressar dúvidas a respeito de sua aceitação por Deus, e também sentimentos de desânimo, acusavam-me, como se eu fosse culpada por suas dificuldades. Os que me censuravam nada sabiam do que estavam falando. Protestei contra esses que se punham como inquisidores, julgando minha conduta. Tem sido um trabalho desagradável para mim reprovar pecados particulares. Se eu, para evitar suspeitas e ciúmes, desse amplas explicações para meus atos e tornasse público o que deveria ser mantido em privacidade, pecaria contra Deus e procederia mal para com as pessoas. Devo manter para mim mesma as reprovações individuais aos erros das pessoas. Que julguem como bem entenderem, mas eu nunca trairei a confiança em mim depositada pelos errantes e penitentes, ou revelarei a outros aquilo que somente deve ser apresentado aos culpados. Eu disse aos presentes que eles me deixassem em paz para agir no temor de Deus. Deixei a reunião livre de meu pesado fardo. T1 584.1