Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 94 — O engano das riquezas

Alguns dos que professam crer na verdade têm pouco discernimento e não podem apreciar a dignidade moral. Pessoas que se gabam de sua fidelidade à causa e falam como se soubessem de tudo, não são humildes de coração. Eles têm dinheiro e propriedades e isso é suficiente para lhes dar influência sobre alguns, mas não os ergue nem um jota no favor de Deus. O dinheiro tem poder e exerce poderosa influência. Excelência de caráter e valor moral são freqüentemente passados por alto, se possuídos por um homem pobre. Que interesse tem Deus pelo dinheiro e pela propriedade? O gado sobre milhares de montanhas é Seu. Salmos 50:10. O mundo e tudo que nele há são Seus. Os moradores da Terra “são para Ele como gafanhotos”. Isaías 40:22. Homens e propriedades são semelhantes “ao pó miúdo das balanças”. Isaías 40:l5. “Deus não faz acepção de pessoas.” Atos dos Apóstolos 10:34. T1 536.1

Homens de posses olham muitas vezes para sua riqueza e dizem: “Por minha capacidade adquiri para mim essa riqueza.” Mas quem lhes deu poder para adquirir riquezas? Deus concedeu-lhes a habilidade que possuem, mas em vez de dar-Lhe glória, eles a tomam para si mesmos. O Senhor os provará e experimentará e lançará sua glória ao pó. Ele suprimirá suas forças e espalhará seus bens. Em vez de bênção, eles lhes serão uma maldição. Um ato de injustiça ou opressão, um desvio do reto proceder, não seria mais tolerado num homem de posses do que naquele que nada possui. Todas as riquezas que o mais rico dos homens possa ter não é de valor suficiente para cobrir o menor pecado diante de Deus; elas não serão aceitas como resgate da transgressão. Unicamente arrependimento, verdadeira humildade, coração contrito e espírito abatido serão aceitos por Deus. Ninguém pode ter verdadeira humildade diante de Deus a menos que seja demonstrada diante de outros. Nada menos que arrependimento, confissão e abandono do pecado são aceitáveis a Deus. T1 536.2

Muitos ricos conseguiram sua fortuna através de negócios opressivos, obtendo vantagens sobre seus semelhantes mais pobres ou seus irmãos. Eles se vangloriam de sua perspicácia nas negociações. A maldição de Deus, porém, repousa sobre cada centavo assim obtido, bem como sobre seus lucros. Pude ver, quando essas coisas me foram mostradas, a força das palavras de nosso Salvador: “E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” Mateus 19:24. Aqueles que têm competência para adquirir riquezas precisam estar em constante vigilância, do contrário utilizarão essa habilidade para o mal e não manterão estrita honestidade. Assim muitos caem em tentação e astúcia, recebendo mais do que é justo por uma coisa, e sacrificando os princípios nobres, generosos e benevolentes de sua varonilidade por ganho sórdido. T1 537.1

Foi-me mostrado que muitos dos professos observadores do sábado amam tanto o mundo e as coisas que nele há, que se corromperam por seu espírito e influência; o divino desapareceu de seu caráter, e o satânico infiltrou-se, transformando-os para servir aos propósitos de Satanás e ser instrumentos de injustiça. Então, em contraste com esses homens, foram-me mostrados os pobres honestos e trabalhadores, que sempre estão prontos a ajudar a quem precisa; que preferem ser explorados por seus irmãos ricos, do que manifestar o espírito ganancioso que aqueles manifestam. Esses homens têm em alta estima uma consciência limpa e justa, mesmo nas pequenas coisas, e as valorizam mais do que as riquezas. Estão sempre tão prontos a ajudar as pessoas, sempre dispostos a fazer todo bem que estiver a seu alcance, que não acumulam riquezas. Suas posses terrenas não aumentam. Se há uma causa que exija recursos ou trabalho, são os primeiros a interessar-se em responder ao chamado, e freqüentemente vão além de sua capacidade real, negando-se a si mesmos algum bem necessário para realizar seus propósitos caritativos. T1 537.2

Como eles não podem orgulhar-se muito de tesouros terrenos, são olhados como deficientes em habilidade, discernimento e sabedoria. Podem não ser considerados como tendo valor especial, e sua influência pode não ser apreciada pelos homens. Mas como Deus vê esses sábios homens pobres? Como preciosos à Sua vista, e embora seus tesouros terrestres não se acumulem, estão ajuntando um incorruptível tesouro nos Céus. Por assim fazer, manifestam uma sabedoria muito superior à daqueles professos cristãos que se julgam sábios, previdentes e realizadores, assim como o divino é superior ao terreno, carnal e satânico. Deus considera o valor moral. Um caráter cristão não maculado pela avareza, calmo, manso e humilde é à Sua vista “mais precioso do que o ouro puro e mais raro do que o ouro fino de Ofir”. Isaías 13:12. T1 538.1

Os ricos serão provados com mais rigor do que nunca. Se eles passarem pela prova e vencerem os defeitos de seu caráter, e como fiéis mordomos de Cristo devolverem ao Senhor as coisas que Lhe pertencem, ser-lhes-á dito: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor.” Mateus 25:21, 23. T1 538.2

Minha atenção foi chamada para a parábola do servo infiel. “E Eu vos digo: granjeai amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?” Lucas 16:9-12. T1 538.3

Se os homens fracassarem em submeter a Deus aquilo que Ele lhes confiou para Sua glória e O roubarem, malograrão completamente. Ele lhes emprestou meios que devem empregar, não perdendo nenhuma oportunidade de fazer o bem, e entesourando constantemente nos Céus. Mas, se como o homem que tinha um só talento, o esconderem, temendo que Deus queira receber aquilo que o talento pode render, não apenas perderão o lucro com que finalmente seria beneficiado o fiel mordomo, como também o capital que Deus lhes deu para negociar. Porque roubaram a Deus, não depositaram um tesouro no Céu e perderam também o tesouro terrestre. Não têm habitação na Terra nem Amigo no Céu para recebê-los nas eternas moradas dos justos. T1 539.1

Cristo declara: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” Mateus 6:24. Vocês também não podem servir a Deus e às riquezas. “E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas essas coisas e zombavam dEle.” Lucas 16:14. Atentem para as palavras de Cristo a eles dirigidas: “Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração, porque o que entre os homens é elevado [que são as riquezas adquiridas pela opressão, pelo engano, fraude, astúcia ou qualquer outra maneira desonesta] perante Deus é abominação.” Lucas 16:15. Então Cristo apresenta dois indivíduos — o homem rico que se “vestia... de púrpura e linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente” (Lucas 16:19), e Lázaro, que estava em terrível pobreza causando repugnância à vista, e mendigava as poucas migalhas que o rico desprezava. Nosso Salvador faz uma avaliação dos dois. Embora Lázaro estivesse em tão deplorável e miserável condição, possuía verdadeira fé, verdadeira dignidade moral, o que Deus considera de tão grande valor que colocou esse pobre e desprezado sofredor na mais elevada posição, enquanto que o honrado e rico amante da comodidade e dos tesouros terrenos foi lançado fora da presença de Deus e imerso em miséria e aflição indescritíveis. Deus não valorizou as riquezas desse homem porque ele não possuía verdadeira dignidade moral. Seu caráter era sem valor. Sua fortuna não o recomendava a Deus, nem exercia qualquer influência a seu favor. T1 539.2

Através dessa parábola Cristo desejava ensinar a Seus discípulos a não julgar ou avaliar os homens por suas riquezas ou pelas honras que recebem de outros. Assim agiam os fariseus que, conquanto possuíssem riquezas e honras mundanas, eram sem valor perante o Senhor. E mais do que isso: eram desprezados e rejeitados por Ele, lançados fora de Sua vista como desagradáveis porque não possuíam nenhuma integridade moral ou dignidade. Eram corruptos, pecaminosos e abomináveis à Sua vista. O pobre, desprezado por seus semelhantes mortais e odioso a seus olhos, era de mais valor perante o Senhor porque possuía integridade moral e dignidade, estando assim qualificado para ser introduzido na sociedade dos puros e santos anjos, e ser herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo. T1 540.1

Na ordem de Paulo a Timóteo, ele o adverte sobre uma classe que não concorda com as sãs palavras e faz errônea avaliação das riquezas. Ele diz: “Se alguém ensina alguma outra doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento e desprovidos da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho. Aparta-te dos tais. Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.” 1 Timóteo 6:3-12. “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas desfrutarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna.” 1 Timóteo 6:17-19. T1 540.2

Em sua carta a Timóteo, Paulo queria impressionar-lhe a mente com a necessidade de passar tais instruções aos ricos, para livrá-los do engano que tão facilmente os acomete, e preveni-los quanto a pensar que são melhores que os pobres; que por causa da capacidade de acumular fortuna eles se considerem superiores em sabedoria e discernimento. Em resumo, que a piedade é lucro. Eis aí um terrível engano. Quão poucos ouvem a advertência que Paulo transmitiu a Timóteo para que esse passasse aos ricos. Quantos alardeiam que sua propensão para acumular riquezas é piedade. Paulo declara: “Mas é grande ganho a piedade com contentamento.” 1 Timóteo 6:6. Embora os ricos possam dedicar toda a sua vida ao propósito de juntar riquezas, todavia, eles nada trouxeram ao mundo e nada levarão dele. Eles morrem e deixam o que lhes custou tanto trabalho obter. Eles arriscam tudo, até seus interesses eternos, para conseguir propriedades, e perderão ambos os mundos. T1 541.1

Paulo mostra os riscos que os homens correm para tornar-se ricos. Mas muitos estão determinados a ser ricos. Isto é seu propósito e em sua determinação as coisas eternas são marginalizadas. Foram cegados por Satanás e acreditam que seu desejo pelo ganho é visando a bons propósitos. Eles deformam a própria consciência, enganam a si mesmos e estão constantemente cobiçando as riquezas. Desviam-se da fé e atraem sobre si muitos males. Sacrificam os nobres e elevados princípios, trocando sua fé pelas riquezas. Se não se desapontarem com seus objetivos, ficarão frustrados com a felicidade que as supostas riquezas trariam. Estão embaraçados e sobrecarregados de cuidados. Fizeram-se escravos de sua própria avareza e levaram sua família à mesma escravidão. O lucro que obtiveram foi “muitas tristezas”. “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos.” 1 Timóteo 6:17. Os homens não devem acumular riquezas e delas não extrair nenhum bem, privando-se dos confortos da vida e tornando-se virtualmente escravos com o objetivo de aumentar e reter seu tesouro terreno. T1 541.2

O apóstolo Paulo mostra o único e legítimo uso das riquezas e diz a Timóteo para exortar os ricos a “que façam” o “bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro [referindo-se ao fim do tempo], para que possam alcançar a vida eterna”. 1 Timóteo 6:18, 19. Os ensinos de Paulo se harmonizam perfeitamente com as palavras de Cristo: “Granjeai amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.” Lucas 16:9. “Mas é grande ganho a piedade com contentamento.” 1 Timóteo 6:6. Eis aqui o verdadeiro segredo da felicidade e a prosperidade real da mente e do corpo. T1 542.1