Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 87 — Recreação para os cristãos

Foi-me mostrado que os observadores do sábado, como um povo, trabalham demasiado e arduamente sem se permitirem mudanças ou períodos de repouso. A recreação é necessária aos que se acham ocupados em labor físico, e mais ainda, essencial àqueles cujo trabalho é especialmente mental. Não é essencial a nossa salvação, nem para a glória de Deus, manter o espírito em contínuo e excessivo labor, mesmo sobre temas religiosos. Há distrações, como a dança, o jogo de cartas, xadrez, damas, etc., que não podemos aprovar porquanto o Céu as condena. Estas diversões abrem a porta a grandes males. Não são benéficas em sua tendência, antes exercem efeito excitante, produzindo em alguns espíritos uma paixão por aquelas diversões que conduzem ao jogo e à dissipação. Todos esses divertimentos devem ser condenados pelos cristãos, e seu lugar ser substituído por qualquer coisa perfeitamente inofensiva. T1 514.1

Vi que não se devem passar nossos feriados a exemplo do mundo, mas não devemos passá-los por alto, pois isso traria descontentamento aos nossos filhos. Nestes dias em que há perigo de serem expostos às más influências e corrompidos pelos prazeres e atrações do mundo, estudem os pais o meio de proporcionar-lhes alguma coisa que substitua entretenimentos mais perigosos. Dêem a entender a seus filhos que vocês têm em vista seu bem-estar e felicidade. T1 514.2

Unam-se várias famílias que residem numa cidade ou vila, e deixem as ocupações que as cansaram física e mentalmente, e façam uma excursão ao campo, às margens de um belo lago, ou a um bonito bosque, onde seja lindo o cenário da Natureza. Devem prover-se de alimento simples e saudável, das melhores frutas e cereais, pondo a mesa à sombra de alguma árvore ou sob a abóbada celeste. A viagem, o exercício e o panorama despertarão o apetite e poderão desfrutar de uma refeição que causaria inveja aos próprios reis. T1 514.3

Nessas ocasiões, pais e filhos devem sentir-se livres dos cuidados, do trabalho e de toda preocupação. Os pais devem sentir-se pequenos com seus filhos, tornando-lhes tudo tão agradável quanto possível. Seja o dia todo uma contínua recreação. O exercício ao ar livre, para aqueles cujo trabalho é dentro de casa e sedentário, beneficiar-lhes-á a saúde. Todos os que podem, devem sentir o dever de seguir este procedimento. Nada se perderá; mas ganhar-se-á muito. Voltarão às suas ocupações com nova vida e novo ânimo para empreender de novo sua tarefa com mais zelo, e estarão melhor preparados para resistir à enfermidade. T1 515.1

Vi que poucos compreendem o trabalho constante e cansativo daqueles que têm sobre si a responsabilidade das tarefas no Escritório. Eles estão confinados atrás das portas, dia após dia e semana após semana, enquanto que uma carga pesada sobre suas energias mentais está certamente minando seu organismo e reduzindo sua expectativa de vida. Esses irmãos estão em perigo de prostrar-se repentinamente. Não são imortais, e sem uma mudança, eles se desgastarão e estarão incapacitados para o trabalho. T1 515.2

Os irmãos A, B e C são possuidores de dons preciosos. Não podemos aceitar que arruínem a saúde por excessivo confinamento e trabalho incessante. Onde poderíamos encontrar homens com sua experiência para ocupar-lhes o lugar? Dois deles trabalham no Escritório há catorze anos, diligente, consciente e abnegadamente prestando serviços para o progresso da causa de Deus. Raramente têm eles qualquer alteração em sua rotina, exceto quando atacados por febres ou enfermidades. Eles precisam alterar com freqüência seu ritmo, dedicando um dia inteiro à recreação com suas famílias, que estão quase que inteiramente separadas de sua presença. Nem todos podem deixar o trabalho ao mesmo tempo, mas devem ordenar suas ocupações para que um ou dois possam sair, deixando outros em seu lugar; e esses, por sua vez, ter a mesma oportunidade depois. T1 515.3

Vi que os irmãos A, B e C devem considerar como dever religioso cuidar da saúde e vitalidade que Deus lhes deu. O Senhor não requer que se tornem mártires por Sua causa. Não terão nenhuma recompensa por tal sacrifício, pois Deus quer que vivam. Eles podem servir à causa da verdade presente muito melhor vivos do que mortos. Se algum desses irmão for repentinamente prostrado pela doença, ninguém deve achar que isso foi um castigo do Senhor. Seria apenas o seguro resultado da transgressão das leis da Natureza. Deveriam eles atentar às advertências dadas, e não continuar a violar e sofrer pesadas conseqüências. T1 515.4

Vi que esses irmãos podem beneficiar a causa de Deus assistindo, tanto quanto possível, às reuniões de assembléia realizadas longe de seu lugar de trabalho. O trabalho que lhes foi dado é importante, e eles necessitam nervos e mente saudáveis, mas não é possível que sua mente seja aliviada e revigorada como Deus gostaria, enquanto confinados incessantemente no Escritório. Foi-me mostrado que será benéfico à obra em geral e aos que estão na administração da obra em Battle Creek, conhecerem seus irmãos de fora, associando-se com eles nas assembléias. Isso dará aos irmãos distantes maior confiança naqueles que têm sobre os ombros as responsabilidades da obra, e aliviará a tensão mental dos dirigentes, tornando-os melhor relacionados com o progresso da obra e as necessidades da causa. Isso fortalecerá sua esperança, renovará a fé e aumentará sua coragem. O tempo assim empregado não será perdido e proporcionará melhores vantagens. Esses irmãos têm qualidades que os tornam, em mais elevado grau, capazes de desfrutar a vida social. Devem hospedar-se nos lares de seus irmãos de outras localidades, beneficiando e sendo beneficiados pelo intercâmbio de idéias e pontos de vista. T1 516.1

Apelo especialmente ao irmão C para mudar o rumo de sua vida. Ele não pode exercitar-se como outros do Escritório. A atividade interna e sedentária o está preparando para um repentino colapso. Ele não pode continuar fazendo o que sempre fez. Deve passar mais tempo ao ar livre, com períodos de trabalho leve de natureza especial, ou algum exercício agradável de caráter recreativo. Um confinamento tal como o que ele se impôs abalaria o organismo do animal mais forte. Isso é cruel, pernicioso, um pecado contra si mesmo, contra o qual ergo minha voz em advertência. Irmão C, a maior parte de seu tempo deve ser gasta ao ar livre, cavalgando ou em outro exercício agradável, ou você morrerá, deixando sua esposa viúva e seus filhos órfãos, todos os que o amam. O irmão C está qualificado para instruir outros através da exposição da Palavra. Ele pode servir à causa de Deus e beneficiar-se, participando das grandes reuniões dos observadores do sábado e dando testemunho para a edificação daqueles que têm o privilégio de ouvi-lo. Essa mudança o manteria mais tempo ao ar livre. Sua circulação sangüínea é lenta, por necessidade do revigorante ar do céu. Ele tem desempenhado muito bem sua parte no trabalho do Escritório, mas ainda tem necessidade da eletrizante influência do ar puro e da luz solar, para tornar seu trabalho ainda mais espiritual e estimulante. T1 516.2

Em 5 de Junho de 1863, foi-me mostrado que meu marido devia conservar sua vitalidade e saúde, pois Deus ainda tinha uma grande tarefa para nós. Obtivéramos boa experiência desde o início da obra através de Sua providência, e assim nosso trabalho seria de grande importância para Sua causa. Vi que o constante e excessivo trabalho de meu marido estava consumindo suas reservas, as quais Deus desejava que ele preservasse, e que se ele continuasse a sobrecarregar suas capacidades físicas e mentais como estava fazendo, as esgotaria para o futuro e gastaria o capital. Destruir-se-ia prematuramente e a causa de Deus seria desprovida de seu trabalho. A maior parte de seu tempo ele dispensava ao trabalho que outros poderiam fazer no Escritório, ou envolvido em transações comerciais que devia evitar. Deus desejava que nós dois reservássemos nossas energias para serem especialmente usadas quando precisássemos realizar o trabalho que outros não pudessem fazer, e para o qual Ele nos designou, preservando-nos a vida e dando-nos valiosa experiência. Desse modo, poderíamos ser um benefício para Seu povo. T1 517.1

Não tornei isso público porque fora uma mensagem dada especialmente a nós. Se a admoestação houvesse sido plenamente atendida, a aflição pela qual meu marido passou teria sido evitada. A obra de Deus era urgente e parecia não permitir nenhum descanso ou afastamento. Meu marido era compelido a um constante e cansativo trabalho. A ansiedade por seus irmãos sujeitos ao serviço militar e também a rebelião em Iowa, manteve sua mente em contínua tensão e suas energias físicas se esgotaram totalmente. Em vez de ficarem mais leves, os fardos se tornaram mais pesados, e as preocupações, em lugar de diminuir, triplicaram. Mas, certamente havia um meio de escape, ou Deus não teria dado a advertência que deu, e não permitiria que meu marido sucumbisse sob esse pesado tributo. Vi que se ele não houvesse sido especialmente sustido por Deus, teria suas forças físicas e mentais prostradas antes do que ocorreu. T1 518.1

Quando Deus diz uma coisa, Ele quer dizer isso mesmo. Quando Ele adverte, é bom dar-Lhe ouvidos. A razão por que agora falo publicamente é que a mesma advertência feita a meu marido tem sido dada a outros que estão ligados ao Escritório. Vi que, a menos que mudem de conduta, estão sob o mesmo risco de ser atingidos como foi meu marido. Não desejo que outros sofram o que ele padeceu. Mas o que mais deve ser temido é que eles estariam perdidos por um tempo para a causa e o trabalho de Deus, quando o auxílio e a influência de todos eles são muito necessários. T1 518.2

Os que estão vinculados ao Escritório não podem suportar o volume de cuidados e trabalho que meu marido enfrentou por anos. Eles não possuem a mesma compleição e resistência de meu esposo. Eles podem não suportar as perplexidades e o trabalho constante e cansativo que ele, por vinte anos, agüentou. Não posso suportar o pensamento de que alguém no Escritório sacrifique sua saúde e energias mediante excessivo trabalho, de modo a comprometer prematuramente sua utilidade e ficar incapacitado para o trabalho na vinha do Senhor. Não são apenas os apanhadores dos frutos os trabalhadores essenciais. Todos quantos auxiliam cavando em volta das plantas, regando, podando e erguendo os ramos caídos da videira, dirigindo as gavinhas para se fixarem nas treliças, o seguro suporte, são obreiros que não podem ser dispensados. T1 518.3

Os irmãos, do Escritório, acham que não podem deixar o trabalho por uns dias para uma mudança de ares, para recreação, mas isso é um erro. Podem e devem fazê-lo. Mesmo que não se tenha podido fazer muito, seria melhor deixar o trabalho por uns poucos dias do que prostrar-se pela doença e afastar-se da obra de Deus por meses ou, talvez, para sempre. T1 519.1

Meu marido pensava que não era certo despender tempo em reuniões sociais. Não se dispunha a descansar. Achava que o trabalho no Escritório seria prejudicado. Mas depois que lhe sobreveio o golpe, causando-lhe prostração física e mental, seu serviço foi executado sem ele. Vi que os irmãos envolvidos em trabalhos de responsabilidade no Escritório, devem trabalhar sob um esquema diferente, e fazer seus planos para alterar a rotina. Se for necessária mais ajuda, obtenham-na, e que sejam aliviados aqueles que estão constantemente confinados e sujeitos à tensão mental. Eles devem assistir às convocações das assembléias. Precisam desfazer-se dos cuidados, partilhar da hospitalidade dos irmãos, desfrutar sua companhia e as bênçãos das reuniões. Assim receberão idéias novas e suas esgotadas energias despertarão para uma nova vida. Voltarão ao trabalho melhor qualificados para desempenhar sua parte, com maior compreensão das necessidades da causa. T1 519.2

Irmãos de outras partes, vocês estão dormindo a respeito desse assunto? Deverão espantar-se pela queda de outro dos obreiros de Deus a quem amam? Estes homens são propriedade da igreja. Suportariam vê-los sucumbir sob as cargas? Apelo que pensem de maneira diferente. Peço a Deus que a amarga experiência que tivemos nunca seja permitida a qualquer dos irmãos do Escritório. Recomendo especialmente que cuidem do irmão C. Deverá ele morrer por falta de ar, do vitalizante ar do céu? O procedimento que ele segue lhe está encurtando a vida. Por encerrar-se entre quatro paredes, seu sangue se tornou infetado e de circulação lenta; o fígado foi afetado e a atividade cardíaca é inadequada. A menos que ele mude, a Natureza tomará o trabalho em suas próprias mãos. Ela tentará livrar o organismo expelindo as impurezas do sangue. Convocará todas as forças vitais a atuar, e todo o corpo será afetado. Tudo isso pode redundar em paralisia ou apoplexia. Mesmo que supere a crise, a perda de tempo será grande e as probabilidades de recuperação muito pequenas. Se o irmão C não se conscientizar, aconselho que vocês que têm interesse na causa da verdade presente, tomem-no, assim como foi feito com Lutero por seus amigos, e o levem para bem longe do trabalho. T1 520.1

Depois de escrever o texto acima, tive conhecimento de que a maior parte de Thoughts on the Revelation (Reflexões Sobre o Apocalipse) foi escrita à noite, após o trabalho diário do autor. Esse também foi o caminho seguido por meu esposo. Protesto contra tal suicídio. Os irmãos que mencionei e que estão confinados no Escritório, serviriam melhor à causa de Deus assistindo às reuniões e usufruindo períodos de recreação. Assim conservariam suas faculdades físicas e mentais nas melhores condições para dedicá-las à causa. Não se deve permitir que se sintam incapacitados por não receberem salário. Seus pagamentos devem continuar sendo pagos e eles liberados. Estão fazendo uma grande obra. T1 520.2