Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 72 — Pais e filhos

Foi-me mostrado que, enquanto os pais tementes a Deus restringem seus filhos, devem estudar-lhes a disposição e temperamento, e procurar satisfazer-lhes as necessidades. Alguns pais atendem cuidadosamente às necessidades temporais dos filhos; tratam-nos fiel e bondosamente na enfermidade, e pensam então haver cumprido seu dever. Nisto se enganam. Sua obra apenas começou. Importa cuidarem das necessidades do espírito. Requer-se habilidade para aplicar os remédios apropriados para curar uma mente magoada. As crianças têm provações tão difíceis de suportar, tão penosas em sua natureza, como as pessoas de mais idade. Os próprios pais não se sentem sempre da mesma maneira. Seu espírito se acha muitas vezes perplexo. Agem movidos por pontos de vista e sentimentos errados. Satanás os esbofeteia, e cedem-lhe às tentações. Falam irritados, e de maneira a despertar a ira dos filhos, e são às vezes exigentes e impacientes. As pobres crianças partilham do mesmo espírito, e os pais não se acham preparados para as ajudar, pois foram a causa do mal. Por vezes tudo parece dar errado. Há irritação ao redor, e todos passam momentos deploráveis e infelizes. Os pais lançam a culpa sobre os pobres filhos, e julgam-nos muito desobedientes e indisciplinados, as piores crianças do mundo, quando a causa da perturbação se encontra neles próprios. T1 384.1

Alguns pais suscitam muita tempestade por sua falta de domínio próprio. Em lugar de pedirem bondosamente aos filhos para fazerem isto ou aquilo, ordenam em tom de repreensão, tendo ao mesmo tempo nos lábios uma censura ou reprovação que as crianças não mereceram. Pais, essa conduta seguida para com seus filhos destrói-lhes a felicidade e a ambição. Fazem o que vocês ordenam, não por amor, mas porque não ousam proceder diversamente. Não têm o coração no que fazem. É um trabalho servil, em vez de um prazer, e isto os leva a esquecer-se de seguir suas orientações, o que lhes aumenta a irritação, e se torna ainda pior para as crianças. Repetem-se as censuras, sua má conduta é exibida diante delas em vivas cores, até que delas se apodera o desânimo, e não se incomodam se agradam ou não. Tomam-se de um espírito de “não me importo”, e procuram fora de casa, fora dos pais, o prazer e satisfação que aí não encontram. Misturam-se com companheiros de rua, e ficam em breve tão corrompidos como os piores. T1 384.2

Sobre quem recai este grande pecado? Caso o lar houvesse sido tornado atrativo, se os pais houvessem manifestado afeição pelos filhos, procurando bondosamente ocupação para eles, e instruindo-os com amor na obediência a seus desejos, haveriam tocado uma corda sensível no coração deles, e teriam sido prontamente obedecidos por pés, mãos e coração voluntários. Controlando-se a si mesmos e falando bondosamente, e louvando as crianças quando se esforçam por fazer o que é direito, os pais podem estimular esses esforços, tornar as crianças muito felizes, e lançar sobre o círculo de família um encanto que afugentará toda sombra escura, aí introduzindo alegres raios de sol. T1 385.1

Os pais desculpam às vezes sua errônea conduta por não se sentirem bem. Sentem-se nervosos, e acham que não podem ser pacientes e calmos e falar de maneira agradável. Assim se enganam eles a si próprios, e agradam a Satanás, que exulta em que a graça de Deus não seja por eles considerada suficiente para vencer as fraquezas naturais. Eles podem e devem dominar-se sempre. Deus deles requer isto. Devem compreender que, quando cedem à impaciência e à irritação, fazem outros sofrer. Os que os rodeiam são afetados pelo espírito que manifestam, e se eles, por sua vez, procedem com o mesmo espírito, o mal aumenta, e tudo dá errado. T1 385.2

Pais, quando se sentirem irritados, vocês não devem cometer um pecado tão grande como o de envenenar toda a família com essa perigosa irritabilidade. Em tais ocasiões, ponham uma dupla guarda sobre vocês mesmos, e resolvam no coração não ofender com os lábios; que só proferirão palavras agradáveis, animadoras. Digam a vocês mesmos: “Não arruinarei a felicidade de meus filhos com uma palavra irritada.” Controlando-se assim, vocês se tornarão mais fortes. Seu sistema nervoso não será tão sensitivo. Vocês serão fortalecidos pelos princípios do direito. A consciência de estarem se desempenhando fielmente de seu dever os fortalecerá. Os anjos de Deus aprovarão seus esforços, e os ajudarão. Quando se sentem impacientes, vocês pensam demasiadas vezes serem os filhos os culpados, e os censuram quando não o merecem. De outras vezes eles podem fazer exatamente as mesmas coisas, e tudo lhes parece suportável e justo. As crianças conhecem, e notam, e sentem essas irregularidades, e elas não são sempre as mesmas. Às vezes acham-se de algum modo preparadas para enfrentar as disposições mutáveis, e de outras estão nervosas e irritáveis, e não podem suportar censuras. Seu espírito se insurge contra isto. Os pais querem que se faça toda concessão ao seu estado mental, e todavia não vêem necessidade de fazer a mesma concessão a seus pobres filhos. Desculpam em si mesmos aquilo que, visto nas crianças que não têm os mesmos anos de experiência e disciplina, haviam de censurar grandemente. Alguns pais são de temperamento nervoso, e quando fatigados com trabalho ou opressos por cuidados, não mantêm um calmo estado de espírito, mas manifestam aos que mais caros lhes devem ser na Terra, uma irritação e falta de paciência que desagrada a Deus, e traz uma nuvem sobre a família. As crianças em suas perturbações, devem muitas vezes ser acalmadas com terna simpatia. A mútua bondade e paciência tornará o lar um paraíso, e atrairá os santos anjos ao círculo familiar. T1 386.1

A mãe pode e deve fazer muito no sentido de controlar os nervos e o espírito, quando deprimida; mesmo quando doente, ela pode, uma vez que se eduque, ser amável e alegre, e pode suportar mais ruído do que pensara outrora ser possível. Não deve fazer os filhos sofrerem as enfermidades dela e nublar-lhes a tenra e sensível mente com suas depressões de espírito, fazendo-os achar que a casa é um túmulo, e o quarto da mãe o lugar mais triste do mundo. A mente e os nervos adquirem vigor e resistência pelo exercício da vontade. A força de vontade demonstrar-se-á em muitos casos poderoso calmante para os nervos. T1 387.1

Não se mostrem aos seus filhos de rosto triste. Se eles cedem à tentação, e depois reconhecem seu erro e se arrependem, perdoem-lhes tão francamente como vocês esperam ser perdoados por seu Pai do Céu. Instruam-nos bondosamente, e os liguem ao coração. É um tempo crítico para as crianças. Influências serão exercidas sobre elas a fim de aliená-las de vocês, e cumpre-lhes contrabalançá-las. Ensinem-lhes a fazerem de vocês seus confidentes. Segredem-lhes elas ao ouvido suas provas e alegrias. Animando isto, poupá-las-ão a muitos laços preparados por Satanás para seus inexperientes pés. Não tratem seus filhos apenas com severidade, esquecendo a própria infância de vocês, e que eles não passam de crianças. Não esperem que sejam perfeitos, nem busquem torná-los de repente homens e mulheres em seus atos. Assim fazendo, fecharão a porta de acesso que, de outro modo, a eles vocês poderiam ter, e os impelirão a abrir outra porta às influências prejudiciais, a que outros lhes envenenem a mente juvenil antes que vocês despertem para o perigo que correm. T1 387.2

Satanás e seu exército estão fazendo os mais poderosos esforços para manejar a mente das crianças, e estas devem ser tratadas com imparcialidade, ternura e amor cristãos. Isto lhes dará uma forte influência sobre elas, e sentirão que podem depor ilimitada confiança em vocês. Lancem em torno de seus filhos os encantos do lar e do convívio de vocês. Se assim fizerem, eles não terão tanto desejo do convívio de companheiros jovens. Satanás trabalha por meio destes, levando-os a influenciar e corromper a mente uns dos outros. É o meio mais eficaz por que ele pode trabalhar. Os jovens têm poderosa influência uns sobre os outros. Sua conversa nem sempre é escolhida e elevada. Transmitem-se aos ouvidos más informações, as quais, a não serem decididamente combatidas, encontram guarida no coração, tomam raízes, e brotam e dão fruto, corrompendo os bons costumes. Devido ao mal que há agora no mundo, e à restrição que é necessário impor aos filhos, os pais devem ter duplo cuidado de os ligar ao próprio coração, fazendo-os ver que vocês desejam torná-los felizes. T1 387.3

Os pais não se devem esquecer dos anos de sua infância, de quanto anelavam simpatia e amor, e como se sentiam infelizes quando censurados e repreendidos com irritação. Devem ser novamente jovens em seus sentimentos, e levar a mente a compreender as necessidades das crianças. Mas com firmeza, misturada com amor, devem exigir obediência dos filhos. A palavra dos pais deve ser imediatamente obedecida. T1 388.1

Anjos de Deus estão observando as crianças com o mais profundo interesse, a ver o caráter que desenvolvem. Se Cristo lidasse conosco como nós muitas vezes fazemos uns com os outros e com nossos filhos, tropeçaríamos e cairíamos devido ao completo desânimo. Vi que Jesus conhece nossas fraquezas e partilhou, Ele próprio, de nossa experiência em todas as coisas, mas sem pecado; portanto, Ele preparou-nos um caminho adequado a nossa força e capacidade e, como Jacó, tem caminhado devagar e segundo o passo das crianças e sua capacidade de resistência, a fim de nos entreter pelo conforto de Sua companhia, e ser-nos guia perpétuo. Ele não despreza, nem negligencia ou deixa para trás, as crianças do rebanho. Não nos pediu que marchássemos avante e as deixássemos atrás. Não tem caminhado tão depressa que nos deixasse para trás com os pequenos. Oh, não! mas tem aplainado a estrada da vida, mesmo para as crianças. E requer-se dos pais, em Seu nome, que as conduzam ao longo do caminho estreito. Deus nos designou um caminho apropriado à resistência e capacidade das crianças. T1 388.2