Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 70 — Perigos e deveres dos pastores

Foi-me mostrado que agora pode ser realizado mais pelo trabalho em lugares onde pouco foi promovido, do que em campos inteiramente novos, a menos que o campo novo seja muito bom. Uns poucos, em diferentes cidades, que crêem realmente na verdade, exercerão influência e suscitarão pesquisa com respeito à sua fé. Se sua vida for exemplar, a luz brilhará e promoverá uma ação unificadora. Vi, ainda, lugares onde a verdade não foi proclamada, os quais logo devem ser visitados. Mas o grande trabalho a ser realizado agora é levar o povo de Deus a envolver-se na obra, e exercer uma santa influência. Eles devem desempenhar o papel de operários. Com sabedoria, cautela e amor, devem trabalhar pela salvação de vizinhos e amigos. Há também um manifesto sentimento de distância. A cruz não foi tomada e sustentada como deveria ser. Todos devem sentir que são guardiães de seu irmão; que estão sob alto grau de responsabilidade pelos seres que os cercam. Os irmãos erram quando deixam todo o trabalho para os pastores. “A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros.” Mateus 9:37. Os que têm boa reputação e cuja vida está de acordo com sua fé, podem ser obreiros. Podem conversar com outros, persuadindo-os sobre a importância da verdade. Não devem esperar pelos pastores e negligenciar um claro dever que Deus deixou que executassem. T1 368.2

Alguns de nossos pastores sentem pouca disposição para arcar com o fardo do trabalho de Deus, e trabalhar com aquela desinteressada benevolência que caracterizou a vida de nosso divino Senhor. As igrejas, como regra geral, estão mais adiantadas que alguns pastores. Elas tiveram fé nos testemunhos que Deus houve por bem dar e agiram segundo eles, enquanto alguns pregadores ficaram bem para trás. Esses professam crer nos testemunhos dados, e alguns agem muito mal fazendo deles uma regra férrea para os que não tiveram nenhuma experiência anterior com relação às mensagens, mas fracassam em atendê-los eles mesmos. Eles repetem testemunhos que são completamente desconsiderados. Sua conduta não é coerente. T1 369.1

O povo de Deus geralmente tem interesse unido na propagação da verdade. Alegremente dão liberal apoio àqueles que trabalham em palavra e doutrina. Vi que é dever dos que têm a responsabilidade de distribuir meios, ver que os recursos da igreja não sejam dissipados. Alguns desses irmãos liberais têm trabalhado durante anos com os nervos em frangalhos e o organismo enfraquecido, resultantes de trabalho excessivo para obter posses terrenas, e agora quando dão uma porção do que lhes custou muito, é dever daqueles que trabalham na palavra e na doutrina manifestar zelo e abnegação, pelo menos iguais aos demonstrados por esses irmãos. T1 369.2

Os servos de Deus devem ser livres. Eles devem saber em quem confiam. Há poder em Cristo e em Sua salvação para torná-los homens livres; e a menos que sejam livres nEle, não podem edificar Sua igreja e ganhar almas. Enviará Deus um homem para salvar pessoas da armadilha de Satanás, quando seus pés estão emaranhados na rede? Os servos de Deus não devem ser vacilantes. Se seus pés estão resvalando, como podem dizer aos de coração temeroso: “Sejam fortes”? Deus quer Seus servos sustentando as “mãos fracas” e fortalecendo os “joelhos trementes”. Isaías 35:3. Os que não estão preparados para fazer isso, deveriam primeiro trabalhar por si mesmos e orar até ser dotados do poder do alto. T1 369.3

Deus não está satisfeito com a falta de abnegação vista em alguns de Seus servos. Eles não sentem o peso do trabalho sobre si mesmos. Parecem estar dominados por um estupor mortal. Os anjos de Deus ficam pasmados e envergonhados com essa falta de abnegação e perseverança. Enquanto o Autor de nossa salvação estava trabalhando e sofrendo por nós, negava-Se a Si mesmo, e toda a Sua vida foi uma continuada cena de labuta e privação. Ele poderia ter passado os Seus dias na Terra em tranqüilidade e fartura, e usufruir os prazeres desta vida, mas não considerou a própria conveniência. Viveu para fazer o bem aos outros. Sofreu para poupar sofrimento aos outros. Resistiu até o fim e consumou a obra que Lhe fora confiada. Tudo isso para nos salvar da ruína. Pode ser agora que nós, indignos objetos de tão grande amor, busquemos nesta vida uma posição melhor do que a que foi dada a nosso Senhor? Cada momento de nossa vida temos sido participantes das bênçãos de Seu grande amor, e por essa mesma razão não podemos perceber completamente a profundidade da ignorância e da miséria das quais fomos resgatados. Podemos olhar Aquele a quem nossos pecados traspassaram e não estarmos dispostos a beber com Ele o amargo cálice da humilhação e do sofrimento? Podemos olhar a Cristo crucificado e querer entrar em Seu reino de qualquer outro modo senão através de muita tribulação? T1 370.1

Nem todos os pregadores se entregam ao trabalho de Deus como lhes é exigido. Alguns sentem que a sorte do pregador é dura, porque são obrigados a ficar separados de suas famílias. Eles se esquecem que antes era muito mais difícil de trabalhar do que agora. Não havia senão poucos amigos da causa. Eles se esquecem daqueles sobre quem Deus pôs no passado a responsabilidade da obra. Havia então apenas alguns que recebiam a verdade como resultado de muito trabalho. Os escolhidos servos de Deus choravam e oravam para obter uma clara compreensão da verdade, e sofreram privações e exerceram muita abnegação para levá-la aos outros. Passo a passo prosseguiram conforme a providência de Deus os conduzia. Não levaram em conta a própria conveniência nem se furtaram a sofrimentos. Através desses homens Deus preparou o caminho e tornou a verdade clara à compreensão de toda mente sincera. Tudo foi posto nas mãos dos pastores que abraçaram a verdade desde então, todavia, alguns deles não sentiram a responsabilidade do trabalho. Eles procuraram uma sorte mais fácil, uma posição menos abnegada. Esta Terra não é o lugar de repouso dos cristãos, e muito menos dos escolhidos pastores de Deus. Eles se esquecem de que Cristo deixou Suas riquezas e glória no Céu e veio à Terra para morrer, e que Ele nos ordenou amarmo-nos “uns aos outros, assim como” Ele nos amou. João 15:12. Esquecem-se daqueles “dos quais o mundo não era digno”, que “andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados”. Hebreus 11:38, 37. T1 370.2

Foram-me mostrados os valdenses e o que eles sofreram por causa de sua religião. Eles estudavam conscienciosamente a Palavra de Deus e viviam segundo a luz que possuíam. Foram perseguidos e expulsos de seus lares; suas posses, obtidas mediante duro trabalho, foram-lhes confiscadas e suas casas queimadas. Fugiram para as montanhas e ali enfrentaram terríveis sofrimentos. Suportaram fome, fadiga, frio e nudez. A única veste que muitos puderam obter era a pele de animais. E, todavia, os dispersos e desabrigados se reuniam para unir as vozes em cânticos de louvor a Deus, porque eram tidos por dignos de sofrer pelo nome de Cristo. Eles se encorajavam e animavam uns aos outros e eram mesmo gratos por seu miserável abrigo. Muitos de seus filhos ficaram doentes e morreram de frio e fome, contudo, os pais nem por um só momento pensaram em renunciar sua fé. Eles prezavam o amor e o favor de Deus acima de todas as facilidades e riquezas terrenas. Receberam consolação de Deus e com alegre esperança olhavam para a recompensa futura. T1 371.1

Foi-me também mostrado Martinho Lutero, a quem Deus chamou para uma obra especial. Quão precioso lhe era o conhecimento da verdade revelada na Palavra de Deus! Sua mente estava faminta por algo seguro sobre o qual edificar sua esperança de que Deus seria seu Pai e o Céu seu lar. A nova e preciosa luz que raiou sobre ele da Palavra do Senhor foi-lhe de inestimável valor, e pensou que se saísse e a propagasse, poderia convencer o mundo. Ele enfrentou a ira da igreja decaída e fortaleceu aqueles que com ele se deleitavam nas ricas verdades contidas na Palavra de Deus. Lutero foi um instrumento escolhido por Deus para arrancar os trajes hipócritas da igreja papal e expor sua corrupção. Ele ergueu sua voz zelosamente e pelo poder do Espírito Santo clamou contra os pecados dos líderes. Foram emitidos decretos condenando-o à morte onde quer que pudesse ser encontrado. Parecia ter sido deixado à mercê de um povo supersticioso e obediente ao líder da igreja romana. Entretanto, ele não considerava sua vida por preciosa. Lutero sabia que não estava seguro em nenhum lugar, mas não temeu. A luz que vira e na qual se deleitara era-lhe vida, e de maior valor do que todos os tesouros da Terra. Ele bem sabia que riquezas terrenas falhariam, mas as ricas verdades abertas à sua compreensão e atuando no coração subsistiriam e, se obedecidas, o conduziriam à imortalidade. T1 372.1

Quando intimado a comparecer em Augsburgo para responder por sua fé, atendeu. Aquele homem solitário que havia despertado a ira dos sacerdotes e do povo foi citado perante aqueles que fizeram o mundo tremer — um manso cordeiro cercado de leões famintos. No entanto, por causa de Cristo e da verdade, ele permaneceu intrépido, e com santa eloqüência que somente a verdade pode inspirar, apresentou as razões de sua fé. Seus inimigos tentaram por vários meios silenciar o destemido advogado da verdade. Inicialmente o elogiaram e fizeram-lhe a promessa de que seria exaltado e honrado. Mas vida e honras eram para ele de pouco valor se conseguidas em troca do sacrifício da verdade. Mais brilhante e clara a Palavra de Deus luziu em sua compreensão, dando-lhe mais vívido senso dos erros, corrupções e hipocrisia do papado. Seus inimigos procuraram então intimidá-lo e fazer com que renunciasse a fé, mas ele intrepidamente permaneceu em defesa da verdade. Lutero estava pronto a morrer por sua fé se Deus assim o requeresse, mas ceder, nunca! Deus preservou sua vida. Enviou anjos para acompanhá-lo e frustrar a ira e os propósitos de seus inimigos, e conduzi-lo ileso através do tormentoso conflito. T1 372.2

O ânimo calmo e nobre de Lutero humilhou seus inimigos e aplicou o mais terrível golpe ao papado. Os grandes e orgulhosos homens do poder criam que o sangue do monge alemão expiaria os danos feitos à sua causa. Seus planos foram apresentados, mas um poder mais alto do que eles cuidava de Lutero. Sua obra ainda não estava terminada. Os amigos de Lutero apressaram sua saída de Augsburgo. Ele deixou a cidade à noite, desarmado, sem botas nem esporas e montado num cavalo sem rédeas. Em grande cansaço prosseguiu sua jornada até estar entre amigos. T1 373.1

Novamente acendeu-se a ira do papado e eles resolveram selar a boca do destemido defensor da verdade. Convocaram-no a Worms, totalmente determinados a fazê-lo responder por sua loucura. Lutero estava com a saúde debilitada, mas não se desculpou. Bem sabia dos perigos que correria. Sabia que seus poderosos inimigos adotariam qualquer medida para silenciá-lo. Estavam sedentos por seu sangue, assim como os judeus clamavam pelo sangue de Cristo. Ele, porém, confiava no Deus que preservara os três hebreus na fornalha ardente. Sua ansiedade e cuidados não eram por si mesmo. Não buscava a própria comodidade, mas a grande preocupação era que a verdade tão preciosa para ele, não fosse exposta aos insultos dos ímpios. Estava pronto a morrer antes que permitir que seus inimigos triunfassem. Quando entrou em Worms, milhares de pessoas o cercaram e o seguiram. Imperadores e outras eminentes autoridades não foram acompanhados por tão grande séquito. O entusiasmo era intenso e alguém naquela multidão, com voz penetrante e lamentosa, entoou um canto fúnebre para advertir Lutero do que o aguardava. Mas o reformador havia calculado o custo e estava pronto a selar seu testemunho com o próprio sangue, se Deus assim o quisesse. T1 373.2

Lutero estava para responder por sua fé perante a mais imponente assembléia, e esperava em Deus para fortalecê-lo. Por algum tempo sua coragem e fé foram provadas. Perigos sob todas as formas impendiam sobre ele. Entristeceu-se. Nuvens se acumulavam ao seu redor e o ocultavam da face divina. Ele ansiava ir adiante com confiante certeza de que Deus estaria a seu lado. Não ficaria satisfeito a menos que estivesse escondido em Deus. Com entrecortados clamores dirigiu sua angustiante oração ao Céu. Seu espírito às vezes parecia fraquejar quando imaginava os inimigos se multiplicando contra ele. Tremia diante do perigo iminente. Vi que Deus em Sua sábia providência o preparara dessa maneira para que ele não se esquecesse dAquele em quem havia confiado, e que não se lançasse presunçosamente ao perigo. Deus o estava preparando como Seu instrumento para a grande obra que lhe aguardava. T1 374.1

A oração de Lutero foi ouvida. Sua coragem e fé voltaram quando enfrentou seus inimigos. Manso como um cordeiro permaneceu ele, cercado pelos grandes homens da Terra, os quais, como lobos famintos, fixaram os olhos sobre ele esperando intimidá-lo com seu poder e grandeza. Mas ele recebera forças de Deus e não temeu. Suas palavras foram ditas com tal dignidade e poder que seus inimigos nada podiam fazer contra ele. Deus estava falando através de Lutero, e reunira imperadores e homens supostamente sábios para que pudesse reduzir publicamente a nada a sua sabedoria, e para que todos testemunhassem a força e a firmeza de um fraco mortal que se apoiara em Deus, sua eterna Rocha. T1 374.2

A postura calma de Lutero estava em impressionante contraste com a paixão e a ira manifestadas por aqueles que eram tidos por grandes homens. Eles não podiam obrigá-lo a retratar-se. Em nobre simplicidade e calma firmeza ele permaneceu como uma rocha. A oposição dos inimigos, sua ira e ameaças, como uma poderosa onda, encapelaram-se contra ele, e se desfizeram inofensivas a seus pés. Ele permaneceu inamovível. Os inimigos estavam humilhados porque seu poder, que haviam feito tremer reis e nobres, pudesse ser desprezado por um homem humilde, e desejavam fazê-lo conhecer sua ira pela tortura até à morte. Mas Alguém que é mais poderoso do que todos os potentados da Terra cuidava de Sua destemida testemunha. Deus tinha um trabalho para Lutero. Ainda deveria ele sofrer pela verdade. Ele devia vê-la prosseguir através de sangrentas perseguições. Devia vê-la vestida em pano de saco e difamada por fanáticos. Ele precisava viver para justificá-la e ser seu defensor quando as forças poderosas da Terra buscassem erradicá-la. Ele precisava viver para ver seu triunfo e extirpar os erros e superstições do papado. Lutero obteve em Worms uma vitória que abalou o papado. As novas se espalharam por outros reinos e nações. Isso foi um golpe eficaz em favor da Reforma. T1 375.1

Os pastores que estão pregando a verdade presente foram-me mostrados em contraste com os principais líderes da Reforma. A vida dedicada e zelosa de Lutero foi especialmente confrontada com a vida de alguns de nossos pregadores. Ele provou seu eterno amor pela verdade por sua coragem, firmeza e abnegação. Suportou aflições e sacrifícios, e muitas vezes sofreu profunda angústia de alma, enquanto em defesa da verdade, mas não murmurou. Foi caçado como um animal selvagem, mas suportou tudo alegremente por amor a Cristo. T1 375.2

A última mensagem de misericórdia foi confiada aos humildes e fiéis servos deste tempo. Deus tem guiado aqueles que não fogem das responsabilidades e os incumbe de deveres, e tem, através deles, apresentado a Seu povo um plano de doação sistemática no qual todos podem empenhar-se e trabalhar harmoniosamente. Esse sistema foi posto em prática e funcionou admiravelmente. Ele sustenta liberalmente os pregadores e a causa. Assim que os pregadores cessaram sua oposição e deixaram de levantar obstáculos, o povo respondeu ao chamado e apoiou o sistema. Tudo se tornou fácil e conveniente para os pregadores, a fim de que pudessem trabalhar livres de todo empecilho. Nosso povo aderiu com tal vontade e interesse que não encontramos em nenhuma outra classe. Deus Se desgosta com pregadores que se lamentam e deixam de empregar todas as suas energias nessa obra importantíssima. São indesculpáveis, e alguns estão enganados pensando que se sacrificam muito, que estão enfrentando tempos difíceis, quando em realidade nada sabem sobre sofrimento, abnegação ou necessidade. Podem por vezes sentir-se cansados, e assim estariam se dependessem de trabalho manual para seu sustento. T1 375.3

Alguns pensam que seria mais fácil trabalhar com as próprias mãos e freqüentemente manifestam seu desejo de fazê-lo. Eles não sabem, porém, do que estão falando. Enganam-se a si mesmos. Uns têm famílias grandes a sustentar e lhes falta capacidade de administração. Eles não compreendem que são devedores à causa de Deus por seus lares e tudo quanto possuem. Não compreendem também quanto custa viver. Houvessem se dedicado a trabalhos manuais, não estariam livres da ansiedade e do cansaço. Enquanto trabalhando pelo sustento de suas famílias, não poderiam estar assentados diante de suas lareiras. São poucas as horas que um trabalhador cuja família dependa dele para sustento, pode despender com os seus em casa. Alguns pastores não amam o trabalho diligente, e abrigam descontentamento muito irrazoável. Deus registra cada pensamento queixoso, cada palavra e sentimento. O Céu é insultado por tal demonstração de fraqueza e falta de devoção à causa de Deus. T1 376.1

Alguns deram ouvidos ao tentador e manifestaram incredulidade, prejudicando a causa. Satanás tem reivindicações sobre eles, porque não escaparam de sua armadilha. Eles se conduziram como crianças que estavam totalmente alheias às astúcias do tentador. Eles têm experiência suficiente e deveriam ter percebido as manobras do inimigo. Ele lhes sugeriu dúvidas à mente, e em lugar de repeli-las de vez, eles arrazoaram e parlamentaram com o arquienganador e ouviram seus motivos, como que encantados pela velha serpente. Alguns textos que não lhes eram perfeitamente claros à mente, foram suficientes para sacudir toda a estrutura da verdade e obscurecer os fatos mais simples da Palavra de Deus. Estes homens são pecadores mortais. Eles não possuem perfeita sabedoria e conhecimento em toda a Escritura. Algumas passagens estão além do alcance da mente humana, até o tempo em que Deus, em Sua sabedoria, achar conveniente revelá-las. Satanás tem conduzido alguns por um caminho que termina em certa infidelidade. Esses permitem que a própria incredulidade obscureça a cadeia harmoniosa e gloriosa da verdade, e agem como se fosse de sua alçada resolver cada passagem difícil da Escritura, e se nossa fé não os capacita a fazer isso, ela é imperfeita. T1 377.1

Vi que aqueles que possuem um perverso coração de incredulidade duvidarão, e pensarão ser nobreza e virtude duvidar da Palavra de Deus. Os que pensam ser virtude enganar com astúcia, terão bastante oportunidade de descrer da inspiração e das verdades da Palavra de Deus. Deus não compele ninguém a crer. Eles podem escolher confiar nas evidências que Ele Se dignou dar, ou duvidar, fingir e perecer. T1 377.2

Foi-me mostrado que esses que estão turbados por dúvidas e infidelidade não devem sair para trabalhar por outros. Que aquilo que está na mente tende a externar-se, e que eles não percebem o efeito de uma insinuação ou de uma pequena dúvida expressa. Satanás faz dela uma seta farpada. Ela age como veneno lento e antes que a vítima esteja consciente de seus perigos, afeta todo o organismo, destrói a boa constituição e finalmente produz a morte. Assim é também com o veneno da dúvida e da incredulidade sobre os fatos da Escritura. Alguém que tem influência expõe a outros o que Satanás lhe sugeriu, isto é, que um texto contradiga outro, e assim, de maneira capciosa, como se tivesse descoberto algum mistério maravilhoso que tinha sido ocultado dos crentes e santos de todas as épocas, ele lança as trevas da meia-noite sobre outras mentes. Eles perdem o prazer que uma vez tiveram na verdade, e se tornam infiéis. Tudo isso é obra de umas poucas palavras, que pareciam possuir um poder oculto porque achavam-se envoltas em mistério. T1 377.3

Esse é o trabalho de um demônio astuto. Os que são molestados por dúvidas e têm dificuldades que não sabem resolver, não devem lançar outras mentes débeis na mesma perplexidade. Alguns têm insinuado sua incredulidade ou nela falado, e prosseguido, mal imaginando os efeitos produzidos. Em alguns casos as sementes da incredulidade tiveram efeito imediato, ao passo que em outros ficaram enterradas por bastante tempo, até a pessoa seguir um procedimento errado, dando lugar ao inimigo, e a luz de Deus foi dela retirada, caindo ela sob as poderosas tentações de Satanás. Então as sementes da infidelidade, lançadas há tanto tempo, germinam. Satanás as alimenta, e elas produzem fruto. Qualquer coisa provinda de pastores, que deveriam estar na luz, tem uma poderosa influência. E se não andaram na clara luz de Deus, Satanás os tem usado como agentes seus, por eles lançando seus dardos inflamados a espíritos não preparados para resistir àquilo que proveio de seus pastores. T1 378.1

Vi que pastores, bem como o povo, têm diante de si uma luta para resistir a Satanás. O professo ministro de Cristo está em temerária posição quando servindo aos propósitos do tentador, por ouvir seus cochichos e permitir que a mente seja levada cativa e os pensamentos guiados pelo inimigo. O mais grave pecado do pastor à vista de Deus é dar vazão à sua incredulidade e desviar outras mentes para a escuridão, aceitando que Satanás o leve a cumprir um duplo propósito ao tentá-lo. Ele perturba a mente daquele cuja conduta atraiu suas tentações e o leva então a confundir a mente de muitos. T1 378.2

É tempo de os vigias sobre os muros de Sião entenderem a responsabilidade e a santidade de sua missão. Eles devem sentir que um ai repousa sobre eles se não fizerem o trabalho que Deus lhes confiou. Se forem infiéis, estão arriscando a segurança do rebanho de Deus, a causa da verdade, e expondo-a ao ridículo de nossos inimigos. Oh, que obra é essa! Ela certamente terá sua recompensa. Alguns pastores, bem como o povo, precisam converter-se. Eles precisam ser despedaçados e feitos novos. Seu trabalho nas igrejas é mais que perdido e, em sua presente fraqueza e vacilante condição, estariam agradando mais a Deus se cessassem seus esforços para ajudar a outros, e trabalhassem com as próprias mãos até estarem convertidos. Então poderiam fortalecer seus irmãos. T1 379.1

Os pastores precisam despertar. Eles professam ser generais no exército do grande Rei, mas ao mesmo tempo são simpatizantes do grande líder rebelde e suas forças. Alguns expuseram a causa de Deus, e as verdades sagradas de Sua Palavra às acusações das forças rebeldes. Eles removeram uma parte de sua armadura, e Satanás disparou suas setas envenenadas. Eles fortaleceram as mãos dos líderes rebeldes e se debilitaram, compelindo Satanás e seu clã infernal a erguer a cabeça em triunfo e exultar pela vitória que lhes deram. Oh, que falta de sabedoria! Que cegueira! Que generalato tolo, revelar os pontos mais fracos aos inimigos extremamente fatais! Quão diferente foi a conduta seguida por Lutero! Ele estava disposto a sacrificar a própria vida, se fosse necessário, mas a verdade, nunca. Suas palavras foram: “Cuidemos que o evangelho não seja exposto aos insultos dos ímpios, e que vertamos nosso sangue em sua defesa, de preferência a permitir que eles triunfem. Quem pode dizer se minha vida ou minha morte contribuirão para a salvação de meus irmãos?” T1 379.2

Deus não depende de qualquer homem para o avanço de Sua causa. Ele está chamando e qualificando homens para levar a mensagem ao mundo. Ele pode aperfeiçoar Sua força na fraqueza dos homens. O poder é de Deus. Desenvoltura, eloqüência, grandes talentos, não converterão uma só pessoa. Os esforços do púlpito podem despertar as mentes, os claros argumentos podem ser convincentes, mas Deus dá o crescimento. Homens piedosos, fiéis e santos, que vivem cada dia aquilo que pregam, exercerão uma influência salvadora. Um sermão poderoso feito do púlpito pode atingir a mente, mas um pouco de imprudência da parte do pastor fora do púlpito, a falta de seriedade e de verdadeira piedade na conversação, neutralizarão sua influência e desfarão as boas impressões feitas por ele. Os conversos serão seus; em muitos casos eles buscarão não subir mais alto do que o pregador. Não haverá neles uma obra completa no coração. Não são convertidos a Deus. A obra é superficial e sua influência será danosa àqueles que realmente estão buscando o Senhor. T1 380.1

O sucesso de um pastor depende muito de seu comportamento fora do púlpito. Quando ele termina de pregar e desce do púlpito, seu trabalho não está terminado; está apenas se iniciando. Ele deve pôr em prática o que pregou. Não deve agir imprudentemente, mas pôr uma guarda sobre si mesmo, a fim de nada fazer e dizer que dê vantagens ao inimigo e traga vergonha para a causa de Cristo. Todo o cuidado dos pastores é pouco, especialmente quando diante dos jovens. Eles não devem usar nenhuma palavra leviana, gracejos ou piadas, mas lembrar-se de que estão em lugar de Cristo, e que devem ilustrar pelo exemplo a vida de Cristo. “Porque nós somos cooperadores de Deus.” 1 Coríntios 3:9. “E nós, cooperando também com Ele, vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão.” 2 Coríntios 6:1. T1 380.2

Foi-me mostrado que a utilidade de jovens pastores, casados ou solteiros, é destruída freqüentemente pela simpatia a eles demonstrada pelas jovens. Não percebem que outros olhos as observam e que seu comportamento tende a prejudicar a influência do pastor a quem dão tanta atenção. Se considerassem estritamente as regras do decoro, seria muito melhor para elas e seu pastor. Isso o coloca em posição desagradável, e leva os outros a vê-lo sob uma ótica errada. Vi ainda que a responsabilidade do assunto repousa sobre os próprios pastores. Devem mostrar desagrado por essas coisas, e se adotarem a postura que Deus deseja, não serão perturbados por muito tempo. Devem abster-se “de toda aparência do mal” (1 Tessalonicenses 5:22), e quando as moças forem muito sociáveis, é seu dever deixar-lhes claro que isso não lhes é agradável. Eles têm que repelir esse entusiasmo, mesmo que sejam considerados rudes. Essas coisas precisam ser reprovadas, de forma a poupar a causa de Deus de descrédito. Mulheres jovens que se converteram à verdade e a Deus, atenderão à repreensão e mudarão de atitude. T1 381.1

Os pastores devem acompanhar seus trabalhos públicos com esforços particulares, e trabalhar pessoalmente pelas pessoas sempre que houver uma oportunidade, conversando ao redor da lareira e apelar às pessoas que busquem as coisas que podem trazer-lhes paz. Nosso trabalho aqui deve logo findar, e “cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho”. 1 Coríntios 3:8. Foi-me mostrada a recompensa dos santos, a herança imortal, e vi que aqueles que tinham suportado tudo pela causa da verdade não pensarão ter tido tempos difíceis, mas considerarão o Céu como muito fácil de ser ganho. T1 381.2