Profetas e Reis
Capítulo 56 — Instruídos na lei de Deus
Este capítulo é baseado em Neemias 8-10.
Era o tempo da Festa das Trombetas. Muitos estavam reunidos em Jerusalém. O cenário dava uma impressão lastimável. O muro de Jerusalém tinha sido reconstruído, e as portas assentadas; mas uma grande parte da cidade estava ainda em ruínas. PR 340.1
Sobre uma plataforma de madeira, erguida numa das ruas mais largas, e rodeado por todos os lados por tristes lembranças da antiga glória de Judá, estava Esdras, agora envelhecido. A sua direita e a sua esquerda reuniram-se seus irmãos levitas. Olhando do alto da plataforma, seus olhos percorreram o mar de cabeças. Os filhos do concerto tinham-se congregado de todos os recantos do país. “E Esdras louvou o Senhor, o grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém [...] e inclinaram-se, e adoraram ao Senhor, com os rostos em terra”. Neemias 8:6. PR 340.2
Entretanto mesmo aqui estava a evidência do pecado de Israel. Através de casamento misto do povo com outras nações, a linguagem hebraica tinha-se tornado corrompida, e grande cuidado era necessário da parte dos oradores, para explicar a lei na linguagem do povo, a fim de que pudesse ser entendida por todos. Alguns dos sacerdotes e levitas uniram-se com Esdras na explicação dos princípios da lei. “E leram no livro, na lei de Deus; e declarando, e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse.” PR 340.3
“E os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da lei”. Neemias 8:8, 3. “Eles ouviam, absortos e reverentes, as palavras do Altíssimo. Sendo a lei explicada, eles se convenceram de sua culpa, e choraram por causa de suas transgressões. Mas esse era um dia festivo, um dia de regozijo, uma santa convocação, um dia no qual o Senhor tinha ordenado ao povo que se mostrasse alegre e jubiloso; e em vista disto foram chamados a restringir suas mágoas, e a se rejubilarem por causa da grande misericórdia do Senhor para com eles. “Este dia é consagrado ao Senhor vosso Deus”, disse Neemias, “pelo que não vos lamenteis, nem choreis. [...] Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força”. Neemias 8:9, 10. PR 340.4
A primeira parte do dia fora devotada a exercícios religiosos, e o povo despendeu o resto do tempo em grata reconsideração das bênçãos de Deus, e em desfrutar a abundância que Ele provera. Porções foram também enviadas aos pobres que nada tinham para preparar. Houve grande regozijo, por causa das palavras da lei que haviam sido lidas e entendidas. PR 340.5
No dia seguinte, a leitura e explicação da lei teve prosseguimento. E no tempo indicado — no décimo dia do sétimo mês — realizaram-se as solenes cerimônias do dia da expiação, de acordo com a ordenação de Deus. PR 341.1
Do décimo quinto ao vigésimo segundo dia do mesmo mês, o povo e seus chefes guardaram uma vez mais a Festa dos Tabernáculos. “E fizeram passar pregão por todas as suas cidades, e em Jerusalém, dizendo: Saí ao monte, e trazei ramos de oliveiras, e ramos de zambujeiros, e ramos de murtas, e ramos de palmeiras, e ramos de árvores espessas, para fazer cabanas, como está escrito. Saiu, pois, o povo, e de tudo trouxeram, e fizeram para si cabanas, cada um no seu terraço, e nos seus pátios, e nos átrios da casa de Deus. [...] E houve mui grande alegria. E de dia em dia ele Esdras lia no livro da lei de Deus, desde o primeiro dia até ao derradeiro”. Neemias 8:15-18. PR 341.2
Ao atentar dia a dia para as palavras da lei, o povo ficara convencido de suas transgressões, e dos pecados de sua nação em passadas gerações. Viram que fora por causa do afastamento de Deus que Seu cuidado protetor tinha sido retirado, e que os filhos de Abraão tinham sido espalhados pelas terras estrangeiras; e se determinaram buscar Sua misericórdia e empenharem-se em andar nos Seus mandamentos. Antes de entrarem nesta solene cerimônia, que tivera lugar no segundo dia após o encerramento da Festa dos Tabernáculos, eles se separaram dos pagãos que havia entre eles. PR 341.3
Prostrando-se o povo ante o Senhor, e confessando os seus pecados e suplicando perdão, seus líderes os encorajaram a crer que Deus, segundo a Sua promessa, ouvira suas orações. Não deviam eles apenas lamentar e chorar e arrepender-se, mas deviam crer que Deus os perdoara. Deviam mostrar sua fé passando em revista Suas misericórdias e louvá-Lo por Sua bondade. “Levantai-vos”, disseram esses ensinadores, “bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade.” PR 341.4
Então da multidão reunida, ao se levantarem com as mãos estendidas para o céu, elevou-se o cântico: PR 341.5
“Bendigam o nome da Tua glória,
que está levantado sobre toda a bênção e louvor.
Tu só és Senhor, Tu fizeste o Céu, o Céu dos Céus,
e todo o seu exército,
a Terra e tudo quanto nela há,
os mares e tudo quanto neles há,
e Tu os guardas em vida a todos,
E o exército dos Céus Te adora”. Neemias 9:5, 6.
PR 341.6
Findo o cântico de louvor, os líderes da congregação relataram a história de Israel, mostrando quão grande tinha sido a bondade de Deus para com eles, e como tinha sido grande a ingratidão deles. Então toda a congregação entrou num concerto para guardar os mandamentos de Deus. Eles haviam sofrido a punição por seus pecados; agora reconheciam a justiça do trato que Deus lhes dispensara, e se comprometeram em obedecer a Sua lei. E para que este fosse “um firme concerto”, sendo preservado em forma permanente, como um memorial da obrigação que haviam tomado sobre si, foi ele escrito, e os sacerdotes, levitas e príncipes o assinaram. Devia ele servir como um memorando do dever e uma barreira contra a tentação. O povo fez um solene juramento de que “andariam na lei de Deus, que foi dada pelo ministério de Moisés, servo de Deus, e de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos do Senhor, nosso Senhor, e os Seus juízos e os Seus estatutos”. O juramento feito nesse dia incluía a promessa de não se casarem com o povo da terra. PR 341.7
Antes que o dia de jejum findasse, o povo manifestou ainda sua determinação de retornar ao Senhor, comprometendo-se a cessar de profanar o sábado. Neemias não fizera nessa ocasião, como o fez mais tarde, valer sua autoridade para evitar que os mercadores pagãos entrassem em Jerusalém; mas num esforço para salvar o povo de se render à tentação, obrigou-os, por um solene concerto, a não transgredirem a lei do sábado comprando desses mercadores, na esperança de que isto desencorajasse os vendedores e pusesse fim ao seu comércio. PR 342.1
Tomou-se providência também para o sustento do culto público a Deus. Além do dízimo, a congregação se comprometeu a contribuir anualmente com uma soma estabelecida para o serviço do santuário. “Também lançamos sortes”, escreve Neemias, “que também traríamos as primeiras novidades da nossa terra, e todos os primeiros frutos de todas as árvores, de ano em ano, à casa do Senhor; e os primogênitos dos nossos filhos, e os do nosso gado, como está escrito na lei; e que os primogênitos das nossas vacas e das nossas ovelhas traríamos à casa do nosso Deus”. Neemias 10:35, 36. PR 342.2
Israel tinha voltado para Deus com profunda tristeza pela apostasia. Haviam feito confissão com lamentação e pranto. Haviam reconhecido a justiça do trato de Deus para com eles, e tinham feito o concerto para obedecer a Sua lei. Agora eles deviam manifestar fé em Suas promessas. Deus havia aceito o seu arrependimento; deviam agora alegrar-se na certeza do perdão dos pecados e na sua restauração ao favor divino. PR 342.3
Os esforços de Neemias para restaurar o culto do verdadeiro Deus tinham sido coroados de sucesso. Enquanto o povo fosse leal ao juramento feito, enquanto fosse obediente à Palavra de Deus, o Senhor cumpriria Sua promessa derramando ricas bênçãos sobre eles. PR 342.4
Há para os que estão convictos do pecado e carregados com o senso de sua indignidade lições de fé e encorajamento neste relato. A Bíblia apresenta fielmente o resultado da apostasia de Israel; mas ela pinta também a profunda humilhação e arrependimento, a fervente devoção e generoso sacrifício que assinalaram suas ocasiões de retorno para o Senhor. PR 342.5
Toda conversão verdadeira ao Senhor produz permanente alegria na vida. Quando um pecador se rende à influência do Espírito Santo, ele vê sua própria culpa e mácula em contraste com a santidade do grande Pesquisador dos corações. Ele se vê a si mesmo condenado como transgressor. Mas não deve por causa disto entregar-se ao desespero; pois o seu perdão já está assegurado. Ele pode alegrar-se na certeza do perdão dos pecados, no amor de um perdoador Pai celestial. É a glória de Deus envolver os seres humanos pecadores arrependidos nos braços do Seu amor, ligar suas feridas, purificá-los do pecado e vesti-los com os vestidos da salvação. PR 343.1