Conselhos sobre Mordomia

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Capítulo 30 — Perigo na prosperidade

Através dos séculos, tem-se servido à riqueza e à honra, com muito perigo para a humildade e a espiritualidade. É quando o homem prospera, quando todos os seus semelhantes falam bem dele, que ele corre especial perigo. O homem é humano. A prosperidade espiritual continua apenas enquanto o homem confia inteiramente em Deus quanto a obter sabedoria e perfeição de caráter. E os que mais sentem a sua necessidade de pôr em Deus a sua confiança são, geralmente, os que têm a mínima soma de tesouros terrenos e honras humanas em que confiar. CM 92.1

O elogio do homem — Há perigo na concessão de ricas dádivas ou de palavras de elogio aos agentes humanos. Os que são agraciados pelo Senhor precisam estar constantemente em guarda para que o orgulho não brote e obtenha a supremacia. Aquele que tem uma popularidade fora do comum, que tem recebido muitas palavras de elogio dos mensageiros do Senhor, necessita de orações especiais dos fiéis vigias de Deus, a fim de que seja protegido do perigo de nutrir pensamentos de estima própria e orgulho espiritual. CM 92.2

Nunca deve tal homem manifestar altivez, ou tentar agir como ditador ou governador. Vigie e ore, visando simplesmente à glória de Deus. Ao se apegar sua imaginação às coisas invisíveis e ele contemplar o gozo de uma esperança posta diante de si — a saber, o precioso dom da vida eterna — o louvor do homem não lhe encherá a mente de pensamentos de orgulho. E, às vezes, quando o inimigo faz esforços especiais para o arruinar pela lisonja e honras mundanas, devem seus irmãos adverti-lo fielmente dos perigos; pois se entregue a si mesmo, será propenso a cometer muitos erros, e revelará as fraquezas humanas. [...] CM 92.3

No vale da humilhação — Não é a taça vazia que nos é difícil carregar; é a taça cheia até à borda que deve ser cuidadosamente equilibrada. A aflição e a adversidade podem causar muitos inconvenientes e podem trazer grande crise; mas a prosperidade é que é perigosa para a vida espiritual. A menos que o súdito humano esteja em constante submissão à vontade de Deus, a não ser que seja santificado pela verdade, e tenha a fé que opera por amor e purifica a alma, a prosperidade certamente despertará a inclinação natural para a presunção. CM 92.4

Nossas orações precisam ser feitas principalmente em favor dos homens que ocupam posição elevada. Necessitam das orações de toda a igreja porque lhes são confiadas prosperidade e influência. CM 93.1

No vale da humilhação, onde os homens dependem de que Deus os ensine e lhes guie cada passo, há comparativa segurança. Cada um, porém, dos que estão em viva ligação com Deus, ore pelos homens que estão em posição de responsabilidade — pelos que estão em elevado pináculo, e que, devido a sua exaltada posição, supõe-se que tenham muita sabedoria. A não ser que tais homens sintam sua necessidade de um Braço mais forte que o braço de carne em que se apoiar, a menos que em Deus ponham a sua confiança, sua visão das coisas ficará desfigurada, e eles cairão. — The Review and Herald, 14 de Dezembro de 1905. CM 93.2

Perversão de uma faculdade original — O desejo de acumular riquezas é um sentimento inato de nossa natureza, nela implantado pelo nosso Pai celestial, para fins nobres. Se perguntásseis ao capitalista que tem dirigido todas as suas energias num único sentido, o de alcançar riquezas, e que é perseverante e ativo quanto a aumentar suas propriedades, com que propósito assim trabalha, ele não vos poderia dar uma razão para isso, um propósito definido para o qual está ganhando tesouros terrenos e acumulando riquezas. Não pode definir nenhum grande alvo ou propósito que tenha em vista, ou qualquer nova fonte de felicidade que espere atingir. Continua acumulando porque dirigiu toda a sua capacidade e todas as suas faculdades nessa direção. CM 93.3

Há no homem mundano um ardente desejo de alguma coisa que ele não tem. Por força do hábito, dirige ele cada pensamento, cada propósito, no sentido de fazer provisão para o futuro, e, conforme vai ficando mais velho, torna-se cada vez mais ávido de conseguir tudo o que se possa ganhar. É natural que o cobiçoso se torne cada vez mais cobiçoso ao se aproximar do tempo em que perde o domínio sobre todas as coisas terrenas. CM 93.4

Toda essa energia, essa perseverança, essa determinação, toda essa atividade em busca do poder terreno, é o resultado da perversão de suas faculdades para um fim errado. Cada faculdade poderia pelo exercício ter sido cultivada ao mais elevado grau possível, para a vida celeste, imortal, e para o mais excelente e eterno peso de glória. Os costumes e práticas do homem mundano em sua perseverança e suas energias, e de se prevalecer de toda oportunidade para aumentar seus depósitos, deve ser uma lição àqueles que se dizem filhos de Deus e buscam glória, honra e imortalidade. Os filhos do mundo são mais sábios, em sua geração, que os filhos da luz, e nisso se vê sua sabedoria. Seu alvo é o ganho terreno, e nesse sentido dirigem todas as suas energias. Oxalá esse zelo caracterizasse o que peleja pelas riquezas eternas! — The Review and Herald, 1 de Março de 1887. CM 93.5

O obstáculo das riquezas — Muito poucas pessoas reconhecem a força de seu amor ao dinheiro, até que lhes sobrevenha a prova. Muitos dos que professam ser seguidores de Cristo, mostram, então, não estarem preparados para o Céu. Suas obras revelam que amam mais à riqueza que aos vizinhos ou a seu Deus. Como o jovem rico, indagam qual seja o caminho da vida; mas quando este lhes é apresentado e avaliado o custo, e vêem que se exige o sacrifício das riquezas terrenas, concluem que o Céu é caro demais. Quanto maiores os tesouros acumulados na Terra, tanto mais difícil será a seu possuidor reconhecer que eles não lhe pertencem, mas lhe foram emprestados a fim de serem usados para a glória de Deus. CM 94.1

Jesus aproveita, aqui, a oportunidade de dar aos discípulos uma lição impressiva: “Disse então Jesus aos Seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos Céus.” “É mais fácil passar um camelo pelo fundo duma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” CM 94.2

Pobres ricos e ricos pobres — Aqui se vê o poder da riqueza. A influência do amor ao dinheiro sobre o espírito humano é quase paralisador. As riquezas transtornam e levam muitos dos que as possuem a agirem como se tivessem perdido a razão. Quanto mais possuem bens deste mundo, tanto mais desejam. Seu medo de passarem necessidade aumenta com a riqueza que possuem. Têm a tendência de acumular bens para o futuro. São avaros e egoístas, temendo que Deus não lhes proveja o necessário. Essa classe é realmente pobre para com Deus. Ao se acumularem suas riquezas, nelas puseram a sua confiança e perderam a fé em Deus e nas Suas promessas. CM 94.3

Pelo uso judicioso do pouco que tem em abençoar aos outros com seus meios, o homem pobre, fiel e confiante, torna-se rico para com Deus. Sente que seu próximo tem necessidades que ele não pode desatender e ainda obedecer à ordem de Deus: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Considera a salvação de seus semelhantes de maior importância que todo o ouro e prata que o mundo contém. CM 94.4

Cristo mostra a maneira em que os que possuem riquezas, e ainda não são ricos para com Deus, poderão alcançar as verdadeiras riquezas. Diz: “Vendei tudo o que tendes, e dai esmolas”; e ajuntai um tesouro no Céu. O remédio que Ele propõe é a transferência das afeições para a herança eterna. Empregando seus recursos na causa de Deus, para ajudar na obra da salvação e aliviando os necessitados, tornam-se ricos em boas obras, e estão entesourando “para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna”. Isso se demonstrará um bom investimento. CM 94.5

Muitos, porém, mostram pelas suas obras que não ousam confiar no banco do Céu. Preferem depositar seus recursos na Terra, a enviá-los, antes deles, para o Céu. Têm eles um grande trabalho a fazer para vencer a cobiça e o amor do mundo. Ricos pobres, que professam servir a Deus, são alvo de compaixão. Embora professem conhecer a Deus, pelas suas obras O negam. Quão grandes são as trevas de tais pessoas! Professam crer na verdade, mas suas obras não correspondem à profissão que fazem. O amor às riquezas torna os homens egoístas, exigentes e altivos. — The Review and Herald, 15 de Janeiro de 1880. CM 94.6

Uma questão de seguir a Jesus — Jesus dele [do rico e jovem príncipe] exigiu apenas que fosse onde Ele mostrasse o caminho. Torna-se a trilha espinhosa do dever mais fácil de seguir quando andamos nas divinas pisadas que Ele deixou à nossa frente, quebrando os espinhos. Cristo teria aceito esse talentoso e nobre príncipe, se este houvesse cedido a Suas condições, com a mesma prontidão com que Ele aceitou ao pobre pecador a quem convidara que O seguisse. CM 95.1

A capacidade do jovem de adquirir propriedade não conspirava contra ele, contanto que amasse ao próximo como a si mesmo, e a ninguém tivesse prejudicado na aquisição de suas riquezas. Houvesse essa mesma capacidade sido empregada no serviço de Deus, em procurar salvar pessoas da ruína, e teria sido aceitável ao Divino Mestre, e se poderia ele ter tornado obreiro diligente e de êxito para Cristo. Mas recusou o elevado privilégio de cooperar com Cristo na obra da salvação; afastou-se do glorioso tesouro que lhe foi prometido no reino de Deus, e se apegou aos tesouros transitórios da Terra. [...] CM 95.2

Representa o jovem príncipe uma grande classe de pessoas que seriam excelentes cristãos se para elas não houvesse uma cruz a erguer, um fardo humilhante a carregar, nenhumas vantagens terrenas a renunciar, e nenhum sacrifício de propriedade ou sentimentos a fazer. Cristo lhes confiou um capital de talentos e recursos, e espera obter juros correspondentes. O que possuímos não é nosso, e deve ser empregado em servir Àquele de quem recebemos tudo o que temos. — The Review and Herald, 21 de Março de 1878. CM 95.3

A fé: incomum entre os ricos — Rara é entre os ricos uma fé coerente. A fé genuína, apoiada pelas obras, é incomum. Mas todos os que possuem essa fé serão homens a quem não faltará influência. Imitarão a Cristo naquela desinteressada beneficência e interesse na obra de salvar. Devem os seguidores de Cristo dar às pessoas o valor que Ele lhes deu. Devem simpatizar com a obra de Seu querido Redentor, e trabalhar para salvar o que Ele comprou com o Seu sangue, custe o sacrifício que custar. Que é o dinheiro, que são casas e terras comparados com uma única alma? — The Review and Herald, 23 de Fevereiro de 1886. CM 95.4

Riquezas não são resgate para transgressor — Toda a riqueza, até mesmo a do mais abastado, não basta para ocultar de Deus o menor dos pecados. Nem as riquezas, nem o intelecto serão aceitos como resgate do transgressor. Só o arrependimento, a verdadeira humildade, um coração quebrantado, e um espírito contrito serão aceitáveis a Deus. CM 95.5

Muitos há, em nossas igrejas, que devem trazer grandes ofertas e não se devem contentar com apresentar uma ninharia Àquele que por eles tanto fez. Bênçãos incomensuráveis estão caindo sobre eles, mas quão pouco devolvem ao Doador! Enviem agora, os que verdadeiramente são peregrinos e estrangeiros na Terra, seus tesouros, na sua frente, para a Pátria celestial, em dádivas, muito necessárias, ao tesouro do Senhor. — The Review and Herald, 18 de Dezembro de 1888. CM 96.1

O maior perigo — Foi-me mostrado que não há falta de recursos entre os adventistas observadores do sábado. Seu maior perigo, atualmente, é o acúmulo de propriedades. Alguns, constantemente, estão amontoando seus cuidados e labores; estão sobrecarregados. E o resultado é que Deus e as necessidades de Sua causa quase são por eles esquecidos; estão espiritualmente mortos. Dele se requer que façam um sacrifício a Deus, uma oferta. O sacrifício não aumenta, mas diminui e consome. [...] Muitos dos meios, entre nosso povo, estão se demonstrando somente um mal para aqueles que a eles se apegam. — Testimonies for the Church 1:492. CM 96.2