Atos Dos Apóstolos

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Capítulo 22 — Tessalônica

Deixando Filipos, Paulo e Silas viajaram para Tessalônica. Aqui lhes foi dado o privilégio de se dirigirem a grandes congregações na sinagoga judaica. Sua aparência deixava à mostra o vergonhoso tratamento que haviam recebido recentemente, e era necessário dar uma explicação do que acontecera. Isto fizeram eles sem se exaltar, mas exaltando Aquele que operara seu livramento. AA 119.1

Ao pregar aos tessalonicenses, Paulo recorreu às profecias do Antigo Testamento concernentes ao Messias. Cristo, em Seu ministério, tornara claras aos Seus discípulos estas profecias; “começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dEle se achava em todas as Escrituras” (Lc 24:27). Pedro, ao pregar a Cristo, tinha apresentado provas do Antigo Testamento. Estêvão procedeu de modo idêntico. Também Paulo, em seu ministério, recorreu às passagens que prediziam o nascimento, sofrimentos, morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Pelo inspirado testemunho de Moisés e dos profetas, provou cabalmente que Jesus de Nazaré era o Messias, e demonstrou que desde os dias de Adão foi a voz de Cristo que falara por intermédio dos patriarcas e profetas. AA 119.2

Profecias claras e específicas haviam sido feitas relativamente ao aparecimento do Prometido. A Adão fora dada a certeza da vinda do Redentor. A sentença proferida contra Satanás: “E porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”, foi para nossos primeiros pais uma promessa da redenção que seria efetuada por meio de Cristo. Gn 3:15. AA 119.3

A Abraão fora feita a promessa que de sua linhagem haveria de nascer o Salvador do mundo. “E em tua semente serão benditas todas as nações da Terra” (Gn 22:18). “Não diz: E às posteridades, como falando de muitas, mas como de uma só: e à tua posteridade, que é Cristo” (Gl 3:16). AA 119.4

Moisés, próximo ao fim de sua obra como líder e mestre de Israel, claramente profetizou do Messias por vir. “O Senhor teu Deus”, declarou ele às hostes congregadas de Israel, “te despertará um Profeta do meio de Ti, de teus irmãos, como eu; a Ele ouvireis.” E Moisés assegurou aos israelitas que Deus mesmo lhe havia revelado isto no Monte Horebe, dizendo: “Eis lhes suscitarei um Profeta do meio de seus irmãos, como tu; e porei as Minhas palavras na Sua boca, e Ele lhes falará tudo o que Eu Lhe ordenar” (Dt 18:15, 18). AA 119.5

O Messias devia provir de linhagem real; pois na profecia feita por Jacó o Senhor disse: “O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a Ele se congregarão os povos” (Gn 49:10). AA 119.6

Isaías profetizou: “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará” (Is 11:1). “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a Mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei um concerto perpétuo, dando-vos as firmes beneficências de Davi. Eis que Eu O dei como testemunha aos povos, como príncipe e governador dos povos. Eis que chamarás a uma nação que não conheces, e uma nação que nunca te conheceu correrá para ti, por amor do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel; porque Ele te glorificou” (Is 55:3-5). AA 119.7

Jeremias também testificou da vinda do Redentor como um príncipe da casa de Davi: “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo Rei, reinará, e prosperará, e praticará o juízo e a justiça na Terra. Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o Seu nome, com que O nomearão: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA” (Jr 23:5, 6). E outra vez: “Assim diz o Senhor: Nunca faltará a Davi varão que se assente sobre o trono da casa de Israel; nem aos sacerdotes levíticos faltará varão diante de Mim, para que ofereça holocausto, e queime ofertas de manjares, e faça sacrifício todos os dias” (Jr 33:17, 18). AA 120.1

Mesmo o local do nascimento do Messias foi predito: “E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre milhares de Judá, de ti Me sairá o que será Senhor em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5:2). AA 120.2

A obra que o Salvador devia fazer na Terra fora amplamente esboçada: “E repousará sobre Ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor. E deleitar-se-á no temor do Senhor” (Is 11:2, 3). Aquele que assim fora ungido devia “pregar boas-novas aos mansos: ... restaurar os contritos de coração, ... proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; ... apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança de nosso Deus; ... consolar todos os tristes; ... ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê ornamento por cinza, óleo de gozo por tristeza, vestido de louvor por espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantação do Senhor, para que Ele seja glorificado” (Is 61:1-3). AA 120.3

“Eis aqui o Meu Servo, a quem sustenho; o Meu Eleito, em quem se compraz a Minha alma; pus o Meu Espírito sobre Ele; juízo produzirá entre os gentios. Não clamará, não Se exaltará, nem fará ouvir a Sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; em verdade produzirá o juízo; não faltará nem será quebrantado, até que ponha na Terra o juízo; e as ilhas aguardarão a Sua doutrina” (Is 42:1-4). AA 120.4

Com poder convincente Paulo demonstrava, baseado nas Escrituras do Antigo Testamento, “que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos” (At 17:3). Não havia Miquéias profetizado: “Ferirão com a vara no queixo ao Juiz de Israel?” (Mq 5:1). E não havia o Prometido profetizado de Si próprio por intermédio de Isaías: “As Minhas costas dou aos que Me ferem, e as Minhas faces aos que Me arrancam os cabelos; não escondo a Minha face dos que Me afrontam e Me cospem”? Is 50:6. Por intermédio do salmista, Cristo havia predito o tratamento que receberia dos homens: “Mas Eu sou... opróbrio dos homens e desprezado do povo. Todos os que Me vêem zombam de Mim, estendem os beiços e meneiam a cabeça, dizendo: Confiou no Senhor, que O livre; livre-O, pois nEle tem prazer.” “Poderia contar todos os Meus ossos; eles vêem e Me contemplam. Repartem entre si os Meus vestidos, e lançam sortes sobre a Minha túnica” (Sl 22:6-8, 17, 18). “Tenho-Me tornado como um estranho para com Meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos de Minha mãe. Pois o zelo da Tua casa Me devorou, e as afrontas dos que Te afrontam caíram sobre Mim.” “Afrontas Me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo. Esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei” (Sl 69:8, 9, 20). AA 120.5

Quão inconfundivelmente claras foram as profecias de Isaías, referentes aos sofrimentos e morte de Cristo! “Quem deu crédito a nossa pregação?” interroga o profeta, “e a quem se manifestou o braço do Senhor? Porque foi subindo como um renovo perante Ele, e como raiz duma terra seca; não tinha parecer nem formosura; e, olhando nós para Ele, nenhuma beleza víamos, para que O desejássemos. Era desprezado, e o mais indigno entre os homens; homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e não fizemos dEle caso algum. AA 121.1

“Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós O reputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados. AA 121.2

“Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos. Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a Sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da Sua vida? porquanto foi cortado da Terra dos viventes; pela transgressão do Meu povo foi Ele atingido” (Is 53:1-8). AA 121.3

Mesmo a maneira de Sua morte foi prefigurada. Como a serpente de bronze foi levantada no deserto, assim devia ser levantado o Redentor por vir, “para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. João 3:16. AA 121.4

“E se alguém Lhe disser: Que feridas são essas nas Tuas mãos? Dirá Ele: São as feridas com que fui ferido em casa dos Meus amigos” (Zc 13:6). AA 121.5

“E puseram a Sua sepultura com os ímpios, e com o rico na Sua morte; porquanto nunca fez injustiça, nem houve engano na Sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-Lo, fazendo-O enfermar” (Is 53:9, 10). AA 121.6

Mas Aquele que havia de sofrer a morte às mãos de homens vis, devia ressurgir como conquistador sobre o pecado e sobre a sepultura. Sob a inspiração do Todo-poderoso, o suave cantor de Israel havia testificado das glórias da manhã da ressurreição. “Também a Minha carne”, proclamou jubiloso, “repousará segura. Pois não deixarás a Minha alma no inferno [a sepultura], nem permitirás que o Teu Santo veja corrupção” (Sl 16:9, 10). AA 121.7

Paulo mostrou quão intimamente havia Deus ligado o sacrifício expiatório com as profecias referentes Àquele que devia, como um cordeiro, ser “levado ao matadouro”. O Messias devia dar a Sua vida como “expiação do pecado”. Olhando através dos séculos as cenas do sacrifício expiatório do Salvador, o profeta Isaías testificara que o Cordeiro de Deus “derramou a Sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas Ele levou sobre Si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercede” (Is 53:7, 10, 12). AA 121.8

O Salvador profetizado devia vir, não como um rei temporal, para livrar a nação judaica de opressores terrestres, mas como um homem entre homens, para viver uma vida de pobreza e humildade, e ser afinal desprezado, rejeitado e morto. O Salvador predito nas Escrituras do Antigo Testamento devia oferecer-Se como um sacrifício em favor da raça caída, cumprindo assim cada requisito da lei quebrantada. NEle os tipos sacrificais deviam encontrar seu antítipo, e Sua morte na cruz devia emprestar significado à inteira dispensação judaica. AA 122.1

Paulo falou aos judeus tessalonicenses a respeito de seu zelo anterior pela lei cerimonial, e de sua maravilhosa experiência às portas de Damasco. Antes de sua conversão estivera ele confiando numa piedade hereditária e falsa esperança. Sua fé não estivera ancorada em Cristo; em lugar disto estivera confiando em formalidades e cerimônias. Seu zelo pela lei estava dissociado da fé em Cristo, sendo vão. Enquanto blasonava de ser irrepreensível na prática das obras da lei, tinha recusado aceitar Aquele que tornara a lei valiosa. AA 122.2

Mas ao tempo de sua conversão, tudo havia sido mudado. Jesus de Nazaré, a quem ele perseguira na pessoa de Seus santos, aparecera diante dele como o prometido Messias. O perseguidor vira-O como sendo o Filho de Deus, Aquele que viera à Terra em cumprimento das profecias, e em cuja vida se cumprira cada especificação dos Sagrados Escritos. AA 122.3

Ao proclamar Paulo, com zelo santo, o evangelho na sinagoga de Tessalônica, um jato de luz se derramou sobre o verdadeiro significado dos ritos e cerimônias que se relacionavam com o serviço do tabernáculo. Conduziu ele a mente de seus ouvintes para além do cerimonial terrestre e do ministério de Cristo no santuário celestial, até o tempo em que, tendo completado Seu trabalho de intercessão, Ele deverá voltar, com poder e grande glória, para estabelecer Seu reino na Terra. Paulo cria na segunda vinda de Cristo; apresentou as verdades concernentes a este evento com tanta clareza e ênfase, que produziu na mente de muitos dos ouvintes uma impressão que nunca mais se apagou. AA 122.4

Por três sábados sucessivos Paulo pregou aos tessalonicenses, disputando com eles sobre as Escrituras referentes à vida, morte, ressurreição, obra intercessória e glória futura de Cristo, “o Cordeiro morto desde a fundação do mundo” (Ap 13:8). Ele exaltava a Cristo, de cujo ministério a compreensão exata é a chave que abre as Escrituras do Antigo Testamento, dando acesso a seus ricos tesouros. AA 122.5

Ao serem as verdades do evangelho assim proclamadas em Tessalônica com forte poder, foi atraída a atenção de grandes congregações. “E alguns deles creram, e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos, e não poucas mulheres principais” (At 17:4). AA 122.6

Como aconteceu nos lugares anteriormente trabalhados, também aqui os apóstolos encontraram decidida oposição. “Mas os judeus desobedientes” foram “movidos de inveja.” Esses judeus não estavam então nas boas graças do poder romano, porque não fazia muito tempo, haviam levantado uma insurreição em Roma. Eram olhados com desconfiança, e sua liberdade estava até certo ponto restringida. Agora viram eles uma oportunidade para tirar vantagem das circunstâncias, para readquirirem o favor e ao mesmo tempo lançando o opróbrio sobre os apóstolos e conversos do cristianismo. AA 122.7

Isto procuraram executar, unindo-se com “alguns homens perversos, dentre os vadios”, por cujo intermédio “alvoroçaram a cidade, assaltando a casa de Jasom”, na esperança de encontrar os apóstolos; mas não encontraram Paulo nem Silas. “E, não os achando”, a turba, desatinada pelo desapontamento, “trouxeram Jasom e alguns irmãos, à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui; os quais Jasom recolheu; e todos estes procedem contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus” (At 17:5-7). AA 123.1

Como Paulo e Silas não fossem encontrados, os magistrados prenderam os acusados crentes para manter a paz. Temendo mais violência, “logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia” (At 17:10). AA 123.2

Os que hoje ensinam verdades impopulares não se devem desanimar, se por vezes encontram, mesmo por parte dos que se dizem cristãos, recepção não mais favorável que a dispensada a Paulo e seus companheiros, por aqueles por quem trabalham. Os mensageiros da cruz devem armar-se de vigilância e oração, avançando com fé e ânimo, trabalhando sempre no nome de Jesus. Devem exaltar a Cristo como Mediador do homem no santuário celestial; como Aquele em quem se centralizam todos os sacrifícios da dispensação do Antigo Testamento, e por cujo sacrifício expiatório os transgressores da lei de Deus podem encontrar paz e perdão. AA 123.3