Atos Dos Apóstolos

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Capítulo 45 — Carta de Roma

Ao apóstolo Paulo, cedo em sua experiência cristã, foram dadas especiais oportunidades de conhecer a vontade de Deus concernente aos seguidores de Jesus. Ele “foi arrebatado até ao terceiro Céu”, “ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar”. Ele próprio reconheceu que lhe tinham sido dadas muitas “visões e revelações do Senhor”. Sua compreensão dos princípios da verdade evangélica era igual à dos “mais excelentes apóstolos” (2Co 12:2, 4, 1, 11). Ele tinha clara e plena compreensão da “largura, e o comprimento e a altura, e a profundidade” do “amor de Cristo, que excede todo o entendimento” (Ef 3:18, 19). AA 243.1

Paulo não podia falar de tudo o que tinha visto em visão; pois entre seus ouvintes havia alguns que teriam interpretado mal suas palavras. Mas o que lhe fora revelado capacitou-o a trabalhar como líder e sábio mestre, e também a moldar as mensagens que em seus últimos anos enviou às igrejas. A impressão que recebeu quando em visão, ficou para sempre com ele, capacitando-o a dar uma representação correta do caráter cristão. De viva voz e por carta ele apresentou uma mensagem que desde então tem levado auxílio e força à igreja de Deus. Aos crentes de hoje esta mensagem fala claramente dos perigos que ameaçarão a igreja, e das falsas doutrinas que ela terá de enfrentar. AA 243.2

O desejo do apóstolo àqueles a quem enviava suas cartas de conselho e admoestação, era que não fossem “mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina”; mas para que viessem “à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. Aconselhava aos que eram seguidores de Jesus em comunidades pagãs, a não andarem como andavam “também os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus... pela dureza do seu coração” (Ef 4:14, 13, 17, 18), mas “como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus” (Ef 5:15, 16). Animava os crentes a olharem ao tempo em que Cristo, o qual “amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela”, haveria de a “apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5:25, 27). AA 243.3

Essas mensagens, escritas não com o poder do homem mas de Deus, contêm lições que deviam ser estudadas por todos, e que podem com proveito ser muitas AA 243.4

vezes repetidas. Nelas é esboçada a piedade prática, são assentados princípios que deviam ser seguidos em todas as igrejas, e é esclarecido o caminho que leva à vida eterna. AA 243.5

Em sua carta “aos santos e irmãos fiéis em Cristo, que estão em Colossos”, escrita enquanto prisioneiro em Roma, Paulo faz menção de sua alegria pela firmeza deles na fé, novas que lhe haviam sido levadas por Epafras, “o qual”, escreveu o apóstolo, “nos declarou também a vossa caridade no Espírito. Por esta razão”, continuou, “nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo” (Cl 1:2-11). AA 243.6

Assim Paulo exprimiu em palavras seu desejo para com os crentes colossenses. Quão elevado o ideal que essas palavras apresentam ao seguidor de Cristo! Elas mostram as maravilhosas possibilidades da vida cristã, e tornam claro que não há limite para as bênçãos que os filhos de Deus podem receber. Crescendo constantemente no conhecimento de Deus, podem eles ir de força em força, de altura em altura na experiência cristã, até que pela “força da Sua glória” sejam feitos “idôneos para participar da herança dos santos na luz” (Cl 1:12). AA 244.1

O apóstolo exaltou a Cristo perante seus irmãos como AA 244.2

Aquele por quem Deus criara todas as coisas, e por quem tinha promovido a redenção. Ele declarou que a mão que sustém os mundos no espaço, e mantém na ordem perfeita e incansável atividade todas as coisas através do Universo de Deus, é a mão que foi pregada na cruz por eles. “NEle foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra”, escreveu Paulo, “visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele” (Cl 1:16, 17). “A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da Sua carne, pela morte, para perante Ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl 1:21, 22). AA 244.3

O Filho de Deus Se rebaixou para levantar os caídos. Para isto deixou Ele os mundos sem pecado de cima, as noventa e nove que O amavam, e veio à Terra para ser “ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades” (Is 53:5). Em tudo foi feito semelhante aos irmãos. Tornou-Se carne, exatamente como nós somos. Ele soube o que significa ter fome, sede e cansaço. Foi sustentado pelo alimento e restaurado pelo sono. Foi estrangeiro e peregrino na Terra - estava no mundo mas não era do mundo; foi tentado e provado como o são os homens e mulheres de hoje, vivendo contudo uma vida sem pecado. Compassivo, compreensivo e terno, sempre gentil para com os outros, Ele representava o caráter de Deus. “O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós... cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14). AA 244.4

Cercados pelas práticas e influências do paganismo, os crentes colossenses estavam em perigo de ser afastados da simplicidade do evangelho, e Paulo, para adverti-los contra isto, apontou-lhes a Cristo como o único Guia seguro. “Porque quero que saibais”, escreveu ele, “quão grande combate tenho por vós, e pelos que estão em Laodicéia, e por quantos não viram o meu rosto em carne; para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em caridade, e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus - Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. AA 244.5

“E digo isto para que ninguém vos engane com palavras persuasivas. Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nEle, arraigados e edificados nEle e confirmados na fé, assim como fostes ensinados, crescendo em ação de graças. Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade. E estais perfeitos nEle, que é a cabeça de todo principado e potestade” (Cl 2:4, 6-10). AA 244.6

Cristo predisse que se levantariam enganadores, por cuja influência faria transbordar a iniqüidade e esfriaria o “amor de muitos” (Mt 24:12). Advertiu os discípulos de que a igreja se encontraria em maior perigo por motivo desse mal, do que pela perseguição movida por seus inimigos. Vezes e mais vezes Paulo advertiu os crentes contra esses falsos ensinadores. Contra este perigo, acima de qualquer outro, deviam eles precaver-se; pois que, recebendo falsos ensinadores, abririam a porta aos erros mediante o que o inimigo turbaria as percepções espirituais e abalaria a confiança dos recém-conversos à fé do evangelho. Cristo era a norma pela qual deviam eles testar as doutrinas apresentadas. Tudo o que não estivesse em harmonia com Seus ensinos devia ser rejeitado. Cristo crucificado pelo pecado, Cristo ressurgido dos mortos, Cristo assunto ao Céu - esta era a ciência da salvação que eles deviam aprender e ensinar. AA 245.1

As advertências da Palavra de Deus com respeito aos perigos que rodeiam a igreja cristã pertencem a nós hoje. Como nos dias dos apóstolos os homens procuravam destruir a fé nas Escrituras pelas tradições e filosofias, assim hoje, pelos aprazíveis sentimentos da “alta crítica”, evolução, espiritismo, teosofia e panteísmo, o inimigo da justiça está procurando levar as almas para caminhos proibidos. Para muitos a Bíblia é uma lâmpada sem óleo, porque voltaram a mente para canais de crenças especulativas que produzem má compreensão e confusão. A obra da “alta crítica”, em dissecar, conjeturar, reconstruir está destruindo a fé na Bíblia como uma revelação divina. Está roubando a Palavra de Deus em seu poder de controlar, erguer e inspirar vidas humanas. Pelo espiritismo, multidões são ensinadas a crer que o desejo é a mais alta lei, que licenciosidade é liberdade, e que o homem deve prestar contas apenas a si mesmo. AA 245.2

O seguidor de Cristo enfrentará “palavras persuasivas” (Cl 2:4), contra as quais o apóstolo advertiu os crentes colossenses. Enfrentará interpretações espiritualistas das Escrituras, mas não as deve aceitar. Sua voz deve ser ouvida na clara afirmação das verdades eternas das Escrituras. Conservando os olhos fixos em Cristo, deve avançar com firmeza no caminho estabelecido, rejeitando todas as idéias que não estejam em harmonia com os Seus ensinos. A verdade divina deve ser o objeto de sua contemplação e meditação. Deve ele considerar a Bíblia como a voz de Deus a ele falando diretamente. Achará assim a sabedoria que é divina. AA 245.3

O conhecimento de Deus como revelado em Cristo é o conhecimento que precisam ter todos os salvos. É o conhecimento que opera a transformação do caráter. Recebido na vida, criará de novo a alma à imagem de Cristo. É o conhecimento além do qual tudo é vaidade e nulidade, e o qual Deus convida Seus filhos a receber. AA 245.4

Em cada geração e em cada terra o verdadeiro fundamento para a edificação do caráter tem sido o mesmo - os princípios contidos na Palavra de Deus. A única regra certa e segura é fazer o que Deus diz. “Os preceitos do Senhor são retos” (Sl 19:8) e “quem faz isto nunca será abalado” (Sl 15:5). Foi com a Palavra de Deus que os apóstolos enfrentaram as falsas teorias de seu tempo, dizendo: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto” (1Co 3:11). AA 245.5

Ao tempo de sua conversão e batismo, os crentes colossenses se comprometeram a pôr de lado crenças e práticas que até então tinham sido parte de sua vida, e a serem verdadeiros em sua obediência a Cristo. Em sua carta, Paulo lhes recorda isto, e adverte-os a não esquecerem que para manter sua promessa, precisavam esforçar-se constantemente contra os males que procuravam dominá-los. “Se já ressuscitastes com Cristo”, disse ele, “buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da Terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3:1-3). AA 246.1

“Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5:17). Mediante o poder de Cristo homens e mulheres têm quebrado a cadeia do hábito pecaminoso. Têm renunciado ao egoísmo. O profano tem-se tornado reverente; o bêbado, sóbrio; o pervertido, puro. Pessoas que tinham a semelhança de Satanás, transformaram-se na imagem de Deus. Essa transformação é em si o milagre dos milagres. Uma mudança, operada pela Palavra, é um dos mais profundos mistérios da mesma Palavra. Não o podemos compreender; somente podemos crer, conforme declaram as Escrituras, que é “Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1:27). AA 246.2

Quando o Espírito de Deus controla a mente e o coração, a alma convertida entoa um novo cântico; pois reconhece que a promessa de Deus se tem cumprido em sua experiência, que sua transgressão foi perdoada e seu pecado coberto. Ele exerceu arrependimento para com Deus, pela transgressão da divina lei, e fé para com Cristo que morreu para justificação do homem. “Sendo pois justificados pela fé”, ele tem “paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1). AA 246.3

Mas porque esta é sua experiência, o cristão não deve cruzar os braços, satisfeito com o que já conseguiu. Aquele que tem determinado entrar no reino espiritual verificará que todos os poderes e paixões da natureza não regenerada, apoiados pelas forças do reino das trevas, estão arregimentados contra ele. Ele precisa renovar a sua consagração cada dia, e cada dia batalhar contra o mal. Velhos hábitos, tendências hereditárias para o erro, lutarão para manter a supremacia, e contra isto deve ele estar sempre em guarda, lutando na força de Cristo pela vitória. AA 246.4

“Mortificai pois os vossos membros, que estão sobre a Terra”, escreve Paulo aos colossenses, “nas quais também em outro tempo andastes, quando vivíeis nelas. Mas agora despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. ... Revesti-vos pois, como eleitos de Deus, santos, e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E sobretudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos” (Cl 3:5-17). AA 246.5

A carta aos colossenses está repleta de lições do mais alto valor a todos quantos estão empenhados no serviço de Cristo, lições que mostram a singeleza de propósito e as altas aspirações que serão vista na vida daquele que de maneira reta representa o Salvador. Renunciando a tudo que poderia impedi-lo de progredir em direção ao alto, ou levar a desviar os pés de alguém do caminho estreito, o crente revelará em sua vida diária misericórdia, bondade, humildade, mansidão, longanimidade e o amor de Cristo. AA 247.1

O poder de uma vida mais alta, mais pura e mais nobre é nossa grande necessidade. O mundo tem ocupado demais os nossos pensamentos, e o reino de Deus muito pouco. AA 247.2

Em Seus esforços para alcançar o ideal de Deus para si, o cristão não deve desesperar de coisa alguma. A perfeição moral e espiritual mediante a graça e o poder de Cristo é prometida a todos. Jesus é a fonte de poder, a origem da vida. Ele nos leva a Sua Palavra, e da árvore da vida nos apresenta as folhas para a saúde de almas enfermas de pecado. Ele nos leva ao trono de Deus, e põe em nossa boca uma oração pela qual somos levados a íntimo contato com Ele próprio. Em nosso benefício põe em operação os instrumentos todo-poderosos do Céu. Em cada passo tocamos Seu vivo poder. AA 247.3

Deus não fixa limite para o progresso dos que desejam ser “cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual” (Cl 1:9). Mediante a oração, a vigilância, através do crescimento no conhecimento e na compreensão, eles devem ser “corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória” (Cl 1:11). Assim são preparados para trabalhar por outros. É propósito do Salvador que os seres humanos, purificados e santificados, sejam Sua mão ajudadora. Agradeçamos por este grande privilégio Àquele “que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz; o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor” (Cl 1:12, 13). AA 247.4

A carta de Paulo aos filipenses, como a enviada aos colossenses, foi escrita enquanto ele estava prisioneiro em Roma. A igreja de Filipos tinha enviado donativos a Paulo pela mão de Epafrodito, a quem Paulo chama “meu irmão, e cooperador, e companheiro nos combate e vosso enviado para prover às minhas necessidades” (Fp 2:25). Enquanto em Roma, Epafrodito ficou doente “e quase à morte; mas Deus Se apiedou dele”, escreveu Paulo, “e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza” (Fp 2:27). Ouvindo da enfermidade de Epafrodito, os crentes de Filipos ficaram muito ansiosos com respeito a ele, e ele decidiu retornar. “Porquanto tinha muitas saudades de vós todos”, escreveu Paulo, “e estava muito angustiado de que tivésseis ouvido que ele estivera doente... vo-lo enviei mais depressa, para que, vendo-o outra vez, vos regozijeis, e eu tenha menos tristeza. Recebei-o pois no Senhor com todo o gozo, e tende-o em honra. Porque pela obra de Cristo chegou até bem próximo da morte, não fazendo caso da vida para suprir para comigo a falta do vosso serviço” (Fp 2:28-30). AA 247.5

Por Epafrodito, Paulo enviou aos crentes filipenses uma carta, na qual lhes agradecia os donativos que lhe haviam enviado. De todas as igrejas, a de Filipos tinha sido a mais liberal em suprir as necessidades de Paulo. “E bem sabeis também vós, ó filipenses”, disse o apóstolo em sua carta, “que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente. Porque também, uma e outra vez, me mandastes o necessário a Tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que aumente para a vossa conta. Mas bastante tenho recebido e tenho abundância; cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus” (Fp 4:15-18). AA 247.6

“Graça a vós e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo. Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora. Tendo por certo isto mesmo; que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo. Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho. Porque Deus me é testemunha das saudades que de todos vós tenho. ... E peço isto: que a vossa caridade aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento. Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros e sem escândalo algum até ao dia de Cristo, cheios de frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” (Fp 1:2-11). AA 248.1

A graça de Deus sustinha Paulo em sua prisão, habilitando-o a regozijar-se na tribulação. Com fé e segurança ele escreveu a seus irmãos filipenses que sua prisão tinha redundado no progresso do evangelho. “Quero, irmãos, que saibais”, escreveu, “que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho. De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais AA 248.2

lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a Palavra mais confiadamente, sem temor” (Fp 1:12-14). AA 248.3

Há uma lição para nós nesta experiência de Paulo; pois ela revela a maneira de Deus operar. O Senhor pode tirar vitória daquilo que poderá parecer para nós confusão e revés. Estamos em perigo de nos esquecermos de Deus, de olhar para as coisas que se vêem, em vez de contemplar pelos olhos da fé, as que se não vêem. Quando sobrevém uma desventura ou calamidade, estamos prontos a acusar a Deus de negligência ou crueldade. Se Lhe parece próprio eliminar nossa utilidade em algum sentido, entristecemo-nos, não nos detendo para pensar que assim Deus pode estar agindo para nosso bem. Necessitamos aprender que a correção é uma parte de Seu grande plano, e que sob a vara da aflição pode o cristão algumas vezes fazer mais pelo Mestre que quando empenhado em serviço ativo. AA 248.4

Como exemplo aos filipenses na fé cristã, Paulo chamou-lhes a atenção para Cristo, “que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:6-8). AA 248.5

“De sorte que, meus amados”, continuou, “assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade. Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo; retendo a Palavra da vida, para que no dia de Cristo possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão” (Fp 2:12-16). AA 248.6

Essas palavras foram relatadas para auxílio de toda alma que luta. Paulo ergue a norma de perfeição, e mostra como pode ser alcançada. “Operai a vossa salvação”, diz ele, “porque Deus é o que opera em vós.” AA 249.1

A obra de ganhar a salvação é de co-participação e cooperação. Deve haver cooperação entre Deus e o pecador arrependido. Isto é necessário para a formação de corretos princípios de caráter. Deve o homem fazer veementes esforços para vencer o que o impede de alcançar a perfeição. Mas, para alcançar êxito, ele depende inteiramente de Deus. Por si mesmos os esforços humanos não são suficientes. Sem a ajuda do poder divino ele de nada vale. Deus age e o homem também. A resistência à tentação deve partir do homem, que por sua vez deve obter de Deus o poder. De um lado se acham sabedoria infinita, compaixão e poder; do outro debilidade, pecaminosidade e incapacidade absoluta. AA 249.2

Deus quer que governemos nosso ser, mas não nos pode ajudar sem nosso consentimento e cooperação. O Espírito divino age por meio dos poderes e faculdades concedidos ao homem. Não podemos pôr por nós mesmos nossos propósitos, desejos e inclinações em harmonia com a vontade divina; mas se estamos dispostos, o Salvador fará isso por nós, “destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (2Co 10:5). AA 249.3

Aquele que deseja construir um caráter forte e simétrico, e que deseja ser um cristão bem equilibrado, deve dar tudo a Cristo e fazer tudo por Cristo; pois o Redentor não aceitará serviço dividido. Precisa aprender diariamente o significado da entrega do eu. Precisa estudar a Palavra de Deus, aprendendo seu significado e obedecendo a seus preceitos. Assim pode ele alcançar o padrão da excelência cristã. Dia a dia Deus trabalha com ele, aperfeiçoando o caráter que deve resistir no tempo da prova final. E dia a dia o crente está manifestando diante dos homens e dos anjos um experimento sublime, mostrando o que o evangelho pode fazer por caídos seres humanos. AA 249.4

“Quanto a mim”, escreveu Paulo, “não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:13, 14). AA 249.5

Paulo fizera muitas coisas. Desde o momento em que se dera em obediência a Cristo, sua vida foi cheia de incansável serviço. De cidade em cidade, de país em país, ele viajou, contando a história da cruz, conquistando conversos para o evangelho e estabelecendo igrejas. Por essas igrejas tinha constante cuidado, e a elas escreveu muitas cartas de instrução. Às vezes trabalhava em seu ofício, para ganhar o pão de cada dia. Mas em todas as cansativas atividades de sua vida, Paulo jamais perdeu de vista o grande propósito - caminhar para o alvo da sua soberana vocação. Um alvo mantinha ele firmemente diante de si - ser fiel Àquele que às portas de Damasco Se lhe revelara. Desse alvo força alguma poderia desviá-lo. Exaltar a cruz do Calvário - este era o motivo todo absorvente que lhe inspirava as palavras e os atos. AA 249.6

O grande propósito que constrangia Paulo a prosseguir em face das durezas e dificuldades, deveria levar cada obreiro cristão a consagrar-se inteiramente ao serviço de Deus. Atrações mundanas se apresentarão para afastar sua atenção do Salvador, mas ele deve prosseguir em direção ao alvo, mostrando ao mundo, aos anjos e aos homens que a esperança de ver a face de Deus compensa todos os esforços e sacrifícios que a concretização dessa esperança requer. AA 250.1

Embora fosse um prisioneiro, Paulo não se desencorajava. Em vez disso, uma nota de triunfo vibra através das cartas que escreveu de Roma às igrejas. “Regozijai-vos sempre no Senhor”, escreveu aos filipenses, “outra vez digo, regozijai-vos. ...Não estejais inquietos por coisa alguma: antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” AA 250.2

“O meu Deus, segundo as Suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus. ... A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com vós todos” (Fp 4:4-9). AA 250.3