Atos Dos Apóstolos
Capítulo 30 — Chamado a Mais Elevada Norma
Na esperança de imprimir vividamente no espírito dos crentes coríntios a importância de firme autocontrole, estrita temperança e persistente zelo no serviço de Cristo, Paulo em sua carta a eles faz saliente comparação entre a milícia cristã e as celebradas maratonas que se realizavam em intervalos fixos, próximo de Corinto. De todos os jogos instituídos entre os gregos e romanos, era a maratona a mais antiga e mais altamente considerada. A ela assistiam reis, nobres e governadores. Jovens fortes e sadios nela tomavam parte, e não se excluíam de qualquer esforço ou disciplina necessária para alcançar o prêmio. AA 162.1
As competições eram regidas por regulamentos estritos, dos quais não havia apelação. Os que desejavam ter seus nomes inscritos como competidores ao prêmio, tinham que primeiro submeter-se a severo treino preparatório. Prejudicial condescendência no apetite, ou qualquer outra concessão que pudesse diminuir o vigor físico ou mental, eram estritamente proibidas. Para alguém ter alguma esperança de sucesso nessas competições de força e ligeireza, os músculos tinham de ser fortes e flexíveis e os nervos estar sob controle. Cada movimento tinha de ser exato, cada passo rápido e bem orientado; as faculdades físicas precisavam alcançar o mais alto ponto. AA 162.2
Enquanto os concorrentes na corrida se apresentavam perante a multidão expectante, seus nomes eram anunciados e as regras da corrida claramente expostas. Então todos davam juntos a saída, sob a atenção fixa dos espectadores que lhes inspiravam a determinação de vencer. Os juízes assentavam-se próximo à meta final, para que pudessem observar a corrida do início ao fim, e dar o prêmio ao verdadeiro vencedor. Se um corredor alcançava o alvo primeiro, através de alguma vantagem ilegal, não tinha direito ao prêmio. AA 162.3
Nestas competições havia grandes riscos. Alguns jamais se refaziam do terrível esforço físico. Não era incomum pessoas caírem no percurso, sangrando pela boca e nariz, e algumas vezes um competidor caía morto quando estava para alcançar o prêmio. Mas a possibilidade de dano para o resto da vida, ou a própria morte, não eram olhados como risco grande demais por amor da honra reservada ao vencedor. AA 162.4
Quando o vencedor alcançava o alvo, os aplausos da vasta multidão de espectadores fendia os ares e despertava o eco das montanhas e morros circunvizinhos. Sob as vistas dos assistentes, o juiz presenteava-o com os emblemas da vitória - uma coroa de louros e um ramo de palma que ele levava na mão direita. Sua glória era cantada através da terra; seus pais recebiam sua parte na honra; e a própria cidade na qual vivia era tida em grande estima por haver produzido tão grande atleta. AA 162.5
Referindo-se a essas corridas como uma figura da milícia cristã, Paulo deu ênfase à preparação necessária para o sucesso dos contendores na maratona - a disciplina preliminar, o regime de abstenção alimentar, a necessidade de temperança. “E todo aquele que luta”, declarou Paulo, “de tudo se abstém” (1Co 9:25). Os corredores punham de lado toda a condescendência que tendesse a diminuir-lhes as faculdades físicas, e mediante severa e contínua disciplina, treinavam os músculos para se tornarem fortes e resistentes, para que ao chegar o dia da competição pudessem exigir de suas forças o máximo de rendimento. Quão mais importante é que o cristão, cujos eternos interesses estão em jogo, coloquem os apetites e as paixões em sujeição à razão e à vontade de Deus! Jamais deve ele permitir seja sua atenção desviada por entretenimentos, luxos ou comodidades. Todos os seus hábitos e paixões devem ser postos sob a mais estrita disciplina. A razão, iluminada pelos ensinos da Palavra de Deus e guiada por Seu Espírito, tem de tomar as rédeas do controle. AA 162.6
E havendo feito isso, precisa o cristão esforçar-se ao máximo para alcançar a vitória. Nos jogos coríntios, as derradeiras passadas dos contendores eram dadas sob agonizante esforço para conservar a velocidade. Assim o cristão, ao aproximar-se do alvo, prosseguirá com ainda maior zelo e determinação que no início da carreira. AA 163.1
Paulo apresenta a diferença entre a coroa de louros fenecíveis recebida pelo vencedor nas corridas, e a coroa de glória imortal que será dada ao que corre vitoriosamente a carreira cristã. “Eles o fazem”, declara, “para alcançar uma coroa corruptível” (1Co 9:25). Para alcançar um prêmio perecível, os corredores gregos não fugiam a qualquer esforço ou disciplina. Nós estamos lutando por um prêmio infinitamente mais valioso, a própria coroa da vida eterna. Quão mais cuidadosa deveria ser nossa luta, e quão maior nossa disposição para o sacrifício e renúncia! AA 163.2
Na epístola aos hebreus se salienta a inteireza de propósito que deve caracterizar a carreira do cristão para a vida eterna: “Deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé” (Hb 12:1, 2). Inveja, malícia, ruins suspeitas, maledicências, cobiça - são embaraços que o cristão deve pôr de lado, se quiser correr com êxito a carreira para a imortalidade. Cada hábito ou prática que conduz ao pecado e leva a desonra a Cristo, precisa ser posto de lado, seja qual for o sacrifício. A bênção do Céu não pode acompanhar qualquer homem em violação dos eternos princípios de justiça. Um pecado acariciado é bastante para promover a degradação do caráter e desviar a outros. AA 163.3
“Se a tua mão te escandalizar”, disse o Salvador, “corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado, do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga; e, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida, do que, tendo dois pés seres lançado no inferno” (Mc 9:43-45). Se para salvar o corpo da morte, o pé ou a mão devem ser cortados, ou mesmo o olho arrancado, quão mais pressuroso deveria ser o cristão em afastar o pecado que leva morte à alma! AA 163.4
Os competidores nos antigos jogos, depois de se haverem submetido à renúncia e rígida disciplina, não estavam ainda assim seguros da vitória. “Não sabeis vós”, pergunta Paulo, “que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio” (1Co 9:24). Não importa com quanto entusiasmo e ardor tivessem corrido os competidores, o prêmio seria apenas de um. A mão de um apenas agarraria o cobiçado galardão. Alguns podiam dedicar supremo esforço para obter o prêmio, mas ao estenderem a mão para apanhá-lo, outro, um instante antes dele, poderia arrebatar-lhe o cobiçado tesouro. AA 163.5
Tal não é o caso na milícia cristã. Ninguém que se submete às condições ficará desapontado ao fim da carreira. Ninguém que seja fervoroso e perseverante deixará de alcançar sucesso. Não é dos ligeiros a carreira, nem dos valentes a peleja. O mais fraco dos santos, bem como o mais forte, podem alcançar a coroa de glória imortal. Podem vencer todos os que, pelo poder da divina graça, conduzem a vida em conformidade com a vontade de Cristo. A prática, nos pormenores da vida, dos princípios estabelecidos pela Palavra de Deus, é não raro olhada como coisa sem importância - assunto por demais trivial para que se lhe dê atenção. Mas considerando o que está em jogo, nada é pequeno quando ajuda ou estorva. Cada ato acrescenta seu peso na balança que determina a vitória ou fracasso na vida. E a recompensa dada aos que triunfam será proporcional à energia e fervor com que lutaram. AA 164.1
O apóstolo se compara a uma pessoa disputando uma carreira, esforçando cada nervo para alcançar o prêmio. “Pois eu assim corro”, diz ele, “não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1Co 9:27). Para que não viesse a correr incertamente ou a esmo na carreira cristã, Paulo se submetia a severo exercício. As palavras “subjugo o meu corpo”, literalmente significam repelir por severa disciplina os desejos, os impulsos e as paixões. AA 164.2
Paulo temia que, tendo pregado a outros, viesse ele próprio a ficar reprovado. Ele compreendia que se não praticasse na vida os princípios em que cria e que pregava, seu trabalho em favor de outros em nada lhe aproveitaria. Sua conversação, sua influência, sua recusa de render-se à satisfação própria, deviam mostrar que sua religião não era mera profissão mas um viver diário em ligação com Deus. Um alvo mantinha ele sempre diante de si, e lutava fervorosamente por alcançá-lo - “a justiça que vem de Deus pela fé” (Fp 3:9). AA 164.3
Paulo sabia que sua batalha contra o mal não terminaria enquanto ele tivesse vida. Sempre sentia a necessidade de colocar estrita guarda sobre si mesmo, para que os desejos terrestres não lograssem minar seu zelo espiritual. Com todas as suas forças continuava a lutar contra as inclinações naturais. Sempre mantinha diante de si o ideal a ser alcançado, e esse ideal procurava ele alcançar mediante voluntária obediência à lei de Deus. Suas palavras, atos e paixões - tudo era posto sob o controle do Espírito de Deus. AA 164.4
Era esta inteireza de propósitos para vencer na carreira pela vida eterna que Paulo ansiava ver revelada na vida dos crentes coríntios. Ele sabia que para alcançarem o ideal de Cristo, tinham eles diante de si uma luta vitalícia na qual não haveria tréguas. Insistia com eles para que porfiassem lealmente, buscando dia a dia a piedade e a excelência moral. Suplicava-lhes para porem de lado todo embaraço, e a prosseguir rumo ao alvo da perfeição em Cristo. AA 164.5
Paulo apontava aos coríntios as experiências do antigo Israel, as bênçãos que lhes recompensaram a obediência e os juízos que seguiram suas transgressões. Recordava-lhes a miraculosa maneira por que os hebreus foram tirados do Egito, sob a proteção da nuvem de dia; e da coluna de fogo de noite. Assim foram conduzidos a salvo através do Mar Vermelho, enquanto os egípcios, procurando atravessá-lo da mesma maneira, foram todos submergidos. Por esses atos Deus havia reconhecido Israel como Sua igreja. “E todos comeram dum mesmo manjar espiritual. E beberam todos duma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia, e a pedra era Cristo” (1Co 10:3). Em todas as suas peregrinações, os hebreus tiveram a Cristo como seu guia. A rocha ferida tipificava Cristo, que devia ser ferido pelas transgressões dos homens, para que a fonte de salvação pudesse jorrar para todos. AA 165.1
Não obstante o favor mostrado por Deus aos hebreus, todavia por causa do seu desejo pelas comodidades deixadas no Egito, e por causa de seu pecado e rebelião, os juízos de Deus caíram sobre eles. O apóstolo ordenou aos crentes coríntios a atenderem às lições contidas na experiência de Israel. “Estas coisas foram-nos feitas em figuras, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1Co 10:6). Ele mostrou como o amor ao conforto e aos prazeres tinha preparado o caminho para os pecados que atraíram a notável vingança de Deus. Foi quando os filhos de Israel se assentaram a comer e a beber, e se levantaram para folgar, que se afastaram do temor de Deus, o qual haviam experimentado quando presenciaram a entrega da lei; e, fazendo um bezerro de ouro para representar a Deus, o adoraram. E foi depois de haverem fruído um banquete licencioso relacionado com a adoração de Baal-Peor, que muitos dos filhos de Israel caíram por causa da licenciosidade. A ira de Deus se levantou e a Seu mando “vinte e três mil” (1Co 10:8) foram feridos pela praga num dia. AA 165.2
O apóstolo advertiu os coríntios: “Aquele pois que cuida estar em pé, olhe não caia” (1Co 10:12). Se eles se tornassem presunçosos e cheios de confiança própria, negligenciando vigiar e orar, cairiam em grave pecado, atraindo sobre si a ira de Deus. Todavia Paulo não queria que se entregassem ao desespero ou desalento. Ele lhes deu a segurança: “Fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (1Co 10:13). AA 165.3
Paulo instava com seus irmãos para que perguntassem a si mesmos que influência suas palavras e atos estavam exercendo sobre outros, e para que não fizessem coisa alguma, embora inocente em si mesma, que pudesse parecer sanção à idolatria, ou ofender os escrúpulos AA 165.4
dos que fossem fracos na fé. “Quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus” (1Co 10:31, 32). AA 165.5
As palavras de advertência do apóstolo à igreja de Corinto, são aplicáveis a todos os tempos, e especialmente adaptadas a nossos dias. Por idolatria entendia ele não apenas a adoração de ídolos, mas o egocentrismo, o amor das comodidades e a condescendência com o apetite e paixão. Uma mera profissão de fé em Cristo, um presumido conhecimento da verdade, não tornam um homem cristão. Uma religião que busca apenas o deleite dos olhos, dos ouvidos, do paladar, ou que sanciona a condescendência própria, não é a religião de Cristo. AA 165.6
Pela comparação da igreja com o corpo humano, o apóstolo ilustrou habilmente a íntima e harmoniosa relação que deve existir entre todos os membros da igreja de Cristo. “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo”, escreveu ele, “quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E se a orelha disser: Porque não sou olho não sou do corpo; não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora pois há muitos membros, mas um AA 166.1
corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. ... Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela; para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. Ora vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular” (1Co 12:13-27). AA 166.2
E então, com palavras que desde aquele dia até ao presente têm sido uma fonte de inspiração e encorajamento a homens e mulheres, Paulo expôs a importância deste amor que deveria ser acariciado pelos seguidores de Cristo: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria” (1Co 13:1-3). AA 166.3
Não importa quão alta seja a profissão, aquele cujo coração não está cheio de amor a Deus e aos semelhantes, não é verdadeiro discípulo de Cristo. Embora possua grande fé, e tenha poder mesmo para operar milagres, todavia sem amor sua fé será de nenhuma valia. Poderá ostentar grande liberalidade; mas se ele por qualquer outro motivo que não o genuíno amor, entregar todos os seus bens para sustento dos pobres, o ato não o recomendará ao favor de Deus. Em seu zelo, poderia mesmo sofrer a morte de mártir, mas não sendo impulsionado por amor, seria considerado por Deus como iludido entusiasta, ou ambicioso hipócrita. AA 166.4
“A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece” (1Co 13:4). A mais pura alegria jorra da mais profunda humilhação. O caráter mais forte e mais nobre é construído sobre o fundamento da paciência, do amor e da submissão à vontade de Deus. AA 166.5
A caridade “não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal” (1Co 13:5). Amor igual ao de Cristo atribui a mais favorável das intenções aos motivos e atos dos outros. Não expõe desnecessariamente suas faltas; não ouve com avidez relatórios desfavoráveis, mas antes procura trazer à mente as boas qualidades de outros. AA 166.6
O amor “não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Este amor “nunca falha” (1Co 13:6-8). Jamais perde seu valor; é um atributo celestial. Como precioso tesouro, será levado por seu possuidor através das portas da cidade de Deus. AA 167.1
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três, mas a maior destas é a caridade” (1Co 13:13). AA 167.2
No declínio do padrão moral entre os crentes coríntios, houve os que abandonaram alguns aspectos fundamentais de sua fé. Alguns haviam ido ao ponto de negar a doutrina da ressurreição. Paulo enfrentou esta heresia com um claro testemunho referente à inegável evidência da ressurreição de Cristo. Declarou que Cristo, depois de Sua morte, “ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”, depois do que, “foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos. E por derradeiro de todos me apareceu também a mim” (1Co 15:4-7). AA 167.3
Com poder convincente o apóstolo expôs a grande verdade da ressurreição. “Se não há ressurreição dos mortos”, argumentou, “também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam. Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem” (1Co 15:13-20). AA 167.4
O apóstolo transportou o pensamento dos irmãos coríntios para os triunfos da manhã da ressurreição, quando todos os santos que dormem serão ressuscitados para viver para sempre com seu Senhor. “Eis aqui vos digo um mistério”, declarou o apóstolo; “na verdade nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?... Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 15:51-57). AA 167.5
Glorioso é o triunfo que espera o fiel. O apóstolo, reconhecendo as possibilidades que tinham perante si os crentes coríntios, procurou colocar diante deles o que eleva do egoísmo e do sensual, e glorifica a vida com a esperança da imortalidade. Ardentemente exortou-os a serem fiéis a sua alta vocação em Cristo. “Meus amados irmãos”, instou ele, “sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (1Co 15:58). AA 167.6
Assim o apóstolo, da maneira mais decidida e impressiva, procurou corrigir as falsas e perigosas idéias e práticas que estavam prevalecendo na igreja de Corinto. Falou claramente, porém em amor por suas almas. Em suas advertências e reprovações a luz do trono de Deus brilhou sobre eles, revelando os pecados ocultos que lhes estavam debilitando a vida. Como seriam essas advertências recebidas? AA 168.1
Depois de haver remetido a carta, Paulo temeu que o que havia escrito pudesse ferir muito a fundo aqueles a quem desejava beneficiar. Temia profundamente uma maior separação, e algumas vezes ansiava trazer de volta suas palavras. Os que, como o apóstolo, já sentiram a responsabilidade por amadas igrejas ou instituições, podem melhor apreciar-lhe a depressão de espírito e o sentimento de culpa. Os servos de Deus que levam o fardo de Sua obra atualmente, sabem alguma coisa da mesma experiência de trabalho, conflito e ansioso cuidado que recaía sobre o grande apóstolo. Opresso pelas divisões na igreja, encontrando a ingratidão e traição da parte de alguns de quem esperava simpatia e conforto, sentindo o perigo que ameaçava as igrejas que abrigavam a iniqüidade, compelido a dar em reprovação do pecado um testemunho íntimo e penetrante, estava ao mesmo tempo oprimido pelo temor de ter agido com demasiada severidade. Com angustiante ansiedade esperou receber alguma notícia de como fora recebida sua mensagem. AA 168.2