Obreiros Evangélicos
A sã doutrina
“Virá tempo”, escreveu Paulo a Timóteo, “em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.” 2 Timóteo 4:3-5. OE 311.1
“A sã doutrina” é a verdade bíblica — verdade que promoverá piedade e devoção, confirmando o povo de Deus na fé. Sã doutrina significa muito para o que a recebe; e quer dizer muito, também, para o mestre, o ministro da justiça; pois onde quer que o evangelho seja pregado, todo obreiro, seja qual for seu ramo de serviço, ou é fiel, ou infiel à sua responsabilidade como mensageiro do Senhor. OE 311.2
Paulo escreveu outra vez: “Palavra fiel é esta: que, se morrermos com Ele, também com Ele viveremos; se sofrermos, também com Ele reinaremos; se O negarmos, também Ele nos negará; se formos infiéis, Ele permanece fiel: não pode negar-Se a Si mesmo. Traze estas coisas à memória, ordenando-lhes diante do Senhor que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes.” 2 Timóteo 2:11-14. OE 311.3
Alguns que, nos tempos de Paulo, ouviam a verdade, levantavam questões que não eram de importância vital, apresentando as idéias e opiniões dos homens, e buscando desviar a mente do mestre das grandes verdades do evangelho, para discussões de doutrinas não essenciais, e solução de disputas sem importância. Paulo sabia que o obreiro de Deus deve ser bastante sábio para descobrir o desígnio do inimigo, e recusar-se a ser desviado. A conversão de almas deve ser a preocupação de seu trabalho; deve pregar a Palavra de Deus, mas evitar disputas. OE 311.4
“Procura apresentar-te a Deus aprovado”, escreveu ele, “como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade.” 2 Timóteo 2:15, 16. OE 312.1
Os ministros de Cristo hoje em dia acham-se no mesmo perigo. Satanás está operando continuamente para desviar-lhes a mente para direções errôneas, de maneira que a verdade perca sua força sobre o coração. E a menos que os ministros e o povo observem a verdade e sejam santificados por ela, permitirão que questões que não têm importância vital lhes ocupem a mente. Isso levará a sofismas e disputas; pois inúmeros pontos de discórdia se hão de erguer. OE 312.2
Homens de capacidade têm dedicado uma existência de estudo e oração à investigação das Escrituras, e todavia há muitas porções da Bíblia que não têm sido plenamente exploradas. Algumas passagens da Escritura nunca serão perfeitamente compreendidas até que, na vida futura, Cristo as explique. Há mistérios a serem esclarecidos, declarações que a mente humana não pode harmonizar. E o inimigo buscará levantar argumentos sobre esses pontos, que seria melhor não serem discutidos. OE 312.3
Um obreiro devoto, espiritual, evitará suscitar pequenas diferenças de teorias, e devotará suas energias à proclamação das grandes verdades probantes a serem dadas ao mundo. Ele indicará ao povo a obra da redenção, os mandamentos de Deus, a próxima vinda de Cristo; e verificar-se-á que nesses assuntos há suficiente matéria para reflexão. OE 312.4
Em tempos passados foram-me apresentadas, para meu juízo, muitas teorias não essenciais, fantasiosas. Alguns defendem a teoria de que os crentes devam orar com os olhos abertos. Outros ensinam que, como se exigia dos que ministravam outrora no ofício sagrado que, ao entrar no santuário, tirassem as sandálias e lavassem os pés, os crentes hoje devam tirar os sapatos ao entrar na casa de culto. Ainda outros se referem ao sexto mandamento, e declaram que mesmo os insetos que atormentam as criaturas humanas não devem ser mortos. E alguns expuseram a teoria de que os remidos não hão de ter cabelos grisalhos — como se isso fosse assunto de alguma importância. OE 313.1
Estou instruída a dizer que essas teorias são o produto de espíritos ignorantes dos primeiros princípios do evangelho. Mediante as mesmas, esforça-se o inimigo por eclipsar as grandes verdades para este tempo. OE 313.2
Aqueles que, em suas pregações, passam por alto as grandes verdades da Palavra de Deus, para falar de assuntos de pouca monta, não estão pregando o evangelho, mas tratando de ociosos sofismas. Não percam nossos ministros tempo em discutir tais assuntos. Os que tiverem qualquer pergunta quanto ao que devem ensinar, quanto aos pontos em que devem insistir, volvam-se aos discursos do grande Mestre, e sigam-Lhe a direção do pensamento. Os assuntos que Jesus considerava como essenciais, são aqueles que devemos salientar hoje em dia. Devemos incitar nossos ouvintes a considerar detidamente os assuntos de importância eterna. OE 313.3
Quando uma vez certo irmão se chegou a mim com a mensagem de que o mundo era chato, fui instruída a apresentar a comissão que Cristo deu aos discípulos: “Ide, ensinai todas as nações, ... e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.” Mateus 28:19, 20. Quanto a assuntos assim como a teoria de o mundo ser chato, Deus diz a toda alma: “Que te importa a ti? segue-Me Tu. Tenho-vos dado vossa comissão. Insisti sobre as grandes verdades probantes para este tempo, não sobre assuntos que não têm relação com nossa obra.” OE 314.1
Os obreiros de Deus não devem gastar tempo especulando quanto às condições que hão de reinar na Nova Terra. É presunção ocupar-se com suposições e teorias relativamente a assuntos que o Senhor não revelou. Ele tem tomado todas as providências para nossa felicidade na vida futura, e não nos compete especular quanto a Seus planos a nosso respeito. Nem devemos calcular as condições da vida futura pelas desta vida. OE 314.2
A meus irmãos do ministério, quero dizer: Pregai a Palavra. Não tragais para o fundamento madeira, feno ou palha — vossas próprias suposições e especulações, que não podem beneficiar a ninguém. Assuntos de importância vital são revelados na Palavra de Deus, e esses são merecedores de nossa mais profunda meditação. Mas não devemos investigar assuntos sobre os quais Deus silenciou. OE 314.3
Quando se erguem questões sobre as quais nos achamos incertos, perguntemos: Que diz a Escritura? E, se ela guarda silêncio quanto a tal assunto não se torne ele objeto de discussão. Que os que desejam novidade a busquem naquela novidade de vida que provém do novo nascimento. Purifiquem eles a alma pela obediência da verdade, e procedam em harmonia com as instruções que Cristo deu. OE 314.4
A única pergunta feita no juízo, será: “Foram eles obedientes aos Meus Mandamentos?” Disputas e contendas insignificantes sobre questões sem importância, não têm parte no grande plano de Deus. Os que ensinam a verdade devem ser homens de espírito firme, que não levarão seus ouvintes a um campo de cardos, por assim dizer, deixando-os aí. OE 315.1
O sacrifício de Cristo como expiação pelo pecado, é a grande verdade em torno da qual se agrupam as outras. A fim de ser devidamente compreendida e apreciada, toda verdade da Palavra de Deus, de Gênesis a Apocalipse, precisa ser estudada à luz que dimana da cruz do Calvário. Apresento perante vós o grande, magno monumento de misericórdia e regeneração, salvação e redenção — o Filho de Deus erguido na cruz. Isto tem de ser o fundamento de todo discurso feito por nossos ministros. OE 315.2
Necessitam-se em nossos dias, homens capazes de compreender as necessidades do povo, e a elas ministrar. O fiel ministro de Cristo vigia em todos os postos avançados, para advertir, reprovar, aconselhar, suplicar e animar seus semelhantes, cooperando com o Espírito de Deus, que nele opera poderosamente, a fim de que possa apresentar todo homem perfeito em Cristo. Um homem assim é reconhecido no Céu como ministro, trilhando as pegadas de seu grande Exemplo. — Testimonies for the Church 4:416. OE 315.3