Filhas de Deus
Os pais podem ser demasiado indulgentes
Em 1871, Ellen White escreveu aos seus amigos, irmão e irmã Bailey, acerca da condescendência deles com os filhos. FD 165.6
Queridos amigos, irmão e irmã Bailey:
Tenho sentido ser minha obrigação escrever-lhes, já que tenho escrito a outros as coisas que me são reveladas a seu respeito. Tenho algumas coisas para escrever-lhes, mas não me sentia livre para fazê-lo, até agora. Se uma oportunidade favorável se apresentasse em seu lar, eu lhes teria falado para tranqüilizar meu espírito. Desde a minha volta para casa, não me sinto à vontade, a menos que lhes escreva. FD 166.1
Tenho escrito muito a respeito dos erros de pais na instrução devida a seus filhos e também sobre os seus resultados. Seu procedimento foi exposto perante mim. Ambos têm sido demasiadamente tolerantes com os filhos. Não conseguem perceber os perigos e erros nem assumir a posição que deveriam dentro da família, para colocar ordem em sua casa. FD 166.2
Deus, em Sua grande misericórdia, expôs a verdade para seu conhecimento. Vocês amam a verdade. Têm visto o que ela pede de vocês. Ela operou uma reforma na vida e os levou a ter profundo interesse no bem-estar espiritual dos filhos. Tudo isso está de acordo com o Espírito de Deus. Mas, embora se sintam assim ansiosos, estão fracassando seriamente em realizar a obra que o Senhor deixou para que, como pais, fizessem. Seus filhos não estão sendo controlados. Vocês têm sido indulgentes para com eles, para prejuízo deles. Eles não têm sido colocados em submissão, como Deus requer. FD 166.3
Tem havido uma grave falha na educação de seus filhos. Sua filha, especialmente, tem sido mimada. Ela tem sido estragada com mimos e condescendências, ao ponto de se tornar muito pequena a sua utilidade prática. A atenção dela tem sido dirigida basicamente a si mesma, a ponto de sua mente tornar-se supremamente egoísta e centralizada em si. Se ela tem alguma indisposição, mostra aversão ao trabalho. Ela tem sido favorecida e protegida de realizar o mínimo esforço. E vocês ainda comentam na sua presença que ela não está bem. Sua imaginação tem sido conduzida nessa direção. A mãe tem carregado os pesados fardos que devia dividir com a filha e os filhos. A mãe teria sido poupada de muito sofrimento em conseqüência de crises agudas de enfermidade, tivesse ela recebido a ajuda que lhe cabia por parte dos filhos, especialmente da filha. Esse esforço teria representado o maior benefício à filha na questão da saúde, livrando-a da doença, além de ser uma bênção para a mãe. [...] FD 166.4
Outro mal que ameaça destruir a utilidade de sua filha é o amor ao mundo, e o orgulho da aparência. Ela tem cultivado uma afetação que é mortal para a espiritualidade. FD 166.5
Irmã Bailey, você tem cometido um grave erro na criação dos filhos. Conforme o rebento é curvado, a árvore se inclina. Seus mimos e desculpas para os erros deles, e o desrespeito para com sua autoridade, têm-se colocado diretamente no caminho de sua salvação. Filhos que FD 166.6
não são ensinados a ser corteses e a ceder às ordens dos pais não terão um senso de seu dever para com Deus e Suas reivindicações quanto à obediência e submissão. [...] FD 167.1
Seus filhos, que participam da fartura e hospitalidade, devem ser levados a entender que, eles também, precisam mostrar obediência e respeito para com a autoridade dos pais. Suas filhos continuam ainda sem a graça de Deus; serão para vocês a causa de sofrimento e das mais agudas e angustiosas dores, sem um sentimento de remorso. Consideram a menor restrição como uma invasão aos seus direitos, e desprezarão a censura. FD 167.2
Seus filhos perderam os benefícios da educação que deviam ter recebido na infância, mas agora devem vocês mudar inteiramente a disciplina e redimir-se da negligência. Esses filhos carecem daquelas nobres e desejáveis qualidades da mente, as quais a correta disciplina e o refinamento lhes teriam dado. Eles não são corteses nem respeitosos. Vocês chegam a ouvir dos seus lábios palavras que não deveriam permitir de forma alguma. Os pequenos que não são controlados na tenra infância tornam-se donos de si mesmos. Tomam as rédeas nas próprias mãos. Consideram-se importantes, são convencidos, impulsivos e não revelam muito gosto ou ambição pelo respeito próprio ou pela disciplina mental adquirida pela concentração em alguma coisa. Não admitem ser restringidos. Desprezam a disciplina escolar, pois não foram disciplinados em casa. [...] FD 167.3
Deus não Se agrada da maneira como a irmã Bailey dirige seus filhos. [Ela é] descuidada quanto ao seu dever, pesada na balança e achada em falta. Esse é um grave defeito para uma mãe — ser tão complacente com os filhos a ponto de permitir neles o pecado, permitir que sejam irascíveis, ingratos, desobedientes, arrogantes, orgulhosos — e ainda desculpar isso e afastar dos olhos dos outros e mesmo dos seus próprios. Nisso ela é participante dos seus erros e os mantém no pecado, e o sangue deles estará nas vestes dela e do pai. Eles podem agora remir o passado mediante uma reforma de sua parte, mas nunca apagarão os resultados de sua grande negligência no que diz respeito aos filhos. Deus considera os pais responsáveis em grande parte pela conduta dos filhos, pois eles têm [responsabilidade pela] formação do seu caráter. [...] FD 167.4
Sua filha necessita da energia gerada pelo trabalho ativo. Ela é muito mais capaz de trabalhar e assumir sua parte dos fardos da vida do que sua mãe de levá-los por ela. Uma atividade, cada dia, que ponha em ação os músculos e órgãos do corpo será o melhor remédio que sua filha pode receber. Uma melindrosa ociosidade a torna mal-humorada, descontente e infeliz. [...] Que Deus use estas linhas como uma bênção para vocês, meu irmão e irmã. — Carta 1, 1871. FD 167.5