Cristo em Seu Santuário

17/83

O tabernáculo e sua construção

O tabernáculo foi construído de tal maneira que podia ser todo desmontado e levado com os israelitas em todas as suas jornadas. Era, portanto, pequeno, não tendo mais de vinte metros de comprimento, e seis de largura e altura. Contudo, era uma estrutura magnificente. A madeira empregada para a edificação e seu aparelhamento era a acácia, menos sujeita a arruinar-se do que qualquer outra que se podia obter no Sinai. As paredes consistiam em tábuas verticais colocadas em encaixes de prata, e mantidas firmemente por colunas e barras que as ligavam; e todas estavam cobertas de ouro, dando ao edifício a aparência de ouro maciço. O teto era formado de quatro jogos de cortinas sendo a mais interior de “linho fino torcido, e azul, púrpura, e carmesim; com querubins as farás de obra esmerada” (Êxodo 26:1); as outras três eram respectivamente de pêlo de cabras, pele de carneiro tingida de vermelho, e pele de texugo, dispostas de tal maneira que proporcionassem proteção completa. CS 27.1

O edifício era dividido em dois compartimentos por uma rica e linda cortina, ou véu, suspensa de colunas chapeadas de ouro; e um véu semelhante fechava a entrada ao primeiro compartimento. Estes véus, como a cobertura interior que formava o teto, eram das mais belas cores, azul, púrpura e escarlata, lindamente dispostas, ao mesmo tempo que trabalhados a fios de ouro e prata havia neles querubins para representarem a hoste angélica, que se acha em conexão com o trabalho do santuário celestial, e são espíritos ministradores ao povo de Deus na Terra. CS 27.2

A tenda sagrada ficava encerrada em um espaço descoberto chamado o pátio, que estava rodeado de cortinas ou anteparos, de linho fino, suspensos de colunas de cobre. A entrada para este recinto ficava na extremidade oriental. Era fechado com cortinas de custoso material e bela confecção, se bem que inferiores às do santuário. Sendo os anteparos do pátio apenas da metade da altura das paredes do tabernáculo aproximadamente, o edifício podia ser perfeitamente visto pelo povo do lado de fora. No pátio, e bem perto da entrada, achava-se o altar de cobre para as ofertas queimadas, ou holocaustos. Sobre este altar eram consumidos todos os sacrifícios feitos com fogo ao Senhor, e os seus cornos eram aspergidos com o sangue expiatório. Entre o altar e a porta do tabernáculo, estava o lavadouro, que também era de cobre, feito dos espelhos que tinham sido ofertas voluntárias das mulheres de Israel. No lavadouro os sacerdotes deveriam lavar as mãos e os pés sempre que entravam nos compartimentos sagrados ou se aproximavam do altar para oferecerem uma oferta queimada ao Senhor. CS 27.3

No primeiro compartimento, ou lugar santo, estavam a mesa dos pães da proposição, o castiçal ou candelabro, e o altar de incenso. A mesa com os pães da proposição ficava do lado do norte. Com a sua coroa ornamental, era ele coberto de ouro puro. Sobre esta mesa os sacerdotes deviam cada sábado colocar doze pães, dispostos em duas colunas, e aspergidos com incenso. Os pães que eram removidos, sendo considerados santos, deviam ser comidos pelos sacerdotes. Do lado do sul estava o castiçal de sete ramos, com as suas sete lâmpadas. Seus ramos eram ornamentados com flores artisticamente trabalhadas, semelhantes a lírios, e o todo era feito de uma peça de ouro maciço. Não havendo janelas no tabernáculo, nunca ficavam apagadas todas as lâmpadas a um tempo, mas espargiam sua luz dia e noite. Precisamente diante do véu que separava o lugar santo do santíssimo e da presença imediata de Deus, achava-se o áureo altar de incenso. Sobre este altar o sacerdote devia queimar incenso todas as manhãs e tardes; seus cornos eram tocados com o sangue da oferta para o pecado, e era aspergido com sangue no grande dia de expiação. O fogo neste altar era aceso pelo próprio Deus, e conservado de maneira sagrada. Dia e noite o santo incenso difundia sua fragrância pelos compartimentos sagrados, e fora, longe, em redor do tabernáculo. CS 28.1

Além do véu interior estava o santo dos santos, onde se centralizava o serviço simbólico da expiação e intercessão, e que formava o elo de ligação entre o Céu e a Terra. Neste compartimento estava a arca, uma caixa feita de acácia, coberta de ouro por dentro e por fora, e tendo uma coroa de ouro em redor de sua parte superior. Fora feita para ser o receptáculo das tábuas de pedra, sobre as quais o próprio Deus escrevera os Dez Mandamentos. Daí o ser ela chamada a arca do testemunho de Deus, ou a arca do concerto, visto que os Dez Mandamentos foram a base do concerto feito entre Deus e Israel. CS 28.2

A cobertura da caixa sagrada chamava-se propiciatório. Este era feito de uma peça inteiriça de ouro, e encimado por querubins do mesmo metal, ficando um de cada lado. Uma asa de cada anjo estendia-se ao alto, enquanto a outra estava fechada sobre o corpo em sinal de reverência e humildade. Vede Ezequiel 1:11. A posição dos querubins, tendo o rosto voltado um para o outro, e olhando reverentemente abaixo para a arca, representava a reverência com que a hoste celestial considera a lei de Deus, e seu interesse no plano da redenção. CS 29.1

Acima do propiciatório estava o shekinah, manifestação da presença divina; e dentre os querubins Deus tornava conhecida a Sua vontade. Mensagens divinas às vezes eram comunicadas ao sumo sacerdote por uma voz da nuvem. Algumas vezes uma luz caía sobre o anjo à direita, para significar a aprovação ou aceitação; ou uma sombra ou nuvem repousava sobre o que ficava ao lado esquerdo, para revelar reprovação ou rejeição. CS 29.2

A lei de Deus, encerrada na arca, era a grande regra de justiça e juízo. Aquela lei sentenciava a morte ao transgressor; mas acima da lei estava o propiciatório, sobre o qual se revelava a presença de Deus, e do qual, em virtude da obra expiatória, se concedia o perdão ao pecador arrependido. Assim na obra de Cristo pela nossa redenção, simbolizada pelo ritual do santuário, “a misericórdia e a verdade se encontraram: a justiça e a paz se beijaram.” Salmos 85:10. CS 29.3

Nenhuma linguagem pode descrever a glória do cenário apresentado dentro do santuário — as paredes chapeadas de ouro que refletiam a luz do áureo castiçal, os brilhantes matizes das cortinas ricamente bordadas com seus resplendentes anjos, a mesa e o altar de incenso, brilhante pelo ouro; além do segundo véu a arca sagrada, com os seus querubins místicos, e acima dela o santo shekinah, manifestação visível da presença de Jeová; tudo não era senão um pálido reflexo dos esplendores do templo de Deus no Céu, o grande centro da obra pela redenção do homem. CS 29.4

Um espaço de tempo, de aproximadamente meio ano foi ocupado na construção do tabernáculo. Quando este se completou, Moisés examinou toda a obra dos construtores, comparando-a com o modelo a ele mostrado no monte, e com as instruções que de Deus recebera. “Como o Senhor a ordenara, assim a fizeram: então Moisés os abençoou.” Êxodo 39:43. Com ávido interesse as multidões de Israel juntaram-se em redor para ver a estrutura sagrada. Enquanto estavam a contemplar aquela cena com satisfação reverente, a coluna de nuvem pairou sobre o santuário e, descendo, envolveu-o. “E a glória do Senhor encheu o tabernáculo.” Êxodo 40:34. Houve uma revelação da majestade divina, e por algum tempo mesmo Moisés não pôde entrar ali. Com profunda emoção o povo viu a indicação de que a obra de suas mãos fora aceita. Não houve ruidosas manifestações de regozijo. Temor solene repousava sobre todos. Mas sua alegria de coração transbordou em lágrimas de gozo, e murmuravam em voz baixa ardorosas palavras de gratidão de que Deus houvesse condescendido em habitar com eles. CS 29.5