Cartas a Jovens Namorados

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“Poderão andar dois juntos, se não estiverem de acordo?”

Foram-me mostrados casos de pessoas que professam a verdade, e cometeram grande erro casando-se com incrédulos. Foi por eles nutrida a esperança de que a parte não crente havia de abraçar a verdade; uma vez que essa parte conseguiu seu objetivo, porém, fica mais afastado da verdade que dantes. Começam então as sutis operações, os contínuos esforços do inimigo para desviar o crente da fé. CJN 81.5

Muitos há que estão perdendo o interesse e a confiança na verdade, por se haverem metido em íntimo contato com incrédulos. Respiram uma atmosfera de dúvida, de desconfiança, de infidelidade. Têm a incredulidade diante dos olhos, dos ouvidos, e afinal a acalentam. Alguns talvez tenham valor de resistir a essas influências; em muitos casos, porém, sua fé fica imperceptivelmente minada, destruída afinal. ... CJN 82.1

Bem sabe Satanás que o momento que testemunha o enlace de muitos rapazes e moças, põe um ponto final em sua história religiosa, em sua utilidade nesse sentido. Acham-se perdidos para Cristo. Poderão, por algum tempo, fazer um esforço para viver a vida cristã; todos esses esforços, no entanto, são feitos contra decidida corrente em sentido contrário. Outrora era para eles um privilégio e prazer falar acerca de sua fé e esperança; chegam, porém, a relutar para mencionar tal assunto, sabendo que aquele com quem uniram o destino não tem nenhum interesse no mesmo. Em consequência, perece no coração a fé na preciosa verdade, e Satanás tece insidiosamente em torno deles uma rede de cepticismo. ... CJN 82.2

O crente raciocina que, nas novas relações, tem de conceder alguma coisa ao companheiro de sua escolha. São patrocinados entretenimentos sociais, mundanos. A princípio com grande relutância de sentimentos por parte do crente ao fazer isto, mas depois o interesse na verdade vai-se tornando cada vez menor, e a fé se transforma em dúvida e incredulidade. ... CJN 82.3

Que deve fazer todo crente quando levado a essa posição probante para a solidez dos princípios religiosos? Com firmeza digna de imitação, deve ele dizer francamente: “Sou um cristão consciencioso. Creio que o sétimo dia da semana é o sábado bíblico. Nossa fé e princípios são tão diversos, que levam a direções opostas. Não nos é possível ser felizes juntos, pois se prossigo em adquirir mais perfeito conhecimento da vontade de Deus, tornar-me-ei mais e mais diferente do mundo, e mais me assemelharei a Cristo. Se você continua a não ver nenhuma beleza em Jesus, nenhuma atração na verdade, amará o mundo, que eu não posso amar, ao passo que eu me deleitarei nas coisas de Deus que você não pode apreciar. ... CJN 82.4

“Não se sentirá feliz; terá ciúmes da afeição que consagro a Deus; e sentir-me-ei só em minha crença religiosa. Quando se mudarem seus pontos de vista, quando seu coração atender aos reclamos de Deus, e aprender a amar a meu Salvador, então poderemos reatar nossas relações.” CJN 83.1

O crente faz então por Cristo um sacrifício que sua consciência aprovará, e que mostra que ele estima a vida eterna demasiado alto para correr o risco de perdê-la. Sente que melhor lhe é permanecer solteiro do que ligar seus interesses por toda a vida com uma pessoa que prefere o mundo a Jesus. ... CJN 83.2

Há de uma pessoa que está em busca da glória, honra, imortalidade, vida eterna, formar união com outra que se recusa a entrar na fileira com os soldados da cruz de Cristo? Haverá você, que professa escolher a Cristo como seu chefe e ser-Lhe obediente, em tudo, de unir seus interesses com uma pessoa que é governada pelo príncipe dos poderes das trevas? “Podem dois andar juntos, se não estiverem de acordo?” Amós 3:3. ... CJN 83.3

Centenas de pessoas têm sacrificado a Cristo e ao Céu em consequência de haverem desposado um inconverso. Acaso pode ser que o amor e o companheirismo com Cristo seja de tão pouco valor para eles, que prefiram a companhia de pobres mortais?3Idem, 573-577. CJN 83.4

A carta dirigida a Rose trata, talvez, do mais perigoso problema para as moças — a questão de casar-se com um descrente. Essa controvérsia certamente é um dos mais sérios desafios para um casamento cristão feliz. CJN 84.1

O ponto que Ellen White considera com Rose é o de que toda moça deve pensar seriamente — “não dê ouvidos a promessas”. E melhor que a questão do compromisso espiritual seja estabelecida antes do casamento e não depois. Como é sugerido nesta carta, “é uma questão de vida ou morte”. CJN 84.2

Copenhague, Dinamarca

3 de Junho de 1887

Querida Rose,

Fiquei sabendo que você está planejando se casar com um homem descrente. Não posso escrever-lhe uma carta longa, no entanto digo que se você der esse passo, divergirá da mais clara ordem da Palavra de Deus e não poderá esperar ou reclamar Sua bênção sobre tal união. Todas as promessas de Deus estão condicionadas à obediência a Ele. CJN 85.1

Satanás está prestes a levar a mente e a alma a seguir uma conduta diretamente contrária à expressa vontade de Deus, de modo que ele possa separar essa alma de Deus, interpor suas tentações e obter controle sobre a mente e os sentimentos do coração. Esse é o plano premeditado de Satanás para levar almas a afastar-se dAquele que é poderoso em conselho e para a persuasão das mentes que não têm amor a Deus, nem à verdade. CJN 85.2

Deus a tem abençoado com grande luz e o Senhor espera que você observe a vontade dEle, para seguir cuidadosamente as orientações dadas em Sua Palavra. Você está cega, enlaçada para sua ruína. Tem razão para ser grata a Deus a cada hora. Confie nEle, cuja sabedoria é concedida em conselho em Sua santa Palavra. Ele Se preocupa com Seus filhos mais do que os pais mais afetuosos. Vê o fim desde o princípio, por essa razão nos deixou promessas e advertências. Proibiu a Seus filhos de seguir determinado caminho que será ruinoso para eles. CJN 85.3

O apóstolo Paulo envia uma nota de advertência sobre esse assunto para este tempo. “Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos; pois que sociedade tem a justiça com a injustiça? ou que comunhão tem a luz com as trevas? Que harmonia há entre Cristo e Belial? ou que parte tem o crente com o incrédulo? E que consenso tem o santuário de Deus com ídolos? Pois nós somos santuário do Deus vivo, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. Pelo que, saí vós do meio deles e separai-vos, diz o Senhor; e não toqueis coisa imunda, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor todo-poderoso.” 2 Coríntios 6:14-18. CJN 85.4

O Senhor proibiu expressamente Seu povo de casar-se com descrentes. Deus sabe o que é melhor para os interesses eternos e para o bem presente da alma. Advirto-lhe que se afaste desse terreno proibido. CJN 85.5

Poderia contar-lhe diferentes casos que Deus me mostrou de pessoas na Europa que cometeram um erro semelhante ao que você está cometendo agora. A triste realidade que agora experimentam de estar ligados a cônjuges descrentes, impedidos de todo crescimento espiritual, apesar das solenes promessas feitas de que não os estorvariam de maneira alguma em seus privilégios religiosos. De que valem suas promessas? As mais solenes promessas são quebradas! Como poderia ser de outro modo quando cada um serve a generais diferentes, um em oposição ao outro? Onde, então, está a doce harmonia? CJN 86.1

Rose, observe bem os seus passos. Não dê ouvidos a promessas, creia apenas na Palavra de Deus que a fará sábia para a salvação. Não confie em seu próprio coração porque ele é enganoso mais que todas as coisas e desesperadamente pecaminoso. Amo sua alma porque você é aquisição do sangue de Jesus Cristo. Ele pagou um alto preço por sua redenção, e você não se pertence para dispor de si mesma como achar melhor. Deve prestar conta solene no juízo de como se tem apropriado das faculdades que Deus lhe concedeu. CJN 86.2

Essas coisas exigem de você séria reflexão e conduta resoluta em conformidade com as claras orientações estabelecidas na Palavra de Deus. Agora é o seu tempo de tentação, de provação; resistirá ao inimigo? Ou se colocará numa posição onde o poder dele será exercido sobre você? CJN 86.3

Esta é uma questão de vida ou morte para você. Que o Senhor a ajude a enxergar cada cilada de Satanás e a evitá-la. Apegue-se a Jesus com coração, alma, mente e força.* CJN 86.4

Ellen G. White

Esta carta a Laura considera a questão de casar-se com um descrente, como fez a anterior dirigida a Rose. Algumas perguntas bem precisas são feitas pela mensageira. Como você as responderia se estivesse no lugar de Laura? CJN 87.1

Ao ler esta carta, outras perguntas podem ser aplicadas a cada moça que tem em mente tal casamento. Está sendo franca e honesta com o rapaz que deseja se casar com você? CJN 87.2

Nesta carta publicada em Testemunhos Seletos 2:119-125, Ellen White define um descrente como alguém que “não aceitou a verdade para este tempo”. CJN 87.3

Santa Helena, Califórnia

13 de Fevereiro de 1885

Prezada Laura,

Eu soube de seu planejado casamento com pessoa que não se acha unida a você na fé religiosa, e receio que não tenha pesado cuidadosamente esta importante questão. Antes de dar um passo que há de exercer influência sobre toda a sua vida futura, insto com você para que dê ao caso cuidadoso estudo e oração. Demonstrar-se-á este novo parentesco uma fonte de verdadeira felicidade? Ser-lhe-á um auxílio na vida cristã? Será agradável a Deus? Será seu exemplo de molde que possa com segurança ser seguido por outros? CJN 88.1

Antes de dar a mão em casamento, deveria toda mulher indagar se aquele com quem está para unir seu destino, é digno. Qual é seu passado? É pura a sua vida? É o amor que ele exprime de caráter nobre, elevado, ou é simples inclinação emotiva? Tem os traços de caráter que. a tornarão feliz? Poderá ela encontrar verdadeira paz e alegria na afeição dele? Ser-lhe-á permitido, a ela, conservar sua individualidade, ou terá de submeter seu juízo e consciência ao domínio do marido? Como discípula de Cristo, ela não pertence a si mesma, foi comprada por preço. Pode honrar as reivindicações do Salvador como supremas? Serão conservados puros e santos o corpo e a alma, os pensamentos e propósitos? Estas perguntas têm influência vital sobre o bem-estar de toda mulher que se casa. CJN 88.2

É preciso religião no lar. Só ela pode prevenir os ofensivos erros que tantas vezes amarguram a vida conjugal. Unicamente onde Cristo reina, pode haver amor profundo, verdadeiro, altruísta. Anjos de Deus serão hóspedes do lar, e suas santas vigílias santificarão a câmara matrimonial. CJN 88.3

Como uma pessoa que espera enfrentar essas palavras no juízo, eu te suplico que pondere o passo que pretende dar. Pergunte-se a si mesma: “Não desviará um marido descrente os meus pensamentos de Jesus? Ele é amante dos prazeres mais que amante de Deus; não me levará a apreciar as coisas de que gosta?” A vereda para a vida eterna é íngreme e escabrosa. Não tome sobre si fardos além dos necessários, que retardem seu progresso. CJN 88.4

O Senhor ordenou ao Israel antigo que não se permitissem casamentos com pessoas das nações idólatras ao seu redor. É dada a razão para isso. A Infinita Sabedoria, prevendo o resultado de semelhantes uniões, declara: “Pois fariam desviar teus filhos de Mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do Senhor se acenderia contra vós, e depressa vos consumiria.” “Porque povo santo és ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há.” CJN 89.1

No Novo Testamento existem proibições semelhantes acerca do casamento de cristãos com ímpios. “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça?” CJN 89.2

Laura, ousa desrespeitar estas direções claras e positivas? Como filha de Deus, súdita do reino de Cristo, aquisição de Seu sangue, como pode ligar-se a um que não reconhece Suas reivindicações, que não é controlado por Seu Espírito? As ordens que citei não são palavras de homens, mas de Deus. Mesmo que o companheiro de sua escolha fosse em todos os outros respeitos digno (o que, porém, ele não é), no entanto ele não aceitou a verdade para este tempo; é um descrente, e é pelo Céu proibida de unir-se a ele. Não pode, sem perigo para sua alma, desrespeitar esta ordem divina. CJN 89.3

Você poderá dizer: “Mas eu dei minha palavra, e deverei agora voltar atrás?” Respondo: Se você fez uma promessa contrária às Escrituras, por todos os meios retrate-a sem demora, e em humildade diante de Deus arrependa-se da vaidade que a levou a dar a palavra tão precipitadamente. Muito melhor é retirar tal promessa, no temor de Deus, do que cumpri-la e desonrar por esse meio seu Criador. CJN 89.4

Há no mundo cristão uma assombrosa, alarmante indiferença para com os ensinos da Palavra de Deus acerca do casamento de cristão com descrentes. Muitos que professam amar e temer a Deus preferem seguir a inclinação de seu próprio espírito, em vez de tomarem conselho com a Sabedoria Infinita. Em uma questão que interessa vitalmente a felicidade e bem-estar de ambas as partes, para este mundo e o porvir, a razão, o juízo e o temor de Deus são postos de parte, permitindo-se que domine o cego impulso, a obstinada determinação. CJN 89.5

Homens e mulheres de outro modo sensatos e conscienciosos, fecham os ouvidos aos conselhos; são surdos aos apelos e rogos de amigos e parentes, e dos servos de Deus. A expressão de um aviso ou advertência é considerada impertinente intromissão, e o amigo que é fiel bastante para pronunciar uma admoestação, é tratado como inimigo. CJN 89.6

Tudo isto é como Satanás deseja. Ele tece seu encanto em volta da alma, e esta se torna enfeitiçada, apaixonada. A razão deixa cair as rédeas do domínio próprio sobre o pescoço da concupiscência, a paixão não santificada toma o domínio até que, demasiado tarde, a vítima desperta para uma vida de miséria e escravidão. Não é este um quadro traçado pela imaginação, mas apresentação de fatos. Deus não dá Sua sanção a uniões que Ele proibiu expressamente. CJN 90.1

Por anos tenho estado a receber cartas de diferentes pessoas que contraíram casamento infeliz, e as revoltantes histórias que me apresentaram são bastantes para confranger o coração. Não é coisa fácil decidir que conselho possa ser dado a esses infelizes, ou como sua dura sorte possa ser aliviada; mas sua triste experiência deveria servir de advertência aos outros. CJN 90.2

Você está sob a mais sagrada obrigação de não apoucar ou comprometer sua santa fé, unindo-se aos inimigos do Senhor. Se é tentada a desprezar as ordens de Sua Palavra porque outros assim fizeram, lembre-se de que seu exemplo também exercerá influência. Outros procederão como você, e assim o mal se estenderá. CJN 90.3

Os mais fortes incentivos à fidelidade são-nos apresentados, os mais elevados motivos, as recompensas mais gloriosas. Devem os cristãos ser representantes de Cristo, filhos e filhas de Deus. CJN 90.4

Queira Deus ajudá-la a resistir à prova e conservar sua integridade. Apegue-se, pela fé, a Jesus. Não decepcione seu Redentor. CJN 90.5

Com o mais profundo afeto.* CJN 90.6

Ellen G. White