Lições da Vida de Neemias

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Capítulo 15 — Um jejum solene

Quando a Festa dos Tabernáculos terminou, tendo passado apenas um dia, os filhos de Israel proclamaram um jejum solene. Ele foi observado não meramente por causa da ordem dos governantes, mas pelo desejo do povo. Ao atentar dia a dia para as palavras da lei, o povo ficara convencido de suas transgressões, e dos pecados de sua nação em passadas gerações. Viram que fora por causa do afastamento de Deus que Seu cuidado protetor tinha sido retirado, e que os filhos de Abraão tinham sido espalhados pelas terras estrangeiras; e se determinaram buscar Sua misericórdia e empenharem-se em andar nos Seus mandamentos. LVN 60.1

Antes de iniciarem essa solene cerimônia, eles se separaram dos pagãos que havia entre eles. Isso feito, “levantando-se no seu posto, leram no livro da Lei do Senhor, seu Deus, uma quarta parte do dia; e, na outra quarta parte, fizeram confissão; e adoraram o Senhor, seu Deus” (Neemias 9:3). LVN 60.2

Prostrando-se o povo ante o Senhor, e humildemente confessando os seus pecados e suplicando perdão e misericórdia, cada um por si mesmo e por toda a congregação. Seus líderes os encorajaram a crer que Deus, segundo a Sua promessa, ouvira suas orações. Não deviam eles apenas lamentar e chorar e arrepender-se, mas deviam crer que Deus os perdoara. Deviam mostrar sua fé passando em revista Suas misericórdias e louvá-Lo por Sua bondade. “Levantai-vos”, disseram esses ensinadores, “bendizei ao Senhor, vosso Deus, de eternidade em eternidade” (Neemias 9:5). LVN 60.3

Então da multidão reunida, ao se levantarem com as mãos estendidas para o céu, elevou-se o cântico de louvor e adoração: “Bendigam o nome da Tua glória, que está levantado sobre toda a bênção e louvor. Tu só és Senhor, Tu fizeste o Céu, o Céu dos Céus, e todo o seu exército, a Terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há, e Tu os guardas em vida a todos, e o exército dos Céus Te adora” (Neemias 9:5, 6). LVN 60.4

Nessa parte da história sagrada há uma preciosa lição de fé para todos os que estão convictos de seus pecados, e sobrecarregados com o senso de sua indignidade. Quando eles compararam seu caráter com o grande padrão divino de justiça, viram-se condenados como transgressores. Não há poder na Lei para livrá-los de suas culpas. Mas quando confessaram seus pecados, puderam achar perdão através de Cristo. DEle fluem as correntes purificadoras que podem lavar todas as nódoas do pecado. Quando o pecador vem a Cristo com contrição de alma, confessando suas transgressões, é seu dever apropriar-se da promessa de perdão do Salvador para o arrependido e crente. Aquele que procura achar bondade e causa de alegria em si mesmo, sempre estará em desespero; mas o que olha para Jesus, o Autor e Consumador de sua fé, pode dizer confiantemente: “e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20). LVN 60.5

Findo o cântico de louvor, os líderes da congregação relataram a história de Israel, mostrando quão grande tinha sido a bondade de Deus para com eles, e como tinha sido grande a ingratidão deles. Seguindo o registro desde os dias de Abraão, eles chamaram a atenção para o desígnio divino em preservar Seu nome sobre a Terra, conservando para Si mesmo um povo puro entre a corrupção geral; eles narraram novamente as poderosas manifestações de Seu poder no livramento da escravidão egípcia, e mostraram também como os desvios e a apostasia haviam feito com que a bênção do Senhor fosse retirada de Israel. Então toda a congregação entrou num concerto para guardar os mandamentos de Deus. E para que este fosse “um firme concerto”, sendo preservado em forma permanente, como um memorial da obrigação que haviam tomado sobre si, foi ele escrito, e os sacerdotes, levitas e príncipes o assinaram. Devia ele servir como um memorando do dever e uma barreira contra a tentação. O povo fez um solene juramento de que “andariam na lei de Deus, que foi dada pelo ministério de Moisés, servo de Deus; e de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos do Senhor, nosso Senhor, e os Seus juízos e os Seus estatutos” (Neemias 10:29). O juramento feito nesse dia incluía a promessa de não se casarem com o povo da terra. Isso havia sido em geral feito pelo povo; e algumas vezes governantes como Salomão e Acabe formaram tais uniões; e esses casamentos, mediante a introdução da idolatria, haviam resultado na ruína de milhares. LVN 61.1

Deus proibiu rigorosamente o intercâmbio matrimonial de seu povo com outras nações. Essa proibição foi feita a fim de impedir os hebreus de casarem com idólatras e formarem ligações com famílias pagãs. O motivo indicado por Deus para proibir esses casamentos, foi: “Pois [...] fariam desviar teus filhos de Mim” (Deuteronômio 7:4). Os pagãos, no entanto, achavam-se em condições mais favoráveis do que os impenitentes desta geração, os quais, tendo a luz da verdade, ainda se recusam persistentemente a aceitá-la. Aqueles, dentre o antigo Israel, que se arriscaram a desprezar a proibição divina, fizeram-no com sacrifício dos princípios religiosos. Quando aqueles que agora professam ser o povo de Deus se unem em casamento com os ímpios, formam um laço que os une ao mundo e por certo se tornarão um com ele, a despeito de sua presente profissão. LVN 61.2

Antes que o dia de jejum findasse, o povo manifestou ainda sua determinação de retornar ao Senhor, comprometendo-se a cessar de profanar o sábado. Neemias não fizera nessa ocasião, como o fez mais tarde, valer sua autoridade para evitar que os mercadores pagãos entrassem em Jerusalém no dia de sábado; para a venda de provisões e outros artigos. Mas num esforço para salvar o povo de se render à tentação, obrigou-os, por um solene concerto, a não transgredirem a lei do sábado comprando desses mercadores, na esperança de que isso desencorajasse os vendedores e pusesse fim ao seu comércio. LVN 61.3

Tomou-se providência também para o sustento do culto público a Deus. Além do dízimo, a congregação se comprometeu a contribuir anualmente com uma soma estabelecida para o serviço do santuário. “E que também traríamos as primeiras novidades da nossa terra, e todos os primeiros frutos de todas as árvores, de ano em ano, à casa do Senhor; e os primogênitos dos nossos filhos, e os do nosso gado, como está escrito na lei; e que os primogênitos das nossas vacas e das nossas ovelhas traríamos à casa do nosso Deus” (Neemias 10:35, 36). LVN 62.1

A liberalidade dos judeus em suas ofertas para propósitos religiosos deveria ser imitada pelos cristãos. Se os dízimos e ofertas foram requeridos há milênios, eles são muito mais essenciais agora. As atividades dos servos de Deus ficaram confinadas quase que totalmente à terra da Palestina; mas os apóstolos e seus sucessores foram comissionados a pregar o evangelho em todo o mundo. As pessoas desta dispensação foram favorecidas com maior luz e bênçãos do que os judeus. Portanto, foram também postos sob maior obrigação de honrar a Deus e trabalhar pelo avanço de Sua causa. LVN 62.2

Os esforços de Neemias para restaurar o culto do verdadeiro Deus tinham sido coroados de sucesso. Enquanto o povo fosse leal ao juramento feito, enquanto fosse obediente à Palavra de Deus, o Senhor cumpriria Sua promessa derramando ricas bênçãos sobre eles. A história do antigo povo de Deus é plena de instrução para a igreja de hoje. A Bíblia apresenta fielmente o resultado da apostasia de Israel; mas ela narra também a profunda humilhação e arrependimento, a fervente devoção e generoso sacrifício que assinalaram suas ocasiões de retorno para o Senhor. Há encorajamento, portanto, no registro da boa disposição divina em receber seu desviado, mas penitente povo. Seria um cenário agradável a Deus e aos anjos, se Seus professos seguidores desta geração se unissem, como fez Israel no passado, em solene concerto “de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos do Senhor, nosso Senhor, e os Seus juízos e os Seus estatutos” (Neemias 10:29). — The Southern Watchman, 7 de junho de 1904. LVN 62.3