Lições da Vida de Neemias

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Capítulo 13 — Ciladas dos pagãos — parte 2

Apesar das ciladas dos inimigos, abertas ou secretas, a obra de reconstrução prosseguiu firmemente, e em menos de dois meses desde a chegada de Neemias a Jerusalém, a cidade havia sido circundada de defesas, e os construtores podiam andar sobre os muros e olhar lá embaixo os seus inimigos atônitos e derrotados. “Ouvindo-o todos os nossos inimigos, temeram todos os gentios que havia em roda de nós e abateram-se muito em seus próprios olhos”, escreveu Neemias; “porque reconheceram que o nosso Deus fizera esta obra” (Neemias 6:16). LVN 52.1

Mas nem mesmo essa evidência da mão controladora do Senhor fora suficiente para conter o descontentamento, a traição e rebelião entre os israelitas. “Alguns nobres de Judá escreveram muitas cartas, que iam para Tobias, e as cartas de Tobias vinham para eles. Porque muitos em Judá se lhe ajuramentaram, porque era genro de Secanias” (Neemias 6:17, 18). Aqui se veem os maus resultados do casamento com idólatras. Nessa aliança, Satanás pensava sair vitorioso. Uma família de Judá se aparentara com os inimigos de Deus, e essa relação havia-se provado uma armadilha. Muitos outros haviam feito o mesmo. Esses, como a multidão mestiça que viera com Israel do Egito, foram uma fonte de contínua perturbação. Eles não eram sinceros em seu serviço; e quando a obra de Deus demandou sacrifício, mostraram-se prontos para violar seu solene juramento de cooperação e ajuda. Tudo isso tendia a enfraquecer e desencorajar aqueles que procuravam edificar a causa de Deus. LVN 52.2

Alguns que haviam estado na dianteira em planejar ciladas contra os judeus, e se esforçaram por todos os meios possíveis para causar sua ruína, manifestavam agora o desejo de estar em boa paz com eles. Os nobres de Judá que haviam sido enredados em casamentos idólatras, e que tinham mantido traiçoeira correspondência com Tobias, jurando servi-lo, apresentavam-no agora como um homem de habilidade, sabedoria e vistas largas, com quem uma aliança seria de grande vantagem para os judeus. Ao mesmo tempo, traiçoeiramente lhe levavam os planos e movimentos de Neemias. Assim era a obra de Deus exposta aos ataques dos seus inimigos, dando-se oportunidade a que as palavras e atos de Neemias fossem mal interpretados e sua obra embaraçada. Mas a autoridade que ele havia exercido em favor dos seus concidadãos oprimidos não a exerceu depois em proveito próprio. Seus esforços tinham sido resistidos por alguns com ingratidão e deslealdade, mas ele não usou o seu poder para levar punição aos traidores. Com a calma e altruísmo prosseguiu no serviço em favor do povo, jamais afrouxando os esforços ou permitindo que o interesse diminuísse. LVN 52.3

Os assaltos de Satanás sempre têm sido dirigidos contra os que têm procurado promover a obra e a causa de Deus. Embora muitas vezes frustrado, ele renova seus ataques. Mas o que é mais de temer é a sua secreta operação. Os advogados da verdade esperam oposição feroz e cruel de seus inimigos abertos; a oposição aberta pode ser feroz e cruel, mas traz em si muito menos perigo para a causa de Deus que a inimizade secreta dos que, enquanto professando servir a Deus, são servos cordiais de Satanás. Embora aparentemente ligados à obra de Deus, muitos estão unidos a seus inimigos; e se de algum modo seus planos sofrerem interferência ou se reprovarem seus pecados, eles granjearão o favor dos inimigos da verdade e se descobrirão todos os planos dos servos de Deus e as operações de Sua causa. Esses têm em seu poder colocar toda vantagem nas mãos dos que usariam seu conhecimento para embaraçar a obra de Deus e lesar Seus servos. Desse modo, esses homens de mente dupla e duplo propósito pretendem servir a Deus, mas passam para o lado do inimigo e o servem como melhor aprouver às suas inclinações. LVN 53.1

Todo artifício que o príncipe das trevas pode sugerir será empregado para induzir os servos de Deus a formar uma aliança com os agentes de Satanás. Repetidas solicitações virão chamá-los do dever; mas como Neemias, eles devem firmemente responder: “Estou fazendo uma grande obra, de modo que não poderei descer” (Neemias 6:3). Não temos tempo para buscar o favor do mundo, ou mesmo defender-nos de suas declarações enganosas e calúnias. Não temos tempo a perder nos defendendo. Precisamos manter-nos firmemente em nosso trabalho e deixar de refutar as falsidades que a malícia possa inventar para dano nosso. Os difamadores se multiplicarão se pararmos para responder-lhes. Também não devem eles permitir que seus inimigos lhes conquistem a amizade e a simpatia, e assim induzi-los a desviarem-se do posto do dever. Aquele que por qualquer ato desavisado expõe a causa de Deus à vergonha, ou enfraquece as mãos dos seus coobreiros, põe sobre o próprio caráter uma nódoa não facilmente removível, e coloca um sério obstáculo no caminho de sua futura prestatividade. LVN 53.2

As tentações mais perigosas proveem de professos servos de Deus e de nossos amigos. Quando pessoas que estão unidas ao mundo e, ainda professam grande piedade e amor, aconselham os fiéis obreiros de Deus a serem menos zelosos e mais conservadores, nossa resposta deve ser apelar para a Palavra de Deus. Quando os que se estão unindo com o mundo reclamam união com os que sempre foram opositores da causa da verdade, devemos temer e evitá-los tão decididamente como o fez Neemias. Os que se desviam dos velhos marcos para formar uma conexão com os ímpios, não são enviados pelo Céu. Qualquer que possa ter sido sua primitiva posição, seu comportamento presente tende a perturbar a fé do povo de Deus. LVN 53.3

Esses conselheiros são movidos por Satanás. Eles são servidores de ocasião. Os testemunhos, reprovações e advertências dos servos de Deus não lhes são agradáveis, mas uma censura às suas propensões de amantes dos prazeres mundanos. Deveríamos evitar essa classe tão resolutamente como fez Neemias. LVN 54.1

Quando importunados com os argumentos e sugestões desses conselheiros, seria bom inquirirmos: “Deveria eu, como um cristão, um filho de Deus; como alguém chamado para ser a luz do mundo, um pregador de justiça; que tem tão frequentemente expresso minha confiança na verdade e no caminho pelo qual Deus nos conduz; unir minha influência com a daqueles que amargamente se opõem ao trabalho de Deus? Deveria eu, um mordomo dos mistérios divinos, revelar a Seus piores inimigos os conselhos de Seu povo? Esse procedimento não incentivaria os ímpios em sua oposição à verdade de Deus e ao Seu povo guardador da aliança? Não poderia tal concessão evitar que eu abra meus lábios em exortação, advertência ou rogos em minha própria família ou na igreja de Deus? Se Paulo ou Pedro fosse colocado em circunstâncias similares, trairiam o sagrado legado? E se os mundanos nos desprezarem? Não seriam eles escarnecidos por se desviarem do trabalho de uma vida toda por dificuldades ou perigos?” LVN 54.2

Satanás operará por todo e qualquer meio que possa empregar para desencorajar os ativos servos de Deus. Se o pastor puder ser desviado de seu dever, então o caminho fica livre para os lobos espalharem e devorarem as ovelhas. LVN 54.3

Cada sucesso da verdade desanima os inimigos de Deus, e eles algumas vezes são forçados a reconhecer que esta é Sua obra, enquanto a odeiam com todas as forças do seu ser. Os falsos irmãos continuarão a aumentar. Aqueles a quem Deus tem enviado advertências e reprovações, mas que, rejeitando as mensagens enviadas pelo Céu, dão ouvidos aos conselhos de Seus inimigos, constituem-se nos mais fortes tentadores de Seus servos fiéis. “Os que deixam a lei louvam o ímpio” (Provérbios 28:4). — The Southern Watchman, 24 de maio de 1904. LVN 54.4