A Ciência Do Bom Viver, A

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Capítulo 1 — Nosso Exemplo

Nosso Senhor Jesus Cristo veio a este mundo como o infatigável servo das necessidades do homem. “Tomou sobre Si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças” (Mt 8:17), a fim de poder ajudar a todas as necessidades humanas. Veio para remover o fardo de doenças, misérias e pecado. Era Sua missão restaurar inteiramente os homens; veio trazer-lhes saúde, paz e perfeição de caráter. CBV 16.1

Várias eram as circunstâncias e necessidades dos que Lhe suplicavam o auxílio, e nenhum dos que a Ele se chegavam saía desatendido. DEle emanava uma corrente de poder restaurador, ficando os homens física, mental e moralmente sãos. CBV 16.2

A obra do Salvador não era restrita a qualquer tempo ou lugar. Sua compaixão desconhecia limites. Em tão larga escala realizava Ele Sua obra de curar e ensinar, que não havia na Palestina edifício grande o bastante para comportar as multidões que se aglomeravam ao Seu redor. Nas verdes encostas da Galiléia, nas estradas, à beira-mar, nas sinagogas e em todo lugar a que os doentes Lhe podiam ser levados, aí se encontrava Seu hospital. Em cada cidade, cada vila por que passava, punha as mãos sobre os doentes e os curava. Onde quer que houvesse corações prontos a receber-lhe a mensagem, Ele os confortava com a certeza do amor de Seu Pai celestial. Todo o dia ajudava aos que a Ele iam; à tardinha atendia aos que tinham que labutar durante o dia pelo sustento da família. CBV 16.3

Jesus carregava o grande peso de responsabilidade da salvação dos homens. Ele sabia que, a menos que houvesse da parte da raça humana decidida mudança nos princípios e desígnios, tudo estaria perdido. Esse era o fardo de Sua alma, e ninguém podia avaliar o peso que sobre Ele repousava. Através da infância, juventude e varonilidade, andou sozinho. Todavia era um céu estar-se em Sua presença. Dia a dia enfrentava provas e tentações; dia a dia era posto em contato com o mal, e testemunhava o poder do mesmo sobre aqueles a quem buscava abençoar e salvar. Não obstante, não vacilava nem ficava desanimado. CBV 17.1

Em todas as coisas, punha Seus desejos em estrita obediência à Sua missão. Glorificava Sua vida por torná-la em tudo submissa à vontade do Seu Pai. Na Sua juventude, Sua mãe O encontrou na escola dos rabis e disse: “Filho, por que fizeste assim para conosco?” (Lc 2:48). Ele respondeu (e Sua resposta é a nota tônica de Sua obra vitalícia): “Por que é que Me procuráveis? Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” (Lc 2:49). CBV 18.1

Sua vida foi de constante abnegação. Não possuía lar neste mundo, a não ser o que a bondade dos amigos Lhe preparava como peregrino. Ele veio viver em nosso favor a vida do mais pobre, e andar e trabalhar entre os necessitados e sofredores. Entrava e saía, não reconhecido nem honrado, diante do povo por quem tanto fizera. CBV 18.2

Era sempre paciente e bem-disposto, e os aflitos O saudavam como a um mensageiro de vida e paz. Via as necessidades de homens e mulheres, crianças e jovens, e a todos dirigia o convite: “Vinde a Mim” (Mt 11:28). CBV 18.3

Durante Seu ministério, Jesus dedicou mais tempo a curar os enfermos do que a pregar. Seus milagres testificavam da veracidade de Suas palavras, de que não veio a destruir, mas a salvar. Aonde quer que fosse, as novas de Sua misericórdia O precediam. Por onde havia passado, os que haviam sido alvo de Sua compaixão se regozijavam na saúde, e experimentavam as forças recém-adquiridas. Multidões ajuntavam-se em torno deles para ouvir de seus lábios as obras que o Senhor realizara. Sua voz havia sido o primeiro som ouvido por muitos, Seu nome o primeiro proferido, Seu rosto o primeiro que contemplaram. Por que não haveriam de amar a Jesus, e proclamar-Lhe o louvor? Ao passar por vilas e cidades, era como uma corrente vivificadora, difundindo vida e alegria. CBV 18.4

“A terra de Zebulom e a terra de Naftali,
Junto ao caminho do mar, além do Jordão,
A Galiléia das nações,
O povo que estava assentado em trevas
Viu uma grande luz;
E aos que estavam assentados na região e sombra da morte
A luz raiou”
CBV 19.1

(Mt 4:15, 16).

O Salvador tornava cada ato de cura uma ocasião para implantar princípios divinos na mente e na alma. Esse era o desígnio de Sua obra. Comunicava bênçãos terrestres, para que pudesse inclinar o coração dos homens ao recebimento do evangelho de Sua graça. CBV 19.2

Cristo poderia ter ocupado o mais elevado lugar entre os mestres da nação judaica, mas preferiu levar o evangelho aos pobres. Ia de lugar a lugar, para que os que se achavam nos caminhos e atalhos pudessem ouvir as palavras da verdade. Na praia, nas encostas das montanhas, nas ruas da cidade, CBV 19.3

“Eu, o Senhor, te chamei em justiça, e te tomarei pela mão, e te guardarei, e te darei por concerto do povo e para luz dos gentios; para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos e do cárcere, os que jazem em trevas. E guiarei os cegos por um caminho que nunca conheceram, fá-los-ei caminhar por veredas que não conheceram; tornarei as trevas em luz perante eles e as coisas tortas farei direitas” (Is 42:6, 7, 16). nas sinagogas, Sua voz se fazia ouvir explicando as Escrituras. Muitas vezes ensinava no pátio do templo, a fim de os gentios Lhe poderem ouvir as palavras.

Os ensinos de Cristo eram tão diferentes das explicações bíblicas feitas pelos escribas e fariseus que prendiam a atenção do povo. Os rabis apegavam-se à tradição, às teorias e especulações humanas. Muitas vezes, o que os homens haviam ensinado e escrito acerca das Escrituras era posto em lugar delas próprias. O tema dos ensinos de Cristo era a Palavra de Deus. Ele respondia aos inquiridores com um positivo “Está escrito” (Mt 4:4), “Que diz a Escritura?” (Rm 4:3), “Como lês?” (Lc 10:26). Em todas as oportunidades, despertando-se em um amigo ou adversário qualquer interesse, Ele apresentava a Palavra. Proclamava a mensagem evangélica de maneira clara e poderosa. Suas palavras derramavam abundante luz sobre os ensinos dos patriarcas e profetas, e as Escrituras chegavam aos homens como uma nova revelação. Nunca antes haviam Seus ouvintes percebido na Palavra de Deus tal profundeza de sentido. CBV 20.1

Jamais houve um evangelista como Cristo. Ele era a majestade do Céu, mas humilhou-Se para tomar nossa natureza, a fim de chegar até ao homem na condição em que se achava. A todos, ricos e pobres, livres e servos, Cristo, o Mensageiro do concerto, trouxe as boas-novas de salvação. Sua fama como o grande Operador de curas espalhou-se por toda a Palestina. Os enfermos iam para os lugares por onde Ele devia passar, a fim de poderem encontrar auxílio. Iam também muitas criaturas ansiosas de Lhe ouvir as palavras e receber o toque de Sua mão. Assim ia de cidade em cidade, de vila em vila, pregando o evangelho e curando os enfermos - o Rei da glória na humilde veste humana. CBV 21.1

Assistia às grandes festas anuais da nação, e falava das coisas celestes às multidões absortas nas cerimônias exteriores, trazendo a eternidade ao alcance de sua visão. Dos celeiros da sabedoria tirava tesouros para todos. Falava-lhes em linguagem tão simples que não podiam deixar de entender. Por métodos inteiramente Seus, ajudava a todos quantos se achavam em aflição e dor. Com graça e cortesia, ajudava a alma enferma de pecado, levando-lhe saúde e vigor. CBV 21.2

Príncipe dos mestres, buscava acesso ao povo por meio de suas mais familiares relações. Apresentava a verdade de maneira que daí em diante ela estaria sempre entretecida no espírito de Seus ouvintes com suas mais sagradas recordações e afetos. Ensinava-os de maneira que os fazia sentir quão perfeita era Sua identificação com os interesses e a felicidade deles. Suas instruções eram tão diretas, tão adequadas Suas ilustrações, Suas palavras tão cheias de simpatia e animação, que os ouvintes ficavam encantados. A simplicidade e sinceridade com que Se dirigia aos necessitados santificavam cada palavra. CBV 22.1

Que vida atarefada levou Ele! Dia a dia podia ser visto entrando nas humildes habitações da miséria e da dor, dirigindo palavras de esperança aos abatidos, e de paz aos aflitos. Cheio de graça, sensível e clemente, andava erguendo os desfalecidos e confortando os tristes. Aonde quer que fosse, levava bênçãos. CBV 23.1

Enquanto ajudava os pobres, Jesus estudava também os meios de atingir os ricos. Procurava travar relações com o rico e culto fariseu, o nobre judeu e a autoridade romana. Aceitava-lhes os convites, assistia a suas festas, tornava-Se familiar com os interesses e ocupações deles, CBV 23.2

“O Espírito do Senhor Jeová está sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-Me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; a ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê ornamento por cinza, óleo de gozo por tristeza, veste de louvor por espírito angustiado, a fim de que se chamem árvores de justiça, plantação do Senhor, para que Ele seja glorificado” (Is 61:1-3). a fim de obter acesso ao seu coração, e revelar-lhes as imperecíveis riquezas.

Cristo veio a este mundo para mostrar que, mediante o recebimento de poder do alto, o homem pode levar vida imaculada. Com incansável paciência e assistência compassiva, ia ao encontro dos homens nas suas necessidades. Pelo suave contato da graça, bania da alma o desassossego e a dúvida, transformando a inimizade em amor e a incredulidade em confiança. CBV 24.1

Podia dizer a quem Lhe aprouvesse: “Segue-Me”, e aquele a quem Se dirigia levantava-se e O seguia. Quebrava-se o encanto da fascinação do mundo. Ao som de Sua voz, fugia do coração o espírito de avidez e ambição, e os homens levantavam-se, libertos, para seguir o Salvador. CBV 24.2