A Ciência Do Bom Viver, A
Decepções e Perigos
Os que trabalham pelos caídos ficarão decepcionados com muitos que dão esperança de reforma. Muitos não farão senão uma superficial mudança em seus hábitos e maneiras de proceder. São movidos por impulso, e por algum tempo podem parecer reformados; mas não há verdadeira mudança de coração. Acariciam o mesmo amor-próprio, têm a mesma sede de prazeres vãos, o mesmo desejo de satisfação própria. Não têm conhecimento da obra da formação do caráter, e não se pode confiar neles como homens de princípios. Rebaixaram suas faculdades mentais e espirituais pela satisfação do apetite e da paixão, o que os enfraquece. São inconstantes e mutáveis. Seus impulsos tendem à sensualidade. Essas pessoas são muitas vezes uma fonte de perigo para outros. Sendo considerados como homens e mulheres reformados, confiam-se-lhes responsabilidades, e são colocados em posições em que sua influência corrompe os inocentes. CBV 177.2
Mesmo os que estão buscando sinceramente reformar-se não se acham livres do perigo de cair. Precisam ser tratados com grande sabedoria e ternura. A tendência de lisonjear e exaltar os que foram salvos das maiores profundidades provoca por vezes sua ruína. O costume de convidar homens e mulheres para relatar em público os incidentes de sua vida de pecado é cheio de perigos, tanto para o que fala como para os que escutam. Demorar o pensamento em cenas de mal é corruptor para a mente e a alma. E o destaque em que se colocam os que são assim salvos é-lhes prejudicial. Muitos são levados a pensar que sua vida pecaminosa lhes confere certa distinção. São animados o amor da notoriedade e o espírito de confiança em si mesmo, os quais se demonstram fatais à alma. Unicamente desconfiando de si mesmos e confiando na misericórdia de Cristo podem eles subsistir. CBV 178.1
Todos quantos dão provas de verdadeira conversão devem ser animados a trabalhar pelos outros. Que ninguém repila uma alma que deixa o serviço de Satanás pelo de Cristo. Quando uma pessoa dá demonstração de que o Espírito de Deus está lutando com ela, dai-lhe todo ânimo para entrar no serviço do Senhor. “E tende piedade de uns, usando de discernimento” (Jd 22, Trad. Trinitariana. Os que são sábios na sabedoria que vem de Deus verão almas necessitadas de auxílio, pessoas que se arrependeram sinceramente, mas que, sem animação, mal se atreveriam a firmar-se na esperança. O Senhor porá no coração de Seus servos receber com agrado essas criaturas trementes, arrependidas, para sua amorável convivência. Sejam quais forem seus pecados habituais, não importa quão baixo hajam elas caído, quando, em contrição se achegam a Cristo, Ele as recebe. Dai-lhes então alguma coisa a fazer para Ele. Se elas desejam trabalhar no reerguimento de outros do abismo da destruição de que elas próprias foram salvas, dai-lhes oportunidade. Ponde-as em contato com cristãos experientes, a fim de obterem vigor espiritual. Enchei-lhes o coração e as mãos de trabalho para o Mestre. CBV 178.2
Quando a luz resplandece na alma, alguns dos que pareciam mais entregues ao pecado se tornarão obreiros de êxito em favor de pecadores da mesma espécie que eles antes foram. Mediante a fé em Cristo, alguns se erguerão a elevadas posições de serviço, e ser-lhes-ão confiadas responsabilidades na obra de salvar almas. Eles vêem onde reside sua fraqueza, compreendem a depravação de sua natureza. Conhecem a força do pecado, e do mau hábito. Avaliam sua incapacidade para vencer sem o auxílio de Cristo, e seu constante clamor é: “Sobre Ti lanço minha desamparada alma.” CBV 179.1
Esses podem ajudar a outros. Aquele que tem sido tentado e provado, cuja esperança havia quase desaparecido, mas foi salvo ouvindo a mensagem de amor, é capaz de entender a ciência de salvar almas. Aquele cujo coração está cheio de amor para com Cristo, por haver sido, ele mesmo, procurado pelo Salvador e trazido de volta ao redil, sabe ir em busca dos perdidos. Pode encaminhar os pecadores ao Cordeiro de Deus. Entregou-se sem reservas a Deus, e foi aceito no Amado. Foi segurada a mão que, em fraqueza, se estendeu num pedido de socorro. Pelo ministério dessas pessoas, muitos pródigos serão levados ao Pai. CBV 179.2
Para toda alma em luta por se erguer de uma vida de pecado a uma de pureza, o grande elemento de poder reside no único nome “debaixo do céu”, “dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4:12)). “Se alguém tem sede” de tranqüilizadora esperança, de libertação de propensões pecaminosas, Cristo diz: “Venha a Mim e beba” (Jo 7:37). O único remédio para o vício é a graça e o poder de Cristo. CBV 179.3
As boas resoluções tomadas por alguém em suas próprias forças nada valem. Nem todos os votos do mundo quebrariam o poder do mau hábito. Homem algum nunca praticará a temperança em todas as coisas enquanto seu coração não estiver renovado pela graça divina. Não nos podemos guardar de pecar por um momento sequer. A cada instante dependemos de Deus. CBV 179.4
A verdadeira reforma começa com a purificação da alma. Nosso trabalho com os caídos só logrará real êxito à medida que a graça de Cristo remodelar o caráter, e a alma for posta em viva ligação com Deus. CBV 180.1
Cristo viveu uma vida de perfeita obediência à Lei de Deus, deixando nisto um exemplo perfeito a toda criatura humana. A vida que Ele viveu neste mundo, devemos nós viver, mediante Seu poder, e sob as Suas instruções. CBV 180.2
Em nossa obra pelos caídos, cumpre gravar na mente e no coração deles as exigências da Lei de Deus e a necessidade de lealdade para com Ele. CBV 180.3
Nunca deixeis de mostrar que existe assinalada diferença entre os que servem a Deus e os que O não servem. Deus é amor, mas não pode desculpar a voluntária desconsideração de Seus mandamentos. Os decretos de Seu governo são de tal ordem que o homem não escapa às conseqüências da deslealdade. Ele só pode honrar àqueles que O honram. A conduta do homem neste mundo decide seu eterno destino. Segundo houver semeado, assim ceifará. A causa será seguida do efeito. CBV 180.4
Nada menos que a perfeita obediência pode satisfazer ao ideal que Deus requer. Ele não deixou Sua vontade indefinida. Não ordenou coisa alguma que não seja necessária a fim de pôr o homem em harmonia com Ele. Devemos encaminhar os pecadores a Seu ideal de caráter, e conduzi-los a Cristo, por cuja graça, unicamente, pode esse ideal ser atingido. CBV 180.5
O Salvador tomou sobre Si as enfermidades humanas, e viveu uma vida sem pecado, a fim de os homens não terem nenhum temor de que, devido à fraqueza da natureza humana, eles não pudessem vencer. Cristo veio para nos tornar “participantes da natureza divina” (2Pe 1:4), e Sua vida declara que a humanidade, unida à divindade, não comete pecado. CBV 180.6
O Salvador venceu para mostrar ao homem como ele pode vencer. Todas as tentações de Satanás, Cristo enfrentava com a Palavra de Deus. Confiando nas promessas divinas, recebia poder para obedecer aos mandamentos de Deus, e o tentador não podia alcançar vantagem. A toda tentação, Sua resposta era: “Está escrito.” Assim Deus nos tem dado Sua Palavra para com ela resistirmos ao mal. Pertencem-nos grandíssimas e preciosas promessas, a fim de que por elas fiquemos “participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo” (2Pe 1:4). CBV 181.1
Dizei ao tentado que não olhe às circunstâncias, à fraqueza do próprio eu, ou ao poder da tentação, mas ao poder da Palavra de Deus. Toda a sua força nos pertence. “Escondi a Tua palavra no meu coração”, diz o salmista, “para eu não pecar contra Ti” (Sl 119:11). “Pela palavra dos Teus lábios me guardei das veredas do destruidor” (Sl 17:4). CBV 181.2
Falai ao povo de maneira a incutir ânimo; erguei-os a Deus em oração. Muitos dos que têm sido vencidos pela tentação são humilhados por seus fracassos, e sentem ser vão buscar aproximar-se de Deus; mas esse pensamento é sugestão do inimigo. Quando pecaram, e sentem que não podem orar, dizei-lhes que é então o momento de orar. Talvez se encontrem envergonhados, e profundamente humilhados; ao confessarem, CBV 181.3
“Posso todas as coisas nAquele que me fortalece. O meu Deus, segundo as Suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória por Cristo Jesus” (Fp 4:13, 19). porém os seus pecados, Aquele que é fiel e justo lhos perdoará, purificando-os de toda injustiça.
Coisa alguma é aparentemente mais desamparada, e na realidade mais invencível, do que a alma que sente o seu nada, e confia inteiramente nos méritos do Salvador. Pela oração, pelo estudo de Sua Palavra, pela fé em Sua constante presença, a mais fraca das criaturas humanas pode viver em contato com o Cristo vivo, e Ele a segurará com mão que nunca a soltará. CBV 182.1
Essas preciosas promessas toda pessoa que permanece em Cristo pode tornar suas. Ela pode dizer: CBV 182.2
“Eu, ... esperarei no Senhor;
Esperarei no Deus da minha salvação;
O meu Deus me ouvirá.
Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito;
Ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei;
Se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz.
Tornará a apiedar-Se de nós,
Subjugará as nossas iniqüidades
E lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.”
CBV 182.3
Mq 7:7, 8, 19.
Deus tem prometido: CBV 182.4
“Farei que um homem seja mais precioso do que o ouro puro
E mais raro do que o ouro fino de Ofir”
CBV 182.5
(Is 13:12).
“Ainda que vos deiteis entre redis,
Sereis como as asas de uma pomba, cobertas de prata,
Com as suas penas de ouro amarelo”
CBV 182.6
(Sl 68:13).
Aqueles a quem mais Cristo perdoou, mais O amarão. São estes os que, no dia final, mais perto se acharão de Seu trono. CBV 182.7
“E verão o Seu rosto, e na sua testa estará o Seu nome” (Ap 22:4). CBV 182.8