A Ciência Do Bom Viver, A
Capítulo 2 — Dias de Ministério
No lar do pescador, em Cafarnaum, a mãe da esposa de Pedro “estava enferma com muita febre; e rogaram-Lhe por ela” (Lc 4:38). Jesus “tocou-lhe na mão, e a febre a deixou; e levantou-se e serviu-os” [ao Salvador e a Seus discípulos]. Mt 8:15. CBV 28.1
A notícia se espalhou rapidamente. O milagre fora operado no sábado e, por medo dos rabis, o povo não ousava ir para ser curado antes do pôr-do-sol. Então, das casas, lojas e mercados, os habitantes da cidade dirigiram-se para a humilde habitação que abrigava Jesus. Os enfermos eram levados em padiolas, iam apoiados em bordões ou, amparados por amigos, cambaleavam debilmente até à presença do Salvador. CBV 28.2
Hora após hora, entravam e saíam; pois ninguém sabia se no dia seguinte ainda Se encontraria entre eles o Médico divino. Nunca antes testemunhara Cafarnaum um dia semelhante a esse. O ar estava cheio de vozes de triunfo e de exclamações de livramento. CBV 28.3
Enquanto o último sofredor não foi socorrido, Jesus não cessou Seu trabalho. Era tarde da noite quando a multidão partiu e se fez silêncio em casa de Simão. Findara o longo dia cheio de agitação, e Jesus buscou repouso. Mas, enquanto a cidade se achava imersa no sono, o Salvador “levantando-Se de manhã muito cedo, estando ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava” (Mc 1:35). CBV 28.4
De manhã cedo, Pedro e seus companheiros foram ao encontro de Jesus, dizendo que o povo de Cafarnaum já O estava procurando. Com surpresa, ouviram as palavras de Cristo: “Também é necessário que Eu anuncie a outras cidades o evangelho do reino de Deus, porque para isso fui enviado” (Lc 4:43). CBV 29.1
Na agitação de que Cafarnaum se achava então possuída, havia perigo que se perdesse de vista o objetivo de Sua missão. CBV 30.1
Jesus não Se satisfazia em atrair a atenção para Si mesmo unicamente como um operador de maravilhas, ou alguém que curasse as doenças do corpo. Queria atrair as pessoas a Si como seu Salvador. O povo estava ansioso de crer que Ele viera como rei para estabelecer um reino terrestre, mas Ele lhes desejava desviar a mente do terreno para o espiritual. Um êxito meramente mundano Lhe estorvaria a obra. CBV 30.2
E a admiração da descuidosa massa era chocante ao Seu espírito. Nenhum egoísmo tinha parte em Sua vida. A homenagem prestada pelo mundo à posição, à riqueza ou ao talento era coisa estranha ao Filho do homem. Jesus não Se servia de nenhum dos meios que os homens empregam para conseguir a lealdade ou atrair homenagem. Séculos antes de Seu nascimento, fora profetizado a Seu respeito: “Não clamará, não Se exaltará, nem fará ouvir a Sua voz CBV 30.3
“E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:14, 15). “E Eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim” (Jo 12:32). “Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, o não trouxer; e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:44). na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; em verdade, produzirá o juízo” (Is 42:2, 3).
Os fariseus procuravam distinção por meio de seu escrupuloso cerimonialismo, e pela ostentação de seu culto e suas caridades. Provavam o zelo que tinham pela religião tornando-a objeto de discussões. As disputas entre as seitas oponentes eram ruidosas e longas, e não raro se ouvia nas ruas o som de irritadas questões entre doutores da lei. CBV 31.1
Em notável contraste com tudo isso estava a vida de Jesus. Nessa vida não se via nunca ruidosa discussão, nem ostentoso culto, nem atos que visassem a aplausos. Cristo estava escondido em Deus, e Deus era revelado no caráter de Seu Filho. Era a essa revelação que Jesus desejava dirigir a mente do povo. CBV 31.2
O Sol da Justiça não irrompia sobre o mundo em esplendor, para deslumbrar os sentidos com Sua glória. Está escrito de Cristo: “Como a alva, será a Sua saída” (Os 6:3). Calma e suavemente rompe a luz matinal sobre a terra, dissipando as trevas e despertando o mundo para a vida. Assim surgiu o Sol da Justiça, trazendo salvação “debaixo das Suas asas”. Mal. 4:2. CBV 31.3
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. O amor... não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade” (1Co 13:1, 2, 4-6).
“Eis aqui o Meu Servo, a quem sustenho,
O Meu Eleito, em quem Se compraz a Minha alma”
CBV 32.1
(Is 42:1).
“Foste a fortaleza do pobre
E a fortaleza do necessitado na sua angústia;
Refúgio contra a tempestade e sombra contra o calor”
CBV 32.2
(Is 25:4).
“Assim diz Deus, o Senhor,
Que criou os céus, e os estendeu,
E formou a Terra e a tudo quanto produz,
Que dá a respiração ao povo que nela está
E o espírito, aos que andam nela.
Eu, o Senhor, Te chamei em justiça,
E Te tomarei pela mão,
E Te guardarei, e Te darei por concerto do povo
E para luz dos gentios;
Para abrir os olhos dos cegos,
Para tirar da prisão os presos
E do cárcere, os que jazem em trevas”
CBV 32.3
(Is 42:5-7).
“E guiarei os cegos por um caminho que nunca conheceram,
Fá-los-ei caminhar por veredas que não conheceram;
Tornarei as trevas em luz perante eles
E as coisas tortas farei direitas.
Essas coisas lhes farei e nunca os desampararei”
CBV 32.4
(Is 42:16).
“Cantai ao Senhor um cântico novo
E o Seu louvor, desde o fim da Terra,
Vós que navegais pelo mar e tudo quanto há nele;
Vós, ilhas e seus habitantes.
Alcem a voz o deserto e as suas cidades,
Com as aldeias que Quedar habita;
Exultem os que habitam nas rochas
E clamem do cume dos montes.
Dêem glória ao Senhor
E anunciem o Seu louvor nas ilhas”
CBV 32.5
(Is 42:10-12).
“Cantai alegres, vós, ó céus, porque o Senhor fez isso;
Exultai vós, as partes mais baixas da Terra;
Vós, montes, retumbai com júbilo;
Também vós, bosques e todas as árvores em vós;
Porque o Senhor remiu a Jacó
E glorificou-Se em Israel”
CBV 33.1
(Is 44:23).
Da prisão de Herodes, onde em decepção e perplexidade quanto à obra do Salvador, vigiava e esperava, João Batista enviou dois de seus discípulos a Jesus, com a mensagem: “És Tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?” (Mt 11:3). CBV 34.1
O Salvador não respondeu imediatamente à pergunta dos discípulos. Enquanto ali ficavam, maravilhados de Seu silêncio, os doentes iam chegando aos Seus pés. A voz do poderoso operador de curas penetrava nos ouvidos surdos. Uma palavra, um toque de Sua mão, abria os olhos cegos para a contemplação da luz do dia, das cenas da natureza, do rosto dos amigos e de seu Libertador. Sua voz chegava aos ouvidos do moribundo, e eles se erguiam com saúde e vigor. Paralisados possessos Lhe obedeciam à palavra, abandonava-os a loucura e Lhe rendiam culto. Os pobres camponeses e os trabalhadores, evitados pelos rabis como imundos, reuniam-se ao seu redor, e Ele lhes falava as palavras da vida eterna. CBV 34.2
Assim se passou o dia, os discípulos de João vendo e ouvindo tudo. Afinal, Jesus os chamou a Si, e pediu-lhes que fossem e dissessem a João o que tinham visto e ouvido, acrescentando: “Bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em Mim” (Mt 11:6). Os discípulos levaram a mensagem, e foi suficiente. CBV 35.1
João relembrou a profecia relativa ao Messias: “O Senhor Me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-Me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor... a consolar todos os tristes” (Is 61:1, 2). Jesus de Nazaré era o prometido. A prova de Sua divindade se revelava em Seu ministério às necessidades da sofredora humanidade. Sua glória se manifestava em Sua condescendência para com nosso estado decaído. CBV 35.2
“Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, tem o seu prazer na lei do Senhor, e na Sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem, e tudo quanto fizer prosperará” (Sl 1:1-3).
As obras de Cristo não somente atestavam ser Ele o Messias, como indicavam a maneira por que se havia de estabelecer Seu reino. Foi revelada a João a mesma verdade que se demonstrou a Elias no deserto, quando houve “um grande e forte vento, que fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e, depois do vento, um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; e, depois do terremoto, um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo”, Deus falou ao profeta numa “voz mansa e delicada” (1Rs 19:11, 12). Assim Jesus devia fazer Sua obra, não por meio da queda de tronos e reinos, não com pompa e exibição exterior, mas falando ao coração dos homens mediante uma vida de misericórdia e abnegação. CBV 36.1
O reino de Deus não vem com aparência exterior. Vem mediante a suavidade da inspiração de Sua Palavra, pela operação interior de Seu Espírito, a comunhão da alma com Ele que é sua vida. A maior manifestação de Seu poder se observa na natureza humana levada à perfeição do caráter de Cristo. CBV 36.2
Os seguidores de Cristo devem ser a luz do mundo; mas Deus não lhes manda fazer um esforço para brilhar. Ele não aprova nenhum esforço de satisfação própria para exibir uma bondade superior. Deseja que sua alma esteja imbuída dos princípios do Céu; então, ao se porem em contato com o mundo, revelarão a luz que neles está. Sua firme fidelidade, em todos os atos da vida, será um meio de iluminação. CBV 36.3
Riqueza ou elevada posição, caros equipamentos, arquitetura ou mobiliários, não são essenciais ao progresso da causa de Deus; tampouco o são as realizações que atraem o aplauso das pessoas e fomentam a vaidade. As exibições mundanas, conquanto imponentes, são de nenhum valor aos olhos de Deus. Acima do que é visível e temporal, aprecia Ele o invisível e eterno. O primeiro só tem valor na medida em que exprime o segundo. As mais belas produções de arte não possuem beleza que se possa comparar à beleza de caráter, que é o fruto da operação do Espírito Santo na alma. CBV 36.4
Quando Deus deu Seu Filho ao nosso mundo, dotou os seres humanos com riquezas imperecíveis - riquezas diante das quais as entesouradas fortunas dos homens desde o princípio do mundo nada são. Cristo veio à Terra e esteve perante os filhos dos homens com o acumulado amor da eternidade, e esse é o tesouro que, mediante nossa ligação com Ele, devemos receber, revelar e comunicar. CBV 37.1
O esforço humano na obra de Deus terá eficiência proporcional à consagrada devoção do obreiro - revelando o poder da graça de Cristo para transformar a vida. Devemos distinguir-nos do mundo porque Deus pôs Seu selo em nós, porque em nós manifesta Seu caráter de amor. Nosso Redentor nos cobre com Sua justiça. CBV 37.2
Ao escolher homens e mulheres para Seu serviço, Deus não indaga se eles possuem riquezas mundanas, saber ou eloqüência. Pergunta: “Andam eles em tanta humildade que lhes possa ensinar o Meu caminho? Posso pôr em seus lábios as Minhas palavras? Representar-Me-ão?” CBV 37.3
Deus pode usar cada pessoa exatamente na proporção em que pode introduzir-lhe Seu Espírito no templo da alma. O trabalho que Ele aceita é aquele que Lhe reflete a imagem. Seus seguidores devem levar, como credenciais perante o mundo, as indeléveis características de Seus princípios imortais. CBV 37.4