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Seção 3 — Reavivamento e reforma

Capítulo 16 — Apelo a um reavivamento

A grande necessidade da igreja

Um reavivamento da verdadeira piedade entre nós, eis a maior e a mais urgente de todas as nossas necessidades. Buscá-lo, deve ser nossa primeira ocupação. Importa haver diligente esforço para obter a bênção do Senhor, não porque Deus não esteja disposto a outorgá-la, mas porque nos encontramos carecidos de preparo para recebê-la. Nosso Pai celeste está mais disposto a dar Seu Espírito Santo àqueles que Lho peçam, do que pais terrenos o estão a dar boas dádivas a seus filhos. Cumpre-nos, porém, mediante confissão, humilhação, arrependimento e fervorosa oração, cumprir as condições estipuladas por Deus em Sua promessa para conceder-nos Sua bênção. Só podemos esperar um reavivamento em resposta à oração. Enquanto o povo se acha tão destituído do Espírito Santo de Deus, não pode apreciar a pregação da Palavra; mas quando o poder do Espírito lhes toca o coração, então os sermões não ficarão sem efeito. Guiados pelos ensinos da Palavra de Deus, com a manifestação de Seu Espírito, no exercício de sã discrição, os que assistem a nossas reuniões adquirirão preciosa experiência e, voltando ao lar, acham-se preparados para exercer saudável influência. ME1 121.1

Os antigos porta-bandeiras sabiam o que significava lutar com Deus em oração, e fruir o derramamento de Seu Espírito. Estes, porém, estão se retirando do cenário; e quem está surgindo para preencher-lhes o lugar? Como é com a geração que surge? Estão eles convertidos a Deus? Estamos nós alerta quanto à obra que se está desenvolvendo no santuário celeste, ou estamos à espera de algum poder impelente que venha sobre a igreja antes de despertarmos? Temos esperança de ver toda a igreja reavivada? Tal tempo nunca há de vir. ME1 122.1

Há na igreja pessoas não convertidas, e que não se unirão em fervorosa, prevalecente oração. Precisamos entrar na obra individualmente. Precisamos orar mais, e falar menos. Abundante é a iniqüidade, e o povo deve ser ensinado a não se satisfazer com uma forma de piedade sem o espírito e o poder. Se intentarmos esquadrinhar o próprio coração, afastando nossos pecados, corrigindo nossas más tendências, nossa alma não se inchará em vaidade; desconfiaremos de nós mesmos, possuindo permanente senso de que nossa suficiência é de Deus. ME1 122.2

Temos muito mais a temer de dentro do que de fora. Os obstáculos à força e ao êxito são muito maiores da parte da própria igreja do que do mundo. Os incrédulos têm direito de esperar que os que professam observar os mandamentos de Deus e ter a fé de Jesus, façam muito mais que qualquer outra classe para promover e honrar mediante sua vida coerente, seu exemplo piedoso, sua influência ativa, a causa que representam. Mas quantas vezes se têm os professos defensores da verdade demonstrado o maior entrave ao seu progresso! A incredulidade com que se contemporiza, as dúvidas expressas, as sombras acariciadas, animam a presença dos anjos maus, e abrem o caminho para a execução dos ardis de Satanás. ME1 122.3

Abrindo a porta ao adversário

O adversário das almas não tem permissão de ler os pensamentos dos homens; é, porém, perspicaz observador, e nota as palavras; registra-as e adapta habilmente suas tentações de modo a se ajustarem ao caso dos que se colocam em seu poder. Caso trabalhássemos para reprimir os pensamentos e sentimentos pecaminosos não lhes dando expressão em palavras ou ações, Satanás seria derrotado; pois ele não poderia preparar suas especiosas tentações para adaptar ao caso. ME1 122.4

Mas quantas vezes, por sua falta de domínio próprio, professos cristãos abrem a porta ao adversário das almas! Divisões, e até amargas dissensões que infelicitariam qualquer comunidade mundana, são comuns nas igrejas, porque há tão pouco esforço para controlar os sentimentos errôneos, e reprimir toda palavra de que Satanás se possa aproveitar. Assim que surge uma separação de sentimentos, a questão é exposta diante de Satanás para sua inspeção, sendo-lhe oferecida oportunidade de usar sua sabedoria e habilidade de serpente para dividir e destruir a igreja. Grande prejuízo há em toda dissensão. Os amigos pessoais de ambos os lados, tomam partido ao lado de seus respectivos amigos, e assim abre-se mais a brecha. Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. Engendram-se e multiplicam-se incriminações e recriminações. Satanás e seus anjos operam ativamente para obter uma colheita da semente assim semeada. ME1 123.1

Os mundanos contemplam isto, e exclamam zombeteiramente: “Como esses cristãos se aborrecem uns aos outros! Se isto é religião, não a queremos!” E olham a si mesmos e a seu caráter irreligioso com grande satisfação. Assim são confirmados na impenitência, e Satanás exulta ante seu êxito. ME1 123.2

O grande enganador tem preparado seus ardis para toda alma não protegida para a provação nem guardada por oração constante e uma fé viva. Como pastores, como cristãos, cumpre-nos trabalhar para remover do caminho todas as pedras de tropeço. Temos de remover todos os obstáculos. Confessemos e abandonemos todo pecado, para que o caminho do Senhor seja preparado, para que Ele venha a nossas reuniões e comunique Sua preciosa graça. O mundo, a carne e o diabo precisam ser vencidos. ME1 123.3

Não podemos preparar o caminho conquistando a amizade do mundo, que é inimizade contra Deus; com Seu auxílio, porém, podemos romper com sua sedutora influência sobre nós mesmos e os outros. Não podemos, como indivíduos ou como corporação garantir-nos das constantes tentações de um implacável e resoluto inimigo; mas, no poder de Jesus, podemos resistir-lhes. ME1 123.4

De todo membro da igreja pode irradiar firme luz para o mundo, de modo que eles não sejam levados a indagar: Que faz esse povo mais que os outros? Pode e deve haver uma retração da conformidade com o mundo, um recuo de toda aparência do mal, de maneira que não seja dada nenhuma ocasião aos contraditores. Não podemos escapar ao vitupério; ele virá; devemos, porém, ser muito cautelosos para não sermos acusados por nossos próprios pecados ou loucuras, mas por amor de Cristo. ME1 124.1

Não há coisa alguma que Satanás tema tanto como que o povo de Deus desimpeça o caminho mediante a remoção de todo impedimento, de modo que o Senhor possa derramar Seu Espírito sobre uma enfraquecida igreja e uma congregação impenitente. Se Satanás pudesse fazer o que ele queria, nunca haveria outro despertamento, grande ou pequeno, até ao fim do tempo. Não somos, porém, ignorantes de seus ardis. É possível resistir-lhe ao poder. Quando o caminho estiver preparado para o Espírito de Deus, a bênção virá. Satanás não pode impedir uma chuva de bênção de cair sobre o povo de Deus, mais do que fechar as janelas do Céu para que a chuva não caia sobre a Terra. Homens ímpios e demônios não podem impedir a obra de Deus ou excluir Sua presença das reuniões de Seu povo, caso eles, de coração rendido e contrito, confessem e afastem de si os seus pecados, reclamando com fé Suas promessas. Toda tentação, toda influência contrária seja ela franca ou oculta, será resistida com êxito, “não por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos exércitos”. Zacarias 4:6. ME1 124.2

Estamos no dia de expiação

Achamo-nos no grande dia de expiação, quando nossos pecados devem, pela confissão e o arrependimento, ir de antemão ao juízo. Deus não aceita agora um testemunho frouxo, sem vigor da parte de Seus ministros. Tal testemunho não seria verdade presente. A mensagem para estes dias precisa ser alimento a seu tempo para nutrir a igreja de Deus. Mas Satanás tem procurado gradualmente roubar o poder desta mensagem, para que o povo não esteja preparado para subsistir no dia do Senhor. ME1 124.3

Em 1844 nosso grande Sumo Sacerdote entrou no lugar santíssimo do santuário celeste, para iniciar a obra do juízo investigativo. Os casos dos justos mortos têm estado a passar em revista diante de Deus. Quando esta obra se completar, o juízo deve ser pronunciado sobre os vivos. Quão preciosos, quão importantes são estes solenes momentos! Cada um de nós tem um caso impendente no tribunal celeste. Temos, individualmente, de ser julgados pelos atos praticados no corpo. No serviço simbólico, quando era efetuada a obra da expiação pelo sumo sacerdote no lugar santíssimo do santuário terrestre, requeria-se do povo que afligisse sua alma diante de Deus, e confessasse seus pecados, para que fossem expiados e apagados. Será exigido menos de nós neste dia antitípico de expiação, quando Cristo está intercedendo por Seu povo no santuário celeste, e deverá ser proferida a decisão final, irrevogável sobre cada caso? ME1 125.1

Qual é nosso estado neste terrível e solene tempo? Ai, que orgulho prevalece na igreja, que hipocrisia, que engano, que amor ao vestuário, à frivolidade e ao divertimento, que desejo de supremacia! Todos esses pecados têm obscurecido a mente, de modo que as coisas eternas não têm sido discernidas. Não pesquisaremos as Escrituras, para sabermos onde nos encontramos na história deste mundo? Não nos tornaremos esclarecidos quanto à obra que se está efetuando por nós neste tempo, e a atitude que nós como pecadores devemos ter enquanto esta obra de expiação está em andamento? Se temos qualquer consideração pela salvação de nossa alma, precisamos fazer decidida mudança. Precisamos buscar ao Senhor com genuíno arrependimento; importa que, com profunda contrição de alma, confessemos nossos pecados, para que sejam apagados. ME1 125.2

É preciso não ficarmos por mais tempo no terreno encantado. Aproximamo-nos rapidamente do fim do nosso tempo de graça. Indague cada alma: Como estou eu perante Deus? Não sabemos quão breve nosso nome pode ser tomado nos lábios de Cristo, e nosso caso ser finalmente decidido. Quais, oh! quais serão essas decisões! Seremos nós contados entre os justos, ou numerados entre os ímpios? ME1 125.3

A igreja desperta e arrependida

Levante-se a igreja e arrependa-se de suas prevaricações diante de Deus. Levantem-se os vigias, e dêem à trombeta sonido certo. É uma advertência definida que temos de proclamar. Deus ordena a Seus servos: “Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados.” Isaías 58:1. A atenção do povo precisa ser atraída; a menos que se possa fazer isto, todos os esforços serão nulos; ainda que viesse um anjo do Céu e lhes falasse, suas palavras não operariam mais benefício do que se ele estivesse falando ao frio ouvido de um morto. ME1 126.1

A igreja precisa despertar para a ação. O Espírito de Deus nunca poderá vir enquanto ela não preparar o caminho. Deve haver diligente exame de coração. Deve haver oração unida e perseverante, e o reclamar, pela fé, as promessas de Deus. Deve haver, não o cobrir o corpo de saco, à semelhança da antiguidade, mas profunda humilhação de alma. Não temos a mínima razão para congratulação e exaltação própria. Devemos humilhar-nos sob a potente mão de Deus. Ele aparecerá para confortar e dar bênçãos aos que deveras buscam. ME1 126.2

A obra está diante de nós; empenhar-nos-emos nela? Precisamos trabalhar depressa, precisamos avançar constantemente. Temos de preparar-nos para o grande dia do Senhor. Não temos tempo a perder, tempo para empenhar-nos em desígnios egoístas. O mundo deve ser advertido. Que estamos fazendo, como indivíduos, para levar a luz a outros? Deus deixou a cada homem sua obra; cada um tem sua parte a desempenhar, e não podemos negligenciar essa obra senão com risco para nossa alma. ME1 126.3

Ó meus irmãos, entristecereis o Espírito Santo, e dareis lugar a que Ele Se afaste? Deixareis fora o bendito Salvador, por não estardes preparados para Sua presença? Deixareis almas perecer sem o conhecimento da verdade, porque amais demasiado vossa comodidade para levardes o fardo que Jesus carregou por vós? Despertemos do sono. “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar.” 1 Pedro 5:8. — The Review and Herald, 22 de Março de 1887. ME1 126.4