O Outro Poder

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Capítulo 9 — Atitude para com as autoridades civis

Não fazer nenhum ataque — Alguns irmãos têm escrito e dito muitas coisas que são interpretadas como contrárias ao governo e à lei. Está errado expor-nos dessa maneira a um mal-entendido geral. Não é procedimento sábio criticar continuamente os atos dos governantes. Não nos compete atacar indivíduos nem instituições. Devemos exercer grande cuidado para não sermos tomados por oponentes das autoridades civis. É certo que a nossa luta é intensiva, mas as nossas armas estão contidas num simples “Assim diz o Senhor”. Nossa ocupação consiste em preparar um povo para estar de pé no grande dia de Deus. Não devemos nos desviar para procedimentos que causem polêmica ou suscitem oposição nos que não são da nossa fé. OP 45.1

Não devemos agir de maneira tal que sejamos tidos como adeptos da traição. Devemos descartar dos nossos escritos e palestras toda expressão que, tomada isoladamente, poderia ser mal-interpretada e tida por contrária à lei e à ordem. Tudo deve ser cuidadosamente pesado para não passarmos por fomentadores de deslealdade à nossa pátria e às suas leis. Não é exigido de nós que desafiemos as autoridades. Virá o tempo em que, por defendermos a verdade bíblica, seremos considerados traidores; mas não apressemos esse momento por meio de procedimento imprudente que desperte animosidade e luta. OP 45.2

Condenados pelas próprias palavras — Tempo virá em que expressões descuidadas de caráter denunciante, displicentemente proferidas ou escritas por nossos irmãos, serão usadas por nossos inimigos para nos condenar. Não serão usadas simplesmente para condenar os que as proferiram, mas atribuídas a toda a comunidade adventista. Nossos acusadores dirão que em tal e tal dia um dos nossos homens responsáveis falou assim e assim contra a administração das leis do governo. Muitos ficarão admirados ao ver quantas coisas foram conservadas e lembradas, as quais servirão de prova para os argumentos dos adversários. Muitos se surpreenderão de como foi atribuído às suas palavras um significado diferente do que era a sua intenção. Sejam nossos obreiros cuidadosos no falar, em todo tempo e sob quaisquer circunstâncias. Estejam todos precavidos para que, por meio de expressões imprudentes, não tragam sobre si um tempo de angústia antes da grande crise que provará os seres humanos. OP 45.3

Recriminações às autoridades e governantes — Quanto menos recriminações diretas fizermos às autoridades e governantes, melhor trabalho seremos capazes de realizar, tanto nos Estados Unidos como em países estrangeiros. As nações estrangeiras seguirão o seu exemplo. Embora ela seja a líder, a mesma crise atingirá todo o nosso povo em toda parte do mundo. OP 46.1

Nossa ocupação é engrandecer e exaltar a lei de Deus. A verdade da santa Palavra de Deus deve ser divulgada. Devemos apresentar as Escrituras como norma de vida. Com toda a modéstia, no espírito da graça, no amor de Deus, devemos apontar aos homens que o Senhor Deus é o Criador dos céus e da Terra, e que o sétimo dia é o sábado do Senhor. OP 46.2

Em nome do Senhor devemos avançar, desfraldando o Seu estandarte, defendendo a Sua Palavra. Quando as autoridades nos ordenarem que não façamos esse trabalho; quando nos proibirem de proclamar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, então será preciso que digamos, como o fizeram os apóstolos: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido”. Atos 4:19, 20. OP 46.3

A verdade deve ser proclamada com o poder do Espírito Santo. Somente isso pode tornar eficazes as palavras. Unicamente através do poder do Espírito a vitória pode ser alcançada e mantida. O agente humano precisa ser influenciado pelo Espírito de Deus. Por meio da fé na salvação, os obreiros devem ser guardados pelo poder de Deus. Eles devem ter visão divina, para que não seja proferida coisa alguma que incite os homens a nos barrar o caminho. Pela assimilação da verdade espiritual, devemos preparar um povo para, com mansidão e temor, expor a razão da sua fé perante as mais altas autoridades de nosso mundo. OP 46.4

Devemos apresentar a verdade em sua simplicidade, pregar em favor da piedade prática; e fazê-lo no espírito de Cristo. A manifestação de semelhante espírito exercerá sobre nossa própria vida, a melhor das influências e, sobre outros, um poder convincente. Basta dar ao Senhor a oportunidade de atuar por meio de Seus agentes. Nem dá para imaginar o que será possível realizar no futuro, caso façamos com que todos reconheçam que, em todo o tempo e sob quaisquer circunstâncias, Deus está ao leme. Ele agirá por meios adequados, Ele guardará, aumentará e fortalecerá o Seu povo. OP 46.5

Não apressar os tempos tempestuosos — Os agentes de Deus devem ter zelo santificado, que esteja inteiramente sob o Seu domínio. Tempos tempestuosos nos sobrevirão de forma inesperada, e não devemos agir espontaneamente para apressá-los. Sobrevirão tribulações de espécie tal que encaminharão para Deus todos os que desejam ser Seus, e somente Seus. Sem que sejamos provados na fornalha da provação, não nos conhecemos, e não se justifica que julguemos o caráter de outros nem condenemos os que ainda não receberam a luz da mensagem do terceiro anjo. OP 47.1

Se quisermos que os homens sejam convencidos de que a verdade que cremos santifica a alma e transforma o caráter, não estejamos continuamente lançando veementes acusações sobre eles. Se o fizermos, vamos obrigá-los a deduzir que a doutrina que professamos não pode ser cristã, pois não nos torna bondosos, corteses e respeitosos. O cristianismo não se exterioriza em acusações violentas e condenação. OP 47.2

Muitos dentre o nosso povo estão em perigo de tentar exercer domínio sobre outros, e pressão sobre os seus colegas. Existe o perigo de aqueles a quem são confiadas responsabilidades só reconhecerem um poder — o da vontade não santificada. Alguns têm exercido esse poder de maneira inescrupulosa, e causado grande abatimento naqueles a quem o Senhor está usando. Uma das maiores maldições do mundo (vista por toda parte, na igreja e na sociedade) é o desejo de supremacia. Os homens se tornam ansiosos por acumular poder e popularidade. Para nossa desolação e vergonha, esse espírito tem se manifestado nas fileiras dos observadores do sábado. Mas o êxito espiritual advém somente aos que aprenderam a mansidão e a humildade, na escola de Cristo. OP 47.3

Devemos lembrar que o mundo nos julgará pelo que aparentamos ser. Que os que buscam representar a Cristo exerçam o cuidado de não exibir traços incoerentes de caráter. Antes de assumirmos um lugar definido na linha de frente, certifiquemo-nos de que o Espírito Santo nos tenha sido outorgado lá dos altos Céus. Quando isso acontecer, pregaremos uma mensagem definida, que será, porém, de espécie muito menos condenatória do que a de alguns; e os que crerem terão muito mais interesse na salvação de nossos oponentes. Deixemos inteiramente com Deus o assunto de condenar as autoridades e governos. Com humildade e amor, defendamos, como sentinelas fiéis, os princípios da verdade tal como é em Jesus. [...] OP 47.4

Apresentação da verdade com espírito bondoso — A verdade deve ser apresentada com tato divino, gentileza e brandura. Deve provir de um coração enternecido e que tenha simpatia. Necessitamos de íntima comunhão com Deus, do contrário o eu se erguerá, como ocorreu com Jeú, e logo proferiremos uma torrente de palavras inadequadas, que não serão como o orvalho, ou como os suaves chuveiros que fazem reviver as plantas ressequidas. Sejam nossas palavras delicadas ao procurarmos conquistar almas. Deus será sabedoria para aquele que busca sabedoria de uma fonte divina. [...] OP 47.5

Atitude em relação a oponentes — O plano de Deus deve chegar primeiro ao coração. Falemos a verdade, e deixemos que Ele leve avante o poder e o princípio reformadores. Não façamos alusão ao que dizem os oponentes, mas deixemos que só a verdade seja promovida. A verdade pode penetrar até a medula. Desdobremos claramente a Palavra em toda a sua impressiva natureza. — Testemunhos para a Igreja 6:394-397, 400 (1900). OP 48.1