Testemunhos para a Igreja 4

16/94

Capítulo 11 — Interesse dividido

Prezados irmãos M:

Na visão que me foi dada em Janeiro passado, me foram mostradas algumas coisas com referência a ambos. Foi-me mostrado que não estão crescendo em espiritualidade como é seu dever e privilégio fazer. A grandeza da obra e as providências que se abrem da parte de Deus devem lhes impressionar o coração. Cristo designou que Seus filhos crentes sejam a luz do mundo, o sal da terra. A vida santa, o exemplo cristão, de um bom homem numa comunidade lança uma luz que é refletida sobre outros. Quão grande, pois, deveria ser a influência de um grupo de crentes, todos andando em harmonia com os mandamentos de Deus. T4 118.2

A pregação da Palavra é ordenada por Deus para despertar e convencer pecadores. E quando o pregador vivo exemplifica na própria vida a abnegação e sacrifícios de Cristo, quando a sua conversação e atos estão em harmonia como o divino Modelo, então sua influência será poderosa sobre aqueles que lhe ouvem a voz. Mas todos não podem ser mestres da palavra no púlpito. Os deveres de diferentes pessoas variam e há obra para todos fazerem. Todos podem ajudar a causa, dando dedicadamente de seus recursos para ajudar os vários ramos do trabalho, fornecendo recursos para a publicação de folhetos e periódicos a fim de serem espalhados entre o povo e disseminarem a verdade. Os que dão dinheiro para promover a causa estão assumindo uma parte da responsabilidade do trabalho; eles são coobreiros com Cristo, pois Deus lhes concedeu recursos em custódia para serem usados para propósitos santos e sábios. Eles são os agentes que o Céu tem ordenado para fazer o bem, e as pessoas devem entregar esses talentos aos banqueiros. T4 118.3

Queridos irmãos, sempre tenham em mente que vocês são mordomos de Deus e que Ele os tem por responsáveis pelos talentos temporais que lhes emprestou para empregarem sabiamente para a Sua glória. Não examinarão criteriosamente o coração e investigarão os motivos que os levam à ação? Foi-me mostrado que o seu perigo está em amar os seus bens. Seus ouvidos não estão prontos para ouvir o chamado do Mestre na pessoa de Seus santos e nas necessidades de Sua causa. Vocês não investem o seu tesouro alegremente no empreendimento do cristianismo. Se desejam um tesouro no Céu, devem garanti-lo enquanto têm oportunidade. Se vocês se sentem mais seguros em aplicar os seus recursos em maior acúmulo de riquezas terrestres e em investir limitadamente na causa de Deus, então devem sentir-se satisfeitos em receber o tesouro celestial de acordo com o seu investimento em ações celestiais. T4 119.1

Vocês desejam ver a causa de Deus prosperar; contudo, empenham pouco esforço pessoal para tal fim. Se vocês e outros que professam nossa fé santificada pudessem ver a sua verdadeira posição e perceber a responsabilidade que têm diante de Deus, se tornariam colaboradores mais zelosos com Jesus. “Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento.” Lucas 10:27. Não pode haver interesse dividido nisso, pois o coração, alma e forças compreendem o ser inteiro. T4 119.2

Declara o apóstolo: “Não sois de vós mesmos... fostes comprados por bom preço.” 1 Coríntios 6:19, 20. Quando o pobre e condenado pecador jazia sob a maldição da lei do Pai, Jesus tanto o amou que deu a Si mesmo pelo transgressor. Ele o redimiu pelos méritos do Seu sangue. Não podemos avaliar o precioso resgate pago pela redenção do homem caído. O melhor do coração e as mais santas afeições devem ser dadas em retribuição a um amor tão maravilhoso. Os dons temporais que desfrutam lhes são meramente emprestados para ajudá-los no avanço do reino de Deus. T4 119.3

Falo do sistema do dízimo; contudo, como me parece mesquinho à mente! Quão pequeno o preço! Como é vão o esforço de medir com regras matemáticas o tempo, dinheiro e amor em face de um amor e sacrifício incomensuráveis e que não se podem avaliar. Dízimos para Cristo! Oh, mesquinha esmola, vergonhosa recompensa daquilo que tanto custou. Da cruz do Calvário, Cristo pede uma entrega incondicional. Ele prometeu ao jovem príncipe que se ele vendesse tudo que tinha e desse aos pobres, tomasse a sua cruz e O seguisse, obteria um tesouro no Céu. Tudo quanto possuímos deve ser consagrado a Deus. A Majestade do Céu veio ao mundo para morrer em sacrifício pelos pecados do homem. E quão frio e egoísta é o coração humano, que pode rejeitar tão incomparável amor e aplicar-se às coisas vãs deste mundo. T4 119.4

Quando o egoísmo estiver lutando pela vitória sobre vocês, tenham em mente Aquele que deixou as cortes gloriosas do Céu, e pôs de lado as vestes da realeza em seu favor, tornando-Se pobre para que mediante a Sua pobreza vocês se tornassem ricos. Desconsiderarão, pois, esse grande amor e misericórdia ilimitados, recusando enfrentar inconveniências e negar a si mesmos por Sua querida causa? Apegar-se-ão aos tesouros desta vida e negligenciarão ajudar a levar adiante a grande obra da verdade? T4 120.1

Ordenou-se outrora aos filhos de Israel que toda a congregação trouxesse uma oferta, a fim de purificá-la da contaminação cerimonial. Esse sacrifício era uma novilha vermelha e representava o perfeito sacrifício que deveria remir da poluição do pecado. Era esse um sacrifício ocasional para purificação de todos os que, por necessidade ou acidentalmente, haviam tocado em cadáver. Todos os que entravam em contato com a morte eram de qualquer modo considerados cerimonialmente impuros. Destinava-se isso a impressionar profundamente a mente dos hebreus com o fato de que a morte veio em conseqüência do pecado, sendo, portanto, representação do pecado. Uma novilha, uma arca e uma serpente ardente apontam com insistência para uma grande oferta — o sacrifício de Cristo. T4 120.2

Essa novilha devia ser vermelha, o que era símbolo de sangue. Tinha de ser sem mancha nem defeito e nunca ter estado sob jugo. Cristo novamente é aqui representado. O Filho de Deus veio voluntariamente para realizar a obra da expiação. Não havia sobre Ele jugo obrigatório; pois era independente e acima de toda a lei. Os anjos, como inteligentes mensageiros divinos, achavam-se sob o jugo da obrigação; nenhum sacrifício pessoal deles poderia expiar a culpa do homem caído. Somente Cristo estava livre dos reclamos da lei para empreender a redenção da raça pecadora. Tinha Ele poder para depor a vida e para retomá-la. “Pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus.” Filipenses 2:6. T4 120.3

No entanto, esse Ser glorioso amou o pobre pecador e tomou sobre Si a forma de servo para que pudesse sofrer e morrer em lugar do homem. Jesus poderia ter ficado à destra do Pai, usando a coroa e as vestes reais. Mas preferiu trocar as riquezas, honra e glória do Céu pela pobreza da humanidade, e Sua posição de alto comando pelos horrores do Getsêmani e a humilhação e agonia do Calvário. Tornou-Se um Varão de dores e experimentado nos trabalhos, a fim de que por Seu batismo no sofrimento e sangue pudesse purificar e redimir um mundo culpado. “Eis aqui venho”, foi o prazenteiro assentimento, para “fazer a Tua vontade, ó Deus Meu.” Salmos 40:7, 8. T4 121.1

A novilha sacrifical era conduzida para fora do arraial e morta da maneira mais impressionante. Assim Cristo sofreu fora das portas de Jerusalém, pois o Calvário se achava fora dos muros da cidade. Isto se destinava a mostrar que Cristo não morreu pelos hebreus somente, mas por toda a humanidade. Ele proclama ao mundo caído que veio a fim de ser seu Redentor, e insta com os homens a que aceitem a salvação que lhes oferece. Morta a novilha do modo mais solene, o sacerdote, trajando vestes puramente brancas, tomava nas mãos o sangue quando jorrava do corpo da vítima, e lançava-o em direção do templo sete vezes. “E tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa.” Hebreus 10:21, 22. T4 121.2

O corpo da novilha era queimado e reduzido a cinzas, o que significava um sacrifício amplo e completo. As cinzas eram então reunidas por pessoa não contaminada pelo contato com morto, e colocadas num vaso que continha água provinda de uma corrente. Essa pessoa limpa e pura tomava então uma vara de cedro com estofo carmesim e um ramo de hissopo, e aspergia o conteúdo do vaso sobre a tenda e sobre o povo reunido. Esta cerimônia era repetida várias vezes, a fim de ser completa, e fazia-se como purificação do pecado. T4 121.3

Assim Cristo, em Sua própria justiça imaculada, depois de derramar Seu sangue precioso, penetra no lugar santo para purificar o santuário. E ali a corrente carmesim é empregada no serviço de reconciliar Deus com o homem. Poderá haver quem considere esse sacrificar da novilha como cerimônia destituída de significado; mas era celebrada por ordem de Deus, e tem profundo significado, que não perdeu sua aplicação ao tempo presente. T4 122.1

O sacerdote usava cedro e hissopo, mergulhando-os na água purificadora e aspergindo o imundo. Isto simbolizava o sangue de Cristo derramado para nos purificar das impurezas morais. A aspersão repetida ilustra o caráter completo da obra que tinha de ser realizada em favor do pecador arrependido. Tudo que ele possui tem de ser consagrado. Não só deve sua própria alma ser lavada de modo a ficar limpa e pura, mas deve ele empenhar-se em que a família, a administração doméstica, a propriedade e todos os seus pertences — tudo seja consagrado a Deus. T4 122.2

Depois que a tenda fora aspergida com hissopo, acima da porta dos purificados era escrito: Não sou meu; Senhor, sou Teu. Assim deve ser com os que professam ser purificados pelo sangue de Cristo. Deus não é menos estrito hoje do que era nos tempos antigos. O salmista, em sua oração, refere-se a essa cerimônia simbólica quando diz: “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.” “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto.” “Torna a dar-me a alegria da Tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário.” Salmos 51:7, 10, 12. T4 122.3

O sangue de Cristo é eficaz, mas precisa ser aplicado continuamente. Deus não só quer que Seus servos usem os recursos que lhes confiou para Sua glória, mas deseja que consagrem a si mesmos à Sua causa. Se vocês, meus irmãos, se tornam egoístas e estão retendo do Senhor aquilo que devem alegremente dar ao Seu serviço, necessitam então de que se lhes aplique completamente o sangue da aspersão,consagrando-os a Deus com todas as suas posses. T4 122.4

Meus mui respeitados irmãos, vocês não têm aquela devoção altruísta pelo trabalho de Deus como Ele lhes requer. Dedicaram sua atenção a questões temporais. Treinaram a mente para os negócios a fim de com isso serem beneficiados. Todavia, Deus os chama para mais íntima comunhão com Ele, a fim de que possa moldá-los e prepará-los para o Seu trabalho. Uma solene declaração foi feita ao antigo Israel de que o homem que permanecesse impuro e recusasse purificar-se, devia ser eliminado da congregação. Isto tem um significado especial para nós. Se naquele tempo era necessário que o impuro se purificasse pelo sangue da aspersão, quão imprescindível é para os que vivem nos perigos dos últimos dias, expostos às tentações de Satanás, terem diariamente o sangue de Cristo aplicado ao seu coração! “Porque, se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha, esparzida sobre os imundos, os santificam, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” Hebreus 9:13, 14. T4 123.1

Ambos devem realizar muito mais do que têm feito em assumir as responsabilidades da obra do Senhor. Admoesto-os a despertarem de sua letargia, deixar a vã idolatria das coisas mundanas, e zelosamente assegurarem um título da herança imortal. Trabalhem enquanto é dia. Não ponham em perigo sua alma, deixando escapar oportunidades presentes. Não atribuam importância secundária a seus interesses eternos. Não coloquem o mundo à frente da religião, empenhando-se dia após dia em adquirir suas riquezas, enquanto o perigo da bancarrota eterna os ameaça. Cada dia os está levando para mais perto da final prestação de contas. Estejam prontos para entregar os talentos que lhes foram dados por empréstimo, com o aumento obtido por seu sábio emprego. T4 123.2

Vocês não podem aceitar sacrificar o Céu, ou pôr em risco a sua segurança. Não permitam que a sedução das riquezas os levem a negligenciar o tesouro imortal. Satanás é um inimigo astuto, e está sempre em seu encalço, lutando para enredá-los e efetuar a sua ruína. Estamos no tempo de espera; que os seus lombos estejam cingidos e sua luz brilhando, a fim de que possam esperar pelo Senhor quando retornar das bodas, de modo que quando Ele vier e bater, possam abrir-Lhe imediatamente. T4 123.3

Observem, irmãos, a primeira redução de sua luz, a primeira negligência da oração, o primeiro sintoma de cochilo espiritual. “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.” Mateus 24:13. É pelo constante exercício de fé e amor que os crentes brilham como luzes no mundo. Vocês não estão se preparando devidamente para a vinda do Mestre se estiverem servindo a Mamom enquanto professam servir a Deus. Quando Ele aparecer, devem então apresentar-Lhe os talentos que sepultaram na terra, talentos negligenciados, abusados, mal-empregados — um amor dividido. T4 124.1

Ambos têm professado ser servos de Cristo. Quão necessário é que obedeçam às instruções do Mestre e sejam fiéis a seus deveres. “Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus.” 1 João 3:1. Esse amor é sem paralelo, dando aos homens a condição de filhos de Deus. Portanto, o Pai espera obediência da parte de Seus filhos; assim, Ele requer uma distribuição correta da propriedade que lhes depositou nas mãos. Não pertence a eles para ser usada para satisfação pessoal; mas é capital do Senhor, pelo qual eles Lhe são responsáveis. T4 124.2

Filhos do Senhor, quão preciosa é a promessa! Quão completa a expiação do Salvador por nossa culpa! O Redentor, com coração de inalterável amor, ainda pleiteia o Seu sagrado sangue em favor do pecador. As mãos feridas, o lado traspassado, os pés cravejados pleiteiam eloqüentemente em favor do homem caído, cuja redenção foi comprada por tão infinito preço. Oh, condescendência sem igual! Nem o tempo nem os acontecimentos podem diminuir a eficácia do sacrifício expiatório. Tal como a fragrante nuvem de incenso elevou aos Céus de modo aceitável, e Arão aspergiu o sangue sobre o propiciatório do antigo Israel e purificou o povo da culpa, assim os méritos do Cordeiro que foi morto são aceitos por Deus hoje como purificadores da contaminação do pecado. T4 124.3

“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação.” Mateus 26:41. Há duras batalhas a enfrentar. Vocês devem revestir-se de toda a armadura da justiça, e provar-se fortes e verdadeiros no serviço do seu Redentor. Deus não deseja preguiçosos em Seu campo, mas colaboradores com Cristo, sentinelas vigilantes em seus postos, corajosos soldados da cruz, prontos para fazerem e ousarem todas as coisas pela causa em que estão alistados. T4 124.4

Não é riqueza nem intelecto que traz a felicidade; é o verdadeiro valor moral e o senso do dever cumprido. Vocês podem ter a recompensa do vencedor e permanecer perante o trono de Cristo para cantar Seus louvores no dia em que Ele reunir os Seus santos; mas as suas vestes precisam estar purificadas no sangue do Cordeiro, e a caridade deve lhes cobrir como uma vestimenta, e serem achados incontaminados e sem manchas. T4 125.1

João declara: “Depois destas coisas, olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro.” Apocalipse 7:9, 10. “E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, Tu sabes. E Ele disse-me: Estes são os que vieram de grande tribulação, lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles, porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda lágrima.” Apocalipse 7:13-17. T4 125.2