Testemunhos para a Igreja 4

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Capítulo 46 — Casamentos não-bíblicos

Vivemos nos últimos dias, quando a mania do assunto matrimonial constitui um dos sinais da breve vinda de Cristo. Deus não é consultado nessas questões. A religião, o dever e os princípios são sacrificados a fim de satisfazer aos impulsos do coração não consagrado. Não deve haver grande ostentação e regozijo sobre a união dos nubentes. Não há um casamento em cem que resulte em felicidade, tenha a aprovação de Deus e coloque os cônjuges em condições de melhor O glorificarem. Inúmeras são as más conseqüências de maus casamentos. São contraídos por impulso. Mal se pensa em obter uma visão sincera do assunto, e a consulta com as pessoas de experiência é considerada coisa antiquada. T4 503.3

Impulso e paixão profana, eis o que ocupa o lugar do amor puro. Muitos põem em risco a própria alma, e trazem sobre si a maldição de Deus por entrarem nas relações conjugais unicamente para satisfazer à fantasia. Foram-me mostrados casos de pessoas que professam a verdade, e cometeram grande erro casando-se com incrédulos. Foi por eles nutrida a esperança de que a parte não crente havia de abraçar a verdade; mas uma vez que essa parte conseguiu seu objetivo, a pessoa fica mais afastada da verdade que antes. Começam então as sutis atuações, os contínuos esforços do inimigo para desviar o crente da fé. T4 504.1

Muitos há que estão perdendo o interesse e a confiança na verdade por terem entrado em íntimo contato com incrédulos. Respiram uma atmosfera de dúvida, desconfiança e infidelidade. Têm a incredulidade diante dos olhos e dos ouvidos, e afinal a acalentam. Alguns talvez resistam a essas influências; em muitos casos, porém, sua fé fica imperceptivelmente minada, destruída afinal. Satanás foi então bem-sucedido em seus planos. Atuou tão sorrateiramente por meio de seus instrumentos, que as barreiras da fé e da verdade foram derribadas antes de os crentes terem qualquer idéia da situação em que se encontravam. T4 504.2

Coisa perigosa é formar uma aliança mundana. Bem sabe Satanás que o momento que testemunha o casamento de muitos rapazes e moças, põe um ponto final em sua história religiosa, em sua utilidade nesse sentido. Acham-se perdidos para Cristo. Poderão, por algum tempo, fazer um esforço para viver a vida cristã; todos esses esforços, no entanto, são feitos contra decidida corrente em sentido contrário. Outrora era para eles um privilégio e prazer falar acerca de sua fé e esperança; chegam, porém, a relutar para mencionar tal assunto, sabendo que aquele com quem uniram o destino não tem nenhum interesse no mesmo. Em conseqüência, perece no coração a fé na preciosa verdade, e Satanás tece traiçoeiramente em torno deles uma rede de ceticismo. T4 504.3

Ao se levar a excessos aquilo que é permitido, comete-se um grave pecado. Os que professam a verdade espezinham a vontade de Deus ao desposar incrédulos; perdem-Lhe o favor e tornam difícil a obra do arrependimento. O incrédulo poderá ser dotado de excelente caráter moral; o fato, porém, de que ele ou ela não atendeu às reivindicações de Deus, e negligenciou tão grande salvação, é razão suficiente para que se não consume tal união. O caráter do incrédulo talvez seja semelhante ao do jovem a quem Jesus dirigiu as palavras: “Uma coisa te falta” (Lucas 18:22); essa era a coisa necessária. T4 505.1

Alega-se por vezes que o incrédulo é favorável à religião, e é tudo quanto se poderia desejar para um companheiro, a não ser uma coisa: não ser cristão. Se bem que o melhor discernimento do crente lhe sugira ser inconveniente unir-se para toda a vida com uma pessoa que não partilha da fé, todavia, em nove casos de cada dez triunfa a inclinação. O declínio espiritual começa no momento em que se proferem os votos no altar; o fervor religioso é arrefecido e vão sendo derribadas uma após outra as fortalezas, até que se encontram ambos unidos sob a negra bandeira de Satanás. Mesmo nos festejos do casamento, o espírito mundano triunfa sobre a consciência, a fé e a verdade. No novo lar não é respeitada a hora da oração. A noiva e o noivo preferiram-se um ao outro e despediram a Jesus. T4 505.2

A princípio talvez o incrédulo não manifeste oposição; quando, porém, é apresentado à sua atenção o assunto da verdade bíblica, para que o considere, ergue-se imediatamente o sentimento: “Você casou comigo sabendo que eu era o que sou; não quero ser incomodado. Daqui em diante fique entendido que são proibidas as conversas sobre seus peculiares pontos de vista.” Caso o crente manifestasse qualquer zelo especial com relação a sua fé, pareceria descortês para com aquele que não toma nenhum interesse na vida cristã. T4 505.3

O crente raciocina que em seu novo relacionamento tem de conceder alguma coisa ao companheiro de sua escolha. São patrocinados entretenimentos sociais, mundanos. A princípio com grande relutância de sentimentos por parte do crente ao fazer isto, mas depois o interesse na verdade vai se tornando cada vez menor, e a fé se transforma em dúvida e incredulidade. Ninguém haveria suspeitado que aquele outrora firme e consciencioso crente e consagrado seguidor de Cristo se pudesse tornar um dia duvidoso e vacilante. Oh! que mudança ocorrida por aquele casamento imprudente! T4 506.1

Que deve fazer todo cristão quando levado à difícil situação que prova a solidez dos princípios religiosos? Com firmeza digna de imitação, deve ele dizer francamente: “Sou cristão consciencioso. Creio que o sétimo dia da semana é o sábado bíblico. Nossa fé e princípios são tais, que levam a direções opostas. Não nos é possível ser felizes juntos, pois se prossigo em adquirir mais perfeito conhecimento da vontade de Deus, tornar-me-ei mais e mais diferente do mundo e mais me assemelharei a Cristo. Se você continua a não ver beleza em Jesus, nenhuma atração na verdade, amará o mundo, que eu não posso amar, ao passo que eu me deleitarei nas coisas de Deus que você não pode apreciar. As coisas espirituais “se discernem espiritualmente”. 1 Coríntios 2:14. Sem discernimento espiritual, você será incapaz de ver os direitos que Deus tem sobre mim, ou de avaliar minhas obrigações para com o Mestre a quem sirvo; então você achará que negligencio você por causa de meus deveres religiosos. Você não se sentirá feliz; terá ciúmes da afeição que consagro a Deus; e sentir-me-ei só em minha crença religiosa. Quando seus pontos de vista mudarem, quando seu coração atender aos reclamos de Deus e você aprender a amar a meu Salvador, então poderemos reatar nosso relacionamento.” T4 506.2

O crente faz então por Cristo um sacrifício que sua consciência aprovará, e que mostra que ele valoriza a vida eterna demasiado alto para correr o risco de perdê-la. Sente que é melhor permanecer solteiro do que ligar seus interesses por toda a vida com uma pessoa que prefere o mundo a Jesus, e que o levaria para longe da cruz de Cristo. Mas o perigo de dedicar afeto aos incrédulos não é avaliado. Na mente juvenil, o casamento se acha revestido de romance e difícil é despojá-lo desse aspecto com que a imaginação o envolve, e impressionar a mente com o senso das pesadas responsabilidades compreendidas nos votos matrimoniais. Esses votos ligam os destinos de duas pessoas com laços que coisa alguma, senão a mão da morte, deve desatar. T4 506.3

Há de uma pessoa que está em busca da glória, honra, imortalidade e vida eterna formar união com outra que se recusa a entrar na fileira com os soldados da cruz de Cristo? Haverá você, que professa escolher a Cristo como seu mestre e ser-Lhe obediente em tudo, unir seus interesses com uma pessoa que é controlada pelo príncipe dos poderes das trevas? “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” Amós 3:3. “Se dois de vós concordarem na Terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por Meu Pai, que está nos Céus.” Mateus 18:19. Quão estranho, porém, o que se nos depara! Enquanto um daqueles que se acham tão estreitamente unidos está empenhado em devoção, o outro vive indiferente e descuidoso; ao passo que um busca o caminho da vida eterna, o outro segue a estrada larga que conduz à morte. T4 507.1

Centenas de pessoas têm sacrificado a Cristo e ao Céu em conseqüência de haverem desposado um inconverso. Acaso pode ser que o amor e o companheirismo com Cristo seja de tão pouco valor para eles, que prefiram a companhia de pobres mortais? É o Céu tão pouco estimado que estejam dispostos a arriscar esse prêmio por alguém que não sente amor algum para com o precioso Salvador? T4 507.2

A felicidade e o êxito da vida de casados depende da união dos cônjuges. Como pode a mente carnal se harmonizar com a mente semelhante à de Cristo? Um semeia na carne, pensando e agindo em harmonia com os impulsos do próprio coração; o outro semeia no Espírito, reprimindo o egoísmo, vencendo as inclinações e vivendo em obediência ao Mestre, a quem professa servir. Existe, portanto, eterna diferença de gostos, inclinações e desígnios. A menos que o crente, mediante sua firme adesão aos princípios, conquiste o impenitente, há de, como é o mais comum, ficar desanimado e vender seus princípios religiosos pela desvaliosa companhia de alguém que não tem ligação com o Céu. T4 507.3

Deus proibiu rigorosamente o intercâmbio matrimonial de Seu povo com outras nações. Alega-se agora que essa proibição foi feita a fim de impedir os hebreus de casarem com idólatras e formarem ligações com famílias pagãs. Os pagãos, no entanto, achavam-se em condições mais favoráveis do que os impenitentes desta geração, os quais, tendo a luz da verdade, ainda se recusam persistentemente a aceitá-la. O pecador de hoje é incomparavelmente mais culpado que os gentios, pois a luz do evangelho brilha claramente ao seu redor. Ele viola a consciência e é inimigo deliberado do Senhor. O motivo indicado por Deus para proibir esses casamentos, foi: “Pois... fariam desviar teus filhos de Mim.” Deuteronômio 7:4. Aqueles, dentre o antigo Israel, que se arriscaram a desprezar a proibição divina, fizeram-no com sacrifício dos princípios religiosos. Tomem o caso de Salomão como exemplo. Suas mulheres lhe desviaram de Deus o coração. T4 508.1