Testemunhos para a Igreja 4

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Capítulo 26 — Preparo para a volta de Cristo

Na última visão que me foi dada em Battle Creek, por ocasião de nossa reunião campal geral, foi-me mostrado nosso perigo como um povo, de nos assemelharmos ao mundo, e não à imagem de Cristo. Achamo-nos agora nas próprias fronteiras do mundo eterno; mas é desígnio do adversário de nossa alma levar-nos a adiar para longe o fim do tempo. Satanás assaltará de todas as maneiras possíveis os que professam ser observadores dos mandamentos de Deus, e estar aguardando a segunda vinda de nosso Salvador nas nuvens do céu com poder e grande glória. Ele levará o maior número possível a adiar o dia mau e se tornar, no procedimento, semelhante ao mundo, imitando-lhe os costumes. Senti-me alarmada quando vi que o espírito do mundo controlava o coração e a mente de muitos que fazem alta profissão da verdade. Abrigam o egoísmo e a condescendência consigo mesmos; mas não cultivam a verdadeira piedade e a genuína integridade. T4 306.1

O anjo do Senhor apontou aos que professam a verdade e repetiu com voz solene estas palavras: “E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a Terra. Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do homem.” Lucas 21:34-36. T4 306.2

Considerando a brevidade do tempo, nós como povo devemos vigiar e orar, e em caso algum permitir que sejamos desviados da solene obra de preparo para o grande acontecimento à nossa frente. Como o tempo aparentemente se estende, muitos se tornam descuidados e indiferentes em relação a suas palavras e ações. Não reconhecem o perigo em que se acham, e não vêem nem compreendem a misericórdia de nosso Deus em lhes ampliar o tempo de graça, a fim de que tenham oportunidade para formar o caráter para a vida futura, imortal. Cada momento é do mais alto valor. O tempo lhes é concedido, não para ser empregado em seguir sua própria comodidade e se tornarem habitantes da Terra, mas para ser empregado na obra de vencer cada defeito de seu caráter e em ajudar os outros, pelo exemplo e pelo esforço pessoal, a verem a beleza da santidade. Deus tem sobre a Terra um povo que, com fé e santa esperança, está acompanhando o rápido desenrolar da profecia e buscando purificar a alma na obediência à verdade, a fim de que não sejam encontrados sem as vestes nupciais quando Cristo aparecer. T4 306.3

Muitos que se chamam pelo nome de adventistas têm marcado tempo. Vez após outra tem sido marcada uma data para a vinda de Cristo, mas resultaram em repetidos fracassos. O tempo exato da vinda de nosso Senhor, diz a Bíblia, acha-se além do conhecimento dos mortais. Mesmo os anjos, que ministram aos que hão de ser herdeiros da salvação, não sabem o dia nem a hora. “Porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos Céus, nem o Filho, mas unicamente Meu Pai.” Mateus 24:36. Como passou repetidas vezes a data marcada, o mundo está hoje em mais profundo estado de incredulidade do que antes, com respeito ao iminente advento de Cristo. Consideram com aborrecimento os fracassos dos que marcaram tempo; e por que os homens têm sido assim enganados, desviam-se da verdade comprovada pela Palavra de Deus, de estar às portas o fim de todas as coisas. T4 307.1

Os que tão presunçosamente pregam um tempo definido, assim fazendo agradam ao adversário das almas; pois promovem a incredulidade, e não o cristianismo. Citam passagens da Escritura, e mediante falsa interpretação mostram uma cadeia de argumentos que aparentemente lhes apóiam a posição. Mas seus fracassos mostram que são falsos profetas, que não interpretam devidamente a linguagem da inspiração. A Palavra de Deus é verdade e certeza; mas os homens têm pervertido seu significado. Esses erros têm trazido má fama à verdade de Deus para estes últimos dias. Os adventistas são expostos a ridículo por pastores de todas as denominações; no entanto, os servos de Deus não se devem calar. Os sinais preditos na profecia estão-se cumprindo rapidamente em volta de nós. Isto deve despertar todo verdadeiro seguidor de Cristo, levando-o a zelosa ação. Os que julgam que devem pregar um tempo definido a fim de impressionar o povo, não agem segundo o correto ponto de vista. Podem os sentimentos do povo ser agitados, e despertados os seus temores; mas não agem segundo princípios. Cria-se uma agitação; mas passado o tempo, como tantas vezes tem acontecido, os que se deixaram levar pela teoria do tempo voltam a cair na frieza, nas trevas e no pecado, e é quase impossível despertar-lhes a consciência sem alguma grande agitação. T4 307.2

Nos dias de Noé os habitantes do velho mundo riam-se, escarnecendo daquilo a que os supersticiosos chamavam de temores e pressentimentos do pregador da justiça. Foi ele denunciado como visionário, fanático, alarmista. “Como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem.” Lucas 17:26. Os homens rejeitarão a solene mensagem de advertência para os nossos dias, como fizeram no tempo de Noé. Referir-se-ão aos falsos mestres que predisseram o acontecimento e estabeleceram um tempo definido, e dirão que não têm mais fé em nossa advertência do que na daqueles. Esta é a atitude do mundo hoje. A incredulidade acha-se muito propagada, e a pregação da vinda de Cristo é escarnecida e exposta a ridículo. Isto torna tanto mais necessário que os que crêem na verdade presente mostrem, pelas obras, a sua fé. Devem ser santificados pela verdade que professam crer; pois são um cheiro de vida para vida ou de morte para morte. T4 308.1

Noé pregou ao povo de seu tempo que Deus lhes daria cento e vinte anos para se arrependerem de seus pecados e se refugiarem na arca; mas não atenderam ao gracioso convite. Foi-lhes dado abundante tempo para se volverem de seus pecados, vencerem seus maus hábitos e desenvolverem caráter justo. Mas a inclinação para o pecado, embora a princípio fraca em muitos, fortaleceu-se pela condescendência repetida, precipitando-os na ruína inevitável. A misericordiosa advertência de Deus foi rejeitada com desdém, escárnio e zombaria; e foram deixados em trevas, para seguirem o rumo que seu pecaminoso coração escolhera. Mas sua incredulidade não impediu o acontecimento predito. Ele veio, e grande foi a ira de Deus revelada na ruína geral. T4 308.2

Essas palavras de Cristo deveriam calar no coração de todos os que crêem na verdade presente: “E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados desta vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia.” Lucas 21:34. Nosso perigo é-nos apresentado pelo próprio Cristo. Ele conhecia os perigos que haveríamos de deparar nestes últimos dias, e queria que nos preparássemos para eles. “Como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem.” Mateus 24:37. Comiam e bebiam, plantavam e edificavam, casavam-se e davam-se em casamento, e não o conheceram, até que veio o dilúvio e levou-os a todos. O dia do Senhor encontrará os homens, da mesma forma, absorvidos nos negócios e prazeres do mundo, em banquetes e glutonaria, condescendendo com o apetite pervertido no degradante uso de bebidas alcoólicas e no narcótico fumo. Esta já é a condição do nosso mundo, e essas condescendências encontram-se mesmo entre o professo povo de Deus, alguns dos quais seguem os costumes do mundo e participam de seus pecados. Advogados, artífices, lavradores, comerciantes e mesmo pastores, do púlpito clamam: “Paz e segurança!”, quando a destruição está na iminência de desabar sobre eles. T4 309.1

A crença na iminente vinda do Filho do homem nas nuvens do céu não levará o verdadeiro cristão a tornar-se negligente e descuidado nas atividades comuns da vida. Os expectantes, que aguardam o breve aparecimento de Cristo, não ficarão ociosos, mas serão diligentes nas atividades. Seu trabalho não será feito descuidada e desonestamente, mas com fidelidade, prontidão e perfeição. Os que se lisonjeiam com o pensamento de que a descuidada desatenção às coisas desta vida seja evidência de sua espiritualidade e sua separação do mundo, acham-se sob grande engano. Sua veracidade, fidelidade e integridade são provadas nas coisas temporais. Se forem fiéis no mínimo, sê-lo-ão no muito. T4 309.2

Foi-me mostrado que aqui é onde muitos deixarão de suportar a prova. Desenvolvem seu verdadeiro caráter na administração das coisas temporais. Manifestam infidelidade, projetos dolosos e desonestidade no trato com os semelhantes. Não consideram que o alcançar a imortal vida futura depende de como procedem nos negócios desta vida e que, para a formação de um caráter justo, é indispensável a mais estrita integridade. Por toda a parte, em nossas fileiras, é praticada a desonestidade, e essa é a causa da mornidão por parte de muitos que professam crer na verdade. Não se acham ligados a Cristo, e iludem sua própria alma. Entristece-me o coração, fazer a declaração de que existe uma alarmante falta de honestidade mesmo entre observadores do sábado. T4 309.3

Foi-me chamada a atenção para o sermão da montanha. Aí temos a ordem do Grande Mestre: “Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” Mateus 7:12. Essa ordem de Cristo é da mais alta importância, e deve ser obedecida estritamente. É como “maçãs de ouro em salvas de prata”. Provérbios 25:11. Quantos praticam na vida o princípio aí ordenado por Cristo, e tratam os outros exatamente como desejariam ser tratados, sob circunstâncias semelhantes? Leitor, por favor responda. T4 310.1

Homem honesto, à maneira de Cristo julgar, é o que manifesta inflexível integridade. Pesos enganosos e balanças falsas, com os quais muitos buscam aumentar seus ganhos no mundo, são abominação à vista de Deus. Não obstante, muitos dos que professam guardar os mandamentos de Deus fazem uso de balanças e pesos falsos. Quando um homem se acha realmente ligado a Deus, e observando Sua lei em verdade, sua vida revelará este fato; pois todas as suas ações se encontrarão em harmonia com os ensinos de Cristo. Não venderá sua honra por lucro. Seus princípios são edificados sobre o firme fundamento, e sua conduta em assuntos temporais é um transcrito de seus princípios. A firme integridade brilha como o ouro entre o cascalho e o lixo do mundo. Engano, falsidade e infidelidade podem ser dissimulados e ocultos dos olhos humanos, mas não dos olhos de Deus. Os anjos de Deus, que observam o desenvolvimento do caráter e pesam o valor moral, registram nos livros do Céu essas pequeninas transações reveladoras do caráter. Se um trabalhador for infiel nas ocupações diárias da vida, e negligenciar sua obra, o mundo não julgará incorretamente se avaliar a norma religiosa desse trabalhador segundo a que mantém nos negócios. T4 310.2

“Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito.” Lucas 16:10. Não é a magnitude da questão que a torna justa ou injusta. Como o homem se conduz para com o semelhante, assim se conduzirá com Deus. Aquele que é infiel na riqueza da injustiça, nunca merecerá confiança com a verdadeira riqueza. Os filhos de Deus nunca devem deixar de lembrar que, em todas as suas transações comerciais, estão sendo provados e pesados nas balanças do santuário. T4 311.1

Disse Cristo: “Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.” “Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” Mateus 7:18, 20. Os atos da vida do homem são os frutos que produz. Se for infiel e desonesto em questões temporais, está produzindo cardos e espinhos; será infiel na vida religiosa e roubará a Deus em dízimos e ofertas. T4 311.2

A Bíblia condena nos mais fortes termos toda falsidade, fraude e desonestidade. O justo e o errado são discriminados claramente. Mas foi-me mostrado que o povo de Deus se colocou em terreno do inimigo; cedeu a suas tentações e seguiu-lhe os artifícios, até se tornarem perigosamente embotadas as suas sensibilidades. Um leve desvio da verdade, uma pequenina variação das reivindicações de Deus, não é, afinal, considerado muito pecaminoso, quando se acham envolvidos ganho ou perda de dinheiro. Mas pecado é pecado, seja cometido pelo milionário ou pelo que pede esmolas nas ruas. Os que adquirem bens mediante engano, trazem sobre si a condenação. Tudo quanto for adquirido por meio de engano e fraude só trará maldição a quem o receber. T4 311.3

Adão e Eva sofreram as terríveis conseqüências de desobedecerem ao expresso mandamento de Deus. Podem ter arrazoado: Este é um pecado muito pequenino, e jamais será levado em conta. Mas Deus tratou o caso como um terrível mal; e a desgraça trazida por sua transgressão será sentida através de todos os tempos. Nos dias em que vivemos, pecados de muito maior magnitude são muitas vezes cometidos pelos que professam ser filhos de Deus. Nas transações comerciais, são pelo professo povo de Deus pronunciadas e praticadas falsidades que trazem sobre eles a desaprovação de Deus, e vergonha sobre Sua causa. O menor desvio da veracidade e retidão constitui transgressão da lei de Deus. A contínua condescendência com o pecado acostuma a pessoa ao hábito de proceder mal, mas não diminui o grave caráter do pecado. Deus estabeleceu princípios imutáveis, que Ele não pode mudar sem uma revisão de toda a Sua natureza. Se a Palavra de Deus fosse estudada fielmente por todos os que professam crer na verdade, eles não seriam pigmeus nas coisas espirituais. Os que desrespeitam nesta vida as reivindicações de Deus, não Lhe respeitariam a autoridade se estivessem no Céu. T4 311.4

Todas as espécies de imoralidade são claramente delineadas na Palavra de Deus, e seus resultados nos são apresentados. A condescendência com as paixões baixas é-nos apresentada em seu caráter mais revoltante. Ninguém, por obscuro que seja o seu entendimento, precisa errar. Mas foi-me mostrado que este pecado é acariciado por muitos que professam andar em todos os mandamentos de Deus. Por Sua Palavra, Deus julgará todos os homens. T4 312.1

Disse Cristo: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam.” João 5:39. A Bíblia é guia infalível. Requer perfeita pureza na palavra, no pensamento e na ação. Unicamente os de caráter virtuoso e imaculado terão permissão para entrar na presença de um Deus puro e santo. A Palavra de Deus, estudada e obedecida, guiaria os filhos dos homens, como os israelitas foram guiados por uma coluna de fogo à noite e uma coluna de nuvem de dia. A Bíblia é a vontade de Deus expressa ao homem. É o único perfeito padrão de caráter, e assinala o dever do homem em todas as circunstâncias da vida. Muitas são as responsabilidades que sobre nós repousam nesta vida, e sua negligência não só causará sofrimento a nós mesmos, mas em conseqüência outros também sofrerão perda. T4 312.2

Homens e mulheres que professam reverenciar a Bíblia e seguir-lhe os ensinos, deixam de praticar o que ela requer em muitos aspectos. Na educação dos filhos, seguem sua própria natureza perversa, em vez da revelada vontade de Deus. Essa negligência do dever implica a perda de milhares de vidas. A Bíblia expõe regras para a correta disciplina dos filhos. Fossem esses preceitos de Deus acatados pelos pais, e veríamos hoje diferente classe de jovens apresentar-se na arena de ação. Mas pais que professam ser leitores e seguidores da Bíblia procedem diretamente em contrário aos seus ensinamentos. Ouvimos o grito de tristeza e angústia de pais e mães que choram a conduta de seus filhos, mal reconhecendo que estão trazendo sobre si essa tristeza e angústia, e arruinando os filhos, por sua errada afeição. Não reconhecem as responsabilidades que Deus lhes deu, de educarem os filhos de modo a adquirirem hábitos corretos desde a infância. T4 313.1

Pais, vocês são em grande parte responsáveis pela alma de seus filhos. Muitos negligenciam seu dever nos primeiros anos da vida de seus filhos, julgando que quando estes tiverem mais idade, terão então muito cuidado em reprimir neles o mal e educá-los no bem. Mas o tempo oportuno para isso é quando os filhos são bebês, em seus braços. Não é correto que os pais mimem os filhos e lhes façam as vontades; tampouco é direito que os maltratem. O procedimento firme, decidido e reto produzirá os melhores resultados. T4 313.2