Testemunhos para a Igreja 4
Capítulo 20 — Necessidade de harmonia
O Espírito de Deus não habitará onde há desunião e contenda entre os que crêem na verdade. Mesmo que esses sentimentos não sejam expressos, eles tomam posse do coração e expulsam a paz e o amor que deviam caracterizar a igreja cristã. Eles são resultados do egoísmo no sentido mais pleno. Esse mal pode tomar a forma de auto-estima desordenada, ou de um anseio indevido pela aprovação de outros, mesmo que essa aprovação seja obtida imerecidamente. A exaltação própria deve ser renunciada por aqueles que professam amar a Deus e guardar Seus mandamentos, ou não deverão esperar ser abençoados por Seu divino favor. T4 221.2
A influência moral e religiosa no Instituto de Saúde deve ser elevada a fim de obter a aprovação do Céu. A condescendência com o egoísmo certamente expulsará o Espírito de Deus do local. Os médicos, superintendentes e auxiliares devem trabalhar harmoniosamente no Espírito de Cristo, cada um considerando “os outros superiores a si mesmos”. Filipenses 2:3. T4 221.3
O apóstolo Judas declara: “E apiedai-vos de alguns” (Judas 22), fazendo distinção. Essa distinção não deve ser feita num espírito de favoritismo. Nenhum apoio deve ser dado a um indivíduo que deixa implícito: “Se você me favorecer, eu lhe favorecerei.” Esta é uma política mundana, não santificada, que desagrada a Deus. É pagar favores e apreciação por amor ao ganho. É revelar parcialidade para com certas pessoas, esperando assegurar vantagens através delas. É buscar sua boa vontade pela condescendência, para que possamos ser tidos em maior estima do que outros totalmente merecedores como nós mesmos. É algo difícil ver os próprios erros; mas cada um deve perceber quão cruel é o espírito de inveja, rivalidade, desconfiança, crítica e dissensão. T4 221.4
Chamamos a Deus nosso Pai; reivindicamos ser filhos de uma família, e quando há uma disposição de diminuir o respeito e influência de outro para edificar-nos a nós mesmos, agradamos o inimigo e ofendemos Aquele a quem professamos seguir. A ternura e misericórdia que Jesus revelou em Sua vida preciosa deve ser-nos um exemplo de como devemos tratar nossos semelhantes, especialmente aqueles que são nossos irmãos em Cristo. T4 222.1
Deus está continuamente nos beneficiando, mas somos muito indiferentes a Seus favores. Temos sido amados com infinita ternura, e contudo muitos de nós temos pouco amor uns pelos outros. Somos demasiados severos para com aqueles que supomos estar em erro, e muito sensíveis à menor culpa ou questionamento a respeito de nossa conduta. T4 222.2
São lançadas insinuações, e duras críticas de uns contra outros; mas ao mesmo tempo aqueles que lançam essas insinuações e críticas estão cegados às próprias faltas. Outros podem ver os erros deles, mas eles não podem ver as próprias falhas. Somos recebedores diários das generosidades do Céu, e devemos ter amorável gratidão brotando de nosso coração para Deus, a qual deve levar-nos a simpatizar com nossos semelhantes e fazer de seus interesses os nossos. Pensamentos e meditação acerca da bondade de Deus para conosco fechariam as avenidas da alma para as insinuações de Satanás. T4 222.3
O amor de Deus por nós é comprovado diariamente; entretanto, somos insensíveis aos Seus favores, indiferentes aos Seus apelos. Ele busca impressionar-nos com o Seu Espírito de ternura, Seu amor e paciência; mas raramente reconhecemos os sinais de Sua bondade e temos pouca consciência da lição de amor que Ele nos deseja ensinar. Alguns, à semelhança de Hamã, se esquecem de todos os favores de Deus, porque Mardoqueu está perante eles e não é desfavorecido; porque o coração deles está cheio de inimizade e ódio, em vez de amor — o Espírito de nosso querido Redentor, que deu Sua preciosa vida por Seus inimigos. Professamos ter o mesmo Pai, estar nos dirigindo ao mesmo lar imortal, desfrutar a mesma fé solene e crer na mesma mensagem decisiva; não obstante, muitos estão lutando uns com os outros como crianças briguentas. Alguns que estão empenhados no mesmo ramo de trabalho disputam uns com os outros e assim se acham em desacordo com o Espírito de Cristo. T4 222.4
O amor ao louvor tem corrompido muitos corações. Aqueles que têm estado ligados ao Instituto de Saúde têm às vezes manifestado espírito de crítica aos planos feitos; e Satanás lhes tem dado influência sobre a mente de outros ali, que têm aceitado essas pessoas como inculpáveis, enquanto pessoas inocentes são acusadas de erro. É um orgulho ímpio que se deleita na vaidade das próprias obras, que se ensoberbece das excelentes qualidades de alguém, buscando fazer com que outros pareçam inferiores a fim de exaltarem o eu, reivindicando mais glória do que o frio coração está disposto a dar a Deus. Os discípulos de Cristo atentarão à instrução do Mestre. Ele nos tem ordenado amar-nos uns aos outros assim como nos amou. A religião é fundamentada sobre o amor a Deus, que também nos leva a amar uns aos outros. Ela é cheia de gratidão, humildade e longanimidade. É abnegada, paciente, misericordiosa e perdoadora. Santifica a vida inteira e estende a sua influência sobre outros. T4 223.1
Os que amam a Deus não podem abrigar ódio ou inveja. Quando o celeste princípio do eterno amor encher o coração, ele fluirá para outros, não meramente por que favores são recebidos deles, mas porque o amor é o princípio da ação e modifica o caráter, governa os impulsos, controla as paixões, subjuga inimizades, eleva e enobrece as afeições. Esse amor não é adquirido meramente para incluir “eu e meu”, mas é amplo como o mundo e alto como o céu, e está em harmonia com o amor dos obreiros angelicais. Esse amor acariciado na alma torna agradável a vida inteira e projeta sua enobrecedora influência sobre todos ao redor. Possuindo-o, não podemos deixar de ser felizes, quer a sorte sorria, quer desagrade. Se amamos a Deus de todo o coração, temos de amar também Seus filhos. Esse amor é o Espírito de Deus. É o adorno celestial que concede verdadeira nobreza e dignidade à alma e assemelha nossa vida à vida do Senhor. Não importa quantas boas qualidades possamos ter, por mais dignos de honra e mais cultos que nos possamos considerar, se a alma não é batizada com a graça celestial do amor a Deus e de uns aos outros, somos deficientes na verdadeira bondade e inaptos para o Céu, onde tudo é amor e unidade. T4 223.2
Alguns que anteriormente amaram a Deus e viveram desfrutando diariamente Seu favor estão agora em contínua inquietação. Caminham nas trevas e na escuridão desesperadora, porque estão alimentando o eu. Estão buscando tão duramente se favorecerem que todas as outras considerações são absorvidas nisso. É desejo de Deus, em Sua providência, que ninguém alcance felicidade vivendo unicamente para si mesmo. A alegria de nosso Senhor consistia em suportar fadiga e vergonha por outros para que eles pudessem ser beneficiados dessa forma. Somos capazes de ser felizes seguindo Seu exemplo e vivendo para abençoar nossos semelhantes. T4 224.1
Somos convidados por nosso Senhor a tomar o Seu jugo e suportar o Seu fardo. Fazendo isso, podemos ser felizes. Ao suportarmos o nosso jugo por imposição própria e levar nossos fardos, não encontramos repouso; mas ao suportarmos o jugo de Cristo há descanso para a alma. Aqueles que desejam fazer uma grande obra pelo Mestre podem encontrá-la somente onde estão, fazendo o bem e sendo abnegados, sacrificando a si mesmos, lembrando-se de outros e levando alegria aonde quer que forem. T4 224.2
Há uma grande necessidade daquela ternura piedosa de Cristo ser manifesta em todos os tempos e em todos os lugares, não aquela simpatia cega que passa por alto o pecado e permite que a causa de Deus seja reprovada pela má conduta, mas aquele amor que é um princípio controlador da vida, que flui naturalmente a outros em boas obras, lembrando-se de que Cristo disse: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes.” Mateus 25:40. T4 224.3
Aqueles que atuam no Instituto de Saúde se empenham em uma grande obra. Durante a vida de Cristo os enfermos e aflitos eram objeto de Seu especial cuidado. Quando Ele enviou Seus discípulos, comissionou-os a curar os enfermos, bem como pregar o evangelho. Quando enviou os setenta, ordenou-lhes curar os doentes e a seguir pregar-lhes que o reino de Deus estava próximo deles. A saúde física deles devia ser primeiro atendida, a fim de que pudessem estar preparados para que a mente deles fosse alcançada por aquelas verdades que os apóstolos deviam pregar. T4 225.1
O Salvador do mundo devotou mais tempo e trabalho a curar os aflitos de suas enfermidades, do que a pregar. Sua última recomendação aos apóstolos, Seus representantes na Terra, foi que pusessem as mãos sobre os enfermos para que sarassem. Quando o Mestre vier, há de louvar aqueles que visitaram os doentes e aliviaram as necessidades dos sofredores. T4 225.2
Somos vagarosos em compreender as poderosas influências de mesquinharias e sua importância sobre a salvação de almas. No Instituto de Saúde aqueles que desejam ser missionários têm um grande campo em que trabalhar. Deus não tenciona que qualquer um de nós constitua uns poucos privilegiados, que serão considerados com maior deferência enquanto outros são negligenciados. Jesus foi a Majestade do Céu; contudo, Ele desceu para ministrar aos mais humildes, não levando em conta pessoas ou condições. T4 225.3
Aqueles que têm o coração totalmente na obra acharão no Instituto de Saúde o suficiente para fazer pelo Mestre ao aliviar o sofrimento daqueles que são colocados sob seu cuidado. Nosso Senhor, após realizar o trabalho mais humilhante por Seus discípulos, recomendou-lhes seguirem o Seu exemplo a fim de manter constantemente diante deles o pensamento de que não deviam sentir-se superiores ao mais humilde santo. T4 225.4
Os que professam nossa exaltada fé, que estão observando os mandamentos de Deus e esperando a breve vinda de nosso Senhor, devem ser distintos e separados do mundo ao seu redor, um povo peculiar, “zeloso de boas obras”. Tito 2:14. Entre as peculiaridades que devem distinguir do mundo o povo de Deus nestes últimos dias, está a sua humildade e mansidão. “Aprendei de Mim”, diz Jesus, “que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma.” Mateus 11:29. Aqui está o repouso que tantos buscam, e em vão gastam tempo e dinheiro para obter. Em vez de cultivarmos a ambição de ser iguais uns aos outros em honra e posição, ou talvez até mais elevados, devemos buscar ser os humildes e fiéis servos de Cristo. Esse espírito de engrandecimento próprio provocou disputa entre os apóstolos, mesmo quando Cristo estava com eles. Debatiam quem devia ser o maior entre eles. Jesus “assentando-Se, chamou os doze e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos”. Marcos 9:35. T4 225.5
Quando a mãe fez um pedido para que seus filhos fossem especialmente favorecidos, um se sentando à direita e outro à esquerda em Seu reino, Jesus os impressionou com o fato de que a honra e a glória de Seu reino seriam o contrário da honra e glória deste mundo. Quem quer que fosse o maior devia ser um humilde servidor a outros, e quem quer que desejasse ser chefe devia ser um servo, tal como o Filho de Deus foi um servidor e servo dos filhos dos homens. T4 226.1
Nosso Salvador novamente ensinou Seus discípulos a não estarem ansiosos por posição e nome. “Não queirais ser chamados Rabi. ... Nem vos chameis mestres. ... Porém o maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado.” Mateus 23:8, 10-12. Jesus citou ao doutor da lei o código da santa lei dado no Sinai: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.” “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Mateus 22:37, 39. Ele lhe disse que se fizesse assim, entraria na vida. T4 226.2
“Teu próximo como a ti mesmo.” A questão é suscitada: “Quem é o meu próximo?” Sua resposta é a parábola do Bom Samaritano, que nos ensina que qualquer ser humano que necessite de nossa simpatia e de nossos préstimos é nosso próximo. Os sofredores e desvalidos de toda classe são nosso próximo; e quando suas necessidades são trazidas ao nosso conhecimento, é nosso dever aliviá-los tanto quanto nos seja possível. Nessa parábola é salientado um princípio que os seguidores de Cristo fariam bem em adotar. Deve-se primeiramente satisfazer as necessidades temporais dos pobres e aliviar suas privações e sofrimentos físicos, e depois se encontrará acesso ao coração, onde se pode plantar as boas sementes da virtude e da religião. T4 226.3
Para sermos felizes, precisamos procurar alcançar um caráter como o que Cristo manifestou. Uma notável peculiaridade de Cristo foi Sua abnegação e benevolência. Ele veio não para buscar o que Lhe era próprio. Andou fazendo o bem, e isto era Sua comida e bebida. Nós podemos, seguindo o exemplo do Salvador, estar em santa comunhão com Ele; e ao buscar diariamente imitar o Seu caráter e seguir o Seu exemplo seremos uma bênção ao mundo e garantiremos nosso contentamento aqui e uma eterna recompensa no futuro. T4 227.1