Testemunhos para a Igreja 5
Capítulo 13 — Roubará o homem a Deus?
O Senhor fez a difusão da luz e verdade na Terra dependente dos esforços voluntários e das ofertas dos que são participantes dos dons celestiais. Relativamente poucos são chamados a viajarem como pastores ou missionários, mas multidões devem cooperar em disseminar a verdade através de seus recursos. T5 148.2
A história de Ananias e Safira nos é dada para que possamos compreender o pecado do engano com respeito a nossas dádivas e ofertas. Eles tinham voluntariamente prometido dar uma porção de sua propriedade para a promoção da causa de Cristo; mas quando os recursos estavam em suas mãos, deixaram de cumprir aquela obrigação, desejando ao mesmo tempo dar aos outros a impressão de terem dado tudo. Sua punição foi assinalada, a fim de que pudesse servir como perpétua advertência aos cristãos de todas as épocas. O mesmo pecado acha-se terrivelmente prevalecente nos tempos atuais, no entanto não se ouve de semelhante punição notável. O Senhor mostra uma vez aos homens com que aversão Ele considera tamanha ofensa contra Suas sagradas reivindicações e Sua dignidade, e então os deixa a seguir os princípios gerais da administração divina. T5 148.3
Ofertas voluntárias e o dízimo constituem a receita do evangelho. Dos meios confiados ao homem, Deus reivindica determinada porção — o dízimo; mas Ele deixa todos livres para dizerem quanto seja o dízimo, e se querem ou não dar mais que isso. Devem dar segundo propõem no coração. Mas quando o coração é comovido pela influência do Espírito de Deus, fazendo-se um voto de dar determinada importância, aquele que faz o voto não tem mais direito à porção consagrada. Comprometeu-se diante dos homens, e esses são chamados a testemunharem o ajuste. Ao mesmo tempo incorreu ele numa obrigação da mais sagrada espécie, de cooperar com o Senhor em construir o Seu reino na Terra. Promessas dessa espécie, feitas a homens, devem ser consideradas como compromisso obrigatório. Não serão mais sagradas e obrigatórias quando feitas a Deus? Porventura as promessas feitas perante o tribunal da consciência serão menos obrigatórias do que acordos escritos, feitos com homens? T5 149.1
Quando a luz divina brilha no coração com clareza e poder incomuns, o egoísmo habitual afrouxa as garras, e há disposição de dar à causa de Deus. Ninguém precisa esperar que lhe seja permitido cumprir as promessas feitas então, sem um protesto da parte de Satanás. Ele não se agrada de ver desenvolver-se na Terra o reino do Redentor. Sugere ele que a promessa feita foi demasiadamente grande, que lhes poderá anular os esforços de adquirir propriedade ou satisfazer aos desejos da família. É maravilhoso o poder que Satanás tem sobre a mente humana. Ele labuta com todo o fervor para conservar o coração dos homens dominado pelo egoísmo. T5 149.2
A única maneira que Deus ordenou para fazer avançar Sua causa é abençoar os homens com propriedades. Dá-lhes Sua luz do Sol e a chuva; faz a vegetação crescer; dá saúde e habilidade para adquirir recursos. Todas as nossas bênçãos provêm de Suas generosas mãos. Por sua vez, deseja que os homens e mulheres mostrem sua gratidão devolvendo-Lhe uma parte em dízimos e ofertas — em ofertas de gratidão, ofertas voluntárias e ofertas pelo pecado. T5 150.1
O coração dos homens fica endurecido pelo egoísmo, e como Ananias e Safira, são tentados a reter parte do preço, ao mesmo tempo que pretendem cumprir as regras do dízimo. Roubará o homem a Deus? Se os recursos entrassem no tesouro exatamente de acordo com o plano de Deus — um décimo de toda a renda — haveria abundância para levar avante a Sua obra. T5 150.2
Bem, dirá alguém, continuam a vir os pedidos para dar à causa. Estou cansado de dar. Estarão mesmo cansados? Então, permitam que lhes pergunte: Vocês estão cansados de receber das beneficentes mãos de Deus? Só se Ele deixasse de os abençoar, deixariam de estar sob obrigação de restituir-Lhe a porção que reivindica. Ele os abençoa para que esteja em seu poder abençoar os outros. Quando estiverem cansados de receber, então poderão dizer: Estou cansado de tantos pedidos para dar. Deus reserva para Si uma parte de tudo que recebemos. Quando essa Lhe é restituída, a parte restante é abençoada; mas se for retida, tudo se tornará, mais dia menos dia, uma maldição. A reivindicação divina deve vir primeiro; tudo o mais é secundário. T5 150.3
Em cada igreja deveria ser estabelecido um tesouro para os pobres. Então cada membro apresente a Deus uma oferta de gratidão uma vez por semana ou uma vez por mês, conforme for mais conveniente. Essa oferta exprimirá nossa gratidão pelas dádivas da saúde, do alimento e do vestuário. E segundo Deus nos tenha abençoado com esses confortos, poremos de parte para os pobres, sofredores e aflitos. Desejo chamar a atenção de nossos irmãos especialmente para este ponto. Lembrem-se dos pobres. Renunciem a alguns dos supérfluos, sim, os próprios confortos, e ajudem àqueles que apenas conseguem o mais escasso alimento e vestuário. Fazendo isso por eles, vocês o estão fazendo por Jesus na pessoa de Seus santos. Ele identifica-Se com a humanidade sofredora. Não esperem até que estejam satisfeitas todas as suas necessidades imaginárias. Não confiem em seus sentimentos, dando quando estão inclinados a fazê-lo, e retendo quando não têm desejo. Dêem regularmente, dez, vinte ou cinqüenta centavos por semana, como desejariam ver escrito no registro celestial no dia de Deus. T5 150.4
Seus bons desejos, nós lhes agradecemos por eles, mas os pobres não se podem manter em conforto, com bons desejos apenas. Precisam de provas tangíveis de sua bondade, em forma de alimento e vestuário. Deus não pretende que nenhum de Seus seguidores tenha de mendigar o pão. Ele lhes deu abundância, a fim de que vocês possam suprir-lhes as necessidades que pelos seus esforços e economia não são capazes de suprir. Não esperem até que chamem sua atenção para as suas necessidades. Ajam como fazia Jó. Aquilo que não sabia, ele investigava. Façam um giro de inspeção e verifiquem o que é necessário, e como melhor pode ser suprido. T5 151.1
Foi-me mostrado que muitos de nosso povo roubam ao Senhor em dízimos e ofertas, e em resultado Sua obra é grandemente desfavorecida. A maldição de Deus repousará sobre os que vivem das bênçãos de Deus e contudo cerram o coração e nada ou quase nada fazem para promover Sua causa. Irmãos e irmãs, como pode o beneficente Pai continuar a considerá-los como mordomos, fornecendo-lhes recursos que deveriam ser empregados em Seu favor, se vocês a tudo agarram, reclamando egoistamente que lhes pertence! T5 151.2
Em vez de render a Deus os recursos que Ele colocou em suas mãos, muitos os empregam em mais terras. Esse mal está aumentando entre nossos irmãos. Já antes possuíam tudo de que podiam cuidar, mas o amor ao dinheiro ou o desejo de ser considerados tão ricos quanto os seus vizinhos, leva-os a enterrar seus recursos no mundo, e reter de Deus o que Lhe é justamente devido. Ainda vamos nos surpreender se não prosperarem? Ficarão decepcionados se Deus não lhes abençoar as colheitas? T5 151.3
Se nossos irmãos se lembrassem de que Deus pode abençoar uns poucos hectares de terra, e torná-los tão produtivos como se fosse uma grande propriedade, não continuariam a enterrar-se em aquisições, mas deixariam seus recursos derivarem para o tesouro de Deus. “Olhai por vós”, disse Cristo, “não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida.” Lucas 21:34. Satanás se agrada com que aumentem suas fazendas e empreguem seus recursos em empreendimentos mundanos, pois assim procedendo não só impedem a causa de avançar, mas pela ansiedade e excesso de trabalho vocês diminuem sua perspectiva da vida eterna. T5 152.1
Agora é tempo de acatar a ordem de nosso Salvador: “Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos Céus que nunca acabe.” Lucas 12:33. Nossos irmãos deveriam estar reduzindo suas posses, em vez de aumentá-las. Estamos prestes a mudar-nos para uma terra melhor, a celestial. Não vamos proceder como quem quer continuar habitando confortavelmente sobre a Terra, mas ajuntemos nossos objetos no espaço mais limitado possível. T5 152.2
Tempo virá em que de modo algum poderemos vender. Logo sairá o decreto proibindo os homens de comprar ou vender a qualquer pessoa senão aos que tenham o sinal da besta. Estivemos perto de ver isso acontecer na Califórnia, pouco tempo atrás, mas foi apenas a ameaça do sopro dos quatro ventos. Até agora eles têm sido contidos pelos quatro anjos. Não estamos bem preparados. Ainda há uma obra a ser efetuada, e então os anjos receberão a ordem de soltá-los, para que os quatro ventos soprem sobre a Terra. Esse será um tempo decisivo para os filhos de Deus, um tempo de tribulação tal como nunca ocorreu antes. Agora é nossa oportunidade de trabalhar. T5 152.3
Há, entre muitos que professam a verdade, um espírito de inquietude. Alguns desejam mudar de cidade ou Estado, comprar grandes glebas de terra e desenvolver um próspero negócio. Outros desejam ir para a cidade. Assim as igrejas pequenas são abandonadas à fraqueza e desânimo para depois desaparecer, quando, houvessem os que as deixaram estado dispostos a trabalhar um pouco e com fidelidade, poderiam proporcionar comodidade à sua família e ficar desembaraçados para se conservar no amor de Deus. Muitos que se mudam acabam ficando desiludidos. Perdem a pequena propriedade que possuíam, sacrificam a saúde e finalmente abandonam a verdade. T5 152.4
O Senhor está vindo. Que cada um mostre sua fé através das obras. A fé na breve volta de Cristo está desaparecendo das igrejas, e o egoísmo as leva a roubar a Deus para servir aos próprios interesses pessoais. Quando Cristo habita em nós, seremos abnegados como Ele. T5 153.1
Em tempos passados, houve grande liberalidade por parte de nosso povo. Eles não relutaram em responder aos clamores por auxílio dos vários ramos da obra. Depois, porém, ocorreu uma mudança. Houve, especialmente da parte de nossos irmãos do Leste, retenção de recursos, ao mesmo tempo em que o mundanismo e amor às posses aumentou. Há um crescente desrespeito às promessas de ajuda às várias instituições e empreendimentos. Fundos para a construção de igrejas, equipar um colégio ou atender a obra missionária, são vistos como compromissos aos quais as pessoas não têm qualquer obrigação em atender se não lhes for conveniente. Essas promessas foram feitas sob as santas impressões do Espírito de Deus. Então, não O roubem pela retenção do que por direito Lhe pertence. Irmãos e irmãs, examinem cuidadosamente seu passado e vejam se trataram fielmente com Deus. Será que vocês têm votos ainda não cumpridos? Em caso positivo, procurem cumpri-los se estiver ao seu alcance. T5 153.2
Ouçam o conselho do Senhor: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos.” Malaquias 3:10-12. T5 153.3
Está você disposto a aceitar as promessas que o Senhor faz aqui e afastar o egoísmo, começando a trabalhar diligentemente para fazer avançar a Sua causa? Não se fortaleça o apego ao mundo pela obtenção de vantagens sobre seu semelhante mais pobre, pois os olhos de Deus estão sobre você; Ele lê cada motivo e pesa o homem nas balanças do santuário. T5 154.1
Vi que muitos sonegam a causa de Deus enquanto estão vivos, acalmando a consciência com a idéia de que serão caridosos na morte; dificilmente ousam exercer fé e confiança em Deus para dar qualquer coisa enquanto vivem. Mas essa caridade de leito de morte não é o que Cristo exige dos Seus seguidores; ela não pode desculpar o egoísmo da sua vida. Os que se apegam às suas propriedades até o último momento, entregam-nas à morte em vez de fazê-lo para a causa. Os prejuízos ocorrem continuamente. Bancos vão à falência e as propriedades são consumidas de muitas maneiras. Muitos se propõem a fazer algo, mas adiam o assunto, e Satanás entra em ação para que de modo algum os recursos sejam entregues à igreja. Perdem-se antes de voltar para Deus e Satanás exulta com isso. T5 154.2
Quem deseja fazer o bem com seus recursos, faça-o logo, antes que Satanás meta suas mãos e retarde a obra de Deus. Muitas vezes, quando o Senhor abre o caminho para os irmãos usarem seus meios no avanço da Sua causa, agentes de Satanás lhes apresentam algum empreendimento que, sendo positivo, poderia duplicar seus bens. Engolindo a isca, investem seu dinheiro, e a causa, e freqüentemente eles mesmos, nunca recebem uma moeda sequer. T5 154.3
Irmãos, lembrem-se da causa; e quando tiverem recursos à sua disposição, estabeleçam um bom fundamento para o futuro a fim de que possam desfrutar a vida eterna. Por amor a vocês, Jesus Se tornou pobre para que através da Sua pobreza os tornassem rico em tesouros celestiais. Que será oferecido a Jesus, que tudo deu por vocês? T5 154.4
Não lhes será conveniente dispor de suas dádivas generosas através de testamento na hora da morte. Não é possível garantir, com o menor grau de segurança, que a causa seja beneficiada dessa maneira. Satanás age com muita astúcia para incitar os parentes a tomarem posições falsas para que o mundo fique com o que foi solenemente dedicado para a causa de Deus. Recebe-se sempre muito menos do que a soma desejada. Satanás põe no coração de homens e mulheres um protesto contra a ação de parentes que se propõem a executar seus desejos na aplicação de sua propriedade. Eles parecem considerar tudo o que foi dado para o Senhor como um roubo feito aos parentes do falecido. Quem deseja que seus recursos sejam aplicados na causa, faça, enquanto vive, a doação de tudo aquilo que não necessita para seu sustento. Uns poucos irmãos estão fazendo isso e desfrutando o prazer de serem seus próprios testamenteiros. Tornará a cobiça dos homens necessário que sejam privados da vida para que as propriedades que Deus lhes emprestou não fiquem inúteis para sempre? Que ninguém traga sobre si a condenação do servo negligente que enterrou o dinheiro do seu Senhor. T5 155.1
A caridade na hora da morte é um pobre substituto para a beneficência em vida. Muitos legam tudo para amigos e parentes, exceto uma insignificância que dão para o supremo Amigo, Aquele que Se tornou pobre por causa deles, que sofreu insultos, zombarias e morte para que pudessem ser filhos e filhas de Deus. Contudo, esperam que, quando os justos mortos ressuscitarem para a vida imortal, esse Amigo os leve também para Suas eternas habitações. T5 155.2
A causa de Cristo é roubada não por um simples pensamento passageiro, não por um ato impensado. Não. É por um ato deliberado de quem faz o próprio testamento, colocando suas propriedades à disposição de descrentes. Depois de terem roubado a Deus durante a vida, alguns continuam a roubá-Lo após a morte e fazem isso com o pleno consentimento de todas as suas faculdades mentais, num documento que é chamado de seu testamento. Qual, pensam, será o testamento do Mestre em seu favor, por assim procederem para com Ele? Que dirão quando se lhes pedir conta de sua mordomia? T5 155.3
Irmãos, despertem dessa vida de egoísmo e procedam como cristãos coerentes. O Senhor exige que economizem seus recursos e façam fluir para Seu tesouro tudo aquilo que não necessitarem para seu conforto. Irmãs, tomem aquele dinheiro que iriam gastar em doces, adornos ou fitas e doem-nos para a causa de Deus. Muitas das nossas irmãs têm bons rendimentos, mas gastam quase tudo na satisfação do orgulho no vestuário. T5 156.1
À medida que nos aproximamos do fim do tempo, aumentam continuamente as necessidades da causa. Necessitam-se de recursos para dar aos jovens um breve curso em nossas escolas a fim de prepará-los para trabalhar com eficiência no ministério e em outros ramos da causa. Não estamos correspondendo aos privilégios que temos neste assunto. Todas as nossas escolas serão fechadas em breve. Quanto mais poderia ter sido feito se os homens tivessem obedecido aos pedidos de Cristo no tocante à beneficência cristã! Que influência teria tido sobre o mundo esta prontidão em dar tudo para Cristo! Teria sido um dos mais convincentes argumentos em favor da verdade na qual professamos crer — argumento que o mundo não poderia deixar de compreender nem contradizer. O Senhor certamente nos distinguiria diante do mundo através de Suas bênçãos. T5 156.2
A primeira igreja cristã não possuía os privilégios e oportunidades que temos. Eram pessoas pobres, mas sentiam o poder da verdade. O objetivo que tinham diante de si era suficiente para animá-las a nele investir tudo. Elas pensavam que a salvação ou perdição do mundo dependia de sua participação. Por isso estavam sempre dispostas a ir ou vir, de acordo com a vontade do Senhor. T5 156.3
Sempre dizemos que somos governados pelos mesmos princípios, que temos o mesmo espírito. Mas ao invés de darmos tudo para Cristo, muitos temos tomado uma parte do ouro e das vestes de Babilônia e escondido para nós. Se a presença de um só Acã foi suficiente para enfraquecer todo o acampamento de Israel, será que ainda vamos nos surpreender diante dos pequenos sucessos que conseguimos, uma vez que cada igreja e quase cada família tem o seu Acã? Partamos individualmente para o trabalho de estimular outros pelo nosso exemplo de beneficência desinteressada. A obra poderia ter avançado com muito mais poder se todos tivessem feito o que pudessem para suprir o tesouro com recursos. T5 157.1