Testemunhos para a Igreja 5
Capítulo 9 — Casamentos imprudentes
Foi-me mostrado que a juventude de hoje não tem verdadeira noção de seu grande perigo. Há entre os jovens muitos que Deus aceitaria como obreiros nos vários ramos de Sua obra, mas Satanás barra os seus passos e assim os apanha em suas teias, de maneira que se tornam arredios em relação a Deus e incapazes para Sua obra. Satanás é um trabalhador perspicaz e perseverante. Ele sabe precisamente como enlaçar o incauto, e é alarmante que poucos conseguem escapar aos seus ardis. Eles não vêem o perigo e não se protegem contra seus enganos. Satanás os anima a se afeiçoarem depressa um ao outro sem buscar a sabedoria de Deus ou daqueles a quem Ele enviou para os advertir, reprovar e aconselhar. Consideram-se auto-suficientes e não desejam ser contidos. T5 105.3
Seu caso, irmão _____, é uma ilustração convincente disso. Você se tornou obcecado com a idéia do casamento. Como geralmente acontece com aqueles que têm a mente dirigida para essa questão, as advertências dos servos de Deus exercem pouca influência sobre você. Foi-me revelado o quão facilmente o irmão é afetado pelas influências que o rodeiam. Se você se associar com aqueles cuja mente se conforma a moldes inferiores, tornar-se-á como eles. A menos que o amor e temor de Deus esteja diante de você, seus pensamentos serão os pensamentos deles. Se lhes falta reverência, você também se tornará irreverente. Se eles são frívolos e se entregam à busca de prazeres, você seguirá o mesmo caminho com zelo e perseverança dignos de melhor causa. T5 106.1
A jovem a quem você dedica sua afeição não possui profundidade de pensamento ou caráter. Sua vida tem sido frívola e sua mente é muito estreita e superficial. Você tem inflexivelmente recusado as advertências de seu pai, sua amorosa irmã ou amigos da igreja. Venho até você como embaixadora de Cristo, mas seus fortes sentimentos de autoconfiança cerraram-lhe os olhos ao perigo e os ouvidos às advertências. Essa conduta tem sido tão persistente como se ninguém soubesse tanto quanto você, ou como se a salvação de sua alma dependesse de seguir o próprio juízo. T5 106.2
Se cada jovem que professa a verdade agisse como você fez, qual seria a condição das famílias e da igreja? Considere a influência do desrespeito que você demonstrou por seus pais, através de uma vontade auto-centrada e auto-suficiente. O irmão está entre a classe descrita como precipitada e arrogante. Essa paixão causou-lhe a perda de interesse pelas coisas religiosas e o voltar-se para si mesmo em lugar de ter como objetivo a glória de Deus. Nenhum bem pode provir dessa intimidade ou ligação. A bênção de Deus não contemplará essa conduta obstinada que você está adotando. Você não deveria estar ansioso por entrar num relacionamento matrimonial e assumir o encargo de uma família antes de haver estabelecido completamente o próprio caráter. Vejo-o como numa grande escuridão e incapaz de compreender seu perigo. T5 106.3
A verdade estava reformando sua vida e caráter e você estava ganhando a confiança de seus irmãos, mas Satanás viu que o estava perdendo e aumentou os esforços para enredá-lo em sua astuciosa armadilha, sendo muito bem-sucedido. A debilidade de seu caráter, já previamente descoberta, está agora bem desenvolvida. Você não consegue discernir sua condição, embora essa seja bem evidente aos outros. A luz não incide sobre o homem que não faz qualquer esforço para obtê-la. Quando você percebeu que seus irmãos e irmãs foram ofendidos por sua conduta, era tempo de parar e considerar o que estava fazendo, orar muito e aconselhar-se com homens de experiência na igreja, agradecendo-lhes as orientações. T5 107.1
“Mas”, você se perguntou, “deveria eu porventura seguir os conselhos de meus irmãos, independentemente de meus próprios sentimentos?” Eu respondo: A igreja é, sobre a Terra, a autoridade estabelecida por Deus. Jesus disse: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu.” Mateus 18:18. Há, de modo geral, muito pouco respeito demonstrado pelo parecer dos membros dessa igreja. É a falta de deferência pelas suas opiniões que causa tantas dificuldades entre os irmãos. Os olhos da igreja precisam ser capazes de discernir em seus membros, individualmente, o que os que erram não conseguem ver. Poucas pessoas podem ser tão cegas como aquela que está em erro, mas a maioria da igreja é uma força que deveria controlar seus membros. T5 107.2
O apóstolo Pedro diz: “Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” 1 Pedro 5:5. Paulo exorta: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.” Romanos 12:10. “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus”. Efésios 5:21. “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.” Filipenses 2:3. A não ser que as recomendações e conselhos da igreja sejam respeitados, ficará ela enfraquecida. Deus deu autoridade à igreja a qual deve controlar seus membros. T5 107.3
Se você for guiado pela verdade e não pelo erro, estará disposto a obedecer a seus pais e atender estritamente à voz da igreja. Suas orações tem sido feitas com a determinação de pôr em prática o que entende ser certo, a despeito da vontade de seus pais ou da igreja. Através de toda a vida você agiu grandemente por sentimentos egoístas. Com freqüência, o sentimento deve ser sacrificado para cumprir as condições estabelecidas na Palavra de Deus e agir por princípio. T5 108.1
“Devem os pais”, você pergunta, “escolher o companheiro sem atenção para com o espírito ou os sentimentos do filho ou da filha?” Eu lhe dirijo a pergunta como deveria ser: Deve um filho ou uma filha escolher um companheiro sem primeiro consultar os pais, quando tal passo pode afetar grandemente a felicidade dos pais, uma vez que tenham algum afeto a seus filhos? E deve esse filho, não obstante o conselho de seus pais, persistir em seguir o próprio caminho? Respondo positivamente: Não; não, mesmo que ele nunca se haja de casar. O quinto mandamento proíbe tal orientação. “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá.” Êxodo 20:12. Eis um mandamento com uma promessa que o Senhor certamente cumprirá aos que obedecem. Os pais prudentes nunca escolherão para seus filhos companheiros sem o respeito para com os desejos deles. T5 108.2
Pais sábios nunca escolherão as companhias dos filhos sem respeitar suas preferências. Ninguém jamais propôs fazer isso em seu caso. Muito do que a maior parte dos jovens de nossos dias chama amor não passa de impulso cego originado por Satanás para ocasionar-lhes a destruição. T5 108.3
Se você, meu irmão, fosse agora para o colégio, como planejou, eu temeria pela sua carreira lá. Sua manifesta determinação de ter a companhia de uma mulher onde quer que vá demonstrou-me que você está distante de obter benefícios em Battle Creek. A fascinação que o move é mais satânica que divina. Não desejo desapontá-lo com relação a Battle Creek. Ali as regras são rígidas. Os namoros não são permitidos. A escola de nada serviria aos estudantes se eles se envolvessem em casos amorosos como aconteceu com você. Nosso colégio logo ficaria desmoralizado. Os pais não enviam seus filhos aos nossos colégios ou casas publicadoras para viverem uma vida sentimental doentia, mas para serem educados nas ciências ou para aprenderem a profissão de impressor. Onde as regras são tão frouxas que aos jovens é permitido envolver-se e apaixonar-se em associação com o sexo oposto, como aconteceu com você há meses, perde-se o objetivo da permanência em Battle Creek. Se você não é capaz de tirar isso de sua mente e ir para lá com espírito de aprendiz, e com o propósito de envidar os mais determinados, humildes e sinceros esforços, orando para que possa estar em íntima ligação com Deus, seria melhor ficar em casa. T5 109.1
Se você for, deve estar preparado para resistir às tentações e apoiar os professores e instrutores, pondo sua influência totalmente ao lado da disciplina e da ordem. Deus deseja que todos os que trabalham em Sua causa se sujeitem uns aos outros, e estejam prontos a receber conselhos e recomendações. Deveriam treinar-se para a mais severa disciplina mental e moral, a fim de que, assistidos pela graça de Deus, possam estar preparados mental e emocionalmente para ajudar a outros. Oração fervente, humildade e seriedade devem estar combinadas com a ajuda de Deus, pois as fraquezas e sentimentos humanos estão continuamente lutando pela supremacia. Todo homem deve purificar sua mente pela obediência à verdade e, com o olhar posto na glória de Deus, humilhar-se e exaltar a Jesus e Sua graça. Assim avançando continuamente para a luz, ele se tornará familiarizado com Deus e receberá Sua ajuda. T5 109.2
Alguns dos que freqüentam o colégio não aproveitam devidamente o tempo. Tomados da vivacidade da juventude, desdenham das restrições. Especialmente se rebelam contra as regras que não permitem a rapazes dispensar atenções a moças. Muito bem conhecido é o mal de semelhante procedimento, neste século corrupto. Num colégio onde tantos jovens se associam, imitar os costumes do mundo nesse aspecto seria o mesmo que encaminhar os pensamentos para um conduto que os atrapalharia na aquisição de conhecimentos e em seu interesse nos assuntos religiosos. A paixão por parte de ambos, rapazes e moças, partilhando mútuas afeições nos dias escolares, demonstra falta de são juízo. Como em seu próprio caso, o cego impulso controla a razão e o discernimento. Sob esse cativante engano a momentânea responsabilidade sentida por todo cristão sincero é posta de lado, morre a espiritualidade, e o juízo e a eternidade perdem seu solene significado. T5 110.1
Cada uma das faculdades dos que são afetados por esta doença contagiosa — o amor cego — é levada em sujeição a ela. Esses jovens parecem não ter bom senso, e seu procedimento é aborrecível a todos os que presenciam seu procedimento. Meu irmão, você se tornou assunto de comentários e rebaixou-se na estima daqueles cuja aprovação deveria valorizar. Para muitos, a crise da doença chega por motivo de um casamento imaturo, e passada a novidade e o enfeitiçante poder do namoro, uma ou ambas as partes despertam a sua verdadeira situação. Então encontram-se desajustados, mas unidos por toda a vida. Ligados um ao outro pelos mais solenes votos, contemplam, de coração deprimido, a miserável vida que têm de encarar. Devem então fazer o melhor possível com a sua situação; muitos, porém, não querem isso fazer. Ou se demonstram falsos em relação a seus votos matrimoniais, ou tornam o jugo que persistiram em colocar sobre o próprio pescoço tão torturante que não poucos põem covardemente fim à existência. T5 110.2
A associação com os levianos, os superficiais e os céticos produzirá depravação moral e ruína. Moços e moças confiantes e presunçosos podem ter algo de agradável em suas maneiras; podem ter faculdades mentais brilhantes e habilidades para fazer com que o mau pareça preferível ao bom. Essas pessoas encantarão e fascinarão a alguns e, em conseqüência, seres humanos se perderão. A influência dos pensamentos e ações de uma pessoa a circunda como se fosse uma atmosfera invisível, que é inconscientemente absorvida por todos aqueles que entram em contato com ela. Essa atmosfera é freqüentemente carregada de influências tóxicas que, se inaladas, produzem a degeneração moral. T5 111.1
Meu jovem irmão, gostaria de impressioná-lo acerca de sua verdadeira condição. Você precisa arrepender-se ou nunca entrará no reino do Céu. Muitos jovens de ambos os sexos que professam piedade não sabem o que é seguir a Cristo. Não imitam Seu exemplo em fazer o bem. Amor e gratidão para com Deus não lhes brotam do coração, nem são expressos em palavras e atitudes. Não possuem espírito abnegado nem se encorajam no caminho da santidade. Não queremos que esses jovens se envolvam com a solene obra de Deus, pois professam a Cristo, mas não possuem força moral para assumir posição ao lado daqueles que são sóbrios e vigiam em oração, cuja conversação é sobre o Céu e têm a vista voltada para o Salvador. Não estamos ansiosos para que a juventude vá a Battle Creek, pois apesar de professar ser guardadora do sábado indica, pela escolha que faz de suas companhias, seu baixo estado de moralidade. T5 111.2
As portas de nosso colégio sempre estão abertas àqueles que não professam religião, e a juventude que vem a Battle Creek pode ter seus relacionamentos não religiosos, se assim escolher. Se os jovens tiverem motivos justos para se associar com aqueles e suficiente poder espiritual para resistir à sua influência, poderão ser um poder para o bem. Conquanto sejam discípulos, podem tornar-se mestres. O verdadeiro cristão não opta pela companhia de pessoas não convertidas pelo gosto de fruir a atmosfera que lhes cerca a vida irreligiosa ou para suscitar admiração e aplauso, mas com o propósito de comunicar luz e conhecimento e elevar essa gente a um nobre e alto padrão — a ampla plataforma da verdade eterna. T5 112.1
Uma pessoa com motivos puros e desejo de se preparar para fazer reto uso de suas habilidades será uma força para o bem na escola. Exercerá uma influência modelar. Quando os pais justificam as queixas dos filhos contra a autoridade e disciplina da escola, não vêem que estão aumentando o poder desmoralizador que agora prevalece em tão temível extensão. Toda a influência de que o jovem está cercado precisa estar do lado certo, pois a corrupção juvenil está aumentando. T5 112.2
Para a juventude mundana o amor da sociedade e do prazer tem se tornado uma paixão absorvente. Vestir-se, conversar, tolerar o apetite e as paixões e girar em torno de dissipação social parece ser o grande objetivo da existência. Eles se sentem infelizes se deixados em solidão. Seu principal desejo é serem admirados e adulados e provocar sensação na sociedade; e quando esse desejo não é satisfeito, a vida parece insuportável. T5 112.3
Os que põem toda a armadura de Deus e devotam algum tempo cada dia à meditação, oração e estudo das Escrituras estarão em ligação com o Céu e terão uma influência salvadora, transformadora sobre os que os cercam. Pensamentos elevados, nobres aspirações, claras percepções da verdade e dever para com Deus serão seus. Ansiarão por pureza, luz, amor, por todas as graças do novo nascimento. Suas orações sinceras penetrarão além do véu. Essa classe possuirá santa ousadia em vir à presença do Infinito. Sentirão que a luz e as glórias celestiais lhes pertencem e se tornarão refinados, elevados e enobrecidos por sua íntima familiaridade com Deus. Tal é o privilégio do verdadeiro cristão. T5 112.4
Não basta a meditação abstrata; o excesso de atividade não basta — ambos são essenciais à formação do caráter cristão. O poder adquirido na fervente oração secreta nos prepara para resistir aos enganos da sociedade. Não obstante, não devemos nos excluir do mundo, pois nossa experiência cristã exige que sejamos a luz do mundo. A associação com os descrentes não nos causará dano se nos relacionarmos com eles no intuito de uni-los a Deus, e formos suficientemente fortes para evitar sua influência. T5 113.1
Cristo veio ao mundo para salvá-lo, para ligar o homem caído ao Deus Infinito. Os discípulos de Cristo devem ser canais de luz. Mantendo comunhão com Deus, devem transmitir àqueles que estão em trevas e erro especiais bênçãos celestes. Enoque não se contaminou com a iniqüidade prevalecente em seus dias. Por que ocorreria o contrário conosco hoje? Podemos, à semelhança de nosso Mestre, ter compaixão pela humanidade sofredora, piedade dos desafortunados e generosa consideração pelos sentimentos e necessidades dos indigentes, aflitos e desesperados. T5 113.2
Aqueles que são realmente cristãos buscarão fazer o bem aos outros e, ao mesmo tempo, conduzirão sua conversação e comportamento de modo a fruir calma e santificada paz mental. A Palavra de Deus requer que sejamos como nosso Salvador, que reflitamos Sua imagem, imitemos-Lhe o exemplo, vivamos Sua vida. Egoísmo e mundanismo não são frutos de uma árvore cristã. Nenhum homem vive para si mesmo e ainda consegue a aprovação de Deus. T5 113.3
5 de Setembro de 1879