Testemunhos para a Igreja 5

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Capítulo 43 — Manutenção de missões urbanas

Prezado Irmão M:

Recebi, há uns dias, uma carta escrita pelo irmão ao Pastor N, na qual o senhor levanta objeções muito graves contra a responsabilidade de manutenção da missão de _____ pela sua Associação, e acha que outras partes do campo deveriam ter o mesmo interesse nela. Mas se essas não possuem, presentemente, missões nas cidades de sua jurisdição, não haveria localidades onde elas poderiam ser estabelecidas? Se fosse solicitado à sua Associação para tomar a missão de _____ sob seus cuidados, sendo promovida sob a supervisão da Associação Geral, homens responsáveis deveriam sentir ser isso uma evidência de que seus irmãos têm confiança neles e que eles deveriam dizer: “Sim, aceitamos o sagrado encargo. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para fazer da missão um sucesso e mostrar que a confiança de nossos irmãos não será baldada. Pediremos sabedoria a Deus, praticaremos abnegação e implantaremos economia rígida, se necessário.” Deus os susterá no alegre cumprimento desse dever, e fará com que eles se tornem uma bênção antes que uma maldição sobre você e um obstáculo à causa em seu Estado. T5 368.3

Essa grande cidade está em trevas e engano, e a temos deixado assim por longo tempo. Porventura, perdoará Deus essa negligência de nossa parte? Que conta daremos por homens e mulheres que morreram sem ouvir a voz da verdade presente, mas que poderiam tê-la recebido se a luz lhes houvesse sido levada? Meu espírito se agita porque a obra em _____ está muito atrasada. O trabalho que agora está sendo feito poderia ter sido realizado há muitos anos, e com muito menos gasto de dinheiro, tempo e mão-de-obra. Todavia, não deve ser deixado inacabado agora. Um modesto início teve lugar segundo planejamento econômico próprio para a ocasião, e muito mais do que se poderia esperar foi conseguido, considerando-se o que estava disponível. Porém, maiores instalações precisam ser providas. Importa que haja um lugar onde o povo possa ouvir a verdade. É necessário que haja meios para manter os obreiros nessa missão, não em comodidade e luxo, mas de modo simples e confortável. Eles são instrumentos de Deus e nada deveria ser dito ou feito para desanimá-los. Pelo contrário, suas mãos devem ser fortalecidas e seu coração encorajado. T5 369.1

Há em sua Associação suficientes recursos para levar adiante e com sucesso o trabalho. Deveria, por acaso, o príncipe das trevas ser deixado na posse indisputável de nossas grandes cidades, porque custa alguma coisa sustentar as missões? Que aqueles que desejam seguir a Cristo de coração estejam à altura da obra, mesmo que ela esteja sob a responsabilidade dos pastores e do presidente. Os que estão engajados nesse trabalho e dizem: “Rogo que me tenhas por escusado”, deveriam acautelar-se temendo sua dispensa para o tempo e a eternidade. Que os cristãos amantes do dever assumam a responsabilidade que puderem e confiem então em Deus para recepção de força. Ele atuará mediante os esforços de homens e mulheres dedicados e realizará o que eles não podem fazer. Nova luz e poder lhes serão concedidos à medida que usarem o que têm em mãos. Novo fervor e zelo agitarão a igreja à medida que ela vir as coisas acontecendo. T5 369.2

Ficamos alegres quando vemos o que pode ser feito, mas nos envergonhamos diante de nosso Criador ao pensamento do pouco que tem sido realizado. Os pastores têm negligenciado as responsabilidades que Deus lhes deu; tornando-se limitados e vacilantes, e têm alimentado covardia, indolência e ganância. Eles não compreenderam a magnitude e importância do trabalho. São necessários homens cujos olhos estejam ungidos para ver e compreender os desígnios celestiais. Então a norma da piedade será erguida e haverá missionários verdadeiros, que estarão prontos a se sacrificar pela causa da verdade. Na igreja de Deus não há espaço para o egoísta e amante de comodidades, mas serão chamados homens e mulheres que farão esforços para implantar o estandarte da verdade em nossas grandes cidades, nas grandes metrópoles. T5 370.1

Um mundo precisa ser advertido e, em humildade, devemos trabalhar para Deus segundo as habilidades a nós dadas. Que a obra seja desenvolvida em cada Estado. Que direito têm aqueles com idéias estreitas e não santificadas de dizer o que sua Associação fará ou deixará de fazer? A missão de _____ não será deixada inteiramente a cargo de seu Estado, mas se sua Associação tiver o coração na obra, ela poderá manter duas missões semelhantes e não sentir seu peso. Venham, irmãos, despertem para a ação. O tempo perdido por causa de sua incredulidade e falta de coragem se foi para sempre. Que os pastores entrem em ação como se alguma coisa precisasse ser feita e os homens de coração generoso, que amam a Deus e guardam Seus mandamentos virão em auxílio do Senhor. Assim a igreja será preparada para futuros esforços, pois sua beneficência jamais deve cessar. T5 370.2

Pastor M, como presidente da Associação _____, o senhor mostrou por sua administração geral que não é digno da confiança que lhe foi depositada. O irmão revelou que é muito conservador e que suas idéias são em extremo mesquinhas. O senhor não fez metade do que poderia se estivesse imbuído do verdadeiro espírito da obra. Teria condições de alcançar maior experiência e capacidade do que possui agora, e estaria muito melhor preparado para administrar com sucesso essa sagrada e importante missão — uma obra que lhe teria dado o mais positivo direito à confiança de nosso povo. Mas, semelhantemente a outros irmãos do ministério em seu Estado, o senhor falhou em avançar segundo a providência de Deus. Não demonstrou que o Espírito Santo estava impressionando profundamente seu coração, para que pudesse falar ao povo através do irmão. Se nessa crise o senhor fizer algo para incrementar a dúvida e a desconfiança nas igrejas de seu Estado, algo que impeça o povo de se envolver de coração nessa obra, Deus o considerará responsável. Porventura deu Deus ao irmão inequívoca evidência de que os irmãos de seu Estado estão dispensados da responsabilidade de trabalhar na cidade de _____, com a mesma intensidade que Cristo trabalhou por eles? Se o irmão estivesse na luz, estaria encorajando essa missão através de sua fé. T5 370.3

O irmão necessita beber profundamente das correntes da graça e salvação, antes que possa conduzir outros à Fonte de águas vivas. Estando no cargo de presidente de uma Associação, com a experiência e influência que esse ofício exige, em lugar de desanimar o povo, o senhor deveria insistir com eles para que se empenhassem novamente e que assumissem responsabilidades mais pesadas. Há deveres especiais que competem a homens em posições de responsabilidade; há diligentes esforços que seria conveniente pôr de lado. Mas quando os pastores são negligentes com relação ao dever, que o Senhor tenha piedade das pobres ovelhas. T5 371.1

Seu trabalho, meu irmão, não demonstra que o senhor compreendeu suas obrigações como sagradas e importantes. Foi-me revelado que o irmão é capaz de prestar melhores serviços do que os que realizou, e que Deus exige maior e melhor trabalho de suas mãos. Ele exige fidelidade e integridade. A obra da salvação é a mais alta e mais nobre jamais confiada a mortais, e o irmão não deveria permitir que coisa alguma se interpusesse entre o senhor e essa sagrada obra, que absorvesse sua atenção e confundisse seu pensamento. Quem está na posição de responsabilidade que o irmão ocupa deveria dar prioridade aos interesses eternos e pôr os proveitos terrenos em segundo lugar. O irmão é um embaixador de Cristo e deveria animar aqueles que estão a seu cargo, a procurarem maiores realizações espirituais e viverem vida mais santa e pura. Em seu empenho de salvar pessoas da perdição e edificar a igreja em verdade e justiça, o senhor deveria usar tato, sabedoria e o poder que é seu privilégio possuir através da constante comunhão com Deus. Deus requer isso do irmão e de cada pastor envolvido nessa obra. O irmão deveria demonstrar lealdade a seu crucificado Redentor, agindo como quem compreende ter o solene encargo de apresentar cada homem perfeito em Cristo Jesus, de nada necessitando. T5 371.2

Em seu caso, muito mais poderia ser feito mediante uma vida santa, fervente oração e cuidadoso desempenho de cada dever. O senhor tinha condições de fazer muito através de fiéis advertências, reprovações e afetuosos apelos. Não é necessário apenas capacidade mental, mas poder de coração. A verdade apresentada tal qual é em Jesus produzirá efeitos. Falta-lhe religião fervorosa e ativa no lar. Interesses egoístas têm obscurecido sua mente e pervertido o juízo, e os reclamos de Deus não são compreendidos. O senhor precisa livrar seu coração dos cuidados e negócios mundanos e visar à glória de Deus. T5 372.1

O destino eterno de todos está prestes a ser decidido. Os pastores de Illinois, Wisconsin, Iowa e outras Associações, devem ir adiante com candente zelo para proclamar a última mensagem de advertência. Estarão os presidentes, num tempo como este, sem couraça e recusando-se a assumir a pesada responsabilidade? Por voz e pena exercerão eles uma influência desanimadora sobre aqueles que querem trabalhar? Qualquer atitude da parte deles que estimule indolência e incredulidade, constitui-se um crime gravíssimo. Eles deveriam encorajar os irmãos a se empenharem na causa de Deus e fazerem todo esforço pela salvação das pessoas. E não deveriam deixar nem mesmo a mais leve impressão sobre o povo de que estão sacrificando muito pela causa de Deus, ou que se lhes está exigindo mais do que é razoável. É preciso assumir riscos, na guerra celestial. Agora é tempo de trabalharmos, de enfrentarmos dificuldades e perigos. A providência de Deus diz: “Avancem!” e não: “Voltem ao Egito”. E, em lugar de modelar um testemunho para agradar ao povo, os pastores deveriam empenhar-se por despertar os dormentes. T5 372.2

Posso discernir em sua carta, Pastor M, uma tendência à incredulidade, uma falta de bom senso e discernimento. Sua conduta confirma o testemunho que dei sobre o irmão estar imprimindo à Associação um formato estreito e dificultando seu progresso, porque não ergueu o padrão da verdade. Citarei aqui uns poucos parágrafos desse testemunho, que foi escrito durante as reuniões da Associação Geral, em Novembro de 1883: T5 373.1

“Nossa conversa com respeito à missão _____ deixou uma desagradável impressão em minha mente. Não me julgue severa em minhas observações com relação a essa missão. Falei com grande satisfação sobre o modo como esse trabalho estava sendo conduzido. O senhor disse que o irmão O e seus associados estavam dispostos a fazer o trabalho progredir de qualquer jeito; que eles dispunham de um pequeno quarto num sótão, onde preparavam seu alimento e faziam um bom trabalho, do modo mais econômico. Suas idéias a respeito não são corretas. A luz que Deus nos deu, mais preciosa que a prata e o ouro, deve brilhar de um modo que dê personalidade à obra. Os irmãos ligados a essa missão não estão livres das enfermidades humanas, e a menos que seja dada atenção à sua saúde, o trabalho sofrerá tremendo embaraço. Os que estão na liderança da obra na Associação não devem permitir que tal estado de coisas subsista. Eles deveriam educar o povo a dar de seus meios a fim de que os obreiros não sofram opressiva necessidade. Como mordomos de Deus, repousa sobre eles a responsabilidade de verificar que um ou dois não fiquem sacrificados, enquanto outros buscam facilidades, comer, beber e vestir-se, sem sequer um pensamento voltado para nossas sagradas missões ou ao seu dever para com elas. T5 373.2

“Foi-me mostrado, Pastor M, que o senhor não possui uma correta visão da obra, que não compreende sua importância. O irmão falhou em educar o povo no verdadeiro espírito de abnegação e devoção. Temeu exortar os homens ricos a cumprir seu dever, e quando fez débeis esforços na direção correta e eles começaram a apresentar desculpas e apontar pequenas falhas de alguém relacionado à administração da obra, o irmão pensou que talvez eles estivessem certos. Esse subterfúgio que gerou neles dúvidas e incredulidade, produziu efeito no próprio coração do irmão. Eles levaram isso em conta e aprenderam justamente como lidar com seus esforços. Quando manifestaram dúvida com relação aos Testemunhos, o senhor não fez o que deveria para erradicar esse sentimento. O irmão deveria ter-lhes mostrado que Satanás está sempre buscando defeitos, questionando, acusando e trazendo vergonha sobre os irmãos, e que não é seguro ficarem eles em tal posição. T5 373.3

“Meu irmão, o senhor não adotou uma conduta que motivasse homens a se entregarem ao ministério. Em lugar de reduzir as despesas da obra a níveis tão baixos, é seu dever levar as pessoas a entender que ‘digno é o trabalhador do seu salário’. As igrejas precisam ser impressionadas com o fato de que é seu dever proceder honestamente para com a causa de Deus, não permitindo que a culpa da pior espécie de furto — roubar a Deus nos dízimos e nas ofertas — incida sobre elas. Quando são feitos ajustes com os obreiros em Sua causa, esses não deveriam ser forçados a aceitar pequena remuneração, porque há falta de dinheiro nos cofres. Dessa maneira, muitos têm sido defraudados naquilo que lhes é devido, e isso é tanto um crime à vista de Deus como reter os salários dos que estão empregados em quaisquer outros ramos comuns de negócio. T5 374.1

“Há homens de capacidade que gostariam de sair e trabalhar em nossas várias Associações, mas não têm coragem, pois precisam obter meios para o sustento de sua família. Essa é a pior espécie de estratégia que uma Associação pode adotar, da mesma forma que faltar com o pagamento de seus compromissos. Há muita coisa assim sendo feita, e, onde quer que ocorra, Deus é ofendido. T5 374.2

“Se os presidentes e outros obreiros em nossas Associações impressionarem o povo com o caráter do crime de roubar a Deus, e se eles possuírem espírito consagrado e sentirem o peso da obra, Deus tornará seus trabalhos uma bênção ao povo e serão vistos frutos como resultado de seus esforços. Os pastores têm falhado grandemente em seu dever de trabalhar desse modo com as igrejas. Há uma importante obra a ser feita paralelamente àquela da pregação. Houvesse o trabalho sido feito como Deus o determinara e haveria muito mais obreiros no campo do que agora. Se os pastores tivessem cumprido seu dever de educar cada membro, quer rico quer pobre, a dar segundo sua prosperidade, haveria um tesouro pleno do qual sacar para pagar salários justos aos obreiros e um grande avanço missionário em todas as suas fronteiras. Deus me mostrou que muitas pessoas estão em perigo de eterna ruína por causa do egoísmo e mundanismo, e que os vigias são culpados porque negligenciaram seu dever. Esse é um estado de coisas que Satanás exulta em ver. T5 374.3

“Todos os ramos da obra têm a ver com os pastores. Não é ordem divina que alguns continuem nessa prática e deixem seu trabalho inacabado. Não é obrigação da Associação arcar com as despesas de emprego de outros obreiros para substituí-los e retomar os pontos abandonados por obreiros negligentes. É obrigação do presidente da Associação exercer a supervisão dos obreiros e seu trabalho, e ensiná-los a serem fiéis nessas coisas, pois nenhuma igreja pode prosperar se estiver roubando a Deus. A carência espiritual de nossas igrejas é freqüentemente o resultado da alarmante prevalência do egoísmo. Interesses egoístas e esquemas mundanos interpõem-se entre a pessoa e Deus. Os homens aferram-se ao mundo parecendo temer que se deixassem esse seu apego, Deus não cuidaria deles. Assim tentam encarregar-se de si mesmos e tornam-se inquietos, preocupados, atormentados, presos às suas propriedades e aumentando suas possessões. T5 375.1

A Palavra de Deus fala sobre o salário dos trabalhadores que foi retido com fraude. Tiago 5:4. Geralmente se entende que essa passagem como aplicável aos ricos que empregam servidores e não os remuneram por seu trabalho, mas o significado do verso é bem mais amplo. Ela se aplica com grande força de sentido àqueles que foram instruídos pelo Espírito de Deus e ainda, em certa medida, agem segundo o mesmo princípio dos ricos empregadores ao assalariar seus servos, obrigando-os a trabalhar pesada e longamente pelas mais baixas remunerações. T5 375.2

Solenemente eu os advirto a não adotarem atitude similar aos espias infiéis, que subiram a observar a terra da promessa. Quando retornaram de sua jornada, a congregação de Israel estava acalentando altas esperanças e aguardando em ansiosa expectativa. As novas de sua volta espalharam-se de tribo em tribo e foram saudadas com júbilo. O povo apressou-se a encontrar os mensageiros que haviam suportado o cansaço da viagem nas poeirentas estradas e sob um sol abrasador. Os espias trouxeram vários tipos de frutos para mostrar a fertilidade do solo. A congregação regozijou-se de que estava para entrar na posse de uma terra tão abençoada, e ouviram atentamente o relatório trazido a Moisés para que nenhuma palavra lhes escapasse. Os espias declararam: “Fomos à terra a que nos enviaste; e, verdadeiramente, mana leite e mel, e este é o fruto.” Números 13:27. O povo ficou entusiasmado; eles atenderiam ansiosamente à voz de Deus e subiriam a possuir a terra. T5 376.1

Mas os espias continuaram: “O povo, porém, que habita nessa terra é poderoso, e as cidades, fortes e mui grandes; e também ali vimos os filhos de Anaque.” Verso 13:28. Transmuda-se agora a cena. Esperança e bravura deram lugar ao covarde desespero enquanto os espias expressavam os sentimentos de seu coração incrédulo, pleno de desânimo induzido por Satanás. Sua incredulidade lançou negra sombra sobre a congregação. O poder de Deus, tão freqüentemente manifestado em favor da nação escolhida, foi esquecido. T5 376.2

O povo desesperou-se em sua frustração. Um angustiante lamento se ergueu e misturou-se com um confuso murmúrio de vozes. Calebe compreendeu a situação e corajosamente apresentou-se em defesa da palavra de Deus, fazendo tudo o que lhe estava ao alcance para se opor à péssima influência de seus infiéis companheiros. Por um instante o povo silenciou para ouvir suas palavras de esperança e coragem com relação à formosa terra. Ele não contradisse o que já havia sido dito; os muros eram altos e os cananeus fortes, mas argumentou: “Subamos animosamente e possuamo-la em herança; porque, certamente, prevaleceremos contra ela.” Verso 13:30. Mas os dez espias o interromperam e retrataram os obstáculos em cores mais negras do que antes: “Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós.” Verso 13:31. “Todo o povo que vimos no meio dela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos e assim também éramos aos seus olhos.” Versos 32, 33. T5 376.3

“Então, levantou-se toda a congregação, e alçaram a sua voz; e o povo chorou naquela mesma noite.” Números 14:1. Os homens que haviam desde há muito convivido com a perversidade de Israel sabiam muito bem o que viria em seguida. Revolta e amotinação declarada rapidamente se seguiram, pois Satanás havia tomado o controle e o povo parecia privado de sua razão. Amaldiçoaram a Moisés e Arão, esquecendo-se de que Deus ouvia suas ímpias palavras e que, oculto na coluna de nuvem, o Anjo de Sua presença estava testemunhando a terrível explosão de ira. Em amargura clamaram: “Ah! Se morrêramos na terra do Egito! Ou, ah! Se morrêramos neste deserto! E por que nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito?” Números 14:2, 3. T5 377.1

Em humilhação e angústia Moisés e Arão “caíram sobre os seus rostos perante todo o ajuntamento dos filhos de Israel” (Números 14:5), não sabendo o que fazer para desviar de si seu imprudente e apaixonado propósito. Calebe e Josué tentaram acalmar o tumulto. Com suas vestes rasgadas como sinal de pesar e indignação, correram para o meio do povo e suas sonoras vozes foram ouvidas acima da tormenta de lamentação e aflição rebelde: “A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o Senhor Se agradar de nós, então, nos porá nesta terra e no-la dará, terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor e não temais o povo desta terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais.” Números 14:7-9. T5 377.2

O falso relatório dos espias infiéis foi totalmente aceito e por causa dele toda a congregação foi enganada, assim como Satanás queria que fosse. A voz de Deus através de Seus fiéis servos foi desdenhada. Os traidores haviam feito sua obra. Toda a assembléia, numa só voz, bradou pedindo o apedrejamento de Calebe e Josué. T5 378.1

Nesse momento o poderoso Deus Se revelou em meio à confusão de Seu povo desobediente e murmurador. “Porém, a glória do Senhor apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel.” Que carga fora posta sobre Moisés e Arão, e quão ferventes foram suas súplicas para que Deus não destruísse o povo! Moisés evocou diante do Senhor as maravilhosas manifestações que fizeram o nome do Deus de Israel um terror aos seus inimigos, e implorou que os adversários de Deus e de Seu povo não lograssem ocasião de triunfar, dizendo: “Porquanto o Senhor não podia pôr este povo na terra que lhes tinha jurado; por isso, os matou no deserto.” Números 14:16. O Senhor deu ouvidos à oração de Moisés, mas declarou que aqueles que haviam se rebelado contra Ele, após haverem testemunhado Seu poder e glória, cairiam no deserto; não deveriam contemplar a terra que era sua herança prometida. Mas, de Calebe, disse Deus: “Porém o Meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito e perseverou em seguir-Me, Eu o levarei à terra em que entrou, e a sua semente a possuirá em herança.” Números 14:24. T5 378.2

Foi a fé de Calebe em Deus que lhe deu coragem, que o guardou do temor do homem, mesmo dos poderosos gigantes, os filhos de Anaque, e o capacitou a permanecer corajosa e resolutamente em defesa do direito. Desta mesma exaltada fonte — o poderoso General dos exércitos do Céu — todo fiel soldado da cruz de Cristo deve receber força e coragem para vencer os obstáculos que muitas vezes parecem intransponíveis. Aqueles que quiserem cumprir o seu dever precisam estar sempre prontos para proferir as palavras que Deus lhes dá, e não as palavras de dúvida, desencorajamento e desespero. T5 378.3

Pastor M, embora o irmão possa estar sendo apoiado por muitos, como aconteceu com os espias infiéis, todavia os sentimentos de sua carta não foram incitados pelo Espírito do Senhor. Acautele-se, a fim de que suas palavras e espírito não sejam como os deles e sua obra do mesmo caráter maligno. Num tempo como este, não devemos abrigar um pensamento nem sussurrar uma palavra de incredulidade, tampouco encorajar um ato sequer de serviço do eu. Isso foi feito nas Associações de Colúmbia e do Norte do Pacífico, enquanto sentíamos, na mesma medida, a tristeza, o vexame e o desânimo que Moisés e Arão, Calebe e Josué experimentaram. Tentamos desviar a tendência para a direção oposta, todavia isso ocorreu a custo de muito trabalho duro, grande ansiedade e pesar. A obra de reforma nessas Associações apenas começou. É um trabalho de longo prazo suplantar a incredulidade, desconfiança e a suspeita acumulada durante anos. Satanás tem, em grande medida, sido bem-sucedido em seus propósitos nessas Associações, porque encontrou pessoas que poderia usar como seus agentes. T5 379.1

Por causa de Cristo e da verdade, irmão M, não deixe que a obra em sua Associação atinja tal estado que seja impossível a seu sucessor pôr as coisas em ordem. O povo tem tido percepções estreitas e limitadas da obra; o egoísmo tem sido animado e o mundanismo deixado de ser reprovado. Apelo ao irmão para que faça tudo o que estiver ao seu alcance para desfazer o formato equivocado que você deu à essa Associação, para corrigir os tristes efeitos de sua negligência do dever, e assim preparar o campo para outro obreiro. A menos que faça isso, que Deus tenha piedade de quem o suceder. T5 379.2

Os presidentes de Associações devem ser homens a quem se possa confiar plenamente a obra de Deus. Deveriam ser homens íntegros, cristãos altruístas, consagrados e operosos. Se forem deficientes nesses aspectos, as igrejas sob seus cuidados não poderão prosperar. Esses, mais do que outros ministros de Cristo, deveriam ser exemplos de viver piedoso e devoção desinteressada às conveniências da causa de Deus; que aqueles que os contemplarem como exemplo não sejam desencaminhados. Em alguns casos, eles tentam servir a Deus e a Mamom. Não são abnegados e não se interessam pelas pessoas. Sua consciência não é sensível. Quando a causa de Deus é atingida, não se sentem feridos. Em seu coração questionam e duvidam dos Testemunhos do Espírito de Deus. Não carregam a cruz de Cristo e desconhecem o intenso amor de Jesus. Não são fiéis pastores do rebanho sobre o qual foram feitos superintendentes. Seu registro no Céu é tal que eles não se alegrarão de enfrentar no dia de Deus. T5 379.3

Quanto será requerido do pastor em sua obra de vigiar pela salvação das pessoas como quem tem de dar contas! Que devoção, que singeleza de propósito, que elevada piedade, deveriam ser vistas em sua vida e caráter! Quanto se perde pela falta de tato e habilidade em apresentar a verdade a outros; quanto se perde por atitudes descuidadas, por dureza nas palavras e pela mundanismo que de modo nenhum representa a Cristo ou lembra o Céu. Nosso trabalho está quase por ser encerrado. Brevemente será dito no Céu: “Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda.” Apocalipse 22:11. Neste tempo solene a igreja é convocada a ser vigilante por causa da intensa atividade de Satanás. Suas atuações são vistas de todo lado, e ainda pastores e povo agem como se fossem ignorantes de seus estratagemas e estivessem paralisados por seu poder. Que cada membro da igreja desperte. Que cada obreiro se lembre de que a vinha que cultiva não é sua própria, mas pertence a seu Senhor, que saiu para uma longa viagem e em Sua ausência comissionou os servos para cuidarem de Seus interesses. Que o servo se lembre de que se for infiel a seu legado, precisará dar contas ao Senhor quando Ele voltar. T5 380.1

Enquanto os duvidosos falam de impossibilidades, enquanto tremem ao pensamento de muros fortificados e gigantes de grande estatura, os fiéis Calebes, aqueles que têm “outro espírito”, venham para a frente. A verdade de Deus que produz salvação, chegará ao povo, se pastores e professos crentes não lhe embaraçarem o caminho, como fizeram os espias infiéis. Nossa obra é impetuosa. Algo precisa ser feito para advertir o mundo. Que nenhuma voz se ouça a encorajar interesses egoístas para negligenciar os campos missionários. Devemos envolver-nos nessa obra de coração, alma e voz. As energias mentais e físicas precisam ser despertadas. Todo o Céu está interessado em nosso trabalho e os anjos de Deus se envergonham de nossos débeis esforços. T5 380.2

Estou alarmada com a indiferença de nossas igrejas. Como Meroz, elas têm falhado no vir em socorro do Senhor. Os leigos estão acomodados. Eles cruzaram seus braços, achando que a responsabilidade repousa sobre os pastores. Mas Deus designou trabalho para todos os homens, não para trabalharem em suas lavouras de milho e trigo, mas na obra perseverante e fervorosa da salvação. Irmão M, Deus o proíbe, e a qualquer outro pastor, extinguirem qualquer partícula do espírito de trabalho que ainda existe. Porventura você o estimulará por suas palavras de candente zelo? O Senhor nos tornou os depositários de Sua lei; Ele confiou-nos a sagrada e eterna verdade, que deve ser transmitida a outros em fiéis advertências, repreensões e encorajamento. Por vias férreas e marítimas, devemos ligar-nos com cada parte do mundo e acessar cada nação com nossa mensagem da verdade. Que semeemos a semente do evangelho sobre todas as águas, pois não sabemos qual prosperará, se esta ou aquela, ou se ambas serão frutíferas. Paulo pode plantar, Apolo regar, mas Deus é quem dá o crescimento. T5 381.1

“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus.” Mateus 5:16. Não coloque sua luz debaixo do alqueire, mas, no velador, para que possa dar luz a todos os que estão na casa. “Não sois de vós mesmos... porque fostes comprados por bom preço...”, pelo precioso sangue do Filho de Deus. Não temos o direito de viver para nós mesmos. Cada pastor deveria ser um missionário consagrado; cada leigo, um obreiro, usando seus talentos de influência e meios a serviço do Senhor, pois a beneficência prática é um princípio vital do cristianismo. É o exercício desse princípio que deve trazer os molhos ao Senhor da colheita, enquanto que a ausência dele dificulta a obra de Deus e obstrui o caminho para a salvação das pessoas. T5 381.2

Os pastores têm negligenciado incrementar a beneficência evangélica. O assunto dos dízimos e ofertas não tem sido tratado como deveria. Não são os homens por natureza inclinados à beneficência, mas à mesquinhez e avareza, e a viverem para o eu. Satanás está sempre pronto a apresentar as vantagens que poderão advir pelo uso de todos os meios, para propósitos egoístas e mundanos; e se alegra quando consegue influenciá-los para se esquivarem ao dever e a roubarem a Deus nos dízimos e ofertas. Mas neste assunto ninguém fica dispensado. “Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade.” 1 Coríntios 16:2. O pobre, o rico, os rapazes e as moças que recebem salário — todos devem pôr de parte alguma coisa; pois Deus o pede. A prosperidade espiritual de cada membro da igreja depende do esforço pessoal e da estrita fidelidade a Deus. Diz o apóstolo Paulo: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna.” 1 Timóteo 6:17-19. De todos é requerido que mostrem interesse nos vários ramos da causa de Deus. Provas difíceis e repentinas serão trazidas sobre eles para que se veja quem é digno de receber o selo do Deus vivo. T5 382.1

Todos deveriam sentir que não são proprietários, mas mordomos, e que é chegado o tempo de dar contas do uso que têm feito do dinheiro de seu Senhor. Serão necessários meios à causa de Deus. Como Davi, poderiam eles dizer: “Porque tudo vem de ti, e da Tua mão to damos.” 1 Crônicas 29:14. Devem ser estabelecidas escolas em vários lugares, as publicações devem ser disseminadas, igrejas devem ser construídas nas grandes cidades e os obreiros devem ser enviados não apenas às cidades, mas às estradas e fronteiras. E agora, meus irmãos crentes na verdade, eis sua oportunidade. Estamos parados, por assim dizer, nas fronteiras do mundo eterno. Estamos esperando pelo glorioso aparecimento de nosso Senhor. A noite se esvai e o dia se aproxima. Quando compreendermos a grandeza do plano da redenção, seremos muito mais intrépidos, abnegados e consagrados do que temos sido. T5 382.2

Há uma grande obra a fazer antes que nossos esforços sejam coroados de êxito. Precisa haver uma decidida reforma em nosso lar e em nossas igrejas. Os pais precisam trabalhar pela salvação de seus filhos. Deus cooperará com nossos esforços quando fizermos tudo quanto nos foi ordenado e para o que fomos qualificados. Mas, por causa de nossa incredulidade, mundanismo e indolência, pessoas que estão às nossas portas e que foram compradas a preço de sangue, estão morrendo sem advertência em seus pecados. Triunfará Satanás sempre assim? Oh, não! A luz que vem da cruz do Calvário indica que uma grande obra, a qual nossos olhos jamais testemunharam, deve ser feita. T5 383.1

O terceiro anjo, voando pelo meio do céu, proclamando os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus, representa nossa obra. Essa mensagem nada perde de sua força à medida que o vôo angélico progride, pois João o vê crescendo em força e poder até toda a Terra ser iluminada por sua glória. O caminho do povo que guarda os mandamentos de Deus é para frente, sempre para frente. A mensagem da verdade que nos foi confiada deve ir a todas as nações, línguas e povos. Brevemente ela atingirá seu alto clamor e a Terra será iluminada com sua glória. Estamos nos preparando para o grande derramamento do Espírito de Deus? T5 383.2

Agentes humanos devem ser empregados nesta obra. Zelo e energia devem ser intensificados. Talentos que se estão enferrujando em virtude da inatividade devem ser impelidos para o serviço. Se uma voz disser: “Espere; não carregue fardos impostos por outros”, essa é a voz dos espias covardes. Necessitamos agora de Calebes que abram caminho para a frente — líderes em Israel que com corajosas palavras apresentem um forte relatório em favor de ação imediata. Quando pessoas egoístas, assustadas, amantes da vida fácil, temendo altos gigantes e muros inacessíveis, clamarem por retirada, seja ouvida a voz dos Calebes, embora os covardes estejam com pedras nas mãos, prontos para abatê-los por seu fiel testemunho. T5 383.3

Podemos nós discernir os sinais dos tempos? Podemos ver quão diligentemente Satanás está atuando para atar o joio em molhos, unindo os elementos de seu reino para obter o controle do mundo? O esforço de atamento do joio está progredindo muito mais rapidamente do que imaginamos. Satanás está erguendo todo o obstáculo possível ao avanço da verdade. Está buscando criar divergências de opinião e estimular o mundanismo e a cobiça. Opera com a sutileza de uma serpente e a ferocidade de um leão. A ruína das pessoas é seu único deleite, a destruição delas, seu único trabalho. Assim, agiremos nós como se estivéssemos paralisados? Aqueles que professam crer na verdade presente ouvirão, porventura, as tentações do astuto adversário, tornando-se egoístas e tacanhos e permitindo que seus interesses mundanos interfiram nos esforços em favor da salvação? T5 384.1

Todos os que transpuserem os portais celestiais entrarão como conquistadores. Quando a multidão de redimidos rodear o trono de Deus, com ramos de palmas em suas mãos e coroas sobre a cabeça, serão conhecidas as vitórias que conquistaram. Será visto como o poder de Satanás foi exercido sobre as mentes; como ligava a si mesmo pessoas que se iludiam pensando estar fazendo a vontade de Deus. Ver-se-á também que seu poder e sutileza não poderiam ter sido resistidos com sucesso, não houvesse o poder divino sido combinado com esforços humanos. O homem precisa ser vitorioso também sobre si mesmo, seu temperamento, inclinações e sua vontade precisa ser levada em sujeição à vontade de Deus. A justiça e o poder de Cristo estão disponíveis a todos os que reivindicarem Seus méritos. T5 384.2

Esforços perseverantes e determinados devem ser realizados para fazer recuar o terrível inimigo. Temos necessidade de toda a armadura da justiça. O tempo está passando e rapidamente nos aproximamos do fim do tempo de graça. Estarão nossos nomes registrados no livro da vida do Cordeiro, ou seremos contados com os infiéis? Somos daqueles que se reunirão diante do grande trono branco, entoando o cântico dos remidos? Não existirão pessoas apáticas nessa multidão. Todos estarão com seu coração pleno de ações de graças pelo maravilhoso amor de Deus e a inexcedível graça que habilitou Seu povo a vencer a guerra contra o pecado. Em alta voz entoarão o cântico: “Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro.” Apocalipse 7:10. T5 384.3