Testemunhos para a Igreja 5
Capítulo 41 — Fabricação de vinho e sidra
Prezados irmãos e irmãs da igreja de _____:
Foi-me mostrado que como igreja vocês não estão crescendo na graça e no conhecimento da verdade. Não há aquela consagração a Deus, aquela devoção a Seu serviço ou aquele desinteressado trabalho na edificação de Sua causa, os quais deveriam fazer dos irmãos uma igreja próspera e saudável. Vocês não se sujeitam uns aos outros. Há muitos entre os irmãos que têm suas próprias idéias a defender e planos egoístas a realizar, e alguns que ocupam posições de destaque na igreja estão entre esses. T5 354.2
O irmão K não tem em vista a glória de Deus; ele não enxerga as coisas de um ponto de vista correto. Dá ouvidos às sugestões de Satanás e toma conselho com seu próprio e não-santificado julgamento. Apega-se a cada palavra que pode ser enquadrada na justificação de seu equivocado comportamento. Ele engana a si mesmo e não percebe que está se fechando para o Espírito de Deus. Quando enveredou por esse caminho, não lhe conhecia os perigos nem compreendia onde ele o conduziria. Todos os que trilham a mesmo caminho fariam bem em desviar seus pés para uma rota segura. T5 354.3
Vivemos em uma época de intemperança, e preparar algo para o apetite do bebedor de sidra é uma ofensa a Deus. Juntamente com outros, você se empenhou nesse trabalho por não haver seguido a luz. Houvesse permanecido na luz e não haveria, não poderia haver feito isso. Cada um de vocês que teve parte nesse trabalho estará sujeito à condenação de Deus, a menos que façam inteira mudança em seu negócio. Necessitam ser sinceros. Precisam começar imediatamente a obra para purificar sua vida da condenação. T5 354.4
Alguns de vocês em _____ desenvolveram estupendo zelo em denunciar os clubes da fita vermelha. Na medida em que agiram pelo desejo de condenar o mal existente nessas sociedades, vocês estavam certos, mas quando atuaram como se fosse um crime falar em favor delas ou mostrar-lhes a mínima boa vontade, levaram o assunto a extremos. Vocês deveriam ser coerentes em todas as coisas. Alimentaram um rancor pelo nome “Clubes da Fita Vermelha”* que não tem origem no Espírito de Deus, e seus sentimentos de amargura não ajudaram vocês nem aos outros. T5 355.1
Vocês apanharam os testemunhos dados com relação à associação de nosso povo com as sociedades de temperança e, em detrimento de seu interesse espiritual, torceram-nos usando-os para oprimir as pessoas. Ao tratar assim a luz concedida, vocês atraíram descrédito sobre minha obra. Não há a mínima necessidade disso e alguns dos irmãos têm algo a fazer para corrigir essa questão. Quiseram fazer um molde de ferro para os outros; se muito curto, eles precisavam encolher-se; se longo, tinham de ser cortados. “Não julgueis, para que não sejais julgados.” Mateus 7:1. T5 355.2
Depois de haverem tomado decidida atitude em oposição à ativa participação na obra das sociedades de temperança, poderiam ainda haver conservado certa influência sobre outros para o bem, caso agissem conscienciosamente em harmonia com a fé que professam; mas, empenhando-se na manufatura da sidra, prejudicaram muito sua influência; e o que é pior, acarretaram vergonha à verdade, e a própria salvação foi prejudicada. Vocês estão construindo uma barreira que os separa da causa da temperança. Essa conduta levou incrédulos a pôr em dúvida os seus princípios. T5 355.3
Vocês não estão fazendo retos caminhos para seus pés; e os coxos estão vacilando e tropeçando em vocês para a perdição. T5 356.1
Não posso ver como, à luz da lei de Deus, podem cristãos empenhar-se conscienciosamente na cultura de lúpulo ou na manufatura de vinho ou de sidra para o mercado. Todos esses artigos podem ser empregados para fins adequados, e demonstrarem-se uma bênção; ou podem ser postos em mau uso, e se demonstrarem uma tentação e uma ruína. Sidra e vinho podem ser engarrafados quando frescos, e conservados doces por longo tempo; e caso sejam usados quando não fermentados, não destronarão a razão. Mas aqueles que transformam maçãs em sidra para o mercado, não são cuidadosos quanto ao estado da fruta usada e, em muitos casos, é extraído o suco de maçãs deterioradas. Aqueles que não pensariam em usar maçãs podres e envenenadas de outra forma, bebem a sidra delas feita e a acham um luxo, mas o microscópio revelaria o fato de que essa “agradável” bebida é frequentemente imprópria para o estômago, mesmo quando sai fresca da prensa. Se for fervida, cuidando-se assim de remover suas impurezas, é menos objetável. T5 356.2
Ouço freqüentemente o povo dizer: “Oh, esta é apenas sidra doce e perfeitamente inofensiva, até mesmo saudável.” Muitos litros, talvez galões, são levados para casa. Por uns dias ela se mantém doce, então se inicia o processo de fermentação. O sabor ácido torna-a aceitável a muitos paladares e o apreciador de vinhos doces ou sidra sente-se relutante em admitir que sua bebida favorita tornou-se desagradável e ácida. As pessoas podem intoxicar-se realmente tanto com vinho e sidra como com bebidas mais fortes, e a pior espécie de embriaguez é produzida por essas bebidas chamadas mais brandas. As paixões são mais perversas; a transformação do caráter é maior, mais decidida e obstinada. Alguns litros de sidra ou de vinho podem suscitar o gosto pelas bebidas mais fortes, e em muitos casos foi assim que os que se tornaram alcoólatras confirmados lançaram o fundamento do hábito da bebida. Para algumas pessoas não é de modo algum seguro ter em casa vinho ou sidra. Herdaram a sede de estimulantes, com que Satanás está continuamente os incitando a condescenderem. Caso cedam a suas tentações, o processo se desencadeia; a sede clama por satisfação, e é satisfeita para ruína sua. O cérebro é obscurecido e anuviado; a razão não mais maneja as rédeas, pelo contrário, a pessoa é por elas dominada. Licenciosidade, adultério e vícios quase de toda sorte são cometidos em resultado da condescendência com o uso do vinho e da sidra. Um religioso que gosta desses estimulantes, e habitua-se a usá-los, jamais crescerá na graça. Torna-se grosseiro e sensual; as paixões animais regem-lhe as mais elevadas faculdades da mente, e não é acalentada a virtude. T5 356.3
Beber moderadamente, essa é a escola na qual estão sendo educados homens para a carreira de alcoólatra. Tão gradualmente desvia Satanás das fortalezas da temperança, tão traiçoeiramente o inofensivo vinho e a sidra exercem sua influência no gosto, que, eles entram no caminho da embriaguez sem o suspeitar. O gosto pelos estimulantes é cultivado; o sistema nervoso fica em desordem; Satanás conserva a mente numa febre de desassossego, e a pobre vítima, imaginando-se perfeitamente segura, vai prosseguindo, até que toda barreira é derribada, e sacrificado todo princípio. As mais firmes resoluções são minadas; e os interesses eternos não são suficientemente fortes para manter o aviltado desejo sob o domínio da razão. T5 357.1
Alguns nunca chegam a ser alcoólatras, mas encontram-se sempre sob a influência da sidra ou do vinho fermentado. Acham-se febris, mente fora de equilíbrio, não realmente delirantes, mas em condição identicamente má, pois todas as nobres faculdades da mente se acham pervertidas. Do uso habitual da sidra ácida resulta a tendência para doenças de várias espécies, como hidropisia, enfermidades do fígado, nervos trêmulos e diminuição do fluxo sangüíneo para a cabeça. Pelo uso dessas bebidas, muitos trazem doenças permanentes sobre si. Uns morrem de tuberculose ou tombam ao golpe da apoplexia, unicamente por essa razão. Alguns sofrem dispepsia. Toda função vital é amortecida, e os médicos lhes dizem que sofrem do fígado, quando se eles arrebentassem o barril de sidra, não o substituindo nunca mais, suas maltratadas forças vitais recuperariam o primitivo vigor. T5 357.2
O beber sidra conduz às bebidas mais fortes. O estômago perde o natural vigor, e é necessário alguma coisa mais forte para o estimular à ação. Certa ocasião, quando meu marido e eu viajávamos, fomos obrigados a esperar várias horas pelo trem. Enquanto aguardávamos na estação, um fazendeiro de rosto avermelhado e intumescido entrou no restaurante e com voz alta e áspera perguntou: “Vocês não tem aí um conhaque de primeira classe?” O garçom respondeu-lhe afirmativamente e ele pediu meio copo de bebida. “Você tem aí molho de pimenta?” “Sim”, confirmou o balconista. “Então ponha na bebida duas grandes colheradas.” Em seguida, pediu que se adicionassem duas colheradas de álcool e concluiu seu pedido com uma “boa dose de pimenta-do-reino”. O garçom perguntou-lhe: “O que senhor pretende com tal mistura?” “Claro que vou tomá-la”, e, pondo o copo sobre os lábios, bebeu todo o seu conteúdo abrasador. Aquele homem usou estimulantes até debilitar o delicado revestimento estomacal. T5 357.3
Muitos, enquanto lêem sobre isso, riem-se das advertências de perigo. Dizem: “Certamente o pouco de vinho ou sidra que tomo não pode me fazer mal.” Satanás escolheu esses como sua presa. Ele os conduz passo a passo e não o percebem até que as cadeias do hábito e do apetite sejam muito resistentes para romper. Vemos o poder que tem a sede de bebida forte sobre os homens; vemos quantos, pessoas de todas as profissões e de sérias responsabilidades — homens de posições elevadas e privilegiados talentos, de grandes realizações, de finas sensibilidades, nervos fortes e boas faculdades de raciocínio — sacrificam tudo pela satisfação do apetite, até que ficam reduzidos ao nível dos animais; e em muitos, muitos casos, sua trajetória decadente começou com o uso do vinho ou da sidra. T5 358.1
Quando homens e mulheres inteligentes que professam ser cristãos alegam não haver mal em fazer vinho ou sidra para o mercado porque, quando não fermentados, não intoxicam, meu coração se entristece. Sei que há outro lado do assunto a que eles se recusam a olhar; pois o egoísmo lhes fechou os olhos aos males terríveis que podem resultar do uso desses estimulantes. Não vejo como nossos irmãos se possam abster de toda aparência do mal e dedicar-se amplamente ao negócio do cultivo do lúpulo, sabendo para que será usado todo esse lúpulo. Os que ajudam a produzir essas bebidas que estimulam e influenciam a sede de estimulantes mais fortes, serão recompensados segundo as suas obras. São transgressores da lei de Deus, e serão castigados pelos pecados que cometem e pelos que eles influenciaram outros a cometer pela tentação que lhes puseram no caminho. T5 358.2
Que vivam em harmonia com sua fé, os que professam crer na verdade para este tempo, e desejam ser reformadores. Se uma pessoa cujo nome se encontra no livro da igreja fabrica vinho ou sidra para vender, importa que se trabalhe fielmente com ela, e, se continuar a assim fazer, deve ser posta sob censura da igreja. Os que não forem dissuadidos de fazer esse trabalho são indignos de um lugar e um nome entre o povo de Deus. Devemos ser seguidores de Cristo, aplicar o coração e a influência contra toda má prática. Como nos sentiríamos no dia em que os juízos de Deus forem derramados, ao encontrar-nos com homens que se tornaram bebedores mediante nossa influência? Estamos vivendo no dia antitípico da expiação, e nossos casos devem ser em breve passados em revista por Deus. Como nos acharemos nos tribunais celestes, se nossa maneira de proceder animou o uso de estimulantes que pervertem a razão e são destruidores da virtude, da pureza, e do amor a Deus? T5 359.1
O doutor da lei perguntou a Cristo: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E Ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás.” Lucas 10:25-28. A vida eterna é o prêmio que está em disputa e Cristo nos diz como podemos conquistá-la. Ele nos dirige à Palavra Escrita: “Como lês?” O caminho está indicado; devemos amar a Deus supremamente e ao próximo como a nós mesmos. Mas, se amarmos nosso próximo como a nós mesmos, não devemos pôr no mercado qualquer coisa que lhe possa ser uma armadilha. Amar a Deus e ao homem é o completo dever do cristão. A lei do amor está escrita sobre as tábuas de seu coração, o Espírito de Cristo habita nele e seu caráter transparece em boas obras. Jesus tornou-Se pobre para que por Sua pobreza pudéssemos ser ricos. Que sacrifícios estamos dispostos a fazer por Sua causa? Temos, porventura, Seu amor abrigado em nosso coração? Amamos nosso próximo como Cristo nos amou? Se temos esse amor pelas pessoas, ele nos levará a considerar cuidadosamente se estamos criando, através de nossas palavras, atos e influência, tentações para aqueles que têm pouca força moral. Não devemos criticar os fracos e sofredores, como os fariseus continuamente faziam, mas esforçar-nos por remover toda pedra de tropeço do caminho de nosso irmão, com receio de que o coxo seja desviado dele. T5 359.2
Como um povo, professamos ser reformadores, portadores de luz no mundo, fiéis sentinelas de Deus, guardando toda entrada pela qual Satanás pode penetrar com suas tentações para perverter o apetite. Nosso exemplo e influência podem ser uma força do lado da reforma. Cumpre abster-nos de toda prática que embote a consciência ou estimule a tentação. Não podemos jamais abrir porta alguma que dê a Satanás acesso à mente de um ser formado à imagem de Deus. Se todos fossem vigilantes e fiéis no guardar as pequeninas aberturas feitas pelo uso moderado dos chamados vinho e sidra inofensivos, fechado seria o caminho à embriaguez. O que é necessário em toda comunidade é firmeza de propósito, a força de vontade para não tocar, não provar, não manusear; então a reforma de temperança será vigorosa, permanente e completa. T5 360.1
O amor ao dinheiro levará os homens a violarem a própria consciência. Talvez esse dinheiro seja trazido aos tesouros do Senhor, mas Ele não aceitará tal oferta, pois que Lhe é uma ofensa. Tal lucro foi obtido pela transgressão de Sua lei, a qual requer que o homem ame o próximo como a si mesmo. Não há desculpa para o transgressor em dizer que se ele não fabricasse vinho ou sidra, alguém o faria e transformaria o próximo num bêbedo da mesma maneira. Por que alguns entornarão a garrafa nos lábios do semelhante, aventurar-se-ia o cristão a manchar suas vestes com o sangue dos perdidos, incorrendo assim na maldição pronunciada contra os que põem tentação no caminho do errante? Jesus convoca Seus seguidores para estarem sob Seu estandarte e ajudarem a desfazer as obras do diabo. T5 360.2
O Redentor do mundo, que conhece bem o estado da sociedade nos últimos dias, apresenta o comer e beber como os pecados que condenam este século. Ele nos diz que, como foi nos dias de Noé, assim será quando o Filho do homem Se revelar. “Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e consumiu a todos.” Lucas 17:27. Justamente tal estado de coisas existirá nos últimos dias, e os que crêem nessas advertências usarão da máxima cautela para não tomarem uma direção que os leve a ficar sob condenação. T5 361.1
Consideremos, irmãos, este assunto à luz da Bíblia, e exerçamos decidida influência no sentido da temperança em todas as coisas. Maçãs e uvas são dons de Deus; podem ser usadas de maneira excelente como artigos de alimentação, ou podem ser mal-empregadas, sendo usadas de modo errôneo. Deus está enviando pragas sobre a colheita das uvas e das maçãs por causa das práticas pecaminosas dos homens. Estamos diante do mundo como reformadores; não vamos dar motivo aos infiéis e incrédulos para censurarem nossa fé. Disse Cristo: “Vós sois o sal da Terra” (Mateus 5:13), “a luz do mundo.” Mateus 5:14. Mostremos que nosso coração e consciência se acham sob a influência transformadora da graça divina, e que nossa vida é governada pelos puros princípios da lei de Deus, mesmo que esses princípios exijam o sacrifício de interesses temporais. T5 361.2