Testemunhos para a Igreja 5

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Seção 32 — Testemunho para a igreja (1885)

Capítulo 26 — A obra do pastor evangelista

Há muitas coisas que necessitam ser corrigidas nas Associações de Colúmbia e do Norte do Pacífico. [Esses territórios atualmente formam a União do Norte do Pacífico.] O Criador esperava que esses irmãos produzissem fruto de acordo com a luz e os privilégios concedidos, mas ficou desapontado. Ele lhes deu todas as vantagens, mas eles não se aprimoraram em mansidão, piedade e beneficência. Não seguiram tal conduta, não revelaram esse caráter, nem exerceram aquela influência que honraria mais a seu Criador, enobreceria a si mesmos e os faria uma bênção aos semelhantes. Há egoísmo em seu coração. Gostam de seguir os próprios caminhos e buscar comodidades, honras, riquezas, e seu prazer nas mais rudes ou refinadas formas. Se seguirmos a conduta do mundo e a tendência de nossa mente, será isso para nosso maior bem? Não terá Deus, que formou o homem, algo melhor para nós? T5 249.1

“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados.” Efésios 5:1. Os cristãos devem ser como Cristo. Devem ter o mesmo espírito, exercer a mesma influência, e ter a mesma excelência moral que Ele possuía. Os idólatras e corruptos de coração precisam se arrepender e voltar-se para Deus. Os que são orgulhosos e cheios de justiça própria devem humilhar o eu, arrepender-se e tornar-se mansos e humildes de coração. Os que têm a mente voltada para as coisas do mundo, precisam fazer com que os laços do coração sejam arrancados do lixo, ao redor do qual eles se apegaram, e se entrelacem em Deus; eles precisam voltar a mente para as coisas espirituais. Os desonestos e mentirosos precisam se tornar justos e verdadeiros. Os ambiciosos e avarentos precisam esconder-se em Jesus e buscar a Sua glória, e não a deles mesmos. Eles precisam menosprezar a própria santidade e ajuntar tesouros no Céu. Os que não oram precisam sentir a necessidade tanto da oração secreta como da familiar, e precisam fazer suas súplicas a Deus com muito fervor. T5 249.2

Como adoradores do Deus verdadeiro e vivo precisamos produzir frutos que correspondam à luz e privilégios que desfrutamos. Muitos estão adorando ídolos em lugar do Senhor do Céu e da Terra. Qualquer coisa que os homens amem e na qual confiem em vez de amarem ao Senhor e nEle confiarem integralmente, torna-se um ídolo e como tal é registrado nos livros do Céu. Até mesmo as bênçãos freqüentemente se tornam maldição. As afinidades do coração humano, fortalecidas pelo exercício, são às vezes pervertidas a ponto de se tornarem uma armadilha. Se alguém é censurado, sempre há quem se compadeça dele. Eles passam inteiramente por alto o dano efetuado à causa de Deus pela influência maléfica de alguém cuja vida e caráter de modo algum se assemelha à do Modelo. Deus envia os Seus servos com uma mensagem àqueles que professam ser seguidores de Cristo; mas alguns são filhos de Deus apenas no nome, e rejeitam a advertência. T5 250.1

Deus dotou o homem com um maravilhoso poder de raciocínio. Aquele que capacitou a árvore a produzir sua colheita de bons frutos, criou o homem apto a produzir os preciosos frutos da justiça. Ele plantou o homem em Seu jardim, e carinhosamente teve cuidado dele, e esperou que produzisse fruto. Na parábola da figueira Cristo diz: “Há três anos venho procurar fruto.” Lucas 13:7. Por mais de dois anos tem o Proprietário buscado pelo fruto ao qual tem direito de esperar dessas associações. Mas como sua procura tem sido recompensada? Quão ansiosamente observamos uma árvore ou planta predileta, esperando que ela recompense nosso cuidado produzindo botões, flores e frutos; e quão desapontados ficamos ao encontrar apenas folhas. Mas com que maior ansiedade e meigo interesse não observa nosso Pai celestial o crescimento espiritual daqueles que Ele criou a Sua própria imagem, e pelos quais consentiu em dar o Seu Filho, para que pudessem ser exaltados, enobrecidos, e glorificados. T5 250.2

O Senhor tem seus agentes escolhidos para ir ao encontro dos homens em seus erros e apostasias. Seus mensageiros são enviados a dar um claro testemunho a fim de erguê-los de sua condição de desinteresse e abrir-lhes as preciosas palavras da vida, as Escrituras Sagradas, à compreensão. Esses homens não são meramente pregadores, mas pastores, portadores de luz, vigilantes fiéis, que verão os perigos ameaçadores e advertirão o povo. Precisam eles assemelhar-se a Cristo em seu diligente zelo, tato amável, esforços pessoais, em suma, em todo o seu ministério. Necessitam estar em vital ligação com Deus e tão familiarizados com as profecias e as lições práticas do Antigo e Novo Testamentos, que possam sacar do tesouro da Palavra de Deus coisas novas e antigas. T5 251.1

Alguns desses pastores cometem erros no preparo de seus sermões. Exploram cada minúcia com tal exatidão, que não dão espaço ao Senhor para conduzir e impressionar sua mente. Cada ponto é estabelecido, estereotipado, por assim dizer, e eles não conseguem sair dessa linha planejada. A continuar assim, produzirão para si mesmos estreiteza de mente, limitados pontos de vista, e em breve ficarão destituídos de vida e energia como os montes de Gilboa de orvalho e chuva. Eles devem abrir seu coração e permitir que o Espírito Santo tome posse para impressionar a mente. Quando tudo é assentado de antemão, e eles sentem que não podem alterar essa linha de sermões, o efeito é pouco melhor do que aquele produzido pela leitura de um sermão. T5 251.2

Deus gostaria que esses pastores fossem totalmente dependentes dEle, mas, ao mesmo tempo, deveriam eles estar integralmente providos para toda boa obra. Nenhum assunto pode ser tratado diante de todas as congregações da mesma maneira. O Espírito de Deus, se Lhe permitirem fazer Sua obra, impressionará a mente com idéias adequadas para atender os casos daqueles que estão em necessidade. Mas os sermões formais, insípidos, de muitos que usam ao púlpito, têm muito pouco do vitalizante poder do Espírito Santo. O hábito de fazer esse tipo de sermão destrói efetivamente a utilidade e a capacidade do pastor. Essa é a única razão por que os esforços dos obreiros em _____e _____ não têm sido melhor sucedidos. Deus tem sido impedido de fazer mais para impressionar-lhes a mente no púlpito. T5 251.3

Outra causa do fracasso nessas associações é que o povo a quem o mensageiro é enviado, deseja moldar-lhe as idéias e colocar-lhe na boca as palavras que deve falar. Os vigias de Deus não devem estudar meios de agradar ao povo, nem ouvir suas palavras, nem expressá-las; devem antes ouvir o que diz o Senhor, e qual é Sua mensagem para o povo. Se se basearem em sermões preparados anos atrás, poderão deixar de atender às necessidades do momento. Seu coração deve estar aberto para que o Senhor possa impressionar a mentalidade, e então terão condições de transmitir ao povo a preciosa verdade acolhedora do Céu. Deus não Se agrada com esses pastores de mentalidade estreita, que dedicam a capacidade dada pelo Senhor a assuntos de pouca importância e falham em crescer no divino conhecimento, até a estatura completa de homens em Cristo Jesus. Ele deseja que Seus pastores possuam amplitude mental e verdadeira coragem moral. Tais homens estarão preparados para enfrentar oposição, sobrepujar dificuldades e conduzir o rebanho de Deus, em lugar de serem guiados por ele. T5 252.1

Há ao mesmo tempo muito pouco do Espírito e poder de Deus no trabalho dos vigias. O Espírito que caracterizou a maravilhosa reunião no dia de Pentecostes, está esperando a fim de manifestar o Seu poder sobre os homens que agora se acham colocados entre os vivos e os mortos, como embaixadores de Deus. O poder que tão fortemente sacudiu o povo no movimento de 1844 se revelará novamente. A mensagem do terceiro anjo irá avante, não em voz baixa, mas num alto clamor. T5 252.2

Muitos que professam possuir grande luz estão andando em fagulhas de seu brilho. Eles precisam ungir os seus lábios com a brasa viva do altar, para que possam difundir a verdade como homens inspirados. É grande o número dos que vão para o púlpito com discursos sem vida, sem nenhuma luz do Céu. T5 252.3

Há demais da própria personalidade e muito pouco de Jesus nos pastores de todas as denominações. Se Cristo tivesse vindo na majestade de um rei, com a pompa que acompanha os grandes homens da Terra, muitos O teriam aceito. Mas Jesus de Nazaré não ofuscou os sentidos com uma exibição de glória externa, a fim de fazer disso a base de Sua reverência. Ele veio como um homem humilde, a fim de ser Mestre e Modelo, bem como Redentor da raça humana. Tivesse Ele incentivado a pompa, e sido seguido por uma comitiva de grandes homens da Terra, como poderia Ele ter ensinado humildade? Como poderia Ele ter apresentado as verdades candentes que ensinou em Seu Sermão da Montanha? Seu exemplo foi tal que Ele deseja ser imitado por Seus seguidores. Onde ficaria a esperança dos humildes desta vida se Ele tivesse vindo em exaltação, e vivido como um rei na Terra? Jesus conhecia as necessidades do mundo melhor do que as próprias pessoas. Ele não veio como um anjo, revestido da armadura celestial, mas como homem. No entanto, com Sua humildade se achavam combinados inerente poder e grandeza que espantaram os homens que O amaram. Embora possuindo tal amabilidade e modesta aparência, Ele andava entre eles com a dignidade e poder de um rei de origem celeste. As pessoas ficavam assombradas, confusas. Tentavam arrazoar sobre o assunto, mas não se mostrando dispostas a renunciar às próprias idéias, cederam lugar a dúvidas e se apegaram à velha expectativa de um Salvador que viria em grandeza terrena. T5 253.1

Quando Jesus proferiu o Sermão da Montanha, Seus discípulos se aglomeraram em torno dEle, e a multidão, cheia de intensa curiosidade, também procurou se aproximar o máximo possível. Esperava-se algo fora do comum. Rostos ansiosos e disposição atenta evidenciavam o mais profundo interesse. A atenção de todos parecia fixa no Orador. Seus olhos estavam iluminados de inefável amor, e a expressão celestial em Seu semblante emprestava significado especial a cada palavra pronunciada. Anjos do Céu se achavam presentes em meio à multidão atenta. Ali estava, também, o adversário, com seus anjos maus, preparados para neutralizar, tanto quanto possível, a influência do Mestre celestial. As verdades ali enunciadas atravessaram os séculos e têm sido uma luz em meio às trevas generalizadas do erro. Muitos têm encontrado nelas o que a alma mais necessita — um firme alicerce de fé e prática. Mas nessas palavras emitidas pelo maior Mestre que o mundo já conheceu, não há ostentação de eloquência humana. A linguagem é simples, e os pensamentos e sentimentos se caracterizam por sua extrema simplicidade. Os pobres, os incultos, os mais ignorantes conseguem compreendê-las. O Senhor do Céu Se dirigia em misericórdia e bondade às pessoas que viera salvar. Ele as ensinava como tendo autoridade, falando palavras que continham vida eterna. T5 253.2

Todos devem imitar o Modelo o máximo possível. Embora não possam ter a mesma percepção de poder que Jesus possuía, eles podem de tal modo ligar-se à Fonte de poder que Jesus poderá neles habitar, e eles nEle, e assim Seu espírito e poder serão neles revelados. T5 254.1

Andem na luz como Ele está na luz. É o mundanismo e o egoísmo que nos separam de Deus. As mensagens vindas do Céu são de natureza tal que despertam oposição. As fiéis testemunhas de Cristo e da verdade reprovarão o pecado. Suas palavras serão como um martelo a quebrar o coração empedernido, como um fogo a consumir matéria inútil. Há necessidade constante de fervorosas e decididas mensagens de advertência. Deus deseja ter homens fiéis ao dever. Na ocasião apropriada Ele envia Seus fiéis mensageiros para fazerem uma obra semelhante à de Elias. T5 254.2