Testemunhos para a Igreja 2

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Capítulo 28 — Mundanismo na igreja

Prezados irmãos e irmãs em _____:

No dia 12 de Junho de 1868, foi-me mostrado que o amor ao mundo estava, em grande extensão, tomando o lugar do amor a Deus. Vocês estão localizados em um lugar aprazível e favorável à prosperidade temporal. Aí os irmãos estão em constante perigo de ter seus interesses atraídos para o mundo, ajuntando tesouros na Terra. “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” Mateus 6:21. Nesse local, há tentações de envolver-se mais e mais com o mundo, de estar continuamente acumulando; enquanto assim envolvidos, a mente se torna absorvida pelos cuidados da vida, de tal maneira a excluir a verdadeira piedade. Mas poucos compreendem o engano das riquezas. Aqueles que estão ansiosos em adquirir bens, são-lhes tão inclinados que fazem da religião de Cristo uma matéria secundária. As coisas espirituais não são avaliadas e buscadas, pois o amor do ganho eclipsou o tesouro celestial. Se o galardão da vida eterna fosse avaliado pelo zelo, perseverança e diligência exibidos por aqueles que professam ser cristãos, não seria a metade do valor dos bens terrenos. Compare-se os intensos esforços para obter-se as coisas deste mundo, com o lento, fraco e ineficiente esforço para desenvolver-se a espiritualidade e conquistar o tesouro celestial. Não é de admirar que experimentemos tão pouco da iluminadora influência do santuário celestial. Nossos desejos não estão nesse rumo, mas confinados aos interesses terrenos, buscando as coisas da Terra e negligenciando as eternas. A prosperidade cega os olhos e engana a mente. Deus pode falar, mas o entulho terreno impede que Sua voz seja ouvida. T2 183.1

Nosso idoso pai T tem suas afeições postas nas coisas da Terra, quando devem elas ser daí removidas e ele estar se amadurecendo para o Céu. “A vida que agora” ele vive deve ser “na fé do Filho de Deus” (Gálatas 2:20); suas afeições devem estar numa terra melhor. Precisa ter cada vez menos interesse nos perecíveis tesouros terrenos, enquanto que os eternos, que são de grandíssima importância, devem atrair todo o seu interesse. Seus dias de graça estão quase findando. Oh, quão pouco tempo resta para dedicar a Deus! Suas energias estão esgotadas, sua mente debilitada e o melhor de seus serviços deve ser fraco; todavia, se forem inteiramente dedicados de coração, serão totalmente aceitáveis. Com sua idade, irmão T, houve um aumento do egoísmo e um mais firme e intenso amor pelos tesouros deste mundo mau. T2 184.1

A irmã T ama o mundo. Ela é naturalmente egoísta e sofreu muito com enfermidades físicas. Deus permitiu que essas aflições viessem sobre ela, mas não consentiu que Satanás lhe tirasse a vida. O Senhor pretendia que através da fornalha da aflição ela perdesse seu apego aos tesouros terrestres. Somente mediante o sofrimento isso poderia ser conseguido. Ela é daquelas cujo organismo foi envenenado por drogas. Ao tomá-las, ela ignorantemente fez de si o que é. Todavia, Deus não consentiu que sua vida fosse tirada, mas prolongou seus anos de prova e sofrimento para que pudesse ser santificada através da verdade, ser purificada, embranquecida e provada, e, pela fornalha da aflição, livrar-se da escória e tornar-se mais preciosa “do que o ouro puro e mais” rara “do que o ouro de Ofir.” Isaías 13:12. O amor ao mundo tornou-se tão arraigado no coração desses irmãos que exigirá grandes esforços removê-lo de lá. Prezados irmão e irmã, falta-lhes consagração a Deus. Vocês são insensatos no que se refere às coisas mundanas. O mundo tem poder para conformar a mente de vocês a ele, enquanto as coisas espirituais e celestiais não têm influência suficiente para transformá-la. T2 184.2

Homens e mulheres de _____ que professam ser seguidores de Cristo, por que vocês não O seguem? Por que demonstram tal insanidade na busca de tesouros terrestres, que o infortúnio pode facilmente fazer desaparecer, e negligenciam as riquezas celestiais, o imortal, imperecível tesouro? T2 185.1

Revelou-se-me o caso da esposa do irmão U. Ela deseja agir corretamente, mas tem falhas que causam a si e a suas amigas muitos problemas. Ela fala demasiado. Falta-lhe experiência nas coisas de Deus, e se não se converter e transformar-se pela renovação do entendimento, será incapaz de suportar os perigos dos últimos dias. Necessita de uma obra no coração, então sua língua será santificada. Há muito falar pecaminoso que deve ser evitado. Ela precisa manter estrita vigilância sobre a porta de seus lábios, e refrear a língua a fim de que suas palavras não produzam iniqüidade. Deve parar de falar das faltas dos outros, demorando-se sobre as suas peculiaridades e descobrindo-lhes as fraquezas. Tal tipo de conversação é censurável em qualquer pessoa. É sem proveito e positivamente pecaminosa. Tende apenas para o mal. O inimigo sabe que se essa conduta for seguida pelos professos seguidores de Cristo, está aberta a porta para ele atuar. T2 185.2

Vi que, quando irmãs dadas a muito falar se reúnem, geralmente Satanás está presente, pois ele encontra emprego. Ele está ao lado, para agitar a mente e tirar o maior proveito da vantagem conseguida. Ele sabe que toda essa tagarelice, mexericos, revelação de segredos e dissecação de caráter separa de Deus o coração. É morte para a espiritualidade e para uma calma influência religiosa. A irmã U peca muitíssimo com a língua. Ela precisa, por suas palavras, exercer uma influência para o bem, porém muitas vezes fala impensadamente. Às vezes suas palavras dão uma conotação diferente às coisas. Algumas vezes há exagero. Outras vezes há afirmações errôneas. Não há intenção de enganar, mas o hábito de muito falar, e falar sobre coisas sem proveito, foi acalentado por tanto tempo que ela se tornou descuidosa e imprudente em suas palavras, e muitas vezes nem sabe o que está afirmando. Isso destrói qualquer influência para o bem que ela poderia exercer. Deveria ter havido inteira reforma a esse respeito. Sua companhia não tem sido apreciada como seria se ela não tivesse condescendido com essa pecaminosa tagarelice. T2 185.3

Devem os cristãos ser cuidadosos em relação a suas palavras. Não devem nunca passar adiante informações desfavoráveis, de um de seus amigos a outro, especialmente se perceberem haver falta de união entre eles. É cruel dar a entender e insinuar, como se soubéssemos em relação a esse amigo ou aquele conhecido, muita coisa ignorada pelos demais. Essas insinuações prosseguem e criam impressões mais desfavoráveis do que se os fatos fossem francamente relatados, de maneira livre de exagero. Que danos não tem sofrido a igreja de Cristo por causa dessas coisas! O procedimento incoerente e desavisado de seus membros tem tornado a igreja débil como a água. Tem sido traída a confiança por membros da mesma igreja, e no entanto o culpado não pretendia fazer mal. A falta de prudência na escolha de assuntos de conversa tem feito muito dano. Deve a conversa ser sobre coisas espirituais e divinas; mas tem sido diferente. Se a associação com amigos cristãos é dedicada especialmente ao aperfeiçoamento da mente e do coração, não haverá remorsos depois, e poderão recordar a conversa com prazer e satisfação. Mas se as horas são despendidas em leviandades e em falar ocioso, empregando-se o precioso tempo em dissecar a vida e o caráter de outros, a associação amistosa se demonstrará fonte de males, e sua influência será “cheiro de morte para morte”. 2 Coríntios 2:16. T2 186.1

Não posso lembrar-me distintamente de todas as pessoas de sua igreja que me foram mostradas, mas vi que muitos tinham uma grande obra a fazer. Há demasiada conversa entre quase todos, porém, pouquíssima meditação e oração. Muitos são egoístas demais. A mente está consagrada ao eu e não ao bem dos outros. O poder de Satanás está, em grande medida, sobre vocês. Todavia, há preciosas luzes entre vocês e aqueles que estão buscando andar de acordo com a vontade divina. Orgulho e amor ao mundo são laços tão grandes que embaraçam a espiritualidade e o crescimento na graça. T2 187.1

Este mundo não é o céu do cristão, mas simplesmente a oficina de Deus, onde estamos sendo preparados para unirmo-nos com santos anjos num santo Céu. Devemos estar constantemente educando a mente para pensamentos nobres, altruístas. Esta educação é necessária para assim pôr em exercício as faculdades que Deus nos deu, a fim de que o Seu nome seja melhor glorificado na Terra. Somos responsáveis por todas as nobres qualidades com que Deus nos dotou, e pôr essas faculdades num uso para o qual Ele jamais designou servissem, é mostrar-Lhe vil ingratidão. O serviço de Deus demanda todas as faculdades de nosso ser, e deixamos de atender aos desígnios de Deus se não levarmos essas faculdade a um alto estado de cultivo, e não educarmos a mente para amar e desejar às coisas celestiais, e fortalecer e enobrecer as energias da alma mediante reto proceder, atuando para glória de Deus. T2 187.2

Mulheres que professam piedade geralmente deixam de educar a mente. Deixam-na sem controle, que vá aonde lhe apraz. É este um grande erro. Muitas parecem não ter nenhum poder mental. Não educaram a mente a pensar; e por não terem feito isso, supõem não poder fazê-lo. São necessárias meditação e oração para crescer na graça. Não há mais estabilidade entre as mulheres, porque há tão pouca cultura mental, tão pouca reflexão. Deixando a mente em estado de inatividade apóiam-se em outros, para por elas fazer o trabalho cerebral, planejar, refletir e lembrar, e assim tornar-se cada vez mais ineficientes. Algumas precisam disciplinar a mente pelo exercício. Devem forçá-la a pensar. Enquanto confiam em outros para em seu lugar refletir, resolver seus problemas, e recusando-se a forçar a mente a pensar, continuará sua incapacidade de lembrar, de olhar ao futuro e discernir. Toda pessoa deve fazer esforços para educar a mente. T2 187.3

Foi-me mostrado que o irmão V deve buscar mais espiritualidade. Você não possui a calma confiança em Deus que Ele requer que possua. Você não exercita a mente para aplicar-se à espiritualidade. Condescende com demasiada, vã e desnecessária conversa, a qual prejudica a sua mente e danifica a própria influência. Você precisa promover serenidade e firmeza mentais, pois se irrita facilmente, demonstra sentimentos fortes e expressa em termos ásperos suas preferências e aversões. Necessita mais da boa religião para exercer sobre você uma suavizadora influência. Tem sido convidado a aprender de Cristo, que é “manso e humilde de coração”. Mateus 11:29. Que preciosa lição! Se bem aprendida, transformará a vida inteira. Leviandade e conversa vulgar são prejudiciais a seu progresso espiritual. Você deve buscar perfeição de caráter e deixar sua influência falar em favor de Deus através de palavras e atos. Necessita buscar sinceramente ao Senhor e beber profundamente na fonte da verdade, para que sua influência possa santificar-lhe a vida. Sua mente está muito concentrada no mundo, e você deve manifestar interesse em uma vida melhor. Não tem tempo a perder. Aproveite as poucas horas de graça. T2 188.1

Sua esposa tem sido muito orgulhosa e egoísta. Deus a tem provado na fornalha da aflição para remover as nódoas de seu caráter. Ela precisa ser muito cuidadosa para que o fogo da provação não lhe seja inútil. Ele deve remover a escória e aproximá-la de Deus, tornando-a mais espiritual. Seu amor pelo mundo precisa morrer. O amor a si mesma precisa ser vencido e sua vontade imersa na vontade de Deus. T2 188.2

Foi-me mostrado que o amor ao mundo tem, em grande medida, excluído Cristo da igreja. Deus requer uma mudança, uma sujeição de tudo a Ele. A menos que a mente seja educada para demorar-se em temas religiosos, será fraca, débil, neste sentido. Mas enquanto demorando-se em empreendimentos mundanos será forte; pois neste rumo tem sido cultivada e fortalecida pelo exercício. A razão por que é tão difícil para homens e mulheres viver vida religiosa é que não exercitam a mente para a piedade. Ela é treinada para correr em direção oposta. A menos que a mente seja constantemente exercitada em obter conhecimento espiritual e em buscar compreender o mistério da piedade, é incapaz de apreciar coisas eternas, pois não tem experiência nesse sentido. Esta é a razão por que quase todos consideram tarefa difícil servir ao Senhor. T2 189.1

Quando o coração é dividido, demorando-se principalmente nas coisas do mundo, e muito pouco nas coisas de Deus, não pode haver aí especial aumento de força espiritual. Empreendimentos mundanos demandam muito da mente, exigindo o uso de suas faculdades; como resultado disso, há força e energia para requerer cada vez mais os interesses e as afeições, enquanto cada vez menos é reservado para Deus. É impossível à pessoa prosperar enquanto a oração não for o especial exercício da mente. Oração familiar ou pública somente não basta. A oração particular é muito importante. Em solidão, a mente mostra-se desnuda à inspeção dos olhos divinos e cada motivo é investigado. Oração particular! Quão preciosa! É o coração comunicando-se com Deus! A oração secreta é ouvida somente pelo Deus que ouve. Nenhum ouvido curioso deve inteirar-se de tais petições. Na oração secreta a mente está livre das influências ambientais e da agitação. Calmamente, mas com fervor, buscará a Deus. A oração secreta é freqüentemente desvirtuada e seus suaves propósitos perdidos, pela oração em voz alta. Em lugar da calma, serena confiança e fé em Deus, com o suplicante demorando-se em acentos baixos e humildes, a voz se ergue em altos tons, produzindo agitação, e a oração secreta perde sua suave e sagrada influência. Há uma tempestade de sentimentos e palavras, tornando impossível discernir a “voz mansa e delicada” (1 Reis 19:12) que fala ao coração quando em sua secreta, real e sincera devoção. A oração particular, quando apropriadamente praticada, produz grande bem. Mas se tornada pública à família e vizinhança, já não é oração secreta, embora assim se pense, e o poder divino não lhe vem em resposta. Doce e permanente será a influência provinda dAquele que vê em secreto, cujo ouvido está aberto para responder à oração vinda do íntimo. Mediante fé calma e singela, a mente mantém comunhão com Deus e recebe divinos raios de luz para fortalecê-la e sustê-la ao enfrentar os conflitos com Satanás. Deus é nossa “torre forte”. Provérbios 18:10. T2 189.2

Jesus disse: “Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo. E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai.” Marcos 13:35-37. Estamos esperando e vigiando pelo retorno do Mestre, que deverá trazer o amanhecer, a menos que vindo repentinamente nos encontre dormindo. A que tempo isso se refere? Não à manifestação de Cristo nas nuvens do céu para encontrar um povo adormecido. Não; mas ao Seu retorno após haver ministrado no lugar santíssimo do santuário celestial, quando Ele retira Seu traje sacerdotal, e cobre-Se com vestimentas de vingança, e quando é expedida a ordem: “Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda.” Apocalipse 22:11. T2 190.1

Quando Jesus deixar de interceder pelo homem, os casos de todos estarão decididos para sempre. Este é um tempo de ajuste de contas com Seus servos. Para aqueles que negligenciaram a preparação em pureza e santidade, que os habilitaria a darem boas-vindas a seu Senhor, o sol se porá em tristeza e escuridão e nunca mais se levantará. Termina o tempo da graça; as intercessões de Cristo cessam no Céu. Esse tempo finalmente virá de repente sobre todos, e os que não purificarem a mente pela obediência à verdade, serão encontrados dormindo. Eles ficaram cansados de esperar e vigiar; ficaram indiferentes no que se refere à volta de seu Mestre. Não desejaram Seu aparecimento, e pensaram que não havia necessidade de contínua e perseverante vigilância. Foram desapontados em suas expectativas, e podem ser outra vez. Concluíram que havia tempo suficiente para despertar. Queriam estar certos de não perder a oportunidade de assegurar um tesouro na Terra. Se pudessem, assegurariam tudo o que o mundo oferecesse. E ao alcançarem seu objetivo, perderam toda a ansiedade e interesse na vinda do Mestre. Tornaram-se indiferentes e descuidados, como se Sua vinda estivesse distante. Mas, enquanto seu interesse estava concentrado em ganhos mundanos, encerrou-se a obra no santuário celestial e eles não se achavam preparados. T2 191.1

Caso soubessem que a obra de Cristo no santuário celestial logo terminaria, quão diferentemente teriam agido! Quão diligentemente teriam vigiado! O Mestre os havia advertido com antecipação, dando-lhes oportunos avisos para vigiarem. Ele declara distintamente a brevidade de Sua vinda. Não fixou o tempo para impedir que negligenciássemos o rápido preparo, e em nossa indolência olhássemos para o tempo de Sua vinda como estando muito adiante, adiando assim o preparo. “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia.” Mateus 25:13. Todavia, essa incerteza predita e a vinda inesperada não são suficientes para erguer-nos do entorpecimento para a diligente vigilância sobre o retorno do Mestre. Aqueles que não forem achados esperando e vigiando serão afinal surpreendidos em sua infidelidade. Jesus vem, e em lugar de estarem prontos para abrir-Lhe a porta, fecham-na em mundana inatividade e finalmente se perdem. T2 191.2

Um grupo me foi mostrado em contraste com o anteriormente descrito. Eles esperavam e vigiavam. Seus olhos estavam voltados para o céu, e estavam-lhes nos lábios as palavras de seu Mestre: “As coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai!” “Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo.” Marcos 13:37, 35, 36. O Senhor indica que haveria uma demora antes de raiar finalmente a manhã. Mas não queria que eles dessem lugar ao enfado, nem atenuassem sua diligente vigilância, pelo fato de a manhã não despontar para eles tão cedo como esperavam. Os expectantes me foram representados como olhando para cima. Encorajavam-se uns aos outros repetindo as palavras: “A primeira e a segunda vigílias são passadas. Estamos na terceira vigília, esperando e vigiando o retorno do Mestre. Agora resta um pequeno período de vigília.” Vi que alguns estavam fatigados; seus olhos dirigiam-se para baixo e se absorviam com as coisas terrenas. Foram infiéis no vigiar. “Na primeira vigília esperamos nosso Mestre, mas ficamos desapontados. Pensávamos que Ele viria na segunda vigília, mas essa passou e Ele não veio. Poderemos ser novamente decepcionados. Não necessitamos ser tão meticulosos. Ele pode não vir na vigília seguinte. Estamos na terceira, e agora pensamos que seria melhor aumentar nossos tesouros na Terra, para que possamos estar prevenidos contra as necessidades.” Muitos estavam dormindo, entorpecidos pelos cuidados desta vida, e fascinados pelo engano das riquezas em seu tempo de espera e vigilância. T2 192.1

Os anjos me foram apresentados como olhando com intenso interesse para observar o semblante dos cansados mas ainda fiéis expectantes, temendo que sejam duramente tentados e desalentados sob o trabalho duro e as privações duplamente severas, por que seus irmãos negligenciaram a vigilância e ficaram inebriados pelos cuidados do mundo e iludidos pela prosperidade mundana. Esses anjos celestiais se afligiam por aqueles que uma vez foram vigilantes e que, por sua indolência e infidelidade, aumentavam as provas e cargas dos que sincera e perseverantemente se esforçavam para manter sua posição de espera e vigilância. T2 193.1

Vi que era impossível absorver as afeições e os interesses em cuidados mundanos, aumentar as posses terrenas, e estar ainda em atitude de espera e vigilância, como ordenou nosso Salvador. Disse o anjo: “Eles só podem apossar-se de um mundo. A fim de adquirir o tesouro celestial, precisam sacrificar o terreno. Não podem obter ambos os mundos.” Vi quão necessário era manter fiel vigilância, de maneira a escapar das enganosas armadilhas de Satanás. Ele conduzia aqueles que deveriam estar esperando e vigiando, a dar um passo a mais em direção ao mundo; eles não tinham nenhuma intenção de ir mais longe, porém, cada passo para o mundo é um a mais distante de Jesus, e oferece maior facilidade de dar o seguinte. Assim, passo a passo, até que a diferença entre eles e o mundo é uma afirmação, apenas um nome. Perderam seu peculiar e santo caráter, e não há nada, exceto sua profissão de fé, para distingui-los dos amantes do mundo a seu redor. T2 193.2

Vi que uma vigília após outra estava no passado. Por causa disso, deve haver falta de vigilância? Oh, não! Há maior necessidade de incessante vigilância, pois agora os momentos são mais escassos do que antes de haver passado a primeira vigília. Agora inevitavelmente o período de espera é menor do que o primeiro. Se naquela ocasião mantivemos contínua vigilância, quão maior será a necessidade de dupla vigilância na segunda vigília! O passar da segunda vigília nos conduziu à terceira, e agora é indesculpável diminuir nossa vigilância. A terceira vigília requer tríplice diligência. Impacientar-se agora seria perder toda a nossa fervorosa e perseverante vigilância até aqui. A longa noite de tristeza é aflitiva, mas a manhã é adiada em misericórdia, porque se o Mestre viesse, muitos seriam achados desprevenidos. A recusa de Deus em permitir que Seu povo pereça tem sido a razão de tão longa demora. Mas a chegada da manhã para os fiéis, e da noite para os infiéis, está às portas. Ao esperar e vigiar, o povo de Deus deve manifestar seu caráter peculiar, sua separação do mundo. Por meio de nossa atitude de vigilância devemos demonstrar que realmente somos “estrangeiros e peregrinos na Terra”. Hebreus 11:13. A diferença entre os que amam o mundo e os que amam a Cristo é tão clara que se torna inconfundível. Enquanto as pessoas mundanas manifestam extrema diligência e ambição para adquirir o tesouro terrestre, o povo de Deus não se conforma com o mundo; por sua atitude fervorosa, vigilante e de espera, revela, porém, que foram transformados; que seu lar não está neste mundo, mas que estão buscando uma pátria “melhor, isto é, a celestial”. Hebreus 11:16. T2 193.3

Espero, prezados irmãos e irmãs, que não leiam essas palavras sem considerar completamente sua importância. Quando os homens da Galiléia permaneceram olhando firmemente para o céu, para ter, se possível, um vislumbre do Salvador que subia, dois homens com vestes brancas, anjos celestiais comissionados para confortá-los pela perda da presença de seu Salvador, puseram-se ao lado deles e perguntaram: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir.” Atos dos Apóstolos 1:11. T2 194.1

Deus deseja que Seu povo mantenha os olhos fixos no Céu, aguardando “o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo”. Tito 2:13. Enquanto a atenção dos mundanos se volta para seus vários empreendimentos, a nossa deve ser posta no Céu; nossa fé deve atingir mais e mais distante, os gloriosos mistérios do tesouro celestial, extraindo os preciosos e divinos raios de luz do santuário celeste para brilharem em nosso coração, como brilham da face de Jesus. Os escarnecedores zombam dos que esperam e vigiam e lhes perguntam: “‘Onde está a promessa de Sua vinda?’ 2 Pedro 3:4. Vocês foram decepcionados. Venham conosco e prosperarão nas coisas mundanas. Lucrem, ganhem dinheiro e sejam honrados pelo mundo.” Os fiéis olham para cima e respondem: “Estamos vigiando.” E tornando-se dos prazeres, da fama e do engano das riquezas, mostram estar vigiando. Na vigilância, tornam-se fortes, vencem a indolência, o egoísmo e o amor à comodidade. O fogo da aflição arde sobre eles e o tempo de espera parece longo. Algumas vezes se entristecem e a fé vacila; mas, voltam ao combate, suplantando seus temores e dúvidas, e enquanto seus olhos estão dirigidos ao céu, dizem aos adversários: “Estou vigiando e esperando o retorno de meu Senhor. Gloriar-me-ei na tribulação, na aflição, nas necessidades.” T2 194.2

O desejo de nosso Senhor é que estejamos vigilantes, para que, quando Ele vier e bater, possamos abrir imediatamente a porta. Uma bênção é pronunciada sobre aqueles servos a quem Ele encontrar vigiando: Ele “Se cingirá, e os fará assentar à mesa, e, chegando-Se, os servirá”. Lucas 12:37. Quem dentre nós, nesses últimos dias, será assim especialmente honrado pelo Senhor dos Exércitos? Estaremos preparados para sem demora abrir-Lhe a porta e saudá-Lo? Vigiem, vigiem, vigiem. Quase todos cessaram sua vigilância e espera; nós não estamos prontos para imediatamente abrir-Lhe a porta. O amor ao mundo tem ocupado tanto nossos pensamentos, que os olhos não estão postos no alto, mas na Terra. Estamos ansiosos por envolver-nos com zelo e dedicação em diferentes empreendimentos, mas Deus é esquecido e o tesouro celeste não é valorizado. Não estamos em atitude de espera e vigilância. O amor ao mundo e o engano das riquezas obscurecem nossa fé, e não mais ansiamos e amamos o retorno de nosso Salvador. Tentamos arduamente cuidar de nós mesmos. Estamos inquietos e precisamos grandemente de uma firme confiança em Deus. Muitos se afligem e trabalham, imaginando e planejando, temendo passar necessidades. Não se permitem tempo para orar ou assistir aos cultos e, no cuidado de si mesmos, não dão chance para que Deus cuide deles. E o Senhor não pode fazer muito por eles, pois não Lhe dão oportunidade. Fazem demasiado por si mesmos e crêem e confiam muito pouco em Deus. T2 195.1

O amor ao mundo tem terrível controle sobre o povo a quem o Senhor ordenou vigiar e orar sempre, para que Ele não viesse repentinamente e os encontrasse dormindo. “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” 1 João 2:15-17. T2 196.1

Foi-me mostrado que o povo de Deus que professa crer na verdade presente, não está em atitude de espera e vigilância. Estão aumentando as riquezas e acumulando tesouros na Terra. Estão se tornando ricos nas coisas da Terra, mas não ricos para com Deus. Não crêem na brevidade do tempo; não crêem que o fim de todas as coisas está próximo, e que Cristo está às portas. Podem professar possuir muita fé, mas enganam a si mesmos, pois agirão de acordo com a medida da fé que realmente possuem. Suas obras mostram o caráter de sua fé, e testificam àqueles que os cercam de que a vinda de Cristo não deve ocorrer nesta geração. As obras serão de acordo com sua fé. Seu preparo é feito para longa permanência neste mundo. Acrescentam casa a casa, terreno a terreno, e são cidadãos deste mundo. T2 196.2

A condição do pobre Lázaro, alimentando-se das migalhas que caíam da mesa do rico, é preferível àquela desses professos. Se possuíssem fé genuína, em lugar de amontoarem tesouros na Terra que logo passará, estariam se livrando das embaraçosas coisas terrenas e transferindo, antes deles, seu tesouro para o Céu. Então, seu interesse e coração lá estariam, pois o coração do homem se acha onde está seu maior tesouro. A maioria dos que professam crer na verdade testifica que o que eles mais valorizam está neste mundo. Por isso se preocupam, suportam ansiedade e trabalho. O estudo de sua vida é preservar e aumentar seu tesouro. Transferem tão pouco para o Céu, têm tão reduzido estoque nos tesouros celestiais, que sua mente não é especialmente atraída para aquela pátria melhor. Investiram nos empreendimentos deste mundo, e esses, como um ímã, atraem-lhes a mente do celestial e imperecível, para o terreno e corruptível. “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” Mateus 6:21. T2 197.1

O egoísmo prende a muitos com seus grilhões de ferro. Esta é “minha fazenda”, “meus bens”, “meu negócio”, “minhas mercadorias”. Mesmo as reivindicações comuns das pessoas são desconsideradas por eles. Homens e mulheres que professam estar esperando e amando o retorno do Senhor estão fechados em si mesmos. A nobreza e a semelhança com Deus foram abandonadas. O amor ao mundo, “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, a soberba da vida” (1 João 2:16) tanto os prenderam que eles se tornaram cegos. Estão corrompidos pelo mundo e não percebem. Falam do amor a Deus, mas seus frutos não mostram o amor que expressam. Roubam a Deus nos dízimos e ofertas e a fulminante maldição divina cai sobre eles. A verdade lhes tem iluminado os caminhos. Deus operou de modo maravilhoso na salvação de almas em suas famílias, mas onde estão as ofertas, apresentadas a Ele em gratidão por todas as provas de Sua misericórdia para com eles? Muitos desses são tão mal-agradecidos como os irracionais. O sacrifício pelo ser humano foi infinito, além da compreensão do mais forte intelecto, todavia, os homens que dizem ser participantes desses benefícios celestiais que lhes foram propiciados a tão grande custo, são tão egoístas que não podem fazer sacrifícios genuínos para Deus. Sua mente está fixada no mundo, no mundo, no mundo. No Salmos 49, lemos: “Aqueles que confiam na sua fazenda e se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes).” Salmos 49:6-8. Se todos tivessem em mente e pudessem, em pequeno grau que fosse, apreciar o imenso sacrifício feito por Cristo, sentir-se-iam repreendidos por seus temores e supremo egoísmo. “Virá o nosso Deus e não Se calará; adiante dEle um fogo irá consumindo, e haverá grande tormenta ao redor dEle. Do alto, chamará os céus e a terra, para julgar o Seu povo. Congregai os Meus santos, aqueles que fizeram comigo um concerto com sacrifícios.” Salmos 50:3-5. Por causa do egoísmo e amor ao mundo Deus é esquecido, e muitos sofrem aridez de coração e clamam: “Emagreço, emagreço, ai de mim!” Isaías 24:16. O Senhor tem confiado recursos a Seu povo para prová-lo, para testar a profundidade de seu professo amor por Ele. Alguns gostariam de deixá-Lo e abandonar os tesouros celestiais, antes que reduzir suas posses terrenas e fazer com Ele um concerto com sacrifício. Deus os convoca ao sacrifício, mas o amor ao mundo fecha-lhes os ouvidos e não podem ouvir. T2 197.2

Olhei para observar quem daqueles que professam estar esperando o aparecimento de Cristo, possuía uma disposição para oferecer, de sua abundância, sacrifícios a Deus. Pude ver uns poucos, que, como a viúva pobre, privavam-se e davam sua oferta. Cada oferta como essa é considerada por Deus como precioso tesouro. Mas aqueles que estão adquirindo recursos e aumentando suas posses, estão muito aquém. Nada fazem em relação ao que poderiam fazer. Estão retendo e roubando a Deus, pois estão temerosos de que venham padecer necessidades. Não ousam confiar em Deus. Essa é uma das razões por que, como um povo, estamos tão enfermos e muitos estão baixando à sepultura. Há cobiçosos entre nós, amantes do mundo e também aqueles que privam o trabalhador de seu salário. Homens que não têm ninguém neste mundo, que são pobres e dependentes de seu trabalho, têm sido tratados rigorosa e injustamente. O amante do mundo, com rosto e coração endurecidos, paga de má vontade a pequena soma conseguida com trabalho duro. Assim estão lidando com seu Mestre, de quem professam ser servos. De igual modo dão suas ofertas ao tesouro de Deus. O homem da parábola não tinha onde armazenar seus bens e o Senhor abreviou sua vida inútil. Assim Ele tratará com muitos. Quão difícil, nesta época corrompida, é guardar-se do crescente mundanismo e egoísmo. Quão fácil é tornar-se ingrato ao Doador de todas as graças. Grande vigilância é necessária, e muita oração, para guardar o coração com toda a diligência. “Olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo.” Marcos 13:33. T2 198.1