Testemunhos para a Igreja 2
Capítulo 72 — Recreação cristã*
Tenho estado a pensar no contraste que se observaria entre nossa reunião aqui, hoje, e as que são em geral promovidas por descrentes. Em vez de oração, e da menção de Cristo e das coisas religiosas, ouvir-se-ia risadas tolas e conversação frívola. Seu objetivo seria divertir-se a valer. A reunião começaria com insensatez e terminaria em vaidade. Queremos que nossas reuniões sejam dirigidas de tal modo e nós mesmos nos comportemos de tal maneira que possamos voltar para casa com a consciência livre de ofensa para com Deus e os homens; a consciência de não havermos ferido ou prejudicado de qualquer forma aqueles com quem nos associamos, nem termos exercido sobre eles influência nociva. T2 585.2
Eis aí onde muitos falham. Não consideram que são responsáveis pela influência que exercem diariamente; que terão de dar contas a Deus pelas impressões que causam, e pela influência que exercem sobre todos aqueles com quem se relacionam na vida. Se essa influência tiver a tendência de desviar de Deus a mente dos outros, atraindo-os rumo à vaidade e à insensatez, levando-os a buscar o próprio prazer em divertimentos e extravagantes condescendências, hão de dar contas disso. E se tais pessoas são homens e mulheres de influência, e sua posição é de modo a fazer com que seu exemplo afete a outros, maior então será seu pecado por negligenciarem ajustar sua conduta pela norma bíblica. T2 585.3
Os momentos que estamos hoje fruindo se acham exatamente em harmonia com minhas idéias sobre recreação. Procurei apresentar meus pontos de vista sobre esse assunto, mas eles podem ser melhor ilustrados do que expressos. Achava-me neste local cerca de um ano atrás, quando houve uma reunião semelhante à que temos agora. Quase tudo transcorreu de forma muito agradável, contudo algumas coisas foram objetáveis. Alguns condescenderam consideravelmente com gracejos e zombarias. Nem todos eram observadores do sábado, e manifestou-se uma influência não tão agradável como desejávamos. T2 586.1
Creio, porém, que ao passo que estamos buscando refrigerar nosso espírito e revigorar o corpo, Deus requer que empreguemos todas as nossas faculdades em todo o tempo, para os melhores fins. Podemos associar-nos como estamos fazemos hoje aqui, e fazer tudo para a glória de Deus. Podemos e devemos dirigir nossas recreações de tal maneira que sejamos habilitados a cumprir melhor nossos deveres, para que nossa influência seja mais benéfica sobre aqueles com quem nos associamos. Isto se aplicaria especialmente a uma ocasião como esta, que deve ser de animação para todos nós. Podemos voltar a nossos lares com a mente revigorada e refrigerado o corpo, preparados para reiniciar o trabalho com mais esperança e ânimo. T2 586.2
Cremos que é nosso privilégio glorificar a Deus todos os dias de nossa vida na Terra; que não devemos viver neste mundo simplesmente para nosso próprio divertimento, para agradar a nós mesmos. Estamos aqui para beneficiar a humanidade, para ser uma bênção à sociedade. E se deixarmos nossa mente vagar naquele baixo rumo em que muitos, que estão buscando apenas vaidade e insensatez, deixam correr a sua, como poderíamos ser uma bênção à sociedade, um benefício para nossa espécie e geração? Não podemos, sem culpa, condescender com qualquer divertimento que nos incapacite para o mais fiel desempenho dos deveres comuns da vida. T2 587.1
Devemos buscar aquilo que é elevado e belo. Devemos encaminhar a mente em sentido diverso daquilo que é superficial e sem importância, que não tem solidez. Nosso desejo é tirar novas forças de tudo em que nos empenhemos. De todas essas reuniões para fins de recreação, de todas essas aprazíveis associações, precisamos colher novas energias para tornar-nos homens e mulheres melhores. De toda fonte possível, devemos obter novo ânimo, nova resistência, novo poder a fim de ser-nos possível elevar nossa vida à pureza e santidade, e não descermos ao baixo nível deste mundo. Ouvimos muitos que professam a religião de Cristo falarem freqüentemente assim: “Nós devemos todos baixar o nível.” Não existe tal coisa como um cristão baixar o nível. Abraçar a verdade de Deus e a religião bíblica não é descer, mas atingir um nível elevado, um patamar superior onde podemos comungar com Deus. T2 587.2
Por isso Cristo humilhou a Si mesmo para tomar nossa natureza, a fim de que por Sua humilhação, sofrimento e sacrifício Se tornasse o degrau para que o decaído homem alcançasse Seus méritos, e que, através de Sua excelência e virtude, os esforços para guardar a lei de Deus Lhe fossem aceitos. Não há tal coisa como baixar o nível. Estamos buscando firmar nossos pés sobre a exaltada plataforma da verdade eterna. Estamos buscando tornar-nos mais semelhantes aos anjos celestiais, mais puros de coração, mais impolutos, inocentes e imaculados. T2 587.3
Buscamos pureza e santidade de vida para podermos, afinal, ser qualificados para a sociedade celestial, no reino da glória. E o único meio para atingir este aprimoramento do caráter cristão é através de Jesus Cristo. Não há outro caminho para o aperfeiçoamento da família humana. Alguns falam da humilhação que suportaram e do sacrifício que fizeram por terem aceitado a verdade divina. É certo que o mundo não aceita a verdade. Os descrentes não a recebem. Eles podem falar daqueles que abraçaram a verdade e buscaram o Salvador, representando-os como deixando tudo, desistindo das coisas, e sacrificando tudo o que merece ser conservado. Mas, não me digam isso! Eu conheço bem o problema. Minha experiência demonstra ser de outra maneira. Não precisam me dizer que temos de abandonar nossos mais caros tesouros e nada receber em troca. Não, realmente! O Criador que plantou o jardim do Éden para nossos primeiros pais, criou para nós as belas árvores e flores, e providenciou tudo o que é belo e glorioso na natureza para o ser humano desfrutar. Então, não pensem que Deus deseja que desistamos de tudo o que contribui para nossa felicidade. Ele apenas requer que abandonemos tudo o que não nos proporcionaria felicidade nem seria para nosso próprio bem. T2 588.1
O Deus que plantou as majestosas árvores e as revestiu de rica folhagem, que nos proporcionou as belas e brilhantes tonalidades das flores, e cuja bela obra podemos apreciar em todo o reino da natureza, nunca pretendeu tornar-nos infelizes. Ele não planejou que não tivéssemos bom gosto nem nos deleitássemos nessas coisas. É Seu plano que possamos usufruí-las e sermos felizes entre os encantos da natureza, Sua criação. T2 588.2
Poderíamos certamente escolher lugares como este bosque para períodos de relaxamento e recreação. Mas enquanto estivermos aqui, não devemos dedicar atenção somente a nós mesmos e dissipar o precioso tempo em diversões que promoverão aversão pelas coisas sagradas. Não viemos aqui para nos entregarmos a gracejos e brincadeiras, a conversas tolas e riso insensato. Aqui contemplamos as belezas da natureza. E agora? Devemos curvar-nos e adorá-las? Não, em absoluto! Mas ao contemplar as obras da natureza, devemos permitir que a mente se eleve a um nível superior, que se eleve a Deus, até o Criador do Universo, e então adorar ao que fez todas estas belas coisas para nosso benefício e felicidade. T2 589.1
Muitos se encantam com lindas pinturas e estão prontos a idolatrar o talento que produziu o belo desenho, mas onde os que dedicam a vida a esse trabalho obtêm inspiração? De onde os artistas tiram as idéias das coisas que transferem para a tela? Do belo cenário da natureza — sim, somente da natureza. Pessoas dedicam todas as forças e afeição ao gosto pela pintura. Muitos desviam a mente das belezas e glórias da natureza, que nosso Criador preparou para que desfrutassem, e devotam todas as faculdades de seu ser para atingir a perfeição da arte; todavia, todas estas coisas são cópias imperfeitas da natureza. A arte nunca poderá atingir a perfeição da natureza. T2 589.2
O Autor de todas as encantadoras belezas da natureza é esquecido. Tenho visto muitos que chegam ao êxtase ao contemplarem uma pintura de pôr-do-sol, quando poderiam valer-se do privilégio de ver um real e glorioso pôr-do-sol quase todas as tardes do ano. Podem ver os belos matizes com que o invisível Artista-Mestre pintou com divina habilidade as gloriosas cenas na tela viva dos céus. Ainda assim, voltam-se descuidosamente das cenas delineadas nos céus para as pinturas artísticas, traçadas por dedos imperfeitos, e quase se curvam para adorá-las. Qual a razão disso? É porque o inimigo busca com freqüência desviar-lhes a mente de Deus. Quando apresentamos a Deus e a religião de Cristo, eles os recebem? Na verdade, não! Não podem aceitar a Jesus. Quê! fariam eles o sacrifício que fosse necessário para recebê-Lo? De modo algum! Mas o que é requerido? Simplesmente as melhores e mais santas afeições do coração para Ele, que deixou a glória do Pai e desceu para morrer por uma raça de rebeldes. Abriu mão de Suas riquezas, majestade e alto comando, e tomou sobre Si nossa natureza para prover um meio de escape. E para quê? Para humilhá-lo? Para degradá-lo? Não! Para prover-lhe um meio de escape da irremediável miséria, para elevá-lo, afinal, à Sua mão direita no Seu reino. Por isso é que o grandioso, imenso sacrifício foi feito. Quem pode compreendê-lo? Quem pode apreciá-lo? Ninguém senão aqueles que compreendem o mistério da piedade, que provaram os poderes do mundo por vir, que beberam da taça de salvação que nos foi apresentada. Essa taça de salvação o Senhor nos oferece, enquanto Seus próprios lábios beberam, em nosso lugar, a taça de amargura que nossos pecados Lhe prepararam. Entretanto, falamos como se Cristo, que fez tal sacrifício e manifestou tal amor por nós, quisesse nos privar de tudo o que é útil desfrutar. T2 589.3
De que bem Ele nos privaria? Ele nos privaria do privilégio de ceder às paixões naturais do coração carnal. Não podemos ficar zangados exatamente quando queremos, e ao mesmo tempo manter uma consciência limpa e a aprovação de Deus. Mas não estaríamos dispostos a renunciar a isso? A condescendência com as paixões corruptas nos faria mais felizes? É porque ela não o fará, que nos são impostas restrições nesse sentido. Ficar zangados e cultivar um temperamento perverso, nada acrescentará ao nosso contentamento. Não é para nossa felicidade seguirmos as inclinações do coração natural. E nos tornaremos melhores por condescender com elas? Não; elas lançarão uma sombra sobre nossa família e uma mortalha sobre nossa felicidade. Ceder aos apetites naturais tão-somente prejudicará a constituição e desintegrará o organismo. Por isso Deus quer que restrinjamos o apetite, controlemos as paixões e mantenhamos em sujeição o ser inteiro. E Ele prometeu dar-nos força se nos empenharmos em Sua obra. T2 590.1
O pecado de Adão e Eva provocou terrível separação entre Deus e o homem. E Cristo Se interpõe entre o homem caído e Deus, e diz ao homem: “Você ainda pode vir ao Pai; há um plano elaborado, pelo qual Deus pode ser reconciliado com o homem, e o homem com Deus. Por meio de um Mediador, você pode aproximar-se de Deus.” E agora Ele intercede por você. É o grande Sumo Sacerdote que pleiteia em seu favor; e você deve ir e apresentar seu caso ao Pai por meio de Jesus Cristo. Assim terá acesso a Deus; e apesar de você pecar, seu caso não é perdido. “Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo.” 1 João 2:1. T2 591.1
Agradeço a Deus por termos um Salvador. E não há nenhum outro meio de podermos ser exaltados, senão por Cristo. Que ninguém então pense ser grande humilhação de sua parte aceitar a Cristo, pois quando damos esse passo nos apoderamos do áureo cordão que une o homem finito ao infinito Deus; damos o primeiro passo no sentido da verdadeira exaltação a fim de sermos qualificados para a sociedade dos puros e santos anjos no reino da glória. T2 591.2
Não se desanime; não seja tímido. Embora possa ter tentações e ser assediado pelo astuto inimigo, se tiver o temor de Deus diante de si, anjos excelentes em poder serão enviados para ajudá-lo, e você poderá enfrentar os poderes das trevas. Jesus vive. Ele morreu para prover um meio de escape à raça caída e vive hoje para interceder por nós, para que possamos ser elevados à Sua mão direita. Espere em Deus. O mundo está viajando no caminho largo, e como você viaja na senda estreita e tem de contender com os principados e potestades e enfrentar oposição de inimigos, lembre-se de que foi feita uma provisão em seu favor. Foi provida ajuda por Alguém que é poderoso e através de quem você pode ser vencedor. T2 591.3
“Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso.” 2 Coríntios 6:17, 18. Que promessa! Ela é a garantia de que vocês se tornarão membros da família real, herdeiros do reino celeste. Se uma pessoa é honrada por qualquer dos governantes da Terra ou está ligada a eles, como lemos costumeiramente nos jornais diários, incita a inveja dos que se julgam menos afortunados. Mas aqui está Alguém que é o Rei dos reis, o Soberano do Universo, o Autor de tudo o que é bom, e Ele nos diz: Eu farei de vocês Meus filhos e filhas, e os unirei a Mim; vocês se tornarão membros da família real e filhos do celeste Rei. T2 592.1
Paulo diz: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.” 2 Coríntios 7:1. Por que não fazemos isso, quando temos tal incentivo, o privilégio de nos tornarmos filhos do Altíssimo, o privilégio de chamar o Deus do Céu de Pai? Isso não é suficiente? E vocês podem chamar a isso de privação de tudo o que é importante possuir? É isso uma desistência de tudo o que é apropriado ter? Que eu possa estar unida a Deus e aos santos anjos, pois essa é minha mais elevada ambição. Vocês podem ter todas as posses do mundo, mas eu preciso ter Jesus. Eu preciso ter direito à herança imortal, a riqueza eterna. Quero deliciar-me com as belezas do reino de Deus. Quero alegrar-me com as pinturas que Seus próprios dedos coloriram. Eu posso apreciá-las; vocês podem apreciá-las. Não devemos venerá-las, mas através delas ser dirigidos a Deus e contemplar a glória dAquele que fez todas essas coisas para nossa alegria. T2 592.2
Novamente digo: Tenham ânimo. Confiem no Senhor. Que o inimigo não lhes roube as promessas. Se vocês se têm separado do mundo, Deus diz que Ele será seu Pai e vocês serão Seus filhos e filhas. Isso não basta? Que maior estímulo poderia ser oferecido? Há qualquer grande objetivo em ser uma borboleta e não ter nenhuma riqueza nem propósito na vida? Oh, deixem-me estar na plataforma da verdade eterna. Dêem-me a riqueza imortal. Desejo apegar-me à áurea corrente que desce do Céu à Terra, e deixar que ela me eleve a Deus e à glória. Essa é minha ambição; esse é meu alvo. Se outros não têm nenhum objetivo mais elevado do que vestir-se; se podem deleitar-se na aparência exterior, e satisfazer seu coração com laços, fitas e coisas extravagantes, que desfrutem disso. Mas deixem-me ter o adorno interior. Deixem-me ser trajada com aquele espírito “manso e quieto que é precioso diante de Deus”. 1 Pedro 3:4. E o recomendo a vocês, rapazes e moças, porque é mais precioso diante do Senhor do que o ouro de Ofir. É isso que torna um ser humano mais valioso do que o ouro fino. Minhas irmãs, e vocês, meus jovens, isso os fará mais preciosos à vista do Céu do que o fino ouro, do que a barra de ouro de Ofir. Recomendo-lhes Jesus, meu bendito Salvador. Eu O adoro. Eu O exalto. Ó, que eu tivesse uma língua imortal para poder louvá-Lo como desejo! Que eu pudesse apresentar-me perante o Universo reunido e louvar Seus encantos incomparáveis! T2 593.1
E enquanto O adoro e exalto, gostaria que se unissem a mim nesse louvor. Louvem ao Senhor quando caírem em trevas. Louvem-nO mesmo em tentação. “Regozijai-vos, sempre, no Senhor”, diz o apóstolo, “outra vez digo: regozijai-vos.” Filipenses 4:4. Trará isso tristeza e escuridão a suas famílias? Não, absolutamente, mas raios de sol. Vocês receberão raios de luz eterna do trono de glória e os difundirão a seu redor. Quero exortá-los a se ocuparem nesse trabalho, irradiando luz e vida a sua volta, não só no próprio caminho, mas na trajetória daqueles com quem se associam. Seja seu objetivo tornar melhor a vida dos que os cercam, erguê-los e apontar-lhes o Céu e a glória, levá-los a buscar, acima de todas as coisas terrenas, o tesouro eterno, a herança imortal, as riquezas imperecíveis. T2 593.2