Testemunhos para a Igreja 2
Seção 19 — Testemunho para a igreja
Capítulo 61 — Mensagem aos pastores
25 de Outubro de 1868
Queridos irmãos:
Foi-me revelado que nem todos os que professam ter sido chamados para ensinar a verdade estão qualificados para essa sagrada obra. Alguns estão longe de conhecer a mente e a vontade de Deus. Condescendem com a indolência em coisas temporais, e sua vida religiosa está marcada pela preguiça espiritual. Onde há falta de energia perseverante e aplicação rigorosa em assuntos temporais e transações comerciais, a mesma deficiência será visível em coisas espirituais. T2 498.1
Alguns de vocês são chefes de família, e seu exemplo e influência estão moldando o caráter dos filhos. Seu modelo será seguido em maior ou menor grau, e sua falta de integridade está pondo diante dos outros um mau exemplo. Mas suas deficiências são mais plenamente sentidas, com resultados de maior peso, na causa de Deus. Suas famílias sentiram essa deficiência e sofreram em resultado dela. Eles sofreram falta de muita coisa que diligente atividade e perseverança poderiam ter suprido. Mas tal carência tem sido vista e sentida em maior grau na causa e obra de Deus, assim como a causa e a obra são de mais alta importância do que as coisas pertinentes a esta vida. T2 498.2
A influência de alguns pastores não é boa. Eles não vigiaram cuidadosamente seu tempo, dando assim ao povo um exemplo de operosidade. Despendem indolentemente momentos e horas que, uma vez passados para a eternidade com seu registro de resultados, nunca poderão ser recuperados. Alguns são naturalmente indolentes, o que lhes torna difícil fazer de qualquer empreendimento um sucesso. Tal deficiência tem sido vista e sentida através de toda a sua experiência religiosa. Não são apenas esses faltosos que são perdedores; outros sofrem em resultado de suas deficiências. Nesta hora avançada, muitos têm lições a aprender, as quais já deveriam ter aprendido há muito tempo. T2 498.3
Alguns não são ativos estudantes da Bíblia. Não estão dispostos a aplicar-se diligentemente ao estudo da Palavra de Deus. Como resultado dessa negligência, trabalham sob grande desvantagem e não conseguem, em seus esforços ministeriais, realizar um décimo da obra que podiam ter feito, se houvessem percebido a necessidade de aplicar com afinco sua mente ao estudo da Palavra. Poderiam tornar-se tão familiarizados com as Escrituras, tão fortalecidos pelos argumentos bíblicos, que enfrentariam os oponentes e apresentariam as razões de nossa fé, fazendo triunfar a verdade e silenciar a oposição. T2 499.1
Os que ministram a Palavra devem possuir um conhecimento tão completo da mesma quanto lhes seja possível. Precisam estar continuamente pesquisando, orando e aprendendo, ou o povo de Deus avançará no conhecimento de Sua Palavra e vontade, e deixará esses pretensos mestres para trás. Quem instruirá o povo quando esse tiver mais conhecimento do que seus professores? Todos os esforços desses pastores são infrutíferos. Há necessidade de que o povo lhes ensine a Palavra de Deus mais perfeitamente, antes que sejam capazes de instruir a outros. T2 499.2
Alguns poderiam ter se tornado obreiros completos se houvessem feito bom uso de seu tempo, sentindo que teriam contas a prestar a Deus por seus momentos desperdiçados. Eles têm desagradado ao Senhor porque não foram industriosos. Satisfação própria, amor-próprio, apego egoísta à comodidade têm afastado alguns do bem, impedindo-os de obter um conhecimento das Escrituras que os habilitaria plenamente à prática de boas obras. Alguns não apreciam o valor do tempo e perdem na cama as horas que poderiam ter sido empregadas no estudo da Bíblia. Há alguns assuntos sobre os quais se têm demorado mais, com os quais estão familiarizados e sobre esses podem falar com aceitação; mas em grande medida deixam o assunto nesse ponto. Eles não têm se sentido totalmente satisfeitos consigo mesmos e, às vezes, perceberam suas deficiências; todavia, ainda não estão suficientemente conscientes do crime de negligenciar maior familiaridade com a Palavra de Deus, que eles professam ensinar. Por causa de sua ignorância, as pessoas ficam desapontadas. Elas não recebem deles a sabedoria que poderiam obter e que esperam receber dos ministros de Cristo. T2 499.3
Levantando-se cedo e poupando seu tempo, os pastores podem achar momentos para uma íntima pesquisa das Escrituras. Precisam ser perseverantes e não ficar frustrados com o assunto, mas persistentemente empregar seu tempo no estudo da Palavra, trazendo em seu auxílio as verdades que outras mentes, através de labor incessante, trouxeram-lhes à luz e, com diligente e perseverante esforço, prepararam para eles. Há pastores que têm trabalhado por anos, ensinando a verdade a outros, enquanto não estão bem familiarizados com os pontos fortes de nossa fé. Rogo-lhes que acabem com sua preguiça. Ela lhes tem sido contínua maldição. Deus requer deles que cada momento produza algum bem para si mesmos ou para os outros. “Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor.” Romanos 12:11. “Também o negligente na sua obra é irmão do desperdiçador.” Provérbios 18:9. T2 500.1
É importante para os ministros de Cristo ver a necessidade de cultura própria, a fim de adornar sua profissão de fé e manter discreta dignidade. Sem o treino mental, por certo fracassarão em tudo que empreenderem. Foi-me mostrado que há assinalada falta naqueles que pregam a Palavra. Deus não Se agrada com seus modos e idéias. Sua maneira casual de citar as Escrituras é um descrédito à sua posição. Dizem ser ensinadores da Palavra, mas falham em citar corretamente as Escrituras. Aqueles que se dedicam plenamente à pregação da Palavra não devem ser acusados de citar textos incorretamente. Deus requer integridade de todos os Seus servos. T2 500.2
A religião de Cristo será exemplificada por seu possuidor na vida, na conversação e nos atos. Seus princípios poderosos provar-se-ão uma âncora. Aqueles que ensinam a Palavra devem ser padrões de piedade, modelos para o rebanho. Seu exemplo deve recriminar a indolência, a preguiça, a falta de operosidade e economia. Os princípios da religião exigem diligência, operosidade, economia e honestidade. “Presta contas da tua mordomia” (Lucas 16:2), logo será ouvido por todos. Irmãos, que conta dariam se o Mestre aparecesse agora? Vocês não estão preparados. Certamente seriam tidos como servos negligentes. Preciosos momentos ainda lhes são concedidos. Apelo para que redimam o tempo. T2 501.1
Paulo exortou a Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” 2 Timóteo 2:15. “E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos.” 2 Timóteo 2:23-26. T2 501.2
Para realizar a obra que Deus deles requer, os pastores precisam estar qualificados para tal. O apóstolo Paulo, em sua carta aos colossenses, assim fala com respeito ao seu ministério: “Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus: o mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos Seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; a quem anunciamos, admoestando a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo; e para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente.” Colossences 1:25-29. T2 501.3
Deus requer de Seus servos que vivem tão perto do fim de todas as coisas, nada menos do que sagrada apreciação e devoção ao trabalho do ministério. Ele não pode aceitar o trabalho dos obreiros, a menos que compreendam o poder da verdade que apresentam a outros. Não aceitará nada menos do que um trabalho feito de coração, sério, zeloso e ativo. Vigilância e produtividade são requeridas nessa grande obra. Deus quer obreiros desprendidos, que trabalhem com desinteressada benevolência e coração íntegro. T2 502.1
Irmãos, falta-lhes dedicação e consagração à obra. Seu coração é egoísta. As deficiências precisam ser supridas ou sofrerão desapontamento fatal — perderão o Céu. Deus não considerará como algo sem importância a negligência do fiel desempenho no trabalho que deixou a Seus servos. Está faltando em muitos que trabalham no ministério, duradouro vigor e constante confiança em Deus. O resultado desta falta acarreta grandes responsabilidades sobre os poucos que possuem essas qualidades, e eles são convocados a suprir as deficiências tão evidentes naqueles que poderiam ser trabalhadores capazes se desejassem. São poucos os que estão labutando dia e noite, abstendo-se do descanso e do convívio social, sobrecarregando a mente ao máximo, cada um trabalhando por três e se desgastando para fazer o serviço que outros podem realizar, mas negligenciam. Alguns são muito indolentes em fazer sua parte. Muitos pastores poupam a si mesmos esquivando-se de responsabilidades, acomodando-se a um estado de ineficiência, quase nada fazendo. Conseqüentemente, aqueles que compreendem o valor das almas, que apreciam a santidade da obra, sentindo que ela deve ir avante, estão fazendo trabalho extra e esforços sobre-humanos, exaurindo até suas energias mentais para manter a obra em andamento. Fossem os interesses e a dedicação ao trabalho igualmente partilhados e todos os que professam ser pastores dedicassem diligentemente todos os seus interesses à causa, não poupando a si mesmos, os poucos obreiros, sinceros e tementes a Deus que estão rapidamente se consumindo seriam aliviados da terrível pressão que sofrem e suas energias seriam preservadas, de forma que quando exigidas, pudessem responder com redobrada força. Assim, seriam produzidos maiores resultados do que agora podem ser vistos, apesar da pressão de cuidado e ansiedade esmagadores. O Senhor não Se agrada dessa desigualdade. T2 502.2
Muitos que professam ter sido chamados por Deus para ministrar em palavra e doutrina não percebem que não têm direito de reivindicar ser ensinadores, a menos que estejam totalmente supridos por sincero e diligente estudo da Palavra de Deus. Alguns se descuidam em obter conhecimento de ramos simples da educação. Outros nem sequer lêem corretamente. Uns citam incorretamente as Escrituras e outros, por sua aparente falta de qualificação para o trabalho que tentam fazer, prejudicam a causa de Deus e trazem descrédito à verdade. Eles não vêem a necessidade de cultivar o intelecto, de encorajar refinamento sem afetação e de procurar obter verdadeiro desenvolvimento do caráter cristão. O modo certo e eficaz de alcançar esse nível é a submissão do coração a Deus. Ele dirigirá o intelecto e as afeições para que se centralizem no que é divino e eterno, então eles possuirão poder sem precipitação, pois todas as faculdades da mente e do ser inteiro serão elevadas, refinadas e conduzidas por um conduto santo e elevado. Dos lábios do divino Mestre foram ouvidas as palavras: “Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças.” Marcos 12:30. Quando ocorre essa submissão a Deus, verdadeira humildade permeará toda ação, e ao mesmo tempo, aqueles que se acham assim ligados com Deus e Seus anjos possuirão conveniente dignidade de natureza celestial. T2 503.1
O Senhor pede que Seus servos sejam ativos. Não Lhe é agradável vê-los desatentos e indolentes. Eles professam ter evidência de que o Senhor os selecionou especialmente para ensinar ao povo o caminho da vida; todavia, freqüentemente sua conversação é inútil, demonstrando que não sentem a responsabilidade do trabalho sobre si. Seu coração não está fortalecido pelas poderosas verdades que ensinam aos outros. Alguns pregam essas verdades de tão elevada importância de um modo negligente que não conseguem afetar o povo. “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças.” Eclesiastes 9:10. Os homens a quem Deus chamou precisam ser treinados para fazer esforços e trabalhar diligentemente e com incansável zelo por Ele, para arrancar pecadores do fogo eterno. Quando os pastores sentirem o poder da verdade em si próprios, vibrando o próprio ser, então terão poder para atingir corações e mostrar que crêem firmemente nas verdades que pregam a outros. Devem eles ter em mente o valor dos seres humanos e as incomparáveis grandezas do amor do Salvador. Isso lhes despertaria o coração, de maneira que pudessem dizer com Davi: “Incendeu-se dentro de mim o meu coração; enquanto eu meditava se acendeu um fogo.” Salmos 39:3. T2 504.1
Paulo exortou a Timóteo: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza. Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá.” 1 Timóteo 4:12, 13. “Medita estas coisas, ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” 1 Timóteo 4:15, 16. Que elevada importância é aqui atribuída à vida religiosa do ministro de Deus! Que necessidade de fiel estudo da Palavra, para que ele possa ser santificado pela verdade e estar qualificado para ensinar a outros! T2 504.2
Irmãos, é-lhes requerido exemplificar a verdade na vida. Mas aqueles que pensam ter a missão de ensinar a outros a verdade, não são todos convertidos e santificados pela verdade. Alguns nutrem idéias errôneas do que seja um cristão e dos meios através dos quais pode ser obtida uma firme experiência religiosa. Não compreendem as qualificações que Deus requer de Seus pastores. Tais homens não são santificados. Ocasionalmente têm um êxtase de sentimentos, que lhes dá a impressão de serem realmente filhos de Deus. Tal dependência de impressões é um dos especiais enganos de Satanás. Aqueles que vivem assim tornam a religião circunstancial. É necessário firme princípio. Ninguém é cristão ativo a menos que tenha uma experiência diária nas coisas de Deus e pratique todos os dias a abnegação, tomando alegremente a cruz e seguindo a Cristo. Todo cristão ativo progredirá diariamente na vida religiosa. Ao prosseguir rumo à perfeição, ele experimenta cada dia uma conversão a Deus; e esta conversão não se completa enquanto ele não alcança a perfeição no caráter cristão, um completo preparo para o toque final da imortalidade. T2 505.1
Deus deve ser o mais elevado objeto de nossos pensamentos. Meditando nEle, e com Ele pleiteando, eleva-se a mente e avivam-se as afeições. A negligência da meditação e oração certamente resultará no declínio dos interesses religiosos. Então se verão o descuido e a indolência. Religião não é mera emoção ou sentimento. É um princípio entretecido em todos os deveres e transações da vida diária. Não se cultivará coisa alguma nem se empreenderá qualquer negócio que impeça o cumprimento deste princípio. Para preservar a religião pura e imaculada é necessário ser obreiros perseverantes no esforço. Temos de fazer algo, nós mesmos. Nenhum outro pode cumprir nossa tarefa. Nenhum outro, senão nós mesmos, pode desenvolver nossa salvação, com temor e tremor. Esta é própria obra de que o Senhor nos encarregou. T2 505.2
Alguns pastores que professam ter sido chamados por Deus têm o sangue das almas em suas vestes. Estão cercados de apóstatas e pecadores, contudo não sentem responsabilidade por essas pessoas. Manifestam indiferença pela sua salvação. Alguns se acham tão entorpecidos que não possuem qualquer senso do trabalho do ministério evangélico. Não consideram que, como médicos espirituais, é-lhes requerida perícia em ministrar aos corações enfermos pelo pecado. O trabalho de advertir pecadores, de chorar por eles e instar com eles, tem sido negligenciado até que muitas pessoas fiquem desenganadas. Algumas têm morrido em seus pecados e no Juízo confrontarão com acusações o delito daqueles que poderiam tê-las salvo, mas não o fizeram. Pastores infiéis, que retribuição os espera! T2 506.1
Os ministros de Cristo necessitam de nova unção, para que possam claramente discernir as coisas sagradas e ter claras concepções do santo e imaculado caráter que eles próprios devem formar para serem exemplos ao rebanho. Nada que possamos fazer por nós mesmos nos elevará ao alto padrão que Deus propôs a Seus embaixadores. Apenas a firme confiança em Deus e uma forte e ativa fé efetuarão o trabalho que Ele requer seja feito em nós. Deus convida homens ativos. É a constância em fazer o bem que formará o caráter para o Céu. Em sinceridade, fidelidade e amor, devemos apelar ao povo a fim de que se prepare para o dia de Deus. Alguns precisarão de fortes apelos para atender. Que o trabalho seja caracterizado pela mansidão e humildade, e contudo com tal zelo que os faça entender o que essas coisas são em realidade, e que a vida e a morte estão diante deles para escolha. A salvação do ser humano não é um assunto que possa ser passado por alto. A conduta de quem trabalha para Deus deve ser séria e caracterizada pela simplicidade e verdadeira polidez cristã, e no entanto, intensamente zeloso na obra que o Mestre lhe confiou. Decidida perseverança no seguir a justiça, disciplinando a mente por meio de exercícios religiosos visando ao amor à devoção e às coisas celestiais, trará maior felicidade. T2 506.2
Se pusermos em Deus a nossa confiança, teremos a capacidade de direcionar a mente para essas coisas. Através de exercício continuado ela se tornará forte para enfrentar os inimigos internos e subjugar o eu, até a completa transformação e o domínio perfeito das paixões e apetites. Então haverá piedade diária em casa e fora dela, e quando nos ocuparmos do trabalho pelos pecadores, um poder assistirá nossos esforços. O cristão humilde não terá períodos de devoção espasmódicos, instáveis, supersticiosos, mas calmos e tranqüilos, profundos, constantes e fervorosos. O amor de Deus e a prática da piedade serão agradáveis quando houver perfeita submissão a Deus. T2 507.1
A razão de os ministros de Cristo não serem mais bem-sucedidos no trabalho, é não se dedicarem totalmente a ele. O interesse de alguns está dividido; são homens de duplo ânimo. Os cuidados desta vida absorvem sua atenção e eles não compreendem quão sagrado é o trabalho do pastor. Podem queixar-se de escuridão, de grande incredulidade e de infidelidade. A razão disto é: eles não são justos diante de Deus; não entendem a importância de uma inteira consagração a Ele. Servem pouco a Deus e muito a si mesmos. Oram pouco. T2 507.2
A Majestade do Céu, enquanto empenhada em Seu ministério terrestre orava muito a Seu Pai. Freqüentemente, ficava de joelhos a noite toda em oração. Pesava-Lhe ao espírito ver a ação dos poderes das trevas no mundo. Então deixava a movimentada cidade e a barulhenta multidão, para buscar um lugar sossegado onde pudesse fazer Suas intercessões. O Monte das Oliveiras era o recanto favorito do Filho de Deus para Suas devoções. Muitas vezes depois que a multidão O deixava para o retiro da noite, Ele não descansava, embora estivesse exausto com os esforços do dia. No evangelho de João, lemos: “E cada um foi para sua casa. Porém Jesus foi para o Monte das Oliveiras.” João 7:53; 8:1. Enquanto a cidade estava envolta em silêncio, e os discípulos haviam retornado a seus lares a fim de obter refrigério no sono, Jesus não dormia. Suas divinas súplicas subiam do Monte das Oliveiras a Seu Pai, para que os Seus discípulos pudessem ser guardados das más influências que diariamente os assediavam no mundo, e que Sua própria alma fosse fortalecida e reforçada para os deveres e provas do dia seguinte. Toda a noite, enquanto os Seus seguidores estavam dormindo, o seu divino Mestre estava orando. A geada e o orvalho da noite caíam sobre Sua cabeça curvada em oração. Seu exemplo foi deixado para os Seus seguidores. T2 508.1
A Majestade do Céu, enquanto ocupada em Sua missão, estava freqüentemente em fervorosa oração. Nem sempre Se dirigia ao Olivete, pois Seus discípulos conheciam-Lhe o retiro favorito e O seguiam. Ele escolhia o silêncio da noite, quando não haveria interrupção. Jesus curava os enfermos e ressuscitava os mortos. Ele próprio era uma fonte de bênção e força. Ordenava às tempestades, e elas obedeciam. Não se contaminava com a corrupção, era um estranho ao pecado, e contudo orava, e isto muitas vezes com forte clamor e lágrimas. Ele orava por Seus discípulos e por Si mesmo, assim Se identificando com nossas necessidades, com nossas fraquezas e falhas, tão comuns à humanidade. Era um poderoso solicitador, não possuindo as paixões de nossa natureza humana caída, mas rodeado das mesmas enfermidades, tentado em todos os pontos como nós o somos. Jesus suportou sofrimentos que requeriam ajuda e sustento da parte de Seu Pai. T2 508.2
Cristo é nosso exemplo. São os ministros de Cristo tentados e esbofeteados por Satanás? Aquele que não conhecia pecado também o foi. Ele Se voltava para Seu Pai nessas horas de angústia. Ele veio à Terra para que pudesse prover-nos um caminho pelo qual achássemos graça e força para auxílio em tempo de necessidade, mediante o seguir o Seu exemplo em oração fervente e constante. Se os ministros de Cristo imitassem Seu exemplo, seriam possuídos por Seu espírito e os anjos os ajudariam. T2 509.1
Anjos ministraram a Jesus, todavia, sua presença não Lhe tornou a vida fácil e livre de severos conflitos e ardentes tentações. Ele foi tentado em todos os pontos, como nós o somos, todavia, sem pecado. Deveriam os pastores, enquanto envolvidos na obra que o Senhor lhes designou, ficar desanimados ao sofrerem provas, perplexidades e tentações, quando sabem que Alguém suportou tudo isso antes deles? Deveriam eles abandonar sua confiança porque não conseguem dar conta de tudo o que se espera deles? Cristo trabalhou diligentemente por Sua nação, mas Seus esforços foram desprezados por aqueles a quem viera salvar, e eles mataram Aquele que lhes viera trazer vida. T2 509.2
Há número suficiente de pastores, mas grande falta de obreiros. Trabalhadores, coobreiros de Deus, têm consciência da santidade da obra e dos severos conflitos que precisam travar para levá-la adiante com sucesso. Eles não ficarão desalentados e abatidos em vista do trabalho, embora muito árduo. Na epístola aos romanos, Paulo diz: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado.” Romanos 5:1-5. NEle se acham todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Estamos sem desculpa se não nos beneficiarmos das amplas providências que nos foram feitas para que de nada tivéssemos necessidade. Fugir dos sofrimentos, queixar-se sob tribulação, torna os servos de Deus fracos e ineficientes no assumir responsabilidades e suportar fardos. T2 509.3
Todos os que permanecem decididamente na frente da batalha, hão de sentir a guerra especial de Satanás contra eles. Quando percebem seus ataques, fogem para Jesus, a Fortaleza. Sentem sua necessidade de especial força vinda de Deus e agem nessa força; por conseguinte, as vitórias que obtêm não são para sua exaltação própria, mas para levá-los a se apoiarem mais firmemente no Todo-poderoso. Profunda e fervente gratidão a Deus é-lhes despertada no coração, e regozijam-se na tribulação que sofrem sob a pressão do inimigo. Esses bem dispostos servos estão alcançando experiência e formando um caráter que honrará a causa de Deus. T2 510.1
O presente é um tempo de solene privilégio e sagradas responsabilidades para os servos de Deus. Se essas responsabilidades forem fielmente atendidas, trarão grande recompensa ao fiel servo quando o Mestre lhe disser: “Presta contas da tua mordomia.” Lucas 16:2. O empenho sério, o trabalho desinteressado, o paciente e perseverante esforço serão recompensados abundantemente; Jesus dirá: “Já não vos chamarei servos, ... mas amigos.” João 15:15. A aprovação do Senhor é dada, não por causa da grandeza da obra efetuada, ou por terem sido alcançadas muitas coisas, mas por causa da fidelidade mesmo em poucas coisas. Não são os grandes resultados que obtemos, mas os motivos que nos levam à ação, o que pesa à vista de Deus. Ele preza a bondade e a fidelidade mais do que a grandeza da obra realizada. T2 510.2
Foi-me mostrado que muitos estão em grande perigo de falhar em aperfeiçoar a santidade no temor de Deus. Pastores estão sob risco de perder a própria salvação. Alguns que têm pregado a outros serão eles mesmos rejeitados porque não aperfeiçoaram o caráter cristão. Não ganham almas em seu trabalho e fracassam também em salvar a si mesmos. Não vêem a importância do conhecimento e do controle de si mesmos. Não vigiam e oram para não entrarem em tentação. Se vigiassem, conheceriam os pontos onde são mais assaltados pela tentação. Mediante vigilância e oração podem resguardar os pontos mais fracos para que se tornem seus pontos mais fortes, e possam enfrentar a tentação sem serem vencidos por ela. Cada seguidor de Cristo deve examinar diariamente a si mesmo para que se torne perfeitamente familiarizado com a própria conduta. Quase todos negligenciam o exame de si mesmos. Essa negligência é altamente perigosa para aquele que professa ser um porta-voz de Deus, que ocupa a respeitável posição de receptor das palavras divinas para transmitir a Seu povo. Sua conduta diária tem grande influência sobre outros. Se, porventura, obtém algum sucesso no trabalho, leva seus conversos a seu baixo padrão, e raramente esses conseguem ir além disso. Os caminhos, palavras, gestos, maneiras, a fé e piedade de seus pastores são considerados amostra de todos os adventistas observadores do sábado; e se os membros imitam o exemplo daquele que lhes ensinou a verdade, pensam estar cumprindo todo o seu dever. T2 511.1
Na conduta de um pastor há muita margem para melhora. Muitos vêem e sentem suas deficiências, contudo parecem ignorar a influência que exercem. Estão conscientes de suas ações ao praticá-las, mas permitem que saiam de sua memória, e portanto não se reformam. Se os pastores tornassem os atos de cada dia um assunto de cuidadosa reflexão e deliberada recapitulação, com o objetivo de familiarizar-se com os próprios hábitos de vida, conheceriam melhor a si mesmos. Mediante um exame íntimo de sua vida diária sob todas as circunstâncias, eles conheceriam seus motivos, os princípios que os regem. Essa diária recapitulação de nossos atos, para ver se a consciência aprova ou condena, é necessária para todos os que anelam chegar à perfeição do caráter cristão. Muitos atos que passam por boas obras, mesmo atos de beneficência, se analisados rigorosamente, terão de ser considerados como induzidos por motivos errados. Muitos há que recebem aplausos por virtudes que não possuem. O Esquadrinhador dos corações inspeciona os motivos, e muitas vezes os próprios atos que são vivamente aplaudidos pelos homens são por Ele registrados como provindo de motivos egoístas e vil hipocrisia. Cada ato de nossa vida, quer excelente e digno de louvor, quer merecedor de censura, é julgado pelo Esquadrinhador dos corações de acordo com os motivos que o induziram. T2 511.2
Mesmo alguns pastores que defendem a lei de Deus têm pouco conhecimento sobre si mesmos. Não meditam sobre seus motivos, não os examinam. Não vêem seus erros e pecados porque não examinam sincera e zelosamente sua vida, seus atos e seu caráter, separados e como um todo, comparando-os com a lei sagrada de Deus. Na realidade não compreendem os reclamos da lei divina e transgridem diariamente o espírito dos sagrados preceitos que professam reverenciar. “Pela lei”, diz Paulo, “vem o conhecimento do pecado.” Romanos 3:20. “Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.” Romanos 7:7. Alguns que trabalham “na palavra e na doutrina” (1 Timóteo 5:17) não têm uma compreensão prática da lei de Deus e suas santas reivindicações, nem da expiação de Cristo. Esses necessitam converter-se antes que possam converter a outros. T2 512.1
O fiel espelho que revelaria os defeitos de caráter é desprezado; portanto, há deformidade e pecado que são evidentes aos outros, embora não percebidos por aqueles que estão em falta. O odioso pecado do egoísmo existe em grande escala, mesmo naqueles que professam ser dedicados à obra de Deus. Se esses comparassem seu caráter com Seus requisitos, especialmente com o grande padrão — Sua lei santa, justa e boa — descobririam que, embora sinceros e honestos pesquisadores, estão terrivelmente em falta. Mas alguns não estão dispostos a examinar ampla e profundamente para notar a depravação do próprio coração. Estão deficientes em muitíssimos aspectos, todavia permanecessem em voluntária ignorância de sua culpa, e tão concentrados nos próprios interesses que Deus não tem responsabilidade por eles. T2 512.2
Alguns não são devotos por natureza e, portanto, devem encorajar e cultivar o hábito de examinar intimamente a própria vida e motivos, acariciando especialmente o amor pelas práticas religiosas e a oração particular. Freqüentemente falam de dúvidas e descrença, e demoram-se nas grandes lutas que travam com sentimentos de infidelidade. Contemporizam com influências desencorajadoras que lhes afetam a fé, a esperança e o ânimo na verdade e no sucesso final do trabalho e da causa em que estão empenhados, fazendo parecer ser uma virtude especial o serem achados ao lado dos duvidosos. Às vezes parecem realmente encontrar prazer em balançar em sua posição de infidelidade e fortalecer a descrença em toda circunstância que podem utilizar como uma desculpa para suas trevas. A esses eu gostaria de dizer: Seria melhor se caíssem de uma vez e deixassem os muros de Sião, até se tornarem homens convertidos e bons cristãos. Antes de assumirem a responsabilidade de se tornarem pastores, Deus requer que se separem do amor a este mundo. A recompensa daqueles que continuam em sua duvidosa posição será aquela dada aos tímidos e incrédulos. T2 513.1
Mas, qual é a razão para essas dúvidas, essa escuridão e incredulidade? Eu respondo: Esses homens não são retos diante de Deus. Eles não estão lidando honesta e verazmente com o próprio coração. Têm negligenciado cultivar a piedade pessoal. Não se apartaram do egoísmo, do pecado e dos pecadores. Falharam em estudar a vida abnegada e de sacrifício próprio de nosso Senhor, e deixaram de imitar Seu exemplo de pureza, devoção e abnegação. O pecado que facilmente os assedia tem sido fortalecido pela condescendência. Pela própria negligência e pecado, separaram-se da companhia do divino Mestre, e Ele está a um dia de viagem à frente deles. Tomam por companheiros os indolentes, os inativos, os apóstatas, os descrentes, os irreverentes, os ingratos, os ímpios, e seus assistentes — os anjos maus. Quem se surpreende de que estejam em trevas e tenham dúvidas doutrinárias? “Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, conhecerá a respeito da doutrina.” João 7:17. Ele saberá com certeza a respeito desse assunto. Essa promessa dissipará todas as dúvidas e questionamentos. É a separação de Cristo que produz dúvidas. Ele é seguido pelos sinceros, honestos, verdadeiros, fiéis, humildes, mansos e puros, a quem os santos anjos, vestidos com a armadura do Céu, estão iluminando, santificando, purificando e guardando, pois estão ligados ao Céu. T2 514.1
Não é preciso buscar maior evidência de que a pessoa se encontra distante de Jesus e negligenciando a oração particular, a piedade pessoal, do que o fato de que ela exprime dúvidas e descrença porque as circunstâncias não são favoráveis. Tais pessoas não têm a religião pura, verdadeira e imaculada de Cristo. Elas possuem um artigo falso que o processo refinador consumirá totalmente como refugo. Tão logo Deus os prove e teste sua fé, eles vacilam, enfraquecem-se e oscilam primeiro para um lado e depois para o outro. Não possuem o artigo genuíno que Paulo possuía, de poder gloriar-se na tribulação porque “a tribulação produz a paciência, e a paciência, experiência; e a experiência, esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração”. Romanos 5:3-5. A religião dessas pessoas é circunstancial. Se todos ao seu redor estão fortes na fé e encorajados com relação ao triunfo final da mensagem do terceiro anjo, e se nenhuma influência especial se fizer presente contra eles, então aparentam possuir alguma fé. Mas tão logo a adversidade pareça surgir contra a causa e o trabalho se arraste pesadamente, e o auxílio de todos se torne necessário, esses pobres seres humanos, embora sejam professos ministros do evangelho, esperam que tudo resulte em nada. Atrapalham em vez de ajudar. T2 514.2
Se a apostasia se levanta e a rebelião se manifesta, você não os ouve dizer, em palavras de animação e disposição: Irmãos, não desfaleçam, tenham bom ânimo. “Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são Seus.” 2 Timóteo 2:19. Homens assim afetados pelas circunstâncias devem ficar em suas casas e empregar suas forças físicas e mentais num trabalho de menor responsabilidade, onde não estejam sujeitos a enfrentar forte oposição. Se tudo corre favoravelmente, podem eles passar por homens muito bons, homens consagrados. Mas esses não são os que o Mestre enviará a fazer Seu trabalho, pois serão enfrentados pelos emissários de Satanás. O próprio Satanás e seus exércitos de anjos maus se disporão contra eles. Deus fez provisão para que homens a quem Ele chamou façam o Seu trabalho e possam sair vitoriosos em cada confronto. Aqueles que seguem Suas orientações nunca conhecerão a derrota. T2 515.1
O Senhor, falando através de Paulo em Efésios 6:10-18, nos diz como nos fortalecermos contra Satanás e seus emissários: “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça, e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos.” T2 515.2
Estamos empenhados em uma obra elevada e sagrada. Aqueles que professam ter sido chamados para ensinar a verdade aos que se assentam na escuridão, não devem ser instrumentos de descrença e trevas. Devem viver perto de Deus, onde podem refletir toda a luz do Senhor. A razão por não terem ainda atingido essa condição é não obedecerem à Palavra de Deus, por esse motivo, dúvidas e desânimo são expressos quando palavras de fé e santa disposição devem ser ouvidas. T2 516.1
É de religião que os pastores necessitam; uma diária conversão a Deus, um interesse indivisível, altruísta em Sua causa. Deve haver humilhação de si mesmos e o lançar fora todo ciúme, más suspeitas, inveja, ódio, malícia e incredulidade. É requerida completa transformação. Alguns perderam de vista nosso Modelo, o sofredor Homem do Calvário. Em Seu serviço não devemos esperar facilidades, honra e grandeza nesta vida, pois Ele, a Majestade do Céu, não as teve. “Era desprezado e o mais indigno entre os homens, homem de dores, experimentado nos trabalhos.” “Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e, pelas Suas pisaduras, fomos sarados.” Isaías 53:3, 5. Com esse exemplo diante de nós, escolheremos esquivar-nos da cruz e ser influenciados pelas circunstâncias? Deve nosso zelo, nosso fervor, ser intenso apenas quando estivermos cercados por aqueles que estão despertos e são zelosos na obra e causa de Deus? T2 516.2
Será que não podemos permanecer em Deus, embora as circunstâncias sejam as mais desanimadoras e desagradáveis? “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de Ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” Romanos 8:31-39. T2 517.1
Muitos pastores manifestam interesse dividido na obra de Deus. Têm eles investido tão pouco em Sua causa, e porque pouco empregaram na propagação da verdade, são facilmente tentados a seu respeito e dela se afastaram. Não estão firmes e fortalecidos. Aquele que conhece bem o próprio caráter, que está familiarizado com o pecado que tão de perto o rodeia, e as tentações que serão mais prováveis a vencê-lo, não deve se expor desnecessariamente para convidar a tentação, colocando-se no terreno do inimigo. Se o dever o chamar sob circunstâncias desfavoráveis, ele terá ajuda especial de Deus e será assim cingido para o conflito com o adversário. O conhecimento próprio livrará muitos de cair em tentações atrozes e os poupará de inglória derrota. A fim de familiarizar-nos conosco, é essencial que examinemos fielmente os motivos e princípios de nossa conduta, comparando nossas ações com o padrão revelado na Palavra de Deus. Os pastores devem cultivar e estimular a benevolência. T2 517.2
Foi-me mostrado que alguns que estão trabalhando em nosso escritório de publicações, no Instituto de Saúde e no ministério, têm trabalhado simplesmente pelo salário. Há exceções. Nem todos são culpados dessa falta, mas poucos parecem compreender que devem dar conta de sua mordomia. Recursos consagrados a Deus para o avanço de Sua causa têm sido dissipados. Famílias pobres, que experimentaram a influência santificadora da verdade, e que, portanto, a apreciam e por ela se sentem gratas a Deus, têm pensado poderem e deverem privar-se até mesmo das coisas necessárias à vida, para levarem suas ofertas ao tesouro do Senhor. Alguns se têm privado de peças do vestuário de que realmente precisavam para seu conforto. Outros venderam a única vaca que possuíam, dedicando a Deus os recursos assim obtidos. Na sinceridade de seu coração, com muitas lágrimas de gratidão por terem o privilégio de fazer isso pela causa de Deus, têm-se prostrado perante o Senhor com a oferta, e sobre ela invocado Suas bênçãos, ao enviá-la, orando para que seja o meio de levar o conhecimento da verdade às almas que estão em trevas. Nem sempre os recursos assim dedicados têm sido empregados conforme os abnegados doadores haviam determinado. Homens cobiçosos e egoístas, destituídos do espírito de abnegação e de sacrifício próprio, têm manuseado com infidelidade os recursos assim trazidos para a tesouraria, e têm roubado o tesouro de Deus, recebendo meios que não ganharam justamente. Sua administração não consagrada e negligente tem desperdiçado e dispersado recursos que haviam sido consagrados a Deus com orações e lágrimas. T2 518.1
Foi-me mostrado que o anjo relator faz um registro fiel de toda a oferta feita a Deus, e posta no tesouro, bem como dos resultados finais dos recursos assim doados. Os olhos do Senhor tomam conhecimento de toda moedinha consagrada a Sua causa, e da boa vontade ou relutância do doador. O motivo por que se dá também é registrado. As pessoas abnegadas e consagradas que devolvem a Deus o que Lhe pertence, como Ele requer, serão recompensadas segundo as suas obras. Ainda que os recursos assim consagrados sejam mal aplicados, de modo que não venham a preencher os fins que o ofertante tinha em vista — a glória de Deus e a salvação de almas — aqueles que fizeram o sacrifício em sinceridade de coração, com a única finalidade de glorificar a Deus, não perderão sua recompensa. T2 518.2
Daqueles que fizeram mau uso dos recursos dedicados a Deus, será exigido prestarem contas de sua mordomia. Há os que de forma egoísta lançavam mão de recursos, por causa de seu amor ao ganho. Outros não têm consciência sensível; esta foi cauterizada por um egoísmo longamente acariciado. Esses observam as coisas eternas de uma baixa perspectiva. Por causa de sua longa permanência em conduta errada, suas sensibilidades morais parecem paralisadas. Parece-lhes impossível erguer os olhos e sentimentos ao exaltado padrão claramente mostrado na Palavra de Deus. A menos que haja completa transformação pela renovação da mente, essa classe não encontrará lugar no Céu. Aqueles que têm seguido uma conduta egoísta e equivocada, não tendo como sagrado o tesouro celestial, não apreciariam a pureza e a santidade dos santos no reino dos Céus, ou o valor da esplêndida glória, a eterna recompensa reservada aos fiéis vencedores. Sua mente fluiu por tanto tempo num conduto baixo, egoísta, que eles não podem apreciar coisas eternas. Não dão valor à salvação. Parece impossível elevar-lhes a mente de modo a avaliarem devidamente o plano da salvação ou o valor da expiação. Interesses egoístas enlevaram-lhes o ser todo, prendendo, qual ímã, a mente e as afeições, atando-as a um baixo nível. Algumas dessas pessoas jamais alcançarão a perfeição do caráter cristão, pois que não vêem o valor e a necessidade de semelhante caráter. Seu espírito não pode ser elevado de modo a ficarem encantados com a santidade. O amor-próprio e interesses egoístas por tal forma se entreteceram no caráter que não podem ser levados a distinguir o sagrado e eterno, do comum. A causa de Deus e Seu tesouro não são mais sagrados para eles do que os negócios comuns ou os recursos dedicados a propósitos mundanos. T2 519.1
Os deveres nesse sentido são obrigatórios a todos os que professam ser seguidores de Cristo. A lei de Deus especifica o seu dever para com os semelhantes: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Tiago 2:8. Pela desconsideração para com a justiça, a misericórdia e a benevolência para com o semelhante, alguns têm endurecido tanto o coração que podem ir ainda mais além, e mesmo roubar a Deus sem qualquer escrúpulo. Poderiam esses fechar os olhos e o entendimento para o fato de que Deus conhece, que Ele sonda cada ação e motivo que os impele? O galardão está com Deus e a Sua obra Lhe é patente, para recompensar a cada um de acordo com suas obras. Todo o ato bom e todo ato mau, e sua influência sobre os outros, é examinado pelo Esquadrinhador dos corações, a quem é revelado todo segredo. E o galardão será de acordo com os intuitos que motivaram a ação. T2 520.1
Apesar das repetidas advertências e reprovações que o Senhor lhes tem enviado, aqueles que ocupam posições de responsabilidade têm seguido os próprios caminhos e sido guiados por seu juízo não santificado e, em conseqüência, a causa de Deus sofre e pessoas são desviadas da verdade. Todos os que são assim culpados enfrentarão um terrível registro no dia da retribuição final. Se forem salvos, não o será por esforço comum de sua parte; sua vida passada precisa ser analisada por eles e redimida. Caso essa ação seja empreendida com sinceridade e seguida com perseverança e incansável zelo, alcançará pleno êxito. Mas muitos não terão sucesso, porque o zelo com que iniciam a obra fenece na apatia e indiferença. Seus esforços são corretos de início, ao terem alguma consciência de sua condição; entretanto, buscam esquecer o passado e prosseguir sem remover as pedras de tropeço e realizar trabalho completo. Seu arrependimento não mostra genuína tristeza, de modo que Deus é desonrado e as pessoas por quem Cristo morreu ficam perdidas. Eles fazem esforços espasmódicos e mostram grande sentimentalismo; mas o fato de que esses esforços cessam, e os sentimentos logo se dissipam e são sucedidos por apática indiferença, revela que Deus não estava totalmente no esforço. Os sentimentos foram estimulados por um tempo, mas o trabalho não foi profundo o suficiente para mudar os princípios que governaram suas ações. Ficam então sujeitos a ser conduzidos pelo mesmo caminho errado onde estiveram a princípio; pois não têm forças para opor-se às artimanhas de Satanás, mas estão sujeitos a seus ardis. T2 520.2
A vida do verdadeiro cristão é sempre progressiva. Não há paradas ou recuos. É seu privilégio ter pleno “conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência e longanimidade, com gozo, dando graças ao Pai, que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz”. Colossences 1:9-12. T2 521.1
Rogo a todos, especialmente àqueles que pregam a Palavra e a doutrina, que façam incondicional entrega a Deus. Consagrem-Lhe a vida e sejam verdadeiros exemplos ao rebanho. Não se conformem em permanecer anões espirituais. Que seu alvo seja nada menos do que a perfeição do caráter cristão. Permitam que sua vida seja desprendida, irrepreensível e uma reprovação aos egoístas cujas afeições estão em tesouros terrestres. Deus conceda que sua vida seja fortalecida de acordo com as riquezas de Sua glória, “com poder pelo Seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus”. Efésios 3:16-19. T2 521.2