Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos

49/87

Menos do próprio eu

Granville, Austrália

13 de Setembro de 1895

Certamente deve haver uma mudança em nossos ministros. Tanto no coração como no caráter deve haver mais de Cristo, e menos de si mesmo. Devemos ser representantes do nosso Senhor. Os que têm tido grande luz e preciosas oportunidades são responsáveis diante de Deus, que a cada homem tem dado o seu trabalho. Nunca devem trair o sagrado depósito, mas verdadeiramente devem ser a luz do mundo. “Nisto está a caridade, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós e enviou o Seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” Eis uma linguagem que exprime Seu espírito para com um povo corrupto e idólatra: “Como te deixaria, ó Efraim? como te entregaria,* ó Israel? como te faria como Admá? te poria como Zeboim? Está mudado em Mim o Meu coração, todos os Meus pesares juntamente estão acendidos.” Deve Ele abandonar o povo por quem fora feita tal provisão, a saber o Seu Filho unigênito, a expressa imagem de Si mesmo? Deus permite que Seu Filho seja entregue pelas nossas ofensas. Ele mesmo assume para com o Portador de pecados o caráter de juiz, despojando-Se das ternas qualidades de um pai. TM 245.1

Nisto se recomenda o Seu amor da mais maravilhosa maneira para com a raça rebelde. Que vista para os anjos contemplarem! Que esperança para o homem, “em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”! O justo sofreu pelos injustos; e levou nossos pecados sobre Seu próprio corpo no madeiro. “Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?” TM 246.1

Como testemunhas escolhidas de Deus, damos nós valor à possessão adquirida de Cristo? Estamos prontos a fazer todo e qualquer sacrifício ao nosso alcance, para nos colocarmos sob o jugo de Cristo, para cooperarmos com Ele e sermos colaboradores de Deus? Todos os que estão passando pela prova de Deus, obedecendo aos Seus mandamentos, amam a raça humana que perece, como Cristo a amou. Seguem o exemplo de Cristo no trabalho mais fervoroso e abnegado, para buscar nos caminhos e valados os grandes e os pequenos, os ricos e os pobres, e a todos dar a mensagem de que são alvo do amor especial e do cuidado protetor de Cristo. TM 246.2

Trabalho para todos

Tão grande é a cegueira natural e a ignorância dos homens com relação a Deus e ao Salvador, que todo aquele que ama a Jesus pode encontrar um trabalho a fazer. Nenhum dos que têm verdadeiro amor a Cristo permanecerá indiferente e indolente. Há uma assinalada diferença entre o caráter e a vida dos que são obedientes a todos os mandamentos de Deus, e a dos que são desobedientes. TM 246.3

Os pais não têm reprimido o egoísmo de seus filhos. A condescendência própria tem sido objeto de procura. Servindo a si mesmos, multidões estão jungidas em servidão a Satanás. São escravos de seus próprios impulsos e paixões, que estão sob o domínio do maligno. Ao chamá-los para o Seu serviço, Deus lhes oferece a liberdade. A obediência a Deus é liberdade da escravidão do pecado, livramento das paixões e impulsos humanos. TM 247.1

Mas temos de enfrentar e contender com homens que empregam todas as suas forças em caluniar os que são leais a Deus. Sua inteligência e a razão que Deus lhes deu são dedicadas a fazer parecer que a obediência aos mandamentos de Deus é um serviço fastidioso. Mas os que advogam os reclamos da lei de Deus testificam: “Muita paz têm os que amam a Tua lei, e para eles não há tropeço.” “A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma.” O Senhor apresenta a verdade em contraste com o erro, apresentando também o resultado certo de aceitar a verdade, a experiência que sempre segue à obediência voluntária. É paz e descanso. TM 247.2

A obra que está diante do servo de Deus é apresentar a Jesus. A obra dos ministros de Cristo é lançar sua alma indefesa sobre os Seus méritos. Os homens que se desviam do caminho da obediência e fazem da transgressão à lei de Deus uma virtude, estão sob a inspiração do arquienganador. São segados pelo seu poder. Precisam ter diante de si uma apresentação do que a verdade pode fazer no sentido de habilitar os homens a conservar um temperamento semelhante ao de Cristo quando tentados a se tornarem imperiosos e impacientes. Desejam os inimigos da verdade provocar os que ensinam os obrigatórios reclamos da lei de Deus. Se da nossa parte houver represália, as hostes de Satanás triunfam. Ele encontrou um ponto fraco na armadura. Pela sua atitude mesquinha, procuram os agentes de Satanás tentar os advogados da verdade a dizer e fazer coisas que não sejam recomendáveis. TM 247.3

Como tratar a oposição

Boa percepção, a nobreza de alma, devem ser alimentadas; o espírito de verdade e justiça deve dominar o nosso comportamento, as nossas palavras, e nossa pena. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” Se o ministro ao estar perante a congregação, vir um sorriso incrédulo na face dos oponentes, seja ele como quem não vê. Se alguém for tão indelicado que ria e olhe com desprezo, nem pela voz nem pela atitude reflita o ministro o mesmo espírito. Mostrai que não manejais tais armas. A pena freqüentemente escreve palavras cortantes, e ao repetir as declarações dos advogados do erro, às vezes nossos irmãos fazem circular o erro. Isso é errado. Apresente vossa pena verdade avançada. TM 248.1

O Espírito Santo não trabalha com homens que gostem de ser mordazes e críticos. Este espírito tem sido alimentado em enfrentar contendores. E alguns têm formado o hábito de provocar combate. Nisto Deus é desonrado. Segurai os dardos aguçados; não aprendais na escola de Satanás os seus métodos de guerra. O Espírito Santo não inspira as palavras de censura. Diante de nós está um tempo de tribulações, e toda alma honesta, que não tem tido a luz da verdade, tomará então posição ao lado de Cristo. Os que crêem na verdade devem converter-se de novo cada dia. Então serão vasos de honra. TM 248.2

A devida maneira de enfrentar os opositores

Não repitais as palavras de vossos opositores nem com eles entreis em controvérsia. Não enfrentais meramente os homens, mas a Satanás e seus anjos. Cristo não apresentou injuriosa acusação contra Satanás concernente ao corpo de Moisés. Se o Redentor do mundo, que entendia as artes perversas e enganosas de Satanás, não ousou apresentar contra ele injuriosa acusação, mas com santidade e humildade disse: “O Senhor te repreenda, ó Satanás”, não será prudente Seus servos seguirem-Lhe o exemplo? Tomarão os seres humanos uma atitude que Cristo evitou porque esta ofereceria a Satanás ocasião para perverter, deturpar e falsificar a verdade? TM 249.1

Observações pessoais devem ser evitadas

Neste período da história do mundo temos um trabalho demasiado grande para começar uma nova espécie de guerra no sentido de enfrentar o poder sobrenatural dos agentes satânicos. Devemos pôr de lado as observações pessoais, embora sejamos tentados a tirar vantagem de palavras ou ações. Na paciência devemos possuir as nossas almas. Irmãos, tornai manifesto que estais inteiramente do lado do Senhor. Deixai que a verdade da Santa Palavra de Deus revele a transgressão e o pecado e manifeste o poder santificador da verdade no coração humano. Um espírito arrogante não deve ter lugar para corromper a obra de Deus. Todo momento que temos o privilégio de comungar com Deus, temos razões para Lhe ser gratos. TM 249.2

Todos os dias há necessidade de contrição, e o Senhor declara a grande vantagem de todo aquele que humilhar seu coração e se esconder em Jesus. “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.” “Mas eis para quem olharei: Para o pobre e abatido de espírito, e que treme da Minha palavra.” “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito.” “Clamou este pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias. O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra.” TM 249.3

Deixai que os que odeiam a lei do Senhor se enfureçam e vertam seus anátemas contra aqueles que têm a coragem moral de receber e viver a verdade. O Senhor é a nossa força. Para nós é seguro não exaltar o eu; mas deixar o Senhor operar Sua vontade em nós e por nós. Conservemos um espírito contrito e humilde, que o Senhor reavivará. TM 250.1

O valor do conselho e do aviso

O amor-próprio e o louvor próprio certamente suscitarão no coração o ressentimento contra qualquer pessoa que se aventure a objetar o procedimento de alguém. Tudo que se assemelha a conselho ou aviso é recebido com indignação como se visasse machucar e ferir. Esse espírito acariciado levará a numerosos males. Ninguém se aventurará a vos dizer quando errais, porque a pessoa fiel será considerada inimiga. Assim é morta a bondade que deve existir entre os irmãos na fé, devido à desconfiada interpretação dada aos avisos feitos no temor de Deus. Salientam-se indevidamente palavras, a imaginação exagera o assunto e cria a alienação. TM 250.2

Não obstante, não devemos permitir que um irmão sofra injustiça. A presunção deve ser vencida. O amor aos aplausos deve ser visto como uma cilada. Sempre há perigo de cometer erros crassos pelo conceito de nossa própria sabedoria e nossas próprias qualificações. Apresentem essas qualificações o verdadeiro valor, e elas serão apreciadas. TM 250.3

O espírito de união e igualdade entre os obreiros

É-me solicitado pelo Espírito de Deus que aconselhe aos meus irmãos que se unam uns aos outros no trabalho. Amai como irmãos, sede piedosos, corteses, verdadeiros como o aço um para com o outro, mas subjugai esse sentimento de superioridade sobre vossos irmãos ministros que leva a pessoa a sentir que não se pode unir aos outros no trabalho. Nenhum homem deve achar que ele deve fazer todo o trabalho. Por mais experiente ou bem qualificado que seja, há necessidade de que outros talentos se unam ao seu. É um erro pensar que a linha de pensamentos de um homem realize a obra em favor de todos os corações num serviço religioso. Necessitam-se homens de diferentes mentalidades, homens cujo coração seja ternamente impelido para ganhar almas. Diferentes métodos de trabalho são realmente essenciais na disseminação da semente da verdade e no fazer a colheita. Freqüentemente se dá o caso de homens da mais humilde habilidade alcançarem corações que se têm tornado endurecidos contra o trabalho de outro homem. Há necessidade de muita oração. Aproximar-se de Deus em comunhão, significa aproximar-Se Deus da alma que O está buscando. Deve haver maior consagração do coração e da vida ao serviço de Deus.* TM 251.1