Capítulo 3
A família humana, por seus maus hábitos, trouxe sobre si doenças de várias formas. Não procuraram saber como viver saudavelmente, e sua transgressão das leis de seu ser produziu um estado de coisas deplorável. O povo raramente tem atribuído à causa verdadeira os seus sofrimentos, isto é, ao seu próprio procedimento errado. Têm condescendido com a intemperança no comer, e feito de seu apetite um deus. Em todos os seus hábitos têm manifestado negligência com respeito à saúde e à vida; e quando, em conseqüência, lhes sobreveio a doença, procuraram concluir que Deus era seu autor, quando foi seu próprio procedimento errado que acarretou resultados seguros. Quando aflitos, mandam chamar o médico e a suas mãos confiam o corpo, esperando que ele os cure. Ele lhes ministra drogas, de cuja natureza eles nada sabem, e em sua cega confiança, engolem qualquer coisa que o médico queira dar-lhes. Assim são muitas vezes ministrados tóxicos poderosos que agrilhoam a natureza, em seus amáveis esforços para restaurar o organismo dos abusos que sofreu, e o paciente depressa é despedido desta vida.
ME2 441.1
A mãe que estava apenas com uma leve indisposição, e que poderia ter-se restaurado, mediante a abstinência de alimento por breve período, e uma cessação do trabalho, ficando em calmo repouso, em vez disso mandou chamar o médico. E aquele que deveria estar preparado para dar judiciosamente uns poucos conselhos simples e certas restrições alimentares, colocando-a na vereda devida, esse é, ou ignorante demais para isso fazer, ou está por demais ansioso por obter ganho.
ME2 441.2
Ele torna grave o caso, e administra os seus tóxicos que, se fosse ele o doente, não se arriscaria a tomar. O paciente piora, e são-lhe ministradas drogas em maior abundância, até que a natureza seja vencida em seus esforços, e desiste da luta, e a mãe morre. Foi morta pelas drogas. Seu organismo ficou intoxicado para além da possibilidade de sarar. Foi assassinada. Vizinhos e parentes admiram-se ante o pasmoso trato da Providência em assim remover uma mãe em meio a sua vida de utilidade, quando seus filhos tanto careciam ainda de seus cuidados. Fazem injustiça ao nosso bom e sábio Pai celestial, quando a Ele atribuem este peso de desgraça humana. O Céu desejava que aquela mãe vivesse, e sua morte prematura desonrou a Deus. Os maus hábitos da mãe e sua desatenção para com as leis de seu ser, fizeram-na doente. E os tóxicos do médico, feitos à moda, introduzidos no organismo, puseram termo ao período de sua existência, deixando um rebanho sem mãe, desajudado e ferido.
ME2 441.3
O que acima se disse, nem sempre é o resultado que segue à medicação droguista do doutor. Doentes que tomam essas drogas tóxicas parecem ficar bons. Alguns têm força vital suficiente para expelir do organismo o veneno de modo que o doente, tendo um período de repouso, se restabelece. Mas não se deve atribuir a cura às drogas, pois tão-somente estorvaram a natureza em seus esforços. Todo o merecimento deve ser atribuído ao poder restaurador da natureza.
ME2 442.1
Embora o doente possa restabelecer-se, todavia o grande esforço que se exigiu da natureza para levá-la a agir contra o veneno e vencê-lo prejudicou a constituição, abreviando a vida do doente. Há muitos que não morrem sob a influência de drogas, mas muitos existem que são deixados destroços inúteis, sofredores sem esperança, sombrios e infelizes, peso morto a si e à sociedade.
ME2 442.2
Se fossem unicamente os que tomam as drogas os sofredores, então o mal não seria tão grande. Mas os pais não só pecam contra si mesmos ao engolir drogas tóxicas, mas pecam também contra os filhos. O estado viciado de seu sangue, o tóxico distribuído por todo o organismo, a constituição alquebrada, e várias doenças provenientes das drogas, por causa do seu conteúdo de tóxicos, são transmitidos a sua prole, deixando-lhes infeliz herança, o que é outra grande causa da degeneração do gênero humano.
ME2 442.3
Os médicos, ministrando suas drogas tóxicas, muito têm contribuído para aumentar a depreciação da raça, física, mental e moralmente. Para onde quer que vos volvais, vereis deformidade, doença e imbecilidade, que em muitíssimos casos podem ser atribuídos diretamente aos venenos das drogas, administrados por mãos de médico, como remédio para alguns dos males da vida. O chamado remédio demonstrou-se terrivelmente ao paciente, por severo sofrimento, como sendo muito pior que a doença para curar a qual se tomara a droga. Todos os que possuem inteligência comum devem compreender as necessidades de seu organismo. A filosofia da saúde deve ser um dos mais importantes estudos de nossos filhos. É importantíssimo que seja compreendido o organismo humano, e então os homens e mulheres inteligentes podem ser o seu próprio médico. Se o povo raciocinasse da causa para o efeito, e seguisse a luz que sobre eles incide, seguiriam um procedimento que lhes asseguraria a saúde, e seria muito menor a mortalidade. Mas o povo satisfaz-se com permanecer em inescusável ignorância, confiando aos médicos o corpo, em vez de assumirem eles mesmos uma responsabilidade especial quanto à questão.
ME2 442.4
Foram-me apresentados vários casos ilustrativos deste importante assunto. O primeiro foi de uma família consistindo de pai e filha. A filha estava doente, e o pai, muito preocupado, chamou um médico. Ao levá-lo para o quarto da doente, o pai manifestou uma penosa ansiedade. O médico examinou a paciente, e pouco disse. Ambos deixaram o quarto. O pai informou o médico de que havia sepultado a esposa, um filho e uma filha, e essa filha era tudo que lhe restava da família. Ansioso, indagou do médico se ele achava ser desesperançado o caso de sua filha.
ME2 443.1
O médico indagou então acerca da natureza e do tempo da doença dos que haviam morrido. O pai lamentosamente relatou os penosos fatos relacionados à doença de seus queridos: “Meu filho foi o primeiro a ser atacado por uma febre. Chamei o médico. Disse que poderia dar um remédio que depressa cortaria a febre. Ministrou-lhe remédio poderoso, mas ficou decepcionado com os seus efeitos. A febre diminuiu, mas meu filho piorou muito. Repetiu-se a mesma medicação, sem produzir nenhuma modificação para melhor. O médico recorreu então a medicamento mais forte ainda, mas meu filho nenhum alívio obteve. A febre o deixou, mas ele não melhorou. Piorou rapidamente e morreu.
ME2 443.2
“A morte do filho, tão repentina e inesperada, trouxe grande tristeza a nós todos, mas especialmente a sua mãe. Sua vigilância e ansiedade durante a doença do filho, e a tristeza ocasionada por sua morte súbita, foram demais para seu sistema nervoso, e minha esposa logo ficou prostrada. Fiquei descontente com o procedimento seguido por aquele médico. Abalara-se minha confiança em sua aptidão, e não o contratei segunda vez. Chamei outro, para atender a minha sofredora esposa. Este segundo lhe ministrou generosa dose de ópio que, disse ele, lhe aliviaria as dores, acalmaria os nervos e daria o tão necessitado repouso. O ópio narcotizou-a. Adormeceu, e coisa alguma a despertava de seu estupor mortal. O pulso e o coração por vezes palpitavam violentamente, e a seguir enfraqueciam mais e mais, até que ela deixou de respirar. Assim morreu, sem dar aos seus nenhum sinal de os reconhecer. Esta segunda morte pareceu-nos insuportável. Todos ficamos profundamente contristados, mas eu fiquei angustiado, não podendo conformar-me.
ME2 443.3
“A seguir adoeceu minha filha. A tristeza, a ansiedade e o vigiar haviam-lhe minado o poder de resistência, suas forças cederam, e ela se recolheu ao leito de sofrimento. Eu perdera agora a confiança em ambos os médicos que contratara. Outro me foi recomendado como tendo êxito no tratamento de doentes. E embora ele morasse longe, resolvi contratar os seus serviços.
ME2 444.1
“Este terceiro médico afirmou entender o caso de minha filha. Disse que ela estava muito debilitada e que seu sistema nervoso corria perigo, e que tinha febre, a qual podia ser controlada, mas que levaria tempo o recuperá-la do estado de debilidade em que se achava. Mostrou perfeita confiança em sua habilidade de levantá-la. Ministrou-lhe forte medicamento para cortar a febre. Conseguiu-o. Mas vencida a febre, o caso assumiu aspectos mais alarmantes, tornando-se mais complicado. Mudando-se os sintomas, foi também modificada a medicação, para adaptar-se ao caso. Enquanto estava sob a influência de novos remédios ela se apresentou, por algum tempo, melhorada, o que reavivava nossas esperanças de que haveria de sarar — tão-somente para tornar mais amarga nossa decepção ao piorar ela.
ME2 444.2
“O último recurso do médico foram os calomelanos. Por algum tempo ela pareceu entre a vida e a morte. Sobrevieram-lhe convulsões. Ao cessarem esses penosíssimos espasmos, demos pelo doloroso fato de estar ela com a mente debilitada. Começou a melhorar lentamente, embora ainda sofrendo muito. Os membros ficaram paralisados por causa dos violentos tóxicos que tomara. Viveu alguns anos, sofredora desajudada e digna de dó, e então morreu em grande agonia.”
ME2 444.3
Depois deste triste relato o pai fitou, súplice, o médico, rogando-lhe que salvasse a única filha que lhe restava. O médico ficou triste e ansioso, mas não receitou coisa nenhuma. Ergueu-se e dispôs-se a sair, dizendo que voltaria no dia seguinte.
ME2 445.1
Outra cena foi-me então apresentada. Fui levada à presença de uma senhora, com cerca de trinta anos de idade, aparentemente. Junto dela estava um médico, que dizia que seu sistema nervoso estava em perigo, seu sangue impuro, fluindo lentamente, e que o estômago estava frio, inativo. Disse que lhe daria remédios ativos, que logo melhorariam seu estado. Deu-lhe um pó, de um vidro no qual estava o rótulo: Nux vomica. Observei para ver que efeito teria aquilo sobre a paciente. Pareceu ter ação favorável. Seu estado aparentemente melhorou. Ficou animada, parecendo mesmo contente e ativa.
ME2 445.2
Minha atenção foi então chamada para outro caso ainda. Fui levada para o quarto de um jovem doente, que estava com febre alta. Ao seu lado estava um médico, com uma porção de remédios tirados de um vidro em que se lia: Calomelanos. Administrou esse tóxico químico, e pareceu manifestar-se uma mudança, mas não para melhor.
ME2 445.3
Foi-me então mostrado outro caso. Foi de uma senhora que parecia estar sofrendo grandes dores. Um médico estava ao lado de seu leito, dando-lhe remédio, tirado de um vidro com o rótulo: Ópio. A princípio essa droga pareceu afetar-lhe a mente. Ela falou de modo a causar estranheza, mas afinal aquietou-se e adormeceu.
ME2 445.4
Minha atenção foi então chamada para o primeiro caso, o do pai que perdera a esposa e dois filhos. O médico estava no quarto, junto ao leito da filha doente. De novo saiu do quarto sem administrar remédio algum. O pai, a sós com o médico, parecia muito comovido, e perguntou impaciente: “O senhor não pretende fazer coisa alguma? Deixará que morra minha filha única?” O médico respondeu:
ME2 445.5
“Ouvi a triste narrativa da morte de sua muito amada esposa e seus dois filhos, e de seus próprios lábios soube que todos os três morreram quando sob os cuidados de médicos, tomando remédios receitados e administrados por suas mãos. Os medicamentos não salvaram os seus queridos, e como médico creio solenemente que nenhum deles precisava ou devia ter morrido. Poderiam ter-se restabelecido se não se tivessem tratado com drogas de tal modo que a natureza se enfraqueceu pelo abuso, e afinal baqueou.” Declarou positivamente ao agitado pai: “Eu não posso dar remédio a sua filha. Procurarei apenas ajudar a natureza em seus esforços, removendo qualquer obstrução, e então deixar à natureza o recuperar as exauridas energias do organismo.” Colocou mas mãos do pai algumas instruções, que mandou seguir à risca.
ME2 445.6
“Conserve a doente livre de agitação, e de toda influência tendente a deprimir. Os que a assistem devem ser de disposição alegre e esperançosa. Deve ela seguir um regime alimentar simples, e beber bastante água pura e branda. Banhe-se freqüentemente em água pura e branda, friccionando depois o corpo, suavemente. Deixe entrar livremente no quarto a luz e o ar. Ela precisa de repouso calmo e imperturbado.”
ME2 446.1
O pai leu vagarosamente a receita, e ficou admirado por ver que continha apenas poucas instruções, e pareceu duvidar de que qualquer benefício houvesse de resultar de meios tão simples. Disse o médico:
ME2 446.2
“O senhor teve bastante confiança em minha aptidão, para que colocasse em minhas mãos a vida de sua filha. Não retire a sua confiança. Visitarei sua filha todos os dias e o instruirei sobre como dirigir o caso dela. Siga minhas instruções com confiança, e espero dentro de algumas semanas apresentar-lha em estado de saúde muito melhor, se não plenamente restaurada.”
ME2 446.3
O pai ficou triste e duvidoso, mas submeteu-se à decisão do médico. Temia que a filha tivesse que morrer, se não tomasse remédios.
ME2 446.4
O segundo caso foi-me apresentado de novo. A paciente parecia ter melhorado, sob a influência da nux vomica. Estava assentada, achegando bem a si um xale, e queixando-se de calafrios. O ar no quarto estava impuro. Estava aquecido e perdera sua vitalidade. Quase todas as frestas pelas quais pudesse entrar ar puro estavam fechadas, para proteger a doente da sensação penosa de frio que tinha especialmente na nuca, e na coluna vertebral. Se a porta era deixada aberta, ela ficava nervosa e perturbada, e rogava que fosse fechada, pois sentia frio. Não suportava a menor corrente de ar, da porta ou das janelas. Um cavalheiro inteligente observava-a compadecido, e disse aos presentes:
ME2 446.5
“Este é o segundo resultado da nux vomica. Faz-se sentir especialmente sobre os nervos, e afeta todo o sistema nervoso. Haverá, por algum tempo ação aumentada, imposta aos nervos. Mas, uma vez gasta a força dessa droga haverá arrepios de frio e prostração. Justamente na proporção que ela excita e aviva, serão os resultados debilitantes e entorpecentes que se seguirão.”
ME2 447.1
O terceiro caso foi-me apresentado de novo. Foi o do jovem a quem foram ministrados calomelanos. Sofria muito. Tinha os lábios escuros e inchados. As gengivas estavam inflamadas. A língua, grossa e inchada, e a saliva lhe saía pela boca abundantemente. O cavalheiro inteligente já mencionado contemplou com tristeza o sofredor e disse:
ME2 447.2
“Este é o efeito dos preparados mercuriais. A este jovem restava energia nervosa bastante para começar a luta contra esse intruso, esta droga tóxica, para tentar expeli-lo do organismo. Muitos não possuem suficientes forças vitais para despertar e agir, e a natureza é dominada e cessa seus esforços, e a vítima morre.”
ME2 447.3
Foi-me apresentado novamente o quarto caso, o da pessoa à qual fora receitado ópio. Ela despertara do sono, em grande prostração. A mente estava confusa. Estava impaciente e irritadiça, criticando seus melhores amigos e imaginando que não procuravam aliviar-lhe os sofrimentos. Tornou-se frenética, e delirava como um maníaco. O cavalheiro já mencionado considerou com tristeza a sofredora, e disse aos presentes:
ME2 447.4
“Este é o segundo efeito do ópio.” Chamaram o seu médico. Ele lhe receitou dose aumentada de ópio que lhe acalmou o delírio, mas a tornou muito tagarela e alegre. Ficou em paz com todos os que a cercavam, e expressava muito afeto para com os conhecidos, assim como os parentes. Logo ficou sonolenta e como apatetada. O mencionado cavalheiro disse solenemente:
ME2 447.5
“Seu estado de saúde não está melhor agora, do que quando estava em frenético delírio. Ela está positivamente pior. Esta droga tóxica, ópio, proporciona alívio momentâneo da dor, mas não remove sua causa. Apenas embota o cérebro, tornando-o incapaz de receber impressão dos nervos. Quando o cérebro está assim insensível, são afetados o ouvido, o paladar e a vista. Passado o efeito do ópio, e despertado o cérebro de seu estado de paralisia, os nervos, que haviam sido cortados da comunicação com o cérebro, gritam mais alto que nunca pelas dores do organismo, por causa do acréscimo de ofensa que o organismo sofreu ao receber esse veneno. Cada acréscimo de droga dado ao paciente, quer seja ópio, quer algum outro tóxico, fará o caso mais complicado, tornando mais sem esperança a restauração do doente. As drogas dadas para entorpecer, sejam quais forem, põem em perigo o sistema nervoso. Um mal, simples a princípio, que a natureza se dispunha a vencer — o que ela teria feito se deixada a si mesma — tornou-se dez vezes pior pelos tóxicos das drogas que foram introduzidas no organismo, o que por si só é uma doença destrutiva, forçando à ação extraordinária as restantes forças vitais, a fim de lutarem contra as drogas intrusas e as vencerem.”
ME2 447.6
Fui outra vez levada ao quarto do primeiro caso, o do pai e sua filha. Esta estava assentada ao lado do pai, contente e feliz, tendo no rosto o brilho da saúde. O pai a contemplava com feliz satisfação, manifestando no semblante a gratidão íntima, por lhe haver sido poupada essa filha única. Entrou o seu médico, e depois de conversar por breves instantes com o pai e a filha, ergueu-se para sair. Dirigiu-se ao pai com as palavras seguintes:
ME2 448.1
“Apresento-lhe sua filha, com a saúde restaurada. Não lhe ministrei remédios, a fim de que a pudesse deixar com a constituição íntegra. Os medicamentos nunca isso poderiam ter conseguido. Eles põem em perigo a fina maquinaria da natureza e danificam a constituição, e matam, mas jamais curam. A natureza, unicamente, possui poderes restauradores. Ela, tão-só, pode repor suas energias exauridas, e reparar os danos que recebeu pela falta de atenção a suas leis fixas.”
ME2 448.2
Perguntou ele então ao pai se estava satisfeito com sua maneira de tratar. O feliz pai expressou sua sincera gratidão e satisfação perfeita, dizendo: “Aprendi uma lição de que jamais me esquecerei. Foi penosa, mas de valor inapreciável. Estou agora convencido de que minha esposa e filhos não precisavam ter morrido. Sua vida foi sacrificada nas mãos dos médicos, por suas drogas tóxicas.”
ME2 448.3
Mostrou-se-me então o segundo caso, a paciente à qual fora receitada nux vomica. Estava sendo amparada por duas pessoas, que a levavam da cadeira para a cama. Tinha quase perdido o uso dos membros. Os nervos da espinha estavam parcialmente paralisados, e as pernas já não suportavam o peso do corpo. Tossia aflitivamente, e respirava com dificuldade. Foi posta na cama, e logo perdeu a audição, e a visão, e assim ficou algum tempo, e morreu. O cavalheiro já mencionado contemplou entristecido aquele corpo sem vida, e disse aos presentes:
ME2 448.4
“Testemunhem o mais brando e mais prolongado efeito da nux vomica sobre o organismo humano. Ao ser ingerida, a energia nervosa foi excitada a uma ação extraordinária, para combater esse veneno da droga. Essa excitação suplementar foi seguida de prostração, e o resultado final foi a paralisia dos nervos. Essa droga não tem sobre todos o mesmo efeito. Alguns, possuidores de constituição robusta, recuperam-se dos abusos aos quais submetem o organismo. Ao passo que outros, cuja força vital não seja tão grande, possuindo constituição débil, jamais se recuperaram por haver introduzido no organismo uma única dose, e muitos morrem de nenhuma outra causa senão os efeitos de uma só porção desse tóxico. Seus efeitos sempre tendem para a morte. O estado em que se encontra o organismo, na ocasião em que esses venenos são nele introduzidos, determina a vida do paciente. A nux vomica pode aleijar, causar paralisia, destruir para sempre a saúde, mas jamais cura.”
ME2 449.1
O terceiro caso foi-me de novo apresentado, o do jovem a quem foram receitados calomelanos. Sofria de causar dó. Tinha as pernas aleijadas e estava muito deformado. Dizia que seus sofrimentos eram indescritíveis, e a vida lhe era grande peso. O cavalheiro que mencionei repetidamente, contemplou com tristeza e compaixão o sofredor, e disse:
ME2 449.2
“Este é o efeito dos calomelanos. Atormenta o organismo enquanto nele houver uma partícula deles. Eles vivem sempre, sem perder suas propriedades apesar de sua longa permanência no organismo vivo. Inflamam as juntas e muitas vezes levam a cárie aos ossos. Freqüentemente se manifestam tumores, úlceras e cânceres, anos depois de terem sido introduzidos no organismo.”
ME2 449.3
O quarto caso foi-me outra vez apresentado: a paciente a quem fora ministrado o ópio. Tinha o semblante pálido, e os olhos inquietos e vidrados. As mãos tremiam como as de um paralítico, e ela parecia muito excitada, imaginando que todos os presentes estavam combinados contra ela. Sua mente era um destroço completo, e ela delirava de fazer dó. Foi chamado o médico, que pareceu impassível ante essas manifestações terríveis. Ministrou à paciente uma dose mais forte de ópio, que, disse ele, a poria boa. Seus delírios só cessaram quando ficou inteiramente intoxicada. Caiu então num estupor mortal. O cavalheiro mencionado, contemplando a paciente, disse com tristeza:
ME2 449.4
“Seus dias estão contados. Os esforços que a natureza fez, foram tantas vezes dominados por esse tóxico, que as forças vitais ficaram exauridas por terem sido repetidamente induzidas à ação não natural, a fim de livrar o organismo dessa droga tóxica. Os esforços da natureza estão para cessar, e então chegará a termo a vida sofredora da paciente.”
ME2 450.1
Maior número de mortes têm tido como causa a ingestão de drogas do que outras quaisquer causas combinadas. Se houvesse na Terra um médico em lugar de milhares, grande número de mortes prematuras se teria evitado. Multidões de médicos, e multidões de drogas, têm sido malefício para os habitantes da Terra, e têm levado para a tumba prematura a milhares e miríades.
ME2 450.2
Condescender com comer demasiado freqüentemente, ou quantidades exageradas, sobrecarrega os órgãos da digestão, produzindo um estado febril do organismo. O sangue torna-se impuro, ocorrendo então doenças de várias espécies. Manda-se chamar o médico, que prescreve algum medicamento que produz alívio para o presente, mas não cura a doença. Pode mudar a forma da doença, mas o mal verdadeiro é aumentado dez vezes. A natureza fez o que pôde para livrar o organismo de um acúmulo de impurezas, e, fosse ela deixada a si mesma, auxiliada pelas bênçãos comuns do Céu, tais como ar e água puros, ter-se-ia efetuado cura rápida e certa.
ME2 450.3
Os sofredores, nesses casos, podem fazer por si mesmos o que outros não podem por eles fazer tão bem. Devem começar a aliviar a natureza da carga que lhe impuseram. Devem remover a causa. Jejuem por breve tempo, dando ao estômago ocasião para descansar. Reduzam o estado febril do organismo mediante cuidadosa e sensata aplicação de água. Esses esforços ajudarão a natureza em sua luta por livrar de impurezas o organismo. Mas geralmente as pessoas que sofrem dores, ficam impacientes. Não estão dispostas a usar de abnegação e sofrer um pouco de fome. Tampouco estão dispostas a esperar o lento processo da natureza, para reconstruir as energias sobrecarregadas do organismo. Estão, porém, resolvidas a obter alívio imediato, e tomam drogas fortíssimas, receitadas pelos médicos. A natureza estava fazendo bem a sua obra, e teria triunfado, mas enquanto realizava sua tarefa, ingeriu-se uma substância estranha, de natureza tóxica. Que erro! A natureza, abusada, tem agora dois males contra os quais lutar, em vez de um só. Ela deixa o trabalho no qual se empenhava, e resoluta se põe à obra de expelir o intruso há pouco introduzido no organismo. A natureza se ressente com esse duplo saque contra os seus recursos, e torna-se debilitada.
ME2 450.4
Drogas jamais curam doenças. Elas apenas mudam sua forma e localização. A natureza, unicamente, é o restaurador eficaz, e quanto melhor executaria ela sua obra se fosse deixada a si mesma! Mas este privilégio raramente lhe é concedido. Se a natureza, mutilada, resiste ao peso da carga, e afinal realiza em grande medida sua tarefa dobrada, e o paciente vive, o crédito disso é dado ao médico. Mas se a natureza fracassa em seu esforço por expelir do organismo o veneno, e o doente morre, a isto se chama a maravilhosa dispensação da Providência. Se o paciente tivesse procedido de maneira a aliviar em tempo a natureza sobrecarregada, usando judiciosamente água pura e branda, esta dispensação de mortalidade pelas drogas poder-se-ia ter evitado completamente. O uso da água pouco alcança, se o paciente não reconhecer a necessidade de atender estritamente também ao regime alimentar.
ME2 451.1
Muitos vivem em violação das leis da saúde, e ignoram a relação que seus hábitos de comer, beber e trabalhar mantêm para com a saúde. Não despertam ao reconhecimento de seu verdadeiro estado, até que a natureza proteste contra os abusos que sofre, por meio de dores e moléstias no organismo. Se, mesmo então, os sofredores tão-somente começassem direito o trabalho e recorressem aos meios simples que têm negligenciado — o uso da água e o regime alimentar adequado — a natureza receberia justamente o auxílio que ela requer, e que deveria ter recebido há muito. Se for seguido esse procedimento, em geral o doente se recuperará sem ficar debilitado.
ME2 451.2
Quando são introduzidas drogas no organismo, por algum tempo pode parecer que tenham efeito benéfico. Pode dar-se uma mudança, mas a doença não foi curada. Ela se manifestará de alguma outra forma. Nos esforços da natureza por expelir do organismo a droga, às vezes vem ao paciente sofrimento intenso. E a doença, para curar a qual foi ministrada a droga, pode desaparecer, mas tão-somente para reaparecer sob nova forma, como doenças da pele, úlceras, juntas doloridas, e às vezes formas mais perigosas e mortíferas. O fígado, o coração, o cérebro, são freqüentemente afetados pelas drogas, e muitas vezes todos estes órgãos são tomados de doenças, e as vítimas, se sobreviverem, ficam inválidas pelo resto da vida, arrastando, afadigosamente, uma existência infeliz. Oh! quanto não custa aquela droga tóxica! Se não custa a vida, já custa muito demais. A natureza foi mutilada em todos os seus esforços. Toda a maquinaria está fora de ordem, e num futuro período da vida, quando com essas finas peças que foram danificadas se tiver que contar para desempenharem um papel mais importante em conjunto com todas as finas peças da maquinaria da natureza, elas não podem, pronta e vigorosamente, efetuar seu trabalho, e o organismo todo sente a falta. Esses órgãos, que deveriam estar em bom estado de saúde, estão debilitados, o sangue se torna impuro. A natureza continua lutando, e o paciente sofre de moléstias várias, até que sobrevém um súbito alquebramento nos seus esforços, e segue a morte. Maior é o número dos que morrem pelo uso de drogas, do que o de todos os que morreriam da doença, caso se tivesse permitido à natureza realizar a sua obra.
ME2 451.3
Muitíssimas vidas têm sido sacrificadas por ministrarem os médicos drogas para doenças desconhecidas. Não têm eles verdadeiro conhecimento da doença exata que aflige o paciente. Mas espera-se do médico que de imediato saiba o que fazer, e se não age imediatamente, como se compreendesse perfeitamente a doença, é pelos impacientes amigos e pelo doente considerado incompetente. Assim, para satisfazer opiniões errôneas do doente e de seus amigos, tem de ser ministrado o medicamento, fazerem-se testes e experiências, para curar o paciente, da doença da qual não têm eles real conhecimento. A natureza é sobrecarregada com drogas tóxicas que ela não pode expelir do organismo. Os próprios médicos muitas vezes estão convencidos de haver usado medicamentos fortes para uma doença que não existia, e a morte foi a conseqüência.
ME2 452.1
Os médicos merecem censura, mas não são eles os únicos em falta. Os próprios doentes, se tivessem paciência, observassem dieta e suportassem um pouco de sofrimento, dando à natureza tempo para se refazer, recuperar-se-iam muito mais cedo sem o uso de qualquer medicamento. A natureza sozinha possui poderes curativos. Os medicamentos não têm poder para curar, mas quase sempre estorvam a natureza em seus esforços. Ela, afinal de contas, é que tem de fazer a obra da restauração. Os doentes têm pressa de sarar, e os amigos dos doentes ficam impacientes. Querem medicamentos, e se não sentem no organismo essa poderosa influência que seus errôneos pontos de vista os levam a pensar que deveriam sentir, impacientemente mudam de médico. A mudança muitas vezes aumenta o mal. Submetem-se a outra medicação, tão perigosa como a primeira, e mais fatal, porque os dois tratamentos discordam entre si, e o organismo fica intoxicado de modo que não há mais remédio.
ME2 452.2
Muitos, porém, nunca experimentaram os benéficos efeitos da água, e têm medo de usar uma das maiores bênçãos do Céu. A água tem sido recusada a pessoas que ardiam em febre, de medo que lhes fizesse mal. Se, em seu estado febril, lhes tivesse sido dada a beber água abundante, fazendo-se também aplicações externamente, ter-se-iam poupado longos dias e noites de sofrimento, e muitas vidas preciosas se teriam salvo. Mas milhares têm morrido, consumidos por febres violentas, que arderam até acabar-se o combustível que as alimentava e se desgastarem os órgãos vitais, sucumbindo na maior agonia, sem lhes permitirem tomar água para aliviar sua sede ardente. A água, que se usa para extinguir os violentos incêndios num edifício inanimado, não é permitida a seres humanos, para extinguir o fogo que lhes consome as entranhas.
ME2 453.1
Multidões permanecem em inescusável ignorância com respeito às leis de seu ser. Admiram-se de que nosso gênero seja tão débil e tantos morram tão prematuramente. Não haverá uma causa? Médicos que professam conhecer o organismo humano, prescrevem para seus pacientes, e mesmo para seus próprios queridos filhos e esposas, venenos lentos para cortar a doença, ou curar alguma leve indisposição. Certo, não reconhecem eles o mal dessas coisas, pois do contrário não procederiam assim. Os efeitos do veneno podem não ser percebidos imediatamente, mas ele realiza certamente sua obra no organismo, minando a constituição, e mutilando a natureza em seus esforços. Procuram corrigir um mal, mas produzem mal muito maior, muitas vezes incurável. Os que são tratados assim estão constantemente enfermos e sempre se medicando. E todavia, se atentardes para sua conversa, muitas vezes os ouvireis louvando as drogas que estiverem usando e recomendando a outros o seu uso, porque delas tiraram benefício. Dir-se-ia que, para os capazes de raciocinar da causa para o efeito, o semblante pálido, o contínuo queixume de doenças, e a geral prostração dos que alegam ter recebido benefício, seriam prova suficiente dos efeitos destruidores da saúde, das drogas. E no entanto muitos se acham tão cegados que não vêem que todas as drogas que tomaram não os curaram, mas os deixaram piores. Os inválidos por causa das drogas encabeçam a lista, e são em geral impertinentes, irritadiços, sempre doentes, arrastando uma existência infeliz, e parecem existir com o fim único de chamar a constante prática a paciência alheia. As drogas tóxicas não os mataram de vez, pois à natureza repugna renunciar ao seu poder sobre a vida. Não está disposta a abandonar a luta. Todavia, esses engolidores de drogas nunca se sentem bem.
ME2 453.2
A intérmina variedade de medicamentos que existe no mercado, os numerosos anúncios de novas drogas e misturas, todas, como dizem, produzindo curas milagrosas, matam centenas enquanto trazem benefícios a um só. Os que se sentem doentes não têm paciência. Tomam os vários medicamentos, alguns dos quais são muito violentos, embora nada saibam da natureza dessas misturas. Todos os remédios que tomam apenas tornam mais desenganada sua restauração. Todavia continuam a medicar-se, e continuam a piorar até morrerem. Alguns tomam remédios a qualquer pretexto. Pois que tomem essas misturas daninhas, e os vários venenos mortais, sob sua própria responsabilidade. Os servos de Deus não devem receitar remédios dos quais sabem que hão de deixar efeitos danosos no organismo, embora aliviem o sofrimento na ocasião. — How to Live, 3:49-64.
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Mensagens Escolhidas 2
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37 \u2014 Os idosos destitu\u00eddos de lar","mp3":"\/mp3\/11098\/0181_por_f_capitulo_37_os_idosos_destituidos_de_lar_11098_2001.mp3#duration=74&size=704376"},{"para_id":"11098.2006","title":"Cap\u00edtulo 38 \u2014 Acerca da quest\u00e3o militar","mp3":"\/mp3\/11098\/0182_por_f_capitulo_38_acerca_da_questao_militar_11098_2006.mp3#duration=390&size=2601537"},{"para_id":"11098.2021","title":"Elucida\u00e7\u00e3o dada quanto ao sorteio","mp3":"\/mp3\/11098\/0183_por_f_elucidacao_dada_quanto_ao_sorteio_11098_2021.mp3#duration=45&size=527777"},{"para_id":"11098.2025","title":"Manobras exigidas","mp3":"\/mp3\/11098\/0184_por_f_manobras_exigidas_11098_2025.mp3#duration=74&size=704608"},{"para_id":"11098.2029","title":"Cap\u00edtulo 39 \u2014 Conselho sobre votar","mp3":"\/mp3\/11098\/0185_por_f_capitulo_39_conselho_sobre_votar_11098_2029.mp3#duration=139&size=1091238"},{"para_id":"11098.2036","title":"Nossos pioneiros chegam a importante decis\u00e3o 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\u2014 \u00c9 necess\u00e1ria uma obra de purifica\u00e7\u00e3o","mp3":"\/mp3\/11098\/0214_por_f_capitulo_48_e_necessaria_uma_obra_de_purificacao_11098_2273.mp3#duration=1225&size=7611041"},{"para_id":"11098.2317","title":"Cap\u00edtulo 49 \u2014 Um nome e um povo distintos","mp3":"\/mp3\/11098\/0215_por_f_capitulo_49_um_nome_e_um_povo_distintos_11098_2317.mp3#duration=60&size=620050"},{"para_id":"11098.2321","title":"Nosso sinal distintivo","mp3":"\/mp3\/11098\/0216_por_f_nosso_sinal_distintivo_11098_2321.mp3#duration=184&size=1364100"},{"para_id":"11098.2328","title":"O mundo observa","mp3":"\/mp3\/11098\/0217_por_f_o_mundo_observa_11098_2328.mp3#duration=48&size=548603"},{"para_id":"11098.2330","title":"O futuro do povo de Deus","mp3":"\/mp3\/11098\/0218_por_f_o_futuro_do_povo_de_deus_11098_2330.mp3#duration=71&size=685912"},{"para_id":"11098.2333","title":"Cap\u00edtulo 50 \u2014 As colunas de nossa 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