Mensagens Escolhidas 2

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Capítulo 2

Homens e mulheres, pela condescendência com o apetite no comer alimentos suculentos e altamente condimentados, em especial cárneos, com molhos indigestos, e pelo uso de bebidas estimulantes, como chá e café, desenvolvem apetites não naturais. O organismo fica febril, o aparelho digestivo é prejudicado, as faculdades mentais são obscurecidas, ao passo que as paixões inferiores são excitadas, e predominam sobre as outras, mais nobres. O apetite se torna mais desnatural, e mais difícil de restringir. A circulação do sangue não é equilibrada, e torna-se impura. Todo o organismo se desarranja, e as exigências do apetite se tornam mais irrazoáveis, desejando ardentemente coisas excitantes, nocivas, até que fica de todo pervertido. ME2 420.1

Por parte de muitos, o apetite clama pela repugnante erva, o fumo, e a cerveja, tornada forte por misturas venenosas, destruidoras da saúde. Muitos não param nem aí. Seu apetite pervertido reclama bebida mais forte, que exerce mais obscurecedora influência sobre o cérebro. Entregam-se assim a todo excesso, até que o apetite toma inteiro controle sobre as faculdades de raciocínio; e o homem, formado à imagem de seu Criador, rebaixa-se a nível inferior ao dos animais. A varonilidade e a honra são juntamente sacrificadas ao apetite. Levou tempo a embotar as sensibilidades da mente. Isto foi feito gradual mas seguramente. A condescendência com o apetite primeiro, em comer alimentos altamente condimentados, criou um apetite mórbido, e preparou o caminho para toda espécie de condescendência, até que saúde e intelecto foram sacrificados à concupiscência. ME2 420.2

Muitas pessoas entraram nas relações matrimoniais sem haverem adquirido propriedade, nem haverem tido nenhuma herança. Não possuíam força física, ou energia mental para adquirir propriedades. Têm sido justamente esses que mais apressados são em casar-se, e tomaram sobre si mesmos responsabilidades de que não possuíam um justo senso. Não eram dotados de sentimentos nobres, elevados, nem tinham uma justa idéia do dever de um marido e pai, e do que lhe custaria prover às necessidades de uma família. E não mostraram mais adequação no aumento de sua família do que manifestaram em suas transações de negócios. Os que são seriamente deficientes em tato nos negócios, e que são menos qualificados para ser bem-sucedidos no mundo, enchem geralmente a casa de filhos; ao passo que os homens dotados de habilidades para adquirir bens não têm em geral mais filhos do que aqueles dos quais podem cuidar devidamente. Os que não são habilitados a cuidar de si mesmos não devem ter filhos. Tem sido o caso que a numerosa prole desses fracos calculistas são deixados a crescer como os animais. Não são devidamente alimentados ou vestidos, e não recebem preparo físico ou mental, e não há nada de sagrado na palavra lar, nem para os pais nem para os filhos. ME2 420.3

A instituição matrimonial foi designada pelo Céu para ser uma bênção ao homem; em sentido geral, porém, ela tem sido tão maltratada que se torna terrível maldição. A maioria dos homens e mulheres tem agido na relação conjugal como se a única questão para eles assentarem fosse amarem-se um ao outro. Devem, no entanto compreender que impende sobre eles nessa união outra responsabilidade além dessa. Cumpre-lhes considerar se sua prole possuirá saúde física, e força mental e moral. Poucos, porém, têm agido com elevados motivos e altas considerações — de que a sociedade tem sobre eles direitos que eles não podem afastar levianamente — que o peso da influência de sua família se fará sentir na escala positiva ou negativa. ME2 421.1

A sociedade compõe-se de famílias. E chefes de família são responsáveis pelo molde da sociedade. Fossem os que decidem entrar no pacto matrimonial sem a devida consideração sozinhos a sofrer, então o mal não seria tão grande, e relativamente pequeno seria o seu pecado. Mas a miséria que se levanta de casamentos infelizes é sentida pelos seus rebentos. Arrastam após si uma vida de miséria; e se bem que inocentes, sofrem as conseqüências da orientação inconsiderada dos pais. Homens e mulheres não têm o direito de seguir impulsos, ou paixão cega em sua relação matrimonial, e depois trazer ao mundo inocentes crianças para compreenderem, de várias causas, que a vida não tem senão bem pouco de alegria, de felicidade, sendo portanto um fardo. ME2 421.2

Os filhos herdam geralmente os traços particulares de caráter dos pais, e além de tudo isso, muitos crescem sem qualquer influência redentora ao seu redor. São freqüentemente amontoados na pobreza e na imundície. Com tais arredores e exemplos, que se pode esperar das crianças ao chegarem ao cenário da ação, a não ser que venham a imergir mais baixo na escala do valor moral que seus pais, e suas deficiências sejam a todos os respeitos mais acentuadas que as deles? Assim tem essa classe perpetuado suas deficiências, e arruinado sua prole com a pobreza, a imbecilidade e a degradação. Essas pessoas não se deveriam haver casado. Pelo menos, não deveriam haver trazido à existência inocentes filhos para partilharem de sua miséria, e transmitirem-lhes os seus defeitos, com acumulação de misérias, de geração em geração, o que é uma grande causa de degeneração da raça. ME2 421.3

Caso as mulheres das gerações passadas houvessem agido sempre movidas por considerações elevadas, compreendendo que as gerações futuras seriam enobrecidas ou degradadas por seu procedimento, haveriam tomado a atitude de não unirem os interesses de sua vida com homens que nutriam gostos anormais, por bebidas alcoólicas, fumo, que é um veneno lento mas seguro e mortífero, enfraquecendo o sistema nervoso, e rebaixando as nobres faculdades da mente. Caso os homens queiram permanecer ligados a esses hábitos vis, as mulheres devem deixá-los a sua bem-aventurança de solteiros, a fruírem esses companheiros que preferem. Elas não se deviam haver considerado de tão pouco valor que unissem seu destino com homens que não tinham domínio sobre seus apetites, mas cuja principal felicidade consistia em comer e beber, e satisfazer suas paixões animais. As mulheres nem sempre têm seguido os ditames da razão em vez de ao impulso. Não têm sentido em alto grau as responsabilidades que sobre elas impendem, para formar ligações tais que não haveriam de imprimir em seus descendentes um baixo nível moral, e uma paixão para satisfazer apetites depravados, a custo da saúde, e mesmo da vida. Deus as considerará responsáveis em alto grau pela saúde física e o caráter moral assim transmitido às gerações futuras. ME2 422.1

Os homens e as mulheres que corromperam o próprio corpo por hábitos dissolutos, rebaixaram também sua inteligência, e destruíram as finas sensibilidades da alma. Muitíssimos dessa classe se casaram, e deixaram por herança a seus descendentes as manchas de sua própria debilidade física e costumes depravados. A satisfação das paixões animais, a grosseira sensualidade, têm sido os assinalados característicos de sua posteridade, descendo de geração em geração, aumentando a terrível grau a miséria humana, e apressando a depreciação da raça. ME2 422.2

Homens e mulheres que se tornaram doentios e cheios de enfermidades, muitas vezes em suas ligações matrimoniais têm pensado egoistamente só em sua própria felicidade. Não têm considerado seriamente o assunto do ponto de vista de princípios nobres, elevados, raciocinando com relação ao que podiam esperar de seus descendentes: nada senão diminuída energia física e mental, que não elevaria a sociedade, antes imergi-la-ia ainda mais baixo. ME2 423.1

Homens doentios têm muitas vezes conquistado a afeição de mulheres aparentemente sadias, e porque se amavam, sentiram-se em perfeita liberdade de casar, nem considerando que por sua união a esposa deve ser mais ou menos uma sofredora, devido a seu marido doente. Em muitos casos esse marido melhora de saúde, enquanto a esposa adquire o mal. Ele vive em muito da vitalidade dela que se queixa em breve do debilitamento da sua. Ele prolonga seus dias encurtando os dela. Os que assim se casam cometem pecado em considerar levemente a vida e a saúde a eles dadas por Deus para serem usadas para Sua honra e glória. Mas se apenas os que entram assim nas relações matrimoniais fossem afetados, o pecado não seria tão grande. Seus descendentes são forçados a ser sofredores por doença transmitida. E assim se tem perpetuado a doença de geração em geração. E muitos acusam a Deus de todo esse peso de miséria humana, quando seu errado modo de viver tem ocasionado os seguros resultados. Lançaram sobre a sociedade uma raça enfraquecida, e fizeram sua parte para deterioração da raça humana mediante o tornar a doença hereditária, acumulando assim os sofrimentos do homem. ME2 423.2

Outra causa da deficiência da geração atual em resistência física e valor moral é se unirem homens e mulheres em casamento com idades muito diferentes. Dá-se freqüentemente que homens idosos escolhem jovens para casar. Assim fazendo, a vida do marido se tem prolongado, ao passo que a esposa tem de sentir a falta daquela vitalidade que ela comunica ao seu marido velho. Não é dever de nenhuma mulher sacrificar a vida e a saúde, mesmo que ela amasse a alguém muito mais idoso que ela, e estivesse disposta, por sua parte, a fazer tal sacrifício. Deveria haver restringido suas afeições. Tinha a consultar considerações mais altas que seu próprio interesse. Ela deve considerar: no caso de nascerem filhos, qual seria sua condição? Pior ainda é um rapaz casar com uma mulher consideravelmente mais velha que ele. Os rebentos de tais uniões, em muitos casos, em que as idades diferem grandemente, não possuem mentes bem equilibradas. Têm sido também deficientes em resistência física. Em famílias assim, tem-se freqüentemente manifestado traços de caráter variado, peculiar, e muitas vezes penosos. Morrem muitas vezes prematuramente, e os que chegam à maturidade, são em muitos casos deficientes em força física e mental, bem como em valor moral. ME2 423.3

O pai raramente está preparado, com suas faculdades em declínio, para criar sua jovem família. Esses filhos têm traços peculiares de caráter, que precisam constantemente uma influência contrabalançadora, do contrário vão certamente à ruína. Não são devidamente educados. Sua disciplina tem sido muitas vezes daquela espécie dirigida por caprichosos impulsos, devido à idade do progenitor. O pai tem sido susceptível a sentimentos variáveis. Uma vez, demasiado indulgente, ao passo que noutra é injustificavelmente severo. Tudo, em algumas famílias, está errado. E aumenta grandemente o infortúnio doméstico. Dessa maneira tem sido lançada ao mundo uma classe de seres como carga para a sociedade. Seus pais foram responsáveis em alto grau pelo caráter desenvolvido por seus filhos, o qual é transmitido de geração a geração. ME2 424.1

Os que acrescentam o número de seus filhos, quando, se consultassem a razão, deveriam saber que a fraqueza física e mental tem de ser sua herança, são transgressores dos últimos seis preceitos da lei de Deus, que especificam o dever do homem para com seus semelhantes. Eles fazem sua parte em acrescentar a degenerescência da raça, e no imergir a sociedade mais baixo, prejudicando assim seus semelhantes. Se Deus assim considera os direitos do próximo, não tem Ele cuidado quanto à relação mais estreita e mais sagrada? Se nem uma andorinha cai em terra sem que Ele o note, não Se aperceberá das crianças nascidas no mundo, física e mentalmente enfermas, sofrendo em maior ou menor grau, toda a sua vida? Não chamará a contas os pais, aos quais deu a faculdade do raciocínio, por colocarem essas faculdades superiores para trás, e tornarem-se escravos da paixão quando, em resultado disso, gerações terão de levar sobre si o estigma de suas deficiências físicas, mentais e morais? Em acréscimo ao sofrimento que eles legam a seus filhos, não têm nenhum quinhão senão pobreza a deixar a seu lamentável rebanho. Eles não podem educá-los, e muitos não vêem a necessidade, nem poderiam se a vissem, encontrar tempo de prepará-los, e instruí-los, e diminuir o quanto possível, a infeliz herança a eles legada. Os pais não devem aumentar a família mais depressa do que saibam que seus filhos possam ser bem cuidados e educados. Uma criança nos braços de sua mãe a cada ano é grande injustiça para com ela. Isto diminui, e muitas vezes destrói a fruição social, e acrescenta a desdita doméstica. Priva os filhos do cuidado, da educação e da felicidade que os pais deveriam sentir ser dever seu conceder-lhes. ME2 424.2

O marido transgride o voto matrimonial, e os deveres a ele impostos na Palavra de Deus, quando desconsidera a saúde e a felicidade da esposa, aumentando-lhe os encargos e cuidados mediante numerosa prole. “Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela.” “Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja.” Efésios 5:25, 28, 29. ME2 425.1

Vemos essa santa ordem quase inteiramente menosprezada, mesmo por professos cristãos. Por toda parte a que podeis olhar, vereis mulheres pálidas, doentias, esgotadas, alquebradas, deprimidas, desanimadas. São em geral sobrecarregadas de trabalho, e as energias vitais exauridas pelos partos freqüentes. O mundo está cheio de imagens de seres humanos que não têm nenhum valor para a sociedade. Muitos são deficientes de inteligência, e muitos que possuem talentos naturais não os empregam para quaisquer fins beneficentes. Não têm cultura, e uma das grandes razões disto é: os filhos se multiplicaram mais depressa do que podiam ser bem educados, e foram deixados crescer mais ou menos à semelhança dos animais. ME2 425.2

Os filhos desta geração estão sofrendo com seus pais, mais ou menos a pena da violação das leis da saúde. O procedimento geralmente seguido com eles, desde a infância, acha-se em contínua oposição às leis de seu ser. Foram forçados a receber infeliz herança de doenças e debilidade, antes do nascimento, ocasionadas pelos hábitos errôneos de seus pais, hábitos que os afetarão em maior ou menor grau no decorrer da vida. Este mau estado de coisas é tornado em todas as maneiras pior por continuarem os pais a seguir uma errada orientação no preparo físico de seus filhos através da infância. ME2 425.3

Os pais manifestam surpreendente ignorância, indiferença e negligência quanto à saúde física de seus filhos, o que comumente resulta em destruir a pouca vitalidade que resta à maltratada criancinha, destinando-a a uma morte prematura. Ouvireis com freqüência os pais lamentarem a providência de Deus, que lhes arrebatou dos braços os filhinhos. Nosso Pai celeste é demasiado sábio para errar, e bom demais para nos fazer injustiça. Ele não Se deleita em ver sofrer Suas criaturas. Milhares de pessoas foram arruinadas para a vida em virtude de os pais não haverem procedido em harmonia com as leis da saúde. Agiram por impulso em vez de seguir os ditames de um são discernimento, tendo constantemente em vista o bem futuro de seus filhos. ME2 426.1

O primeiro grande objetivo a ser atingido na educação dos filhos é uma sã constituição, que prepare em grande maneira o caminho para a educação mental e moral. A saúde física e a moral se acham estreitamente unidas. Que enorme peso de responsabilidade repousa sobre os pais, quando consideramos que a direção por eles seguida, antes do nascimento de seus filhos, tem muito que ver com o desenvolvimento do caráter deles depois do nascimento. ME2 426.2

Muitos filhos são deixados crescer com menos atenção da parte dos pais do que um bom fazendeiro devota aos mudos animais. Os pais, especialmente, são muitas vezes culpados de manifestar menos cuidado pela esposa e os filhos do que o que é manifestado a seu gado. Um fazendeiro compassivo tomará tempo, e devotará especial atenção quanto à melhor maneira de lidar com seus animais, e será exigente em que seus cavalos de valor não sejam sobrecarregados de trabalho, alimentados em excesso ou quando excitados, para que não sejam estragados. Dedicará tempo e carinho a seu gado, para que não sejam prejudicados por negligência, exposição, ou qualquer tratamento impróprio, e seu crescente rebanho jovem se deprecie em valor. Observará períodos regulares para serem alimentados, e saberá a quantidade de trabalho que eles podem fazer sem se prejudicarem. A fim de isto conseguir, prover-lhes-á apenas o alimento mais saudável, nas porções apropriadas, e a determinados períodos. Por seguirem assim os ditames da razão, os fazendeiros são bem-sucedidos em conservar a resistência de seus animais. Se o interesse de cada pai por sua esposa e seus filhos correspondesse ao cuidado manifestado por seu gado, proporcionalmente ao grau de valor de sua vida em comparação com a dos mudos animais, haveria inteira reforma em toda família, e a infelicidade humana seria incomparavelmente menor. ME2 426.3

Grande cuidado deve ser mostrado pelos pais em prover os artigos de alimentação mais saudáveis para si mesmos e para seus filhos. E em caso algum devem eles pôr diante dos filhos comida que sua razão lhes ensina que não é conducente à saúde, mas iria tornar o organismo febricitante, e desarranjar os órgãos digestivos. Os pais não estudam de causa para efeito, com relação a seus filhos, como o fazem relativamente aos irracionais que possuem, e não raciocinam que sobrecarregar de trabalho, comer após violento exercício e quando muito exausto e excitado, prejudicará a saúde dos seres humanos, da mesma maneira que a dos mudos animais, lançando as bases para uma constituição alquebrada no homem, da mesma maneira que nos animais. ME2 427.1

Caso pais ou filhos comam com freqüência, irregularmente, e em quantidades demasiado grandes, mesmo que seja dos alimentos mais saudáveis, isto prejudica a constituição; mas se além disso a comida é de qualidade imprópria e preparada com gordura [animal], e condimentos indigestos, muito mais nocivo será o resultado. Os órgãos digestivos serão duramente sobrecarregados, e à pobre natureza exausta não será dada senão pequena chance para descansar, e recuperar as forças, e os órgãos vitais dentro em pouco ficarão debilitados e exaustos. Se o cuidado e a regularidade são considerados necessários aos irracionais, são tanto mais essenciais aos seres humanos, formados à imagem de seu Criador quanto eles são de valor superior ao dos animais. ME2 427.2

Em muitos casos, o pai é menos razoável e tem menos cuidado pela esposa durante o período da gravidez, do que o que manifesta por seu gado e suas crias. A mãe, em muitos casos, antes do nascimento dos filhos, é deixada a trabalhar cedo e tarde, excitando o sangue, enquanto prepara pratos nocivos para satisfazer o apetite pervertido da família e das visitas. Suas forças deviam ser tratadas ternamente. O preparo de uma comida saudável haveria exigido apenas cerca da metade da despesa e do trabalho, e haveria sido muito mais nutritiva. ME2 427.3

Antes do nascimento dos filhos, a mãe é com freqüência deixada a trabalhar além de suas forças. Raramente suas cargas são diminuídas, e esse período, que devia ser para ela, mais que todos os outros, de descanso, é de fadiga, tristeza e sombras. Em virtude do grande esforço de sua parte, ela priva seu rebento daquela nutrição que a natureza providenciou para ele, e aquecendo o sangue, comunica-lhe má qualidade de sangue. O pequenino é privado de sua vitalidade, privado de resistência física e mental. O pai deve pensar em como tornar feliz a mãe. Não se deve permitir chegar em casa com a fronte anuviada. Caso fique perplexo em sua ocupação, não deve, a não ser que seja realmente necessário aconselhar-se com a esposa, perturbá-la com tais assuntos. Ela tem cuidados e provas seus próprios a suportar, e deve ser ternamente poupada a todo trabalho desnecessário. ME2 427.4

A mãe encontra muitas vezes fria reserva da parte do pai. Se tudo não corre tão agradavelmente como ele poderia desejar, culpa a esposa e mãe, e parece indiferente a seus cuidados e provas diários. Os homens que assim procedem estão trabalhando diretamente contra seus próprios interesse e felicidade. A mãe fica desanimada. Fogem dela a esperança e a animação. Anda em seus afazeres maquinalmente, sabendo que devem ser efetuados, o que em breve lhe debilita a saúde física e mental. Nascem-lhe filhos sofrendo várias doenças, e Deus considera os pais responsáveis em grande medida; pois foram seus hábitos errôneos que fixaram a doença em seus filhos por nascer, pela qual devem sofrer por toda a existência. Alguns não vivem senão por um breve espaço de tempo, com seu fardo de debilidade. A mãe vela ansiosamente pela vida de sua criança, e verga ao peso da dor ao ter de cerrar-lhe os olhos na morte, e muitas vezes considera a Deus como o autor de toda esta aflição, quando na verdade os pais foram os assassinos de seu próprio filho. ME2 428.1

O pai deve ter em mente que o tratamento da esposa antes do nascimento de seu filhinho afetará grandemente a disposição da mãe durante aquele período, e terá muito que ver com o caráter desenvolvido pela criança após o nascimento. Muitos pais ficaram tão ansiosos de obterem depressa alguma propriedade, que considerações superiores foram sacrificadas, e alguns homens têm sido criminosamente negligentes com a mãe e seu rebento, e muitas vezes a vida de ambos foi sacrificada ao forte desejo de acumular fortuna. Muitos não sofrem imediatamente essa severa pena por seu mau proceder, e dormem quanto ao resultado de sua conduta. A condição da mulher não é às vezes melhor que a de uma escrava, e ocasiões ela é tão culpada quanto ao marido de desperdiçar as forças físicas para obter meios para viver segundo à moda. É um crime da parte dessas pessoas terem filhos, pois sua prole será com freqüência deficiente, em valor físico, mental e moral, e levará o cunho da infelicidade, mesquinhez e egoísmo dos pais, e o mundo será infelicitado por sua mesquinhez. ME2 428.2

É dever de homens e mulheres agir segundo a razão relativamente a seu labor. Não devem exaurir as energias desnecessariamente, pois assim fazendo, não somente trazem sofrimentos a si próprios, mas por seus erros, acarretam ansiedade, fadiga e sofrimento àqueles a quem amam. Que requer tal soma de trabalho? Intemperança no comer e no beber, e o desejo de riqueza têm levado a essa intemperança. Caso o apetite seja controlado, e seja ingerido apenas o alimento saudável, haverá tanta economia nas despesas, que homens e mulheres não serão compelidos a trabalhar além de suas forças, violando assim as leis da saúde. O desejo de homens e mulheres de acumular propriedade não é pecado caso em seus esforços para atingirem seu objetivo não esquecerem a Deus, nem transgredirem os últimos seis preceitos de Jeová, que dita o dever do homem para com os semelhantes, colocando-os em posição em que lhes é impossível glorificar a Deus em seu corpo e espírito, que Lhe pertencem. Se em sua pressa de enriquecer eles sobrecarregam as próprias energias, e transgridem as leis de seu ser, situam-se de maneira a não lhes ser possível prestar a Deus serviço perfeito, e seguem uma direção pecaminosa. Os bens assim obtidos são-no a custa de imenso sacrifício. ME2 429.1

Árduo labor e ansioso cuidado, tornam muitas vezes o pai impaciente, nervoso e exigente. Não nota o olhar fatigado da esposa, que tem trabalhado com suas forças mais débeis, tão arduamente como ele próprio, com suas mais vigorosas energias. Ele tolera afadigar-se com seus negócios e, por sua ansiedade para enriquecer, perde em grande medida o senso da obrigação que tem para com sua família, e não mede com justiça a capacidade de resistência de sua mulher. Aumenta com freqüência suas terras, o que exige acréscimo de auxílio assalariado, o que aumenta necessariamente os serviços domésticos. A mulher compreende dia a dia estar fazendo demasiado trabalho para suas forças, todavia continua trabalhando pensando que o serviço precisa ser feito. Ela está continuamente entrando no futuro, sacando de seus futuros recursos de energia, e vivendo assim de capital emprestado, e no período em que ela necessita dessa força, não a encontra a sua disposição; e se ela não perde a vida, sua constituição se encontra alquebrada e além de recuperação. ME2 429.2

Caso o pai procurasse conhecer as leis físicas, compreenderia melhor suas obrigações e responsabilidades. Veria que havia sido culpado quase de matar seus filhos mediante o permitir que tantos fardos impendessem sobre a mãe, e compelindo-a a trabalhar além de suas forças antes do nascimento das crianças, a fim de obter meios para lhes deixar. Eles tratam desses filhos durante sua vida de sofrimento, e muitas vezes os levam prematuramente à sepultura, mal compreendendo que seu errôneo procedimento trouxe o seguro resultado. Quão melhor haveria sido proteger a mãe de seus filhos de fatigante labor e ansiedade mental, e permitir que eles herdassem uma boa constituição, e dar-lhes oportunidade de batalhar através de seu caminho na vida não descansando nos bens de seu pai, mas em sua própria força dinâmica. A experiência assim obtida seria para eles de mais valor que casas e terras adquiridas a preço da saúde da mãe e dos filhos. ME2 429.3

Parece perfeitamente natural a alguns homens serem mal-humorados, egoístas, exigentes e autoritários. Nunca aprenderam a lição do domínio de si mesmos, e não refrearão seus sentimentos irrazoáveis, sejam as conseqüências quais forem. Esses homens serão recompensados vendo sua companheira doentia, desalentada, e os filhos apresentando as peculiaridades de seus próprios desagradáveis traços de caráter. ME2 430.1

É dever de todo casal evitar com atenção ferir os sentimentos um do outro. Devem dominar todo olhar e expressão de impaciência e cólera. Devem considerar a felicidade um do outro, nas coisas pequenas como nas grandes, manifestando terna solicitude em reconhecer os atos de bondade, as pequeninas cortesias mútuas. Estas pequenas coisas não devem ser negligenciadas, pois são tão importantes para a felicidade do homem e da esposa como o alimento é necessário para manutenção das forças físicas. O marido deve encorajar a esposa e mãe a apoiar-se nas grandes afeições dele. Palavras bondosas, animadoras e comunicativas de coragem da parte dele, a quem ela confiou a felicidade de sua vida, ser-lhe-ão mais benéficas que qualquer remédio; e os alegres raios de luz que essas palavras de simpatia levarão ao coração da esposa e mãe, refletirão sobre o coração do pai seu brilho de animação. ME2 430.2

O marido verá freqüentemente sua esposa gasta pelos cuidados e enfraquecida, ficando prematuramente envelhecida no labor de preparar alimento que satisfaça ao apetite viciado. Ele satisfaz o apetite, e comerá e beberá aquilo que custa muito tempo e trabalho a preparar para a mesa, e que tem a tendência de tornar nervosos e irritáveis os que participam dessas coisas prejudiciais. A esposa e mãe raro se acha livre da dor de cabeça, e os filhos sofrem o efeito de comerem alimentos nocivos, e há grande falta de paciência e afeição entre pais e filhos. Todos são juntamente sofredores, pois a saúde é sacrificada ao apetite concupiscente. Antes de seu nascimento, a prole recebe a transmissão de doença e de um apetite mórbido. E a irritabilidade, o nervosismo e o acabrunhamento manifestados pela mãe assinalarão o caráter de seus filhos. ME2 430.3

Houvessem as mães das gerações passadas se informado quanto às leis de seu corpo, haveriam compreendido que sua resistência constitucional, bem como o tono moral, e suas faculdades mentais, haveriam de ser em grande medida apresentados em seus descendentes. Sua ignorância a respeito desse assunto, em que tanto se acha envolvido, é criminosa. Muitas mulheres nunca se deveriam haver tornado mães. Tinham o sangue cheio de escrófulas, a elas transmitidas por seus pais, e aumentadas por sua vulgar maneira de viver. O intelecto foi rebaixado, escravizado a servir os apetites animais, e os filhos nascidos de pais assim, têm sido pobres sofredores, e de bem pouco proveito à sociedade. ME2 431.1

Uma das grandes causas de degeneração nas gerações passadas e até ao presente, é que as esposas e mães que de outro modo haveriam sido de benéfica influência sobre a sociedade no erguer as normas morais, perderam-se para a sociedade pela multiplicidade dos cuidados domésticos em virtude da maneira de cozinhar em voga, destruidora da saúde, e também em conseqüência dos partos demasiado freqüentes. Ela tem sido forçada a desnecessário sofrimento, sua constituição tem-se debilitado, enfraquecido o intelecto devido a tanto saque em seus recursos vitais. Os filhos sofrem sua fraqueza, e é lançada sobre a sociedade uma classe deficiente em virtude da inaptidão dela, para educá-los para ser de alguma utilidade. ME2 431.2

Caso essas mães houvessem dado à luz poucos filhos, e se estes houvessem sido cuidadosos em viver de comida que lhes conservas-se a saúde física e a resistência mental, de modo que a moral e o intelecto predominassem sobre o animal, elas poderiam tanto educar seus filhos para a utilidade como para serem brilhantes ornamentos da sociedade. ME2 431.3

Houvessem os pais nas gerações passadas, com firmeza de propósito, conservado o corpo em sujeição à mente, e não permitissem que o intelecto fosse escravizado pelas paixões animais, haveria nesta geração diversa ordem de seres na Terra. E se a mãe antes do nascimento de seus filhos houvesse sempre exercido o domínio de si mesma, compreendendo que estava imprimindo o caráter das gerações futuras, o estado presente da sociedade não se haveria depreciado tanto no que respeita ao caráter como se encontra na atualidade. ME2 431.4

Toda mulher prestes a tornar-se mãe, deve cultivar constantemente, sejam quais forem as circunstâncias, uma disposição feliz, animada, contente, sabendo que por todos os seus esforços nessa direção será recompensada dez vezes mais no físico assim como no caráter moral de sua prole. E isto não é tudo. Ela pode, pelo hábito, acostumar-se a pensar animosamente, estimulando assim um feliz estado mental e lançar sobre a família, bem como sobre aqueles com quem está em contato, um animoso reflexo de sua própria felicidade de espírito. E sua saúde física experimentará considerável melhora. Comunicar-se-á vigor às fontes vitais, o sangue não se moverá preguiçosamente como aconteceria caso ela se entregasse ao acabrunhamento, às sombras. Sua saúde mental e moral é avigorada pela elasticidade de seu espírito. O poder da vontade pode resistir a impressões mentais, e demonstrar-se-á grande calmante nervoso. As crianças privadas daquela vitalidade que deviam haver herdado dos pais, devem receber o máximo cuidado. Por acurada atenção às leis de seu ser, pode ser estabelecida condição muito melhor. ME2 432.1

É crítico o período em que o infante recebe nutrição de sua mãe. Muitas mães, enquanto amamentam os filhos, são deixadas trabalhar excessivamente, aquecer o sangue ao cozinhar, e o pequenino é seriamente afetado, não somente com alimento agitado do seio materno, mas seu sangue é envenenado pelo regime prejudicial da mãe, que tem agitado todo o seu organismo, o que afeta o alimento da criança. Esta será afetada também pelo estado mental materno. Se ela está infeliz, se fica facilmente excitada, irritável, dando vazão a explosões de temperamento, a comida que a criança recebe de sua mãe será abrasada, produzindo muitas vezes cólica, espasmos e, em certos casos, ocasionando convulsões e ataques. ME2 432.2

O caráter do infante também é em maior ou menor grau afetado pela natureza da alimentação recebida de sua mãe. Quão importante, pois, que esta, enquanto aleitando seu pequenino, conserve feliz estado mental, tendo perfeito domínio sobre o próprio espírito. Assim fazendo, o alimento da criança não é danificado, e a maneira calma, dominada, mantida pela mãe no lidar com seu filhinho tem muito que ver com o moldar de sua mente. Se ele é nervoso, facilmente agitado, o modo cuidadoso e moderado da mãe terá suavizadora e corretiva influência, e a saúde do pequenino pode ser muito melhorada. ME2 432.3

Os nenês têm sido grandemente maltratados mediante um trato errôneo. Se ele estava desassossegado, era geralmente alimentado para fazê-lo aquietar, quando, na maioria dos casos, a própria causa do desassossego era justamente haver ele recebido demasiado alimento, tornados nocivos pelos hábitos errôneos de sua mãe. Mais comida só podia tornar o caso pior, pois seu estômago já se achava sobrecarregado. ME2 433.1

As crianças são em geral criadas desde o berço para condescender com o apetite, e são ensinadas que vivem para comer. A mãe faz muito para formação do caráter de seus filhos em sua infância. Pode ensinar-lhes a reger o apetite, ou a condescender com ele, e tornarem-se gulosos. A mãe arranja muitas vezes seus planos para fazer certa quantidade de trabalhos durante o dia, e quando as crianças a perturbam, em vez de tomar tempo para acalmá-las em suas pequeninas aflições, e distraí-las, dá-lhes alguma coisa para comer a fim de as conservar quietas, o que corresponde ao desígnio por alguns momentos, mas torna finalmente as coisas piores. O estômago das crianças é abarrotado de comida, quando não tinham dela nenhuma necessidade. Tudo quanto era preciso, era um pouquinho de tempo e atenção da parte da mãe. Ela, porém, considerava demasiado precioso esse tempo para consagrar a distrair seus filhos. Talvez o arranjo de seu lar com bom gosto para ser elogiado pelas visitas, e preparar sua refeição segundo a moda, são para ela de mais consideração que a felicidade e a saúde de seus pequeninos. ME2 433.2

A intemperança no alimento e no trabalho debilita os pais, tornando-os muitas vezes nervosos, e incapacitando-os para se desempenharem devidamente de seus deveres para com os filhos. Três vezes ao dia reúnem-se os pais com as crianças ao redor da mesa, carregada de uma variedade de alimentos preparados como é da moda. Os méritos de cada prato devem ser experimentados. Talvez a mãe tenha labutado até ficar agitada, exausta, e não estar em condições de tomar sequer o mais simples alimento enquanto não houvesse primeiro tido um período de descanso. A comida que se cansou em preparar, era de todo imprópria para ela em qualquer ocasião, mas sobrecarrega especialmente os órgãos digestivos quando o sangue está excitado e o corpo exausto. Aqueles que assim têm persistido em transgredir as leis de seu ser, têm sido compelidos a pagar a pena em algum período de sua existência. ME2 433.3

Há fartas razões de existirem tantas mulheres nervosas no mundo, queixando-se de dispepsia, com seu cortejo de males. A causa tem sido acompanhada dos efeitos. É impossível pessoas intemperantes serem pacientes. Precisam primeiro reformar os maus hábitos, aprender a viver saudavelmente, e então não será difícil serem pacientes. Muitos parecem não compreender a reação que a mente mantém para com o corpo. Caso o organismo esteja perturbado por comida imprópria, o cérebro e os nervos são afetados, e pequenas coisas incomodam os que assim sofrem. Dificuldades insignificantes são para eles montanhas de aflição. As pessoas assim situadas são inaptas para criar devidamente seus filhos. Sua vida será assinalada por extremos — às vezes muito condescendentes, outras severas, censurando por ninharias que não merecem atenção. ME2 434.1

A mãe manda com freqüência os filhos para fora de sua presença, porque pensa que não pode suportar o barulho ocasionado por suas felizes brincadeiras. Sem o olhar de sua mãe, porém, para aprovar ou discordar, no momento oportuno, surgem muitas vezes divergências lamentáveis. Uma palavra da mãe acalmaria tudo outra vez. Eles logo se cansam e desejam mudança, e vão para a rua em busca de divertimento, e crianças puras, inocentes de espírito, são levadas a más companhias, e más comunicações a eles segredadas lhes corrompem os bons costumes. A mãe parece muitas vezes adormecida para os interesses de seus filhos, até que é penosamente despertada pela exibição do vício. As sementes do mal foram semeadas em sua tenra mente, prometendo abundância de frutos. E é para ela maravilha que seus filhos sejam tão inclinados a proceder mal. Os pais devem começar a tempo a infundir na mente da criança os bons e corretos princípios. A mãe deve estar o mais possível com seus filhos, e semear sementes preciosas em seu coração. ME2 434.2

O tempo de uma mãe pertence de maneira especial a seus filhos. Eles têm direito a esse tempo como nenhuma outra pessoa. Em muitos casos, as mães têm negligenciado a disciplina de seus pequenos, porque isso exigiria demasiado tempo, o qual elas pensam dever empregar na cozinha ou em costurar as roupas, dela e das crianças, segundo a moda, para fomentar o orgulho em seus jovens corações. A fim de manter calmos seus irrequietos filhos, dão-lhes bolo, ou doces, quase a qualquer hora do dia, e o estômago deles fica abarrotado de coisas nocivas em períodos irregulares. As faces pálidas testificam de que as mães estão fazendo o que podem para destruir as forças vitais restantes de seus pobres filhos. Os órgãos digestivos acham-se constantemente sobrecarregados, e não lhes permitem períodos de repouso. O fígado torna-se inativo, o sangue impuro, e as crianças são doentias e irritáveis, porque são verdadeiras sofredoras devido à intemperança, e é impossível exercerem paciência. ME2 434.3

Os pais admiram-se de que seus filhos estejam tão mais difíceis de controlar do que costumavam ser dantes, quando na maioria dos casos sua própria direção criminosa os tornou o que são. A qualidade do alimento que põem na mesa, e de que estimulam os filhos a comer, está excitando constantemente suas paixões animais, e enfraquecendo as faculdades morais e intelectuais. Muitíssimas são as crianças tornadas infelizes dispépticas em sua tenra idade pela errônea direção de seus pais para com elas na infância. Os pais serão chamados a prestar contas a Deus por assim lidarem com seus filhos. ME2 435.1

Muitos pais não dão a suas crianças lições de domínio próprio. Condescendem com seu apetite, e formam os hábitos dos filhos na infância para comerem e beberem segundo os seus desejos. Assim serão eles nos hábitos gerais em sua mocidade. Os desejos não lhes foram restringidos, e à medida que ficam de mais idade, não somente condescendem com os hábitos comuns da intemperança, mas irão mesmo mais longe na satisfação própria. Escolherão seus próprios companheiros, embora corruptos. Não podem suportar restrições da parte de seus pais. Darão rédeas soltas a suas corruptas paixões, e pouca será sua consideração para com a pureza ou a virtude. Esta é a razão de haver tão pouca pureza e valor moral entre a juventude em nossos dias, e é a grande causa por que homens e mulheres se acham sob tão pouca obrigação de prestar obediência à lei de Deus. Alguns pais não têm domínio sobre si mesmos. Não controlam os próprios apetites mórbidos, ou seu temperamento apaixonado, e portanto não podem educar os filhos com relação a negar-se a si mesmos no apetite, e ensinar-lhes a se dominarem a si mesmos. ME2 435.2

Muitas mães acham que não têm tempo para instruir seus filhos e a fim de os afastarem de seu caminho e se verem livres do ruído e perturbação que causam, mandam-nos para a escola. A sala de aulas é um penoso lugar para as crianças que herdaram constituições enfraquecidas. As salas de aulas não foram em geral construídas tendo em consideração a saúde, mas ao barato. As salas não foram arranjadas de modo a serem ventiladas como deviam ser, sem expor as crianças a resfriados sérios. E os assentos, raramente foram feitos de maneira que os pequenos se pudessem sentar confortavelmente, conservando a pequena estrutura em crescimento em posição apropriada para garantir a saudável ação dos pulmões e do coração. Os pequenos podem crescer quase segundo qualquer forma, e podem, por hábitos de exercício e posições apropriados do corpo, obterem formas saudáveis. É destrutivo para a saúde e a vida das crianças que elas se sentem na sala de aulas em bancos duros mal formados, de três a cinco horas por dia, inalando o ar impuro ocasionado por muitas respirações. Os pulmões fracos ficam afetados, o cérebro, do qual se deriva a energia nervosa de todo o organismo se enfraquece por ser chamado a exercício ativo antes de a resistência dos órgãos mentais achar-se suficientemente amadurecida para suportar a fadiga. ME2 436.1

Na sala de aulas está seguramente posto o fundamento para doenças de várias espécies. Mais especialmente, porém, o mais delicado de todos os órgãos — o cérebro — tem ficado muitas vezes permanentemente prejudicado por demasiado exercício. Isto tem com freqüência ocasionado inflamação, depois hidropisia da cabeça, e convulsões, com seus temíveis resultados. E a vida de muitos tem sido assim sacrificada por mães ambiciosas. Das crianças que, ao que parece, tiveram suficiente força de constituição para sobreviver a esse tratamento, muitas há que levam através da existência os seus efeitos. A energia nervosa cerebral fica tão fraca, que depois que eles chegam à maturidade, é-lhes impossível resistir a muito esforço mental. A força de alguns dos delicados órgãos do cérebro parece achar-se exausta. ME2 436.2

E não somente a saúde física e mental das crianças tem sido posta em risco por mandá-las demasiado cedo à escola, mas elas têm perdido no sentido moral. Têm tido oportunidades de relacionar-se com crianças de maneiras incultas. Foram atiradas na sociedade dos ordinários e rudes, que mentem, blasfemam, furtam e enganam, e que se deleitam em comunicar aos mais jovens que eles, o seu conhecimento do vício. As crianças, deixadas a si mesmas, aprendem o mal mais depressa que o bem. Os hábitos maus melhor se adaptam ao coração natural, e as coisas que vêem e ouvem na infância e meninice se lhes imprimem profundamente no espírito, e o mal semeado em seu jovem coração criará raízes, tornando-se espinhos agudos, a ferir o coração dos pais. ME2 436.3

Nos primeiros seis ou sete anos da vida de uma criança, deve-se dar atenção especial ao seu preparo físico, mais do que ao intelectual. Depois desse período, se for boa a constituição física, deve receber atenção a educação de ambos os aspectos. A infância estende-se até à idade de seis ou sete anos. Até essa idade, as crianças devem ser deixadas como pequeninos cordeiros, a andar em volta da casa, e no quintal, vivos e espertos, correndo e saltando, livres de cuidados e preocupações. ME2 437.1

Os pais, especialmente as mães, devem ser os únicos mestres desses espíritos infantis. Não os devem educar por livros. As crianças geralmente são curiosas por aprender as coisas da Natureza. Fazem perguntas acerca das coisas que vêem e ouvem, e devem os pais aproveitar a oportunidade de instruir, e responder com paciência a suas pequenas indagações. Poderão deste modo obter vantagem sobre o inimigo, fortalecendo o espírito de seus filhos, mediante o semear-lhes no coração a boa semente, sem deixar espaço para a semente má criar raízes. As amorosas instruções maternas às crianças em tenra idade, é o que elas precisam para a formação do caráter. ME2 437.2

A primeira lição importante para as crianças aprenderem é a negação do apetite. É dever da mãe atender às necessidades dos filhos, suavizando e distraindo-lhes o espírito, em vez de dar-lhes comida e assim lhes ensinando que o comer seja o remédio aos males da vida. ME2 437.3

Se os pais tivessem vivido segundo as leis da saúde, satisfazendo-se com um regime simples, muita despesa se haveria poupado. O pai não teria sido obrigado a trabalhar além de suas forças a fim de suprir as necessidades da família. Um regime simples e nutritivo não teria tido o efeito de excitar indevidamente o sistema nervoso e as paixões animalescas, produzindo lerdeza e irritabilidade. Se ele tivesse tomado apenas alimento simples, teria tido o cérebro claro, os nervos estáveis, o estômago em estado sadio, e tendo assim puro o organismo, não teria tido falta de apetite, e a geração atual estaria em muito melhores condições do que se acha agora. Mas mesmo agora, neste período tardio, algo se pode fazer para melhorar nossa situação. É necessária a temperança em todas as coisas. O pai temperante não se queixará se não há na mesa grande variedade. A maneira saudável de viver melhorará as condições da família em todos os sentidos, e permitirá à esposa e mãe tempo para dedicar aos filhos. A grande preocupação dos pais será quanto à maneira de melhor educar os filhos para serem úteis neste mundo, e para o Céu depois. Contentar-se-ão com ver os filhos trajando vestidos asseados, simples, mas confortáveis, livres de bordados e enfeites. Esforçar-se-ão fervorosamente por ver os filhos possuírem aquele adorno interior, o ornamento de um espírito manso e quieto, que à vista de Deus é de grande preço. ME2 437.4

Antes que deixe o lar, a fim de se dirigir ao trabalho, o pai cristão reunirá junto de si a família, e, prostrando-se perante Deus, confiá-los-á aos cuidados do Sumo Pastor. Sairá então para o trabalho com o amor e a bênção da esposa, e o amor dos filhos, a alegrar-lhe o coração através de suas horas de labor. E a mãe que é alerta ao dever, reconhece as obrigações que tem para com os filhos na ausência do pai. Ela sentirá que vive para o marido e os filhos. Educando retamente os filhos, ensinando-lhes hábitos de temperança e domínio próprio, e incutindo-lhes os deveres para com Deus, ela os habilita a tornar-se úteis no mundo, a erguer a norma da moral na sociedade, e a reverenciar e obedecer à lei de Deus. Paciente e perseverantemente a mãe piedosa instruirá os filhos, dando-lhes regra sobre regra e preceito sobre preceito, não de modo ríspido, forçando-os, mas com amor e ternura ela os ganhará. Eles considerarão as suas lições amorosas, e alegremente lhe escutarão as palavras de instrução. ME2 438.1

Em vez de mandar afastarem-se de sua presença os filhos, para que seu ruído não a perturbe, e não se aborreça com as muitas atenções que eles reclamam, sentirá ela que seu tempo não pode ser mais bem empregado do que abrandando e distraindo-lhes a mente irrequieta e ativa com algum entretenimento, ou alguma ocupação leve e feliz. A mãe será amplamente recompensada pelos esforços de tomar tempo para inventar entretenimento para os filhos. ME2 438.2

As crianças amam a companhia. Em geral, não apreciam estar sozinhas, e a mãe deve entender que, na maioria dos casos, o lugar de seus filhos, quando estão em casa, é o aposento onde ela está. Pode então tê-los sob suas vistas e estar preparada para ajustar pequenas diferenças, quando para ela apelam, e corrigir hábitos maus, ou a manifestação de egoísmo ou paixão, e pode dar-lhes ao espírito a direção certa. Aquilo de que as crianças gostam, pensam elas que há de agradar à mãe, e é perfeitamente natural que consultem a mãe em pequeninas questões que as fazem perplexas. E não deve a mãe ferir o coração de seu sensível filhinho tratando com indiferença o assunto, ou recusando-se a ser incomodada com coisas assim pequenas. Aquilo que pode ser pequeno para a mãe, para ele é grande. E uma palavra de orientação, ou aviso, na ocasião oportuna, muitas vezes se demonstrará de grande valor. Um olhar de aprovação, uma palavra de animação e louvor por parte da mãe, muitas vezes lhes deixa no jovem coração um raio de sol o dia inteiro. ME2 438.3

A primeira educação que os filhos devem receber da mãe, logo na infância, deve dizer respeito a sua saúde física. Deve-se-lhes permitir tão-somente alimento simples, da qualidade que os preserve nas melhores condições de saúde, e esse alimento só deve ser tomado em períodos regulares, não mais do que três vezes ao dia, e duas refeições seria mesmo melhor do que três. Se as crianças forem disciplinadas devidamente, logo aprenderão que nada conseguirão com choro e irritação. A mãe judiciosa procederá, na educação dos filhos, não meramente com vistas ao seu conforto presente, mas visando seu bem futuro. E para esse fim ela ensinará aos filhos a importante lição do controle do apetite, e da abnegação: que devem comer, beber e vestir-se tendo em vista a saúde. ME2 439.1

A família bem disciplinada, que ame e obedeça a Deus, será animosa e feliz. O pai, ao voltar do trabalho cotidiano, não trará para o lar as suas perplexidades. Sentirá que o lar, e o círculo da família, são sagrados demais para que sejam manchados com infelizes perplexidades. Quando saiu do lar, não deixou atrás seu Salvador e sua religião. Ambos foram seus companheiros. A suave influência de seu lar, a bênção da esposa e o amor dos filhos, tornam leves os seus fardos, e volta tendo no coração a paz, e palavras animosas e animadoras para a esposa e os filhos, que o aguardam para, alegres, lhe darem as boas-vindas. Ao prostrar-se, com a família, junto ao altar de oração, para oferecer a Deus seus reconhecidos agradecimentos, por Seu protetor cuidado para com ele e os amados através do dia, anjos de Deus adejam no aposento, e levam para o Céu as ferventes orações dos pais tementes a Deus, qual incenso suave, e vem a resposta em forma de bênçãos. ME2 439.2

Devem os pais impressionar os filhos com o pensamento de que é pecado consultar o gosto, para prejuízo do estômago. Deve-se-lhes impressionar o espírito com a idéia de que, violando as leis de seu ser, pecam contra seu Criador. As crianças assim educadas não será difícil restringir. Não serão sujeitas a temperamento irritadiço e volúvel, e estarão em muito melhores condições para fruírem a vida. Essas crianças mais de pronto e mais claramente compreenderão suas obrigações morais. As crianças às quais se ensinou cederem a vontade e os desejos aos pais, mais fácil e prontamente cederão sua vontade a Deus, submetendo-se ao controle do Espírito de Cristo. O motivo de muitos, que alegam ser cristãos, terem provações numerosas, que impõem à igreja um fardo, é não terem sido educados corretamente em sua infância, tendo sido deixados, em grande medida, a formarem eles mesmos o seu caráter. Seus maus hábitos, sua disposição singular e infeliz, não foram corrigidos. Não se lhes ensinou cederem aos pais a sua vontade. Toda a sua experiência religiosa é afetada por sua educação na infância. Não foram então controlados. Cresceram indisciplinados, e agora, em sua experiência religiosa, é-lhes difícil ceder àquela disciplina pura ensinada na Palavra de Deus. Os pais devem, pois, reconhecer a responsabilidade que sobre eles recai, de educar os filhos com vistas a sua experiência religiosa. ME2 440.1

Os que consideram a relação matrimonial como uma das sagradas ordenanças de Deus, guardada por Seu santo preceito, serão controlados pelos ditames da razão. Considerarão cuidadosamente o resultado de cada um dos privilégios que a relação matrimonial concede. Esses sentirão que seus filhos são jóias preciosas, por Deus confiados a sua guarda, a fim de, pela disciplina, removerem de sua natureza a superfície áspera, para que apareça o seu lustro. Sentir-se-ão sob a mais solene das obrigações de lhes formar o caráter de tal modo que em sua vida façam o bem, abençoem os outros com sua luz, e o mundo fique melhor por nele haverem vivido, e sejam finalmente habilitados para a vida superior, o mundo melhor, refulgindo para sempre na presença de Deus e do Cordeiro. — How to Live, 2:25-48. ME2 440.2