Mensagens Escolhidas 3

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Preciosas promessas contra quadros sombrios

Foi pela fé que me aventurei a transpor as Montanhas Rochosas com o objetivo de assistir à Assembléia da Associação Geral realizada em Mineápolis. ... ME3 163.2

Em Mineápolis encontramos uma grande delegação de pastores. Discerni, bem no começo da reunião, um espírito que me preocupou. Foram proferidos discursos que não deram ao povo o alimento que ele tanto necessitava. Foi-lhes apresentado o lado escuro e sombrio do quadro a ser pendurado na galeria da memória. Isso não traria luz e liberdade espiritual, mas desalento. ME3 163.3

Fui profundamente influenciada pelo Espírito do Senhor, no sábado à tarde [13 de Outubro de 1888], a chamar a atenção dos presentes para o amor que Deus manifesta para Seu povo. Não se deve permitir que a mente se demore nos aspectos mais desagradáveis de nossa fé. Na Palavra de Deus, que pode ser comparada a um jardim cheio de rosas, lírios e cravos, podemos colher pela fé as preciosas promessas de Deus, destiná-las a nosso próprio coração e ter bom ânimo — sim, ser alegres em Deus — ou podemos concentrar nossa atenção nos espinhos e cardos, ferir-nos gravemente, e lamentar nossa situação adversa. ME3 163.4

Não agrada a Deus que Seu povo pendure quadros sombrios e dolorosos na galeria da memória. Ele quer que toda alma colha as rosas, os lírios e os cravos, enchendo a memória com as preciosas promessas de Deus que florescem em toda a parte de Seu jardim. Ele quer que nos demoremos nelas, com os sentidos bem aguçados e atentos, captando-lhes toda a preciosidade, e falando da alegria que nos é proporcionada. Ele quer que vivamos no mundo, mas não sejamos dele, estando nossos pensamentos concentrados nas coisas eternas. Deus quer que falemos do que Ele tem preparado para aqueles que O amam. Isto enlevará nosso espírito, avivará nossas esperanças e expectativas e fortalecerá nossa alma para suportar os conflitos e as provações desta vida. Ao nos demorarmos nestas cenas, o Senhor estimulará nossa fé e confiança. Ele afastará o véu e nos dará vislumbres da herança dos santos. ME3 163.5

Enquanto eu apresentava a bondade, o amor, a terna compaixão de nosso Pai celestial, senti que o Espírito do Senhor repousava não somente sobre mim, mas também sobre o povo. Luz, e liberdade e bênção vieram aos ouvintes, e houve calorosa reação às palavras proferidas. A reunião de testemunhos que se seguiu evidenciou que a Palavra encontrara guarida no coração dos ouvintes. Muitos testificaram que esse dia era o mais feliz de sua vida, e foi realmente um precioso período, pois sabíamos que a presença do Senhor Jesus estava nessa reunião, e isso para abençoar. Eu sabia que a revelação especial do Espírito de Deus tinha o propósito de reprimir as dúvidas e dissipar a onda da descrença que penetrara em corações e mentes, no tocante à irmã White e à obra que o Senhor lhe dera para fazer. ME3 164.1

Muitos reanimados, mas não todos — Essa foi uma ocasião de refrigério para muitas almas, mas não perdurou em alguns. Assim que eles viram que a irmã White não concordava com todas as suas idéias e não se harmonizava com as propostas e resoluções que seriam votadas nessa assembléia, as evidências que eles haviam recebido tiveram tão pouca influência sobre alguns como as palavras proferidas por Cristo na sinagoga, aos nazarenos. Os corações [dos ouvintes em Nazaré] foram tocados pelo Espírito de Deus. Por assim dizer, ouviram Deus falando a eles por intermédio de Seu Filho. Viram e sentiram a divina influência do Espírito de Deus, e todos davam testemunho das palavras de graça que Lhe saíam dos lábios. Satanás estava, porém, ao lado deles com sua descrença, e eles acolheram as objeções e dúvidas, e seguiu-se a incredulidade. O Espírito de Deus foi abafado. Em seu furor, eles teriam arremessado a Jesus do alto do precipício se Deus não O houvesse protegido, para que em sua fúria não Lhe causassem dano. Quando Satanás assume o domínio da mente, ele faz loucos e demônios daqueles que eram considerados excelentes pessoas. Preconceito, orgulho e obstinação constituem terríveis elementos quando se apoderam da mente humana. ME3 164.2

Ellen White consulta alguns dirigentes — Recebi uma longa carta do Pastor Butler*, a qual eu li atentamente. Fiquei surpresa com o seu conteúdo. Eu não sabia o que fazer com essa carta; porém, como os mesmos sentimentos nela expressos pareciam atuar em meus irmãos no ministério, e dominá-los, reuni alguns deles no andar de cima e li essa carta para eles. Nenhum deles demonstrou ter ficado surpreso com o seu conteúdo, e vários disseram que sabiam ser essa a opinião do Pastor Butler, pois ouviram-no declarar essas mesmas coisas. ME3 165.1

Expliquei então muitas coisas. Expus o que eu sabia ser o procedimento correto e justo a ser seguido: irmão com irmão, examinando as Escrituras. Eu sabia que o grupo à minha frente não encarava todas as coisas de maneira correta, portanto declarei muitas coisas. Todas as minhas declarações expuseram princípios corretos para orientar a maneira de proceder, mas receei que minhas palavras não causassem nenhuma impressão sobre eles. Compreendiam as coisas à sua maneira, e a luz que eu lhes disse que me foi dada, era para eles como conversas infundadas. ME3 165.2

Apelos nas reuniões matinais — Fiquei com o coração muito aflito por causa das condições vigentes. Fiz mui fervorosos apelos a meus irmãos e irmãs nas reuniões matinais, e solicitei que fizéssemos dessa ocasião um período proveitoso, examinando juntos as Escrituras com humildade de coração. Recomendei que não houvesse tanta liberdade para falar sobre aquilo de que eles tinham pouco conhecimento. ME3 165.3

Todos necessitavam aprender algo na escola de Cristo. Jesus convidou: “Vinde a Mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve.” Mateus 11:28-30. Se aprendermos diariamente as lições de mansidão e humildade de coração, não haverá os sentimentos que existiram nesta reunião. ME3 165.4

Há algumas diferenças de opinião nalguns assuntos; é isso, porém, uma razão para sentimentos acerbos e hostis? Inveja, ruins suspeitas e imaginações, desconfianças, ódio e ciúmes hão de entronizar-se no coração? Todas essas coisas são más, completamente más. Nosso auxílio só está em Deus. Passemos muito tempo em oração e examinando o coração com o devido espírito — ansiosos de aprender e dispostos a ser corrigidos ou esclarecidos nalgum ponto em que talvez estejamos errados. Se Jesus estiver em nosso meio e se nosso coração for enternecido por Seu amor, teremos uma das melhores assembléias a que já assistimos. ME3 166.1

Uma sessão movimentada e importante — Havia muita coisa para ser realizada. A obra se ampliara. Tinham sido abertas novas missões e organizadas novas igrejas. Todos deviam estar livremente em harmonia para aconselhar-se juntos como irmãos em atividade no grande campo da colheita, todos labutando interessadamente nos diversos ramos da obra e considerando altruistamente como a obra do Senhor podia ser efetuada com o máximo proveito. Se já houve um tempo em que, como associação, necessitávamos de especial graça e iluminação do Espírito de Deus, isso foi nessa assembléia. Um poder de baixo estava incitando certas instrumentalidades a ocasionarem uma mudança na constituição e nas leis de nossa nação, a qual constrangeria a consciência de todos os que observam o sábado bíblico, claramente especificado no quarto mandamento como o sétimo dia. ME3 166.2

Chegou o tempo em que cada pessoa deve empenhar-se ao máximo para cumprir o seu dever de apoiar e vindicar a lei de Deus perante nosso próprio povo e o mundo, fazendo o maior uso possível de suas capacidades e dos talentos que lhe foram confiados. Muitos são cegados e iludidos por homens que pretendem ser ministros do evangelho e levam muitos a considerar que estão fazendo uma boa obra para Deus, quando na realidade é a obra de Satanás. ME3 166.3

A estratégia de Satanás para causar divisão — Ora, Satanás deliberou como podia tolher a pena e silenciar a voz dos adventistas do sétimo dia. Se tão-somente pudesse absorver a atenção deles e desviar suas energias numa direção que os debilitasse e dividisse, sua perspectiva seria risonha. ME3 167.1

Satanás tem realizado sua obra com algum êxito. Tem havido divergência de opiniões e divisão. Tem havido muita rivalidade e ruins suspeitas. Tem havido muitos discursos, insinuações e comentários não santificados. A mente dos homens que deviam dedicar-se de corpo e alma à obra, achando-se preparados para realizar grandes proezas para Deus neste próprio tempo, está absorta em questões de pouca importância. Visto que as idéias de alguns não se acham exatamente de acordo com as deles em todo ponto de doutrina que envolve pequenas idéias e teorias que não são questões vitais, a questão da liberdade religiosa do país, que agora abrange tanta coisa, para muitos é um assunto de somenos importância. ME3 167.2

Satanás tem conseguido o que ele quer; mas o Senhor suscitou homens e lhes deu uma solene mensagem para Seu povo, a fim de despertar os poderosos e prepará-los para a batalha, no dia da preparação de Deus. Satanás procurou invalidar essa mensagem, e quando toda voz e toda pena deviam estar intensamente ocupadas em deter as atuações e os poderes de Satanás, houve uma debandada; houve divergências de opinião. Esta não era, absolutamente, a vontade do Senhor. ME3 167.3

A lei em Gálatas, um ponto de divergência — Nessa reunião foi apresentado aos pastores o assunto da lei em Gálatas. Este assunto fora exposto à assembléia três anos antes. ... ME3 167.4

Sabemos que se todos se aproximassem das Escrituras com o coração suavizado e dominado pela influência do Espírito de Deus, elas seriam examinadas com uma mente tranqüila, livre de preconceitos e orgulho de opinião. A luz do Senhor incidiria sobre Sua Palavra, e seria revelada a verdade. Mas devia haver devoto e diligente esforço, e muita paciência, para responder à oração de Cristo, que Seus discípulos fossem um, assim como Ele é Um com o Pai. A fervorosa e sincera oração será ouvida, e o Senhor responderá. O Espírito Santo avivará as faculdades mentais e haverá uma compreensão harmoniosa. “A revelação das Tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos simples.” Salmos 119:130. ME3 167.5

São apresentadas a justificação e a justiça de Cristo — O Pastor E. J. Waggoner teve o privilégio de falar claramente, e de apresentar seus pontos de vista sobre a justificação pela fé e a justiça de Cristo em relação com a lei. Isso não era nova luz, mas velha luz colocada onde devia estar na mensagem do terceiro anjo. ... Qual é o teor dessa mensagem? João vê um povo. Ele diz: “Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12. João contempla esse povo um pouco antes de ver o Filho do homem “tendo na cabeça uma coroa de ouro, e na mão uma foice afiada”. Verso 14. ME3 168.1

A fé de Jesus tem sido passada por alto e tratada de modo indiferente e descuidado. Ela não tem ocupado a posição proeminente em que foi revelada a João. A fé em Cristo como a única esperança do pecador em grande parte tem sido omitida, não somente nos sermões proferidos, mas também na experiência religiosa de muitos que professam crer na mensagem do terceiro anjo. ME3 168.2

Verdades que Ellen White havia apresentado desde 1844 — Nessa reunião, eu dei testemunho de que a mais preciosa luz irrompera das Escrituras na apresentação do grande assunto da justiça de Cristo relacionada com a lei, que constantemente devia ser mantido diante do pecador, como sua única esperança de salvação. Isso não era nova luz para mim, pois me adviera de uma autoridade mais elevada, durante os últimos quarenta e quatro anos, e eu a apresentei a nosso povo pela pena e pela voz, nos testemunhos de Seu Espírito. Mas bem poucos tinham correspondido, a não ser por assentimento, aos testemunhos dados sobre este assunto. Na realidade, muito pouco foi dito e escrito sobre esta importante questão. Os sermões de alguns podem ser corretamente retratados como semelhantes à oferta de Caim — destituídos de Cristo. ME3 168.3

O mistério da piedade — A norma para avaliar o caráter é a lei real. A lei é o denunciador do pecado. Pela lei vem o conhecimento do pecado. O pecador é, porém, constantemente atraído para Jesus pela maravilhosa manifestação de Seu amor em humilhar-Se a Si mesmo até a ignominiosa morte na cruz. Que tema para estudo é este! Os anjos têm procurado e anelado fervorosamente devassar esse admirável mistério. É um estudo que pode pôr à prova a mais alta inteligência humana, que o homem, caído, enganado por Satanás, tomando o partido deste último, possa ser moldado à imagem do Filho do Deus infinito. Que o homem seja semelhante a Ele, e que, devido à justiça de Cristo concedida ao homem, Deus amará o homem — caído mas resgatado — assim como Ele amou a Seu Filho. Lede-o diretamente dos vivos oráculos. ME3 169.1

Este é o mistério da piedade. É do mais alto valor que esse quadro seja colocado em todo sermão, pendurado na galeria da memória, proferido por lábios humanos, traçado por seres humanos que provaram e viram que o Senhor é bom, meditado, e constitua a base de todo discurso. Têm sido apresentadas áridas teorias, e almas preciosas estão definhando por falta do pão da vida. Essa não é a pregação que é requerida ou que será aceita pelo Deus do Céu, pois é destituída de Cristo. O divino quadro de Cristo deve ser mantido diante das pessoas. Ele é aquele Anjo posto em pé no sol do céu. Ele não lança nenhuma sombra. Revestido dos atributos da divindade, envolto nas glórias da divindade, e na semelhança do Deus infinito, Ele deve ser exaltado diante dos homens. Quando isto é mantido perante as pessoas, o mérito da criatura se reduz a uma insignificância. Quanto mais o olhar se detém sobre Ele, quanto mais Sua vida, Suas lições, Sua perfeição de caráter são estudadas, tanto mais nefando e detestável será o pecado. ME3 169.2

Ao contemplá-Lo, o homem não pode deixar de admirá-Lo e ser mais atraído para Ele, tornar-se mais encantado e mais desejoso de ser semelhante a Jesus até refletir Sua imagem e ter a mente de Cristo. Como Enoque, ele anda com Deus. Sua mente está repleta de pensamentos de Jesus. Ele é o seu melhor Amigo. ... ME3 169.3

Estudai a Jesus, nosso modelo — “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus.” Hebreus 3:1. Estudai a Cristo. Estudai Seu caráter, aspecto após aspecto. Ele é o nosso Modelo que nos é requerido imitar em nossa vida e em nosso caráter, senão deixaremos de representar a Jesus, e apresentaremos ao mundo um modelo espúrio. Não imiteis a homem algum, pois os homens são imperfeitos nos hábitos, na linguagem, nas maneiras, no caráter. Eu vos apresento o Homem Cristo Jesus. Precisais conhecê-Lo individualmente como vosso Salvador, antes que possais estudá-Lo como vosso modelo e exemplo. ME3 170.1

Paulo disse: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. ... Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.” Romanos 1:16-19. ME3 170.2

Agradecidos porque as mentes foram despertadas pelo Espírito de Deus — Nós nos sentimos profunda e solenemente agradecidos a Deus porque as mentes foram despertadas pelo Espírito de Deus para ver a Cristo nos vivos oráculos e para representá-Lo ante o mundo, mas não meramente em palavras. Elas vêem os requisitos das Escrituras de que todos quantos afirmam ser seguidores de Cristo têm o dever de andar em Suas pegadas, ser imbuídos de Seu Espírito e apresentar assim Jesus Cristo ao mundo, o qual veio ao nosso mundo para representar o Pai. ME3 170.3

Ao representar a Cristo representamos a Deus ao nosso mundo. “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle.” Romanos 8:9. Perguntemos: Estamos refletindo o caráter de Jesus Cristo na igreja e perante o mundo? É requerido de nós um estudo muito mais profundo ao examinar as Escrituras. Colocar a justiça de Cristo na lei revela distintamente a Deus em Seu verdadeiro caráter, e revela a lei como santa, justa e boa, e realmente gloriosa, quando vista em seu verdadeiro caráter. ME3 170.4

Se todos os nossos irmãos empenhados na obra ministerial se aproximassem juntos de suas Bíblias, com o espírito de Cristo, respeitando uns aos outros, e com verdadeira cortesia cristã, o Senhor seria seu Instrutor. Mas Ele não tem nenhuma oportunidade para impressionar as mentes sobre as quais Satanás exerce tão grande poder. Tudo que não se harmoniza com sua opinião e seu critério humano parece estar coberto de trevas e ter aspectos sombrios. ... ME3 171.1

O espírito de muitos preocupava a Ellen White — Minha preocupação durante a reunião era apresentar a Jesus e Seu amor perante meus irmãos, pois eu via claras evidências de que muitos não tinham o espírito de Cristo. Minha mente se manteve em paz, firmada em Deus, e fiquei triste ao ver que um espírito diferente penetrara na experiência de nossos irmãos no ministério e que ele estava impregnando o arraial. Eu estava ciente de que havia notável cegueira na mente de muitos, para que não discernissem onde estava o Espírito de Deus e o que constituía verdadeira experiência cristã. E considerar que esses eram aqueles que tinham a tutela do rebanho de Deus era doloroso. A falta de genuína fé, as mãos frouxas, porque não eram erguidas em sincera oração! ME3 171.2

Alguns não sentiam necessidade de oração. Seu próprio critério, achavam eles, era suficiente, e não percebiam que o inimigo de todo o bem estava dirigindo o critério deles. Eram como soldados que iam para a batalha desarmados e sem armadura. É de admirar que os discursos não tivessem animação, que a vivificante água da vida recusasse fluir através de canais obstruídos e que a luz do Céu não pudesse atravessar o denso nevoeiro da mornidão e pecaminosidade? ME3 171.3

Só consegui dormir algumas horas. Escrevi durante todas as horas da manhã, levantando-me freqüentemente às duas e às três horas da madrugada e aliviando a mente ao escrever sobre os assuntos que me eram apresentados. Meu coração ficou aflito ao ver o espírito que controlava alguns de nossos irmãos na obra ministerial, e esse espírito parecia ser contagioso. Havia muito falatório. ME3 171.4

Uma apresentação da verdade que ela pôde apoiar — Quando declarei perante meus irmãos que eu ouvira pela primeira vez as idéias do Pastor E. J. Waggoner, alguns não acreditaram em mim. Afirmei que eu ouvira preciosas verdades proferidas a que podia corresponder de todo o meu coração, pois essas grandes e gloriosas verdades: a justiça de Cristo e o sacrifício completo feito em favor do homem, não tinham sido indelevelmente gravadas em minha mente pelo Espírito de Deus? Este assunto não foi apresentado reiteradas vezes nos testemunhos? Quando o Senhor deu a meus irmãos o encargo de proclamar esta mensagem, senti-me inexprimivelmente agradecida a Deus, pois eu sabia que era a mensagem para este tempo. ME3 172.1

A mensagem do terceiro anjo é a proclamação dos mandamentos de Deus e da fé de Jesus Cristo. Os mandamentos de Deus têm sido proclamados, mas a fé de Jesus Cristo não tem sido proclamada pelos adventistas do sétimo dia como de igual importância, a lei e o evangelho andando de mãos dadas. Não encontro palavras para expressar este assuntos em sua plenitude. ME3 172.2

“A fé de Jesus.” Ela é debatida, mas não compreendida. Que constitui a fé de Jesus, que faz parte da mensagem do terceiro anjo? O ato de Jesus tornar-Se o Portador de nossos pecados para que pudesse tornar-Se o Salvador que perdoa os nossos pecados. Ele foi tratado como nós merecemos ser tratados. Veio ao nosso mundo e levou os nossos pecados para que pudéssemos levar Sua justiça. E a fé na capacidade de Cristo para salvar-nos ampla, completa e totalmente, é a fé de Jesus. ME3 172.3

A única segurança para os israelitas era o sangue nas ombreiras das portas. Deus disse: “Quando Eu vir o sangue, passarei por vós.” Êxodo 12:13. Todos os outros dispositivos de segurança seriam inúteis. Nada, a não ser o sangue nas ombreiras das portas, vedaria a entrada do anjo da morte. Só há salvação para o pecador no sangue de Jesus Cristo, o qual nos purifica de todo pecado. O homem com o intelecto bem desenvolvido pode ter grande reserva de conhecimento, empenhar-se em especulações teológicas, ser grande e honrado pelos homens, e ser considerado o repositório do conhecimento; a menos que tenha, porém, salutar conhecimento de Cristo crucificado por ele, e pela fé se apodere da justiça de Cristo, estará perdido. Cristo “foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados”. Isaías 53:5. “Salvos pelo sangue de Jesus Cristo” será nossa única esperança para o tempo presente e nosso cântico por toda a eternidade. ME3 172.4

Combatendo o preconceito e falsas acusações — Quando eu expressei claramente a minha fé, houve muitos que não me compreenderam, e eles disseram que a irmã White havia mudado; a irmã White tinha sido influenciada por seu filho G. C. White e pelo Pastor A. T. Jones. Naturalmente, tal declaração procedente dos lábios daqueles que me conheciam há vários anos, que haviam crescido com a mensagem do terceiro anjo e tinham sido honrados com a confiança e fé de nosso povo, devia ter alguma influência. ME3 173.1

Tornei-me objeto de comentários e críticas, mas nenhum de nossos irmãos veio ter comigo, fazendo perguntas ou procurando alguma explicação de mim. Tentamos mui diligentemente fazer com que todos os nossos irmãos na obra ministerial, que estavam hospedados naquela casa, se reunissem num aposento desocupado, para orarmos juntos, mas só o conseguimos duas ou três vezes. Eles preferiam ir a seus quartos e ter suas conversas e orações por si mesmos. Não parecia haver nenhuma oportunidade para desfazer o preconceito que era tão firme e decidido, nenhum ensejo para remover a má compreensão a meu respeito, e a respeito de meu filho e de E. J. Waggoner e A. T. Jones. ME3 173.2

Procurei fazer outra tentativa. Na madrugada daquele dia eu escrevera um assunto para ser apresentado a nossos irmãos, pois assim minhas palavras não seriam deturpadas. Um bom número de nossos principais homens de responsabilidade se achava presente, e senti profundamente que um número muito maior não fora levado para essa reunião, pois eu sabia que alguns dos presentes começaram a ver as coisas sob um aspecto diferente, e muitos outros teriam sido beneficiados se houvessem tido a oportunidade de ouvir o que eu tinha para dizer. Mas eles não sabiam, e não foram beneficiados com minhas explicações e com o claro “Assim diz o Senhor”, que eu lhes dei. ME3 173.3

Foram feitas algumas perguntas nessa ocasião. “Irmã White, a senhora pensa que o Senhor tem alguma luz nova e mais intensa para nós como um povo?” Respondi: “Com toda a certeza. Não somente penso assim, mas posso falar com conhecimento de causa. Sei que há preciosa verdade a ser desdobrada para nós, se somos o povo que deve permanecer em pé no dia da preparação de Deus.” ME3 174.1

Ellen White incentiva o estudo com mente aberta — Então foi feita a pergunta se eu achava que era melhor que o assunto ficasse onde estava, depois que o irmão Waggoner expusera seus pontos de vista da lei em Gálatas. Eu disse: “De modo algum. Queremos tudo sobre ambos os lados da questão.” Declarei, porém, que o espírito que eu vira ser manifestado na reunião era desarrazoado. Eu devia insistir que fosse manifestado o devido espírito, um espírito semelhante ao de Cristo, como o que o Pastor E. J. Waggoner revelara durante toda a apresentação de suas idéias; e que esse assunto não fosse tratado em forma de debate. A razão para eu recomendar que esse assunto fosse tratado com um espírito semelhante ao de Cristo era que não devia haver ataques contra seus irmãos que diferissem deles. Visto que o Pastor E. J. Waggoner se portara como um cavalheiro cristão, eles deviam fazer a mesma coisa, apresentando os argumentos de seu lado da questão de maneira direta. ... ME3 174.2

A questão da lei em Gálatas não é vital — Foi feita a observação: “Se nossas idéias a respeito de Gálatas não são corretas, não temos a mensagem do terceiro anjo e nossa posição é infundada; não há nada de importante em nossa fé.” ME3 174.3

Eu disse: “Irmãos, aqui está precisamente o que tenho declarado. Essa afirmação não é correta. É uma afirmação extravagante e exagerada. Se ela for feita ao ser considerada essa questão, terei o dever de expor este assunto perante todos os que estiverem reunidos, e, quer ouçam ou deixem de ouvir, dizer-lhes que a afirmação é incorreta. A questão debatida não é uma questão vital, e não deve ser tratada como tal. A maravilhosa importância e magnitude desse assunto tem sido exagerada, e por esta razão — por meio de concepções errôneas e idéias deturpadas — vemos o espírito que prevalece nesta reunião, o qual é contrário ao espírito de Cristo, e jamais devia ser manifestado entre irmãos. Apareceu um espírito de farisaísmo entre nós contra o qual erguerei minha voz onde quer que seja revelado.” ... ME3 174.4

Pude ver grande falta de sábia discriminação e de bom senso. O mal dessas coisas muitas vezes me foi apresentado. A diferença de opinião tornou-se evidente tanto aos crentes como aos descrentes. Essas coisas causaram tal impressão em minha mente que achei que meus irmãos tinham sofrido uma grande modificação. Este assunto me foi apresentado enquanto eu me encontrava na Europa, em figuras e símbolos, mas a explicação me foi dada posteriormente, de modo que não fiquei em trevas quanto ao estado de nossas igrejas e de nossos irmãos na obra ministerial. ... ME3 175.1

Voltei para meu quarto perguntando qual seria o melhor procedimento a ser adotado por mim. Aquela noite, muitas horas foram passadas em oração a respeito da lei em Gálatas. Isto era uma simples partícula de pó. Qualquer que fosse o ponto de acordo com um “Assim diz o Senhor”, minha alma diria: Amém e amém! Mas o espírito que dominava nossos irmãos era tão diferente do espírito de Jesus, tão contrário ao espírito que devia ser manifestado de uns para com os outros, que minha alma se encheu de angústia. ME3 175.2

Na reunião para os pastores, na manhã seguinte, eu tinha algumas coisas claras para dizer a meus irmãos, que não ousei reter. O sal perdera o sabor, o ouro refinado se escurecera. Havia trevas espirituais sobre o povo, e muitos evidenciavam que eram impelidos por um poder de baixo, pois o resultado era exatamente como seria o caso se não estivessem sob a iluminação do Espírito de Deus. ME3 175.3

Que páginas da história estavam sendo feitas pelo anjo registrador! O fermento realmente efetuara sua acerba obra, e quase levedara a massa. Tive uma mensagem de repreensão e advertência para meus irmãos, eu o sabia. Minha alma foi oprimida pela angústia. Dizer essas coisas para meus irmãos me causa muito maior angústia do que elas causaram àqueles aos quais foram dirigidas. Pela graça de Cristo experimentei um divino poder coercivo para pôr-me em pé diante de meus irmãos na obra ministerial, em nome do Senhor, esperando e orando que o Senhor abrisse os olhos cegos. Fui fortalecida para dizer as palavras que minha secretária taquigrafou. — Manuscrito 24, 1888. ME3 175.4

Mineápolis — um ponto de prova — O Senhor estava examinando e provando Seu povo que tivera grande luz, para ver se andariam nela, ou se afastariam sob a tentação, pois bem poucos sabem de que espécie de espírito são eles até que as circunstâncias sejam de molde a provar o espírito que impele à ação. Em muitos o coração natural é o poder controlador, e, no entanto, eles não imaginam que o orgulho e o preconceito são acolhidos como hóspedes honrados, e influem nas palavras e ações, contra a luz e a verdade. Nossos irmãos que têm ocupado posições de liderança na obra e na causa de Deus deviam estar tão intimamente ligados com a Fonte de toda a luz que não chamassem a luz de trevas, e as trevas de luz. ... ME3 176.1

A justiça pela fé não rebaixa a lei — Enaltecer a Cristo como nossa única fonte de poder, apresentar Seu incomparável amor ao lançar a culpa dos pecados dos homens em Sua conta e imputar-lhes Sua própria justiça, não anula a lei de forma alguma, nem diminui sua dignidade. Antes, coloca-a onde a luz correta incide sobre ela, e a glorifica. Isto só é efetuado pela luz refletida da cruz do Calvário. A lei só é completa e perfeita no grande plano da salvação quando é apresentada na luz que dimana do Salvador crucificado e ressurreto. Isto só pode ser discernido espiritualmente. O fato de que Cristo é sua justiça, ateia no coração do espectador ardente fé, esperança e alegria. Esta alegria só é para aqueles que amam e guardam as palavras de Jesus, que são as palavras de Deus. ME3 176.2

Se meus irmãos estivessem na luz, as palavras que o Senhor me deu para eles encontrariam uma resposta no coração daqueles pelos quais eu labutava. Quando vi que os corações com que eu almejava estar em harmonia se achavam fechados pelo preconceito e descrença, pensei ser melhor que eu os deixasse. Meu propósito era partir de Mineápolis no primeiro dia da semana. ... ME3 177.1

Eu desejava meditar e orar, [para que soubesse] de que maneira devíamos agir para apresentar ao povo o assunto do pecado e da expiação à luz da Bíblia. Eles necessitavam grandemente tal espécie de instrução para que pudessem transmitir a luz a outros e ter o bendito privilégio de ser cooperadores de Deus em reunir e trazer de volta as ovelhas de Seu aprisco. Que poder precisamos ter, da parte de Deus, para que corações gelados, possuindo apenas uma religião legal, vejam as coisas melhores providas para eles — Cristo e Sua justiça! Era necessária uma mensagem vivificante para dar vida aos ossos secos. — Manuscrito 24, 1888. ME3 177.2