Fundamentos da Educação Cristã

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A ciência da salvação, a principal das ciências

As escolas estabelecidas entre nós são assunto de grave responsabilidade, pois envolvem importantes interesses. Em sentido especial, nossas escolas são um espetáculo aos anjos e aos homens. Há poder no conhecimento de ciências de toda a espécie, e é desígnio de Deus que a ciência avançada seja ensinada em nossas escolas como preparação para a obra que há de preceder as cenas finais da história terrestre. A verdade deve ir aos mais remotos confins da Terra mediante pessoas preparadas para a obra. Mas, embora haja poder no conhecimento da ciência, o conhecimento que Jesus veio transmitir pessoalmente ao mundo era o conhecimento do evangelho. A luz da verdade devia lançar seus brilhantes raios nas partes mais longínquas da Terra, e a aceitação ou a rejeição da mensagem de Deus envolvia o destino eterno das almas. FEC 186.1

O plano da salvação fez parte dos conselhos do Infinito desde toda a eternidade. O evangelho é a revelação do amor de Deus aos homens, e significa tudo o que é essencial para a felicidade e o bem-estar da humanidade. A obra de Deus na Terra é de incomensurável importância, e o especial objetivo de Satanás é colocá-la fora do alcance da vista e da mente, para que torne eficazes seus enganosos artifícios na destruição daqueles por quem Cristo morreu. É seu propósito fazer com que as invenções humanas sejam exaltadas acima da sabedoria de Deus. Quando a mente se enleva com as concepções e as teorias dos homens, com exclusão da sabedoria de Deus, recebe o selo da idolatria. A ciência, como falsamente lhe chamam, tem sido exaltada acima de Deus, a Natureza acima do seu Criador, e como Deus pode aprovar tal sabedoria? FEC 186.2

Na Bíblia é definido todo o dever do homem. Salomão declara: “Teme a Deus, e guarda os Seus mandamentos; porque isso é o dever de todo homem.” A vontade de Deus é revelada em Sua Palavra escrita, e este é o conhecimento essencial. A sabedoria humana, a familiaridade com os idiomas de diversas nações são um auxílio na obra missionária. A compreensão dos costumes das pessoas, e do lugar e da época dos acontecimentos, é conhecimento prático, pois ajuda a esclarecer as figuras da Bíblia, a realçar o poder das lições de Cristo; mas não é absolutamente necessário saber estas coisas. O peregrino pode encontrar o caminho preparado para ser palmilhado pelos remidos, e não haverá desculpa para quem perecer devido à má compreensão das Escrituras. FEC 186.3

Na Bíblia é declarado todo princípio vital, explicado todo dever, evidenciada toda obrigação. Todo o dever do homem é resumido pelo Salvador, nestas palavras: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. ... Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Na Palavra, o plano da salvação acha-se claramente delineado. A dádiva da vida eterna é prometida sob a condição de salvadora fé em Cristo. O atraente poder do Espírito Santo é assinalado como um instrumento na obra da salvação do homem. A recompensa dos fiéis, o castigo dos culpados, são expostos com clareza. A Bíblia contém a ciência da salvação para todos os que querem ouvir as palavras de Cristo e pô-las em prática. FEC 187.1

Diz o apóstolo: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” A Bíblia é seu próprio expositor. Uma passagem será a chave que descerrará outras passagens, e deste modo haverá luz sobre o significado oculto da Palavra. Comparando diversos textos que tratam do mesmo assunto e examinando sua relação em todo o sentido, tornar-se-á evidente o verdadeiro significado das Escrituras. FEC 187.2

Muitos pensam que precisam consultar comentários sobre as Escrituras para compreenderem o significado da Palavra de Deus, e não queremos tomar a posição de que os comentários não devem ser estudados; mas será necessário muito discernimento para descobrir a verdade de Deus entre a multidão de palavras humanas. Quão pouco tem sido feito pela igreja, como entidade que professa crer na Bíblia, para reunir as jóias esparsas da Palavra de Deus em uma perfeita corrente de verdade! As jóias da verdade não jazem na superfície, como muitos supõem. A mente dominadora na confederação do mal sempre se ocupa em manter a verdade fora do alcance da vista e colocar ante os olhos as opiniões de grandes homens. O adversário está fazendo tudo o que pode para obscurecer a luz do Céu por meio de processos educacionais, pois não quer que os homens ouçam a voz do Senhor, dizendo: “Este é o caminho, andai por ele.” FEC 187.3

As jóias da verdade acham-se espalhadas sobre o terreno da revelação; mas têm sido soterradas sob as tradições humanas, sob os dizeres e mandamentos de homens, e a sabedoria do Céu tem sido virtualmente passada por alto; pois Satanás tem sido bem-sucedido em fazer com que o mundo creia que as palavras e realizações humanas são de grande importância. O Senhor Deus, o Criador do Universo, deu o evangelho ao mundo a um preço infinito. Por meio deste agente divino, agradáveis e revigorantes caudais de conforto celestial e consolo permanente têm sido abertos para aqueles que se aproximam da fonte da vida. Ainda há veios de verdade a serem descobertos; mas as coisas espirituais se discernem espiritualmente. As mentes obscurecidas pelo mal não podem apreciar o valor da verdade como é em Jesus. Quando se acaricia a iniqüidade, os homens não sentem a necessidade de fazer esforços diligentes, com oração e reflexão, para compreender o que devem saber, ou perder o Céu. Têm estado há tanto tempo sob a sombra do inimigo, que encaram a verdade como se vêem os objetos através de um vidro enfumaçado e defeituoso; pois todas as coisas são escuras e pervertidas a seus olhos. Sua visão espiritual é débil e indigna de confiança, porque olham para as sombras e se afastam da luz. FEC 188.1

Os que professam crer em Jesus, sempre devem, porém, acercar-se da luz. Cumpre-lhes orar diariamente para que a luz do Espírito Santo incida sobre as páginas do sagrado Livro, a fim de que sejam habilitados a compreender as coisas do Espírito de Deus. Devemos ter implícita confiança na Palavra de Deus, pois do contrário estaremos perdidos. As palavras dos homens, por mais importantes que sejam, não podem tornar-nos perfeitos e perfeitamente habilitados para toda boa obra “Deus nos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade.” Neste versículo são reveladas as duas instrumentalidades na salvação do homem: a influência divina e a forte e viva fé dos que seguem a Cristo. É mediante a santificação do Espírito e a crença da verdade que nos tornamos cooperadores de Deus. O Senhor espera a cooperação de Sua igreja. Não é Seu desígnio acrescentar outro elemento de eficiência a Sua Palavra; efetuou Sua grande obra dando Sua inspiração ao mundo. O sangue de Jesus, o Espírito Santo, a Palavra divina, são nossos. O objeto de toda esta provisão do Céu está diante de nós: as almas pelas quais Cristo morreu; e compete-nos lançar mão das promessas dadas por Deus e tornar-nos Seus colaboradores; pois as instrumentalidades divinas e humanas devem cooperar nesta obra. FEC 188.2

A razão por que muitos cristãos professos não têm uma experiência clara e bem definida, é que não consideram um privilégio compreender o que Deus declarou por meio de Sua Palavra. Após a ressurreição de Jesus, dois de Seus discípulos dirigiram-se a Emaús, e o Mestre uniu-Se a eles. Mas não reconheceram a seu Senhor, e pensaram que era algum estrangeiro. Todavia, “começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras. Quando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez Ele menção de passar adiante. Mas eles O constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando Ele o pão, abençoou-o, e, tendo-o partido, lhes deu; então se lhes abriram os olhos, e O reconheceram; mas Ele desapareceu da presença deles. E disseram um ao outro: Porventura não nos ardia o coração, quando Ele pelo caminho nos falava, quando nos expunha as Escrituras? ... Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras”. Esta é a obra que podemos esperar que Cristo faça por nós; pois o que o Senhor revelou é para nós e nossos filhos para sempre. FEC 189.1

Jesus sabia que tudo o que se apresentava em desacordo com o que Ele viera revelar ao mundo, era falso e enganoso. Disse, porém: “Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz.” Havendo estado nos conselhos de Deus e habitado nas eternas alturas do santuário, todos os elementos da verdade estavam nEle e eram Seus, pois era um com Deus. “Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto, contudo não aceitais o nosso testemunho. Se tratando de coisas terrenas não Me credes, como crereis, se vos falar das celestiais? Ora, ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do homem, que está no Céu.” “Toda palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que nEle confiam. Nada acrescentes às Suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso.” — The Review and Herald, 1 de Dezembro de 1891. FEC 190.1