Fundamentos da Educação Cristã

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O Livro dos livros

O estudo da Bíblia dará vigor ao intelecto. Diz o salmista: “A revelação das Tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos simples.” Muitas vezes tem-me sido perguntado: “Deve a Bíblia tornar-se o livro mais importante em nossas escolas?” Ela é um livro precioso e admirável. É um tesouro que contém jóias de grande valor. É uma história que descerra perante nós os séculos passados. Sem a Bíblia estaríamos entregues a conjeturas e fábulas no tocante às ocorrências dos tempos antigos. Dentre todos os livros que têm inundado o mundo, por mais valiosos que sejam, a Bíblia é o Livro dos livros, e merece o mais acurado estudo e atenção. Apresenta não só a história da criação deste mundo, mas também uma descrição do mundo por vir. Contém instruções acerca das maravilhas do Universo e revela à nossa compreensão o Autor dos céus e da Terra. Desdobra um simples e completo sistema de teologia e filosofia. Os que estudam com diligência a Palavra de Deus, e obedecem a suas instruções e amam suas singelas verdades, aperfeiçoarão o intelecto e as maneiras. Ela é uma dádiva de Deus que deve despertar em todo coração a mais sincera gratidão; pois constitui a revelação de Deus ao homem. FEC 129.1

Se as verdades da Bíblia forem entretecidas na vida prática, elevarão a mente acima de sua terrenalidade e degradação. Os que são versados nas Escrituras distinguir-se-ão como homens e mulheres que exercem uma influência enobrecedora. Ao serem esquadrinhadas as verdades reveladas pelo Céu, o Espírito de Deus é posto em íntima conexão com o sincero pesquisador das Escrituras. A compreensão da revelada vontade de Deus desenvolve, expande e eleva a mente, concedendo-lhe novo vigor pelo fato de colocar suas faculdades em contato com estupendas verdades. Se o estudo das Escrituras tornar-se uma questão secundária, sofre-se grande perda. A Bíblia foi por algum tempo eliminada de nossas escolas, e Satanás encontrou um terreno propício, no qual trabalhou com incrível rapidez, fazendo uma colheita do seu agrado. FEC 129.2

A compreensão equipara-se ao nível das coisas com que se familiariza. Se todos fizessem da Bíblia o seu estudo, veríamos um povo mais desenvolvido, capaz de pensar de maneira mais profunda e revelando mais elevado grau de inteligência, do que poderiam proporcionar-lhes os mais intensos esforços ao estudar meramente as ciências e as histórias do mundo. A Bíblia confere ao sincero pesquisador avançada disciplina mental, e ele emerge da contemplação das coisas divinas com as faculdades enriquecidas; o próprio eu é humilhado, ao passo que Deus e Sua verdade revelada são exaltados. É porque os homens desconhecem as preciosas histórias da Bíblia, que existe tanta exaltação humana e é dada tão pouca honra a Deus. A Bíblia contém exatamente a espécie de alimento de que o cristão necessita para fortalecer o espírito e intelecto. O estudo de todos os livros de filosofia e ciência não pode fazer pela mente e a moral o que a Bíblia consegue realizar ao ser estudada e posta em prática. Por meio do estudo da Bíblia mantemos um intercâmbio com patriarcas e profetas. A verdade é exarada em linguagem elevada, que exerce fascinante poder sobre a mente; o pensamento é elevado das coisas terrenas para a contemplação da glória da futura vida imortal. Que sabedoria humana pode equiparar-se à grandeza da revelação divina? O homem finito, que não conhece a Deus, procura diminuir o valor das Escrituras e encobrir a verdade sob pretensos conhecimentos científicos. FEC 130.1

Os que se ufanam de possuir sabedoria superior aos ensinos da Palavra de Deus, necessitam de maiores sorvos da fonte do conhecimento a fim de que se tornem cientes de sua verdadeira ignorância. Há uma pretensa sabedoria de homens que é loucura à vista de Deus. “Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; porquanto está escrito: Ele apanha os sábios na própria astúcia deles.” Os que têm apenas esta sabedoria precisam tornar-se estultos em sua própria opinião. A maior ignorância que agora aflige a raça humana é a respeito da obrigatoriedade da lei de Deus; e essa ignorância é o resultado da negligência de estudar a Palavra do Senhor. É um decidido plano de Satanás cativar e absorver de tal maneira a mente, que o grande Livro-guia de origem divina não seja o Livro dos livros e que o pecador não seja conduzido da senda da transgressão para a senda da obediência. FEC 130.2

A Bíblia não é exaltada como deveria ser; todavia, quão infinita é a sua importância para a alma humana! Ao examinar as suas páginas deparamos com cenas majestosas e eternas. Contemplamos a Jesus, o Filho de Deus, ao vir a este mundo e empenhar-Se no misterioso conflito que desbaratou os poderes das trevas. Quão maravilhoso e quase inacreditável que o infinito Deus consentisse na humilhação de Seu querido Filho! Que todo estudante das Escrituras contemple este grandioso fato, pois não sairá dessa contemplação sem ter sido elevado, purificado e enobrecido! FEC 131.1

A Bíblia é um livro que revela os princípios da justiça e da verdade. Contém tudo o que é necessário para a salvação da alma, sendo ao mesmo tempo muito adequada para fortalecer e disciplinar a mente. Se for usada como livro de estudo em nossas escolas, demonstrar-se-á muito mais eficaz que qualquer outro livro no mundo, para guiar sabiamente nas questões pertinentes a esta vida, bem como ajudar a alma a galgar a escada do progresso que se estende até o Céu. Deus cuida de nós como seres intelectuais e deu-nos Sua Palavra como lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos. “A revelação das Tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos simples.” Não é meramente a leitura da Palavra que produzirá o resultado designado pelo Céu, mas a verdade revelada na Palavra de Deus precisa ter acesso ao coração para que se obtenha o almejado benefício. FEC 131.2

Nem sempre os mais bem educados em ciências são os mais eficientes instrumentos para uso de Deus. Muitos há que se acham postos de lado, e os que tiveram menos vantagens quanto à obtenção de conhecimento dos livros lhes tomam o lugar, por possuírem conhecimento prático das coisas essenciais no uso diário da vida; ao passo que os que se julgam instruídos deixam muitas vezes de ser alunos, são presumidos e se consideram acima de receber ensino, mesmo de Jesus, o maior Mestre que o mundo já conheceu. Os que cresceram e se expandiram, cujas faculdades de raciocínio se têm desenvolvido mediante profundo exame das Escrituras, a fim de saberem a vontade de Deus, hão de atingir posições de utilidade; pois a Palavra de Deus lhes penetrou na vida e no caráter. Ela deve fazer sua própria obra, ao ponto de dividir juntas e medula e discernir os pensamentos e propósitos do coração. A Palavra de Deus deve tornar-se o alimento pelo qual o cristão se deve fortalecer no espírito e no intelecto, a fim de poder combater em prol da verdade e da justiça. FEC 132.1

Por que é que nossos jovens, e mesmo os de mais idade, são facilmente induzidos à tentação e ao pecado? — É porque a Palavra de Deus não é estudada e meditada como devia ser. Fosse ela apreciada, haveria uma retidão interior, um poder de espírito que resistiria às tentações de Satanás para o mal. Firme e decidida força de vontade deixa de se introduzir na vida e caráter, porque as sagradas instruções de Deus não se tornam objeto de estudo e de meditação. Não se faz o esforço que devia ser feito para dirigir o espírito aos pensamentos puros e santos, desviando-o do que é impuro e falso. Não se faz a escolha da melhor parte, do sentar-se aos pés de Jesus, como Maria, para aprender as mais sagradas lições do divino Mestre, a fim de serem entesouradas no coração e praticadas na vida diária. A meditação nas coisas santas elevará e refinará o espírito, formando senhoras e cavalheiros cristãos. FEC 132.2

Deus não aceitará nenhum de nós que esteja amesquinhando suas faculdades em concupiscentes e terrenas degradações, por pensamentos, palavras ou atos. O Céu é um lugar puro e santo, onde ninguém pode entrar, a menos que se ache refinado, espiritualizado, limpo e purificado. Temos uma obra a fazer por nós mesmos, e não seremos capazes de a realizar senão recebendo força de Jesus. Acima de todos os outros livros, devemos fazer da Bíblia o nosso estudo; devemos amá-la, obedecer-lhe como à voz de Deus. Devemos ver e compreender suas restrições e exigências — “farás” e “não farás” — e compreender a verdadeira significação da Palavra de Deus. FEC 133.1

Quando a Palavra de Deus se torna o nosso conselheiro, e investigamos as Escrituras em procura de luz, os anjos do Céu aproximam-se para nos impressionar a mente e iluminar o entendimento, de modo que se possa na verdade dizer: “A revelação das Tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos simples.” Não admira que não haja mais espiritualidade entre a juventude que professa o cristianismo, quando tão pouca atenção é dada à Palavra de Deus. Não se atende aos conselhos divinos; as admoestações não são obedecidas; não se buscam a graça e a sabedoria celestiais a fim de serem evitados os antigos pecados, sendo o caráter purificado de todo vestígio de corrupção. A oração de Davi era: “Faze-me entender o caminho dos Teus preceitos: assim falarei das Tuas maravilhas.” FEC 133.2

Se a mente de nossos jovens, bem como a dos de mais idade, fosse devidamente dirigida, quando juntos, sua conversação recairia sobre elevados temas. Quando a mente é pura, e os pensamentos elevados pela verdade de Deus, as palavras hão de ser do mesmo caráter, “como maçãs de ouro em salvas de prata”. Mas com a compreensão atual, com os hábitos presentes, com a baixa norma com que mesmo professos cristãos se acham satisfeitos, a conversa é vulgar e destituída de proveito. É terrena, e não lembra a verdade, o Céu, nem atinge sequer o nível das mais cultas classes de mundanos. Quando Cristo e o Céu são os temas de contemplação, a palestra o demonstrará. A conversação será temperada com graça, e o que fala revelará que tem estado a educar-se na escola do divino Mestre. Diz o salmista: “Escolhi o caminho da verdade: propus-me seguir os Teus juízos.” Ele prezava como tesouro a Palavra de Deus. Ela lhe penetrava no entendimento, não para ser desconsiderada, mas posta em prática na vida. FEC 133.3

A menos que seja apreciada, a Palavra Sagrada não será obedecida como livro infalível, seguro e precioso. Todo pecado que nos assalta deve ser posto de lado. É preciso batalhar contra ele até que seja vencido. O Senhor cooperará com os vossos esforços. Ao operar o homem finito e pecaminoso sua própria salvação com temor e tremor, Deus é quem efetua nele tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade. Deus não agirá, porém, sem a cooperação do homem. Este precisa exercitar ao máximo suas faculdades; deve colocar-se como apto e dócil aluno na escola de Cristo; e, ao aceitar ele a graça que lhe é oferecida livremente, a presença de Cristo no pensamento e no coração dar-lhe-á firmeza de propósito para desembaraçar-se de todo peso do pecado, a fim de que o coração seja tomado de toda a plenitude de Deus e Seu amor. FEC 134.1

Os estudantes de nossas escolas devem considerar que a contemplação do pecado tem trazido inevitáveis conseqüências, e as faculdades que lhes foram dadas por Deus têm sido enfraquecidas e incapacitadas para o progresso moral, por terem sido mal aplicadas. Muitos há que reconhecem a veracidade deste fato. Acariciaram o orgulho e a presunção até que estes maus traços de caráter se tornaram um poder dominador, controlando seus desejos e inclinações. Embora tenham tido uma aparência de piedade e realizado muitos atos virtuosos aos seus próprios olhos, não houve verdadeira mudança de coração. Eles não têm colocado as práticas de sua vida em definida e estrita harmonia com a grande norma de justiça, a lei de Deus. Se comparassem criteriosamente sua vida com essa norma, não poderiam deixar de perceber que são deficientes, enfermos de pecado e que precisam de um médico. Só podem compreender a que profundezas têm caído, se contemplarem o infinito sacrifício feito por Jesus Cristo, para erguê-los da degradação. FEC 134.2

Bem poucos têm uma compreensão do nefando caráter do pecado e se acham inteirados da grandeza da ruína que resultou da transgressão da lei de Deus. Ao examinar o maravilhoso plano da redenção para restaurar o pecador à imagem moral de Deus, vemos que o único meio para a libertação do homem foi provido pela abnegação e a incomparável condescendência e amor do Filho de Deus. Só Ele tinha poder para batalhar contra o grande adversário de Deus e do homem, e, como nosso substituto e fiador, tem concedido poder aos que se apegam a Ele pela fé, para tornarem-se vitoriosos em Seu nome e por meio de Seus méritos. FEC 135.1

Podemos ver na cruz do Calvário quanto custou para o Filho de Deus trazer salvação à raça caída. Assim como o sacrifício em favor do homem foi completo, a restauração do homem, da contaminação do pecado, também deve ser cabal e completa. A lei de Deus nos foi dada como norma para reger a nossa conduta. Nenhum ato pecaminoso será desculpado pela lei; nenhuma injustiça escapará à sua condenação. A vida de Cristo é um perfeito cumprimento de cada um dos preceitos dessa lei. Ele declara: “Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai.” O conhecimento da lei condenaria o pecador e esmagaria a esperança em seu peito, se não visse a Jesus como seu substituto e fiador, pronto a perdoar-lhe a transgressão e o pecado. Quando, mediante a fé em Jesus Cristo, o homem realiza o melhor que está ao seu alcance, procurando guardar o caminho do Senhor pela obediência aos Dez Mandamentos, a perfeição de Cristo é imputada para cobrir a transgressão da alma contrita e obediente. FEC 135.2

Será feita uma tentativa por parte de muitos pretensos amigos da educação a fim de divorciar das ciências, a religião, em nossas escolas. Eles não pouparão esforços ou despesas para transmitir o conhecimento secular; mas não unirão a ele o conhecimento do que Deus tem revelado como constituindo perfeição de caráter. E, no entanto, a instrução na verdade de Deus desenvolveria a mente, comunicando também conhecimento secular; pois o próprio fundamento da verdadeira educação está no temor do Senhor. Diz o salmista: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria.” Os vivos oráculos de Deus revelam os enganos do pai da mentira. Quem de nossos jovens pode saber algo sobre o que é a verdade, em comparação com o erro, a menos que esteja familiarizado com as Escrituras? A singeleza da verdadeira piedade deve ser introduzida na educação de nossos jovens a fim de que tenham conhecimento divino para se livrarem da corrupção das paixões que há no mundo. Os que verdadeiramente são seguidores de Cristo não servirão a Deus só quando isto estiver de acordo com a sua inclinação, mas também quando envolve abnegação e sacrifício. O importante conselho dado a Timóteo pelo apóstolo Paulo, a fim de que não deixasse de cumprir o seu dever, deve ser apresentado aos jovens de hoje: “Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.” Os pecados que assediam devem ser combatidos e vencidos. Traços objetáveis de caráter, sejam eles herdados ou cultivados, devem ser enfrentados em separado e comparados com a grande norma da justiça; e, à luz refletida pela Palavra de Deus, devem ser combatidos com firmeza e vencidos no poder de Cristo. “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” FEC 135.3

Dia a dia, e hora a hora, deve haver um vigoroso processo de abnegação e santificação a operar-se interiormente; e então, no exterior, as obras darão testemunho de que Jesus mora no coração pela fé. A santificação não cerra as entradas da alma ao conhecimento, mas vem expandir a mente, inspirando-a para buscar a verdade como a tesouros escondidos; e o conhecimento da vontade divina promoverá a obra de santificação. Existe um Céu e, oh! quão zelosamente nos devemos esforçar por alcançá-lo! Apelo para os alunos de nossas escolas e colégios, a fim de que creiam em Jesus como seu Salvador. Acreditai que está pronto a vos ajudar por Sua graça, quando a Ele vos chegais em sinceridade. Deveis combater o bom combate da fé. Deveis ser lutadores pela coroa da vida. Esforçai-vos, pois as garras de Satanás se acham sobre vós. Se não vos arrancardes de seu poder, sereis paralisados e arruinados. O inimigo se acha à direita e à esquerda, em vossa frente e por trás de vós; e deveis calcá-lo aos pés. Esforçai-vos, pois há uma coroa a ser alcançada. Esforçai-vos, pois, se não obtiverdes a coroa, perdereis tudo nesta vida e na por vir. Esforçai-vos, mas seja o vosso esforço feito no poder de vosso ressurgido Salvador. FEC 136.1

Os alunos de nossas escolas estudarão e procurarão imitar a vida e o caráter dAquele que desceu do Céu para mostrar-lhes o que devem ser, se querem entrar no reino de Deus? Tenho-vos transmitido a mensagem da breve volta do Filho de Deus nas nuvens do Céu com poder e grande glória. Não apresentei perante vós um tempo definido, mas repeti para vós a exortação do próprio Cristo, de vigiar e orar, “porque, à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá”. A advertência tem ecoado através dos séculos até o nosso tempo: “Eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro. Bem-aventurados aqueles que guardam os Seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.” — The Review and Herald, 21 de Agosto de 1888. FEC 137.1